"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)

Crônica

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Em verdade, se tem afirmado que para a educação não tem remédio. A melhora do sistema educacional deve ser o desafio de toda a sociedade. Mas, essa batalha se torna difícil porque muitos alimentam o sutil desejo de que tudo continue assim como estar para garantir o emprego. Existem funções que poderiam ser extintas sem prejuízo algum ao sistema, mas contamos com um conflito interior no momento da decisão: Se contribuímos com uma ação transformadora, sacrificamos nosso cargo, então opinamos por dar continuidade, esperando o fracasso coletivo. Essa é uma dimensão muito mais sutil que tem demonstrado ser a queda de muitos. Porém, não lhe incomoda se for todo mundo junto para o buraco? Já sei, o que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!

          Fazer como deveria ser feito fere o próprio egoísmo. Mas, nessa luta, devemos procurar por nós mesmos deixar de praticar atos egoístas ou mesmo parar de condescender com pensamentos egoístas. E quando não conseguirmos atingir o que sabemos que deveria, que a consciência não nos deixe em paz.

          Sua preocupação com o que os seus colegas pensam de você tem sido o sabor de sua vida profissional? Esta variação da luta contra o ego é tão sutil porque parece tão piedosa. Podemos até mesmo relatar nosso progresso nas reuniões pedagógicas e fazer disto o centro de infindável angústia particular. Mas isto apenas obscurecerá o fato de que o “eu” ainda é a motivação reinante em nossa vida.
          O único remédio para a educação é aceitar inteiramente o risco de perder o bom cargo e fazer o que deve ser feito na intenção de melhorar o todo, enquanto alguns tiverem olhando só para seu “umbigo” melhora só para ele. O dom das regalias não é uma recompensa por minhas realizações, mas uma efusão de meu próprio caráter. Tenho lutado por aquilo que eu anelo mais profundamente: a restauração do sistema educacional. Em minhas críticas há sempre muitas sugestões, talvez privadas somente ao analfabeto funcional.
          Tenho recebido como uma dádiva o que eu previamente ansiava obter, ser liberto do egoísmo. Deste modo, o egoísmo é destruído, ao enxergar a inabalável constatação, esta me diz que não mais preciso viver para mim mesmo, mas posso viver para aqueles que precisam de um lugar ao sol. Enquanto eu estiver zelando por meu cargo inútil, não faço o que tem de ser feito em prol da educação, então, assim, não prenuncio a melhora.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/06/2009
Código do texto: T1634556

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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07/06/2009 12:15 - Maria José
Estou encantada com sua capacidade de escrita, quero ler todos os seus textos, me manda, tá.

sábado, 10 de janeiro de 2009

MAIS VANTAGENS AINDA (Suborno admirável)



Crônica

MAIS VANTAGENS AINDA ("O que é o céu se não um suborno, e o que é o inferno se não uma ameaça?" — Jorge Luis Borges)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Certo homem tinha um filho na escola pública, e vindo pegar seu boletim, descobriu de novo que seu amado filho estava reprovado. Pelo que disse à diretora:

          —Há três anos venho tentando fazer desse menino gente, mas ele não quer; pode cortá-lo da escola. Para que está ele ainda ocupando inutilmente a escola?

          — Esse, é um menino saudável e não é violento, deixe-o, não está causando dano algum! – Disse a gestora hipocritamente.

          Porque, de acordo com a Secretaria da Educação, esta criança está causando dano sim, por está ocupando a vaga de outra que precisa entrar no sistema educacional. E custa cem dólares por dia ao Estado. Ela representa mal a sua família e não somente é improdutiva, mas constitui um estorvo para os que querem ascender na carreira estudantil.

           No ponto culminante desse relato, quando a situação parece estar muito tensa e desejamos saber se um aluno deve ou não ser expulso da escola quando reprovado na mesma série por mais de duas vezes; há o argumento apresentado por essa gestora escolar. Ela até admite que a declaração do pai é correta, porém, replica:
          — Deixe-o ainda este ano. Vamos conceder-lhe uma recuperação especial. Vamos inscrevê-lo no programa de bolsas, dar-lhe os livros, o uniforme, esse ano não vai faltar o lanche das crianças e se tiver boa frequência, a família será beneficiada com o salário escola.
          Agora, o pai e a diretora estão juntos aí com uma só ideologia, em unidade de propósito, então perguntemos: “Tiramos o menino da escola?” E eles dirão:
          — Não; não o tiremos. Deixá-lo-emos este ano. Procuraremos fazer outra coisa. Dar-lhe-emos mais vantagens.
          Ouça, amigo leitor: você acha que está passado o limite, e um aluno, que vai à escola só para fazer número, merece ser cortado; sim ou não? Eis aqui a evidência da opinião contraditória do sistema educacional a respeito do caso nesse tempo de misericórdia e graça, dizendo: “Deixe-o. A essa criança do fundamental, a esse jovem do Ensino Médio, àquela pessoa idosa da EJA, que ficou fora da graça muitos anos, concede-lhes mais um ano. E mais um depois disso, e então mais um ainda.”

          O mercado de trabalho corta mais depressa do que o sistema educacional. Quão admirável é o sistema educacional que servimos! Ele não nos trata como os empresários tratam seus funcionários e colegas de trabalho se tratam, mas continua oferecendo sua misericórdia e seus favorecimentos sem referência no mundo no qual pretende inserir seus "formados". RsRsRs.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2009
Código do texto: T1633765

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10/06/2009 12:49 - dimitriguimaraes
DESISTIR DO SER HUMANO SERIA O FIM DE TODOS NÓS. TODO SACRIFICIO ENPENHADO DEVE SER LOUVADO.



07/06/2009 12:17 - Joana
Foi bom ler sobre os subornos da escola, mas como eliminar essa tal nota para tudo?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)


Crônica

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)

Por Claudeci ferreira de Andrade


            Ouço constantemente de meus alunos: — "Ela está se achando!" Dizem daquela pessoa oferecida, desinibida, autoconfiante e a “puxa saco” do professor etc! 
           Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se. Sou o útero de mim mesmo. Se você descobre que está com uma enfermidade e não procura um médico. Se, em vez disto, conclui que não necessita de um, deixa o tempo correr e não mais precisará de um médico. Muitas viúvas aflitas têm exclamado pesarosamente que o esposo não quis admitir que necessitava de auxílio médico — para a sua própria destruição. Compreendo que “se achar” é se valorizar, é se querer, é buscar o melhor para si.
           Nossa alienação de nós mesmos resulta no esvaziamento de boas opiniões próprias sobre si mesmo, este, por sua vez, nos causa incalculável sofrimento. Porém, os inimigos fracassados, entretanto, mentem convincentemente, a nossos ouvidos, têm nos levado a desconfiar do nosso maravilhoso potencial, fazendo afirmações ilusórias e completamente equivocadas sobre nosso caráter. Dizem que quando repetimos uma transgressão, a consciência é queimada parcialmente e que se repetirmos o erro por várias vezes, somos “burros”, talvez querem dizer: — ela não sinaliza mais. (está morta). O “si” em si do homem é sua consciência. Se a consciência abandonasse o homem, ele perderia toda a sua cultura, seria uma falsidade ambulante, teria um viver mentiroso. Em vez disso, quando a consciência age com suma integridade, nenhum opróbrio artificial é alcançado sobre esse fanal de comando do homem. Nenhuma disciplina arbitrária é extorquida. Considerando isso, podemos até mesmos descobrir uma definida cortesia para com a qual tratarmos a nós mesmos.
          Nosso caráter, adjetivador da  consciência, nunca muda, uma vez formado pode até mudar de cor, como os cabelos na velhice, mas tudo já previsto no DNA:  “Pode o leopardo mudar suas manchas”? Pelo contrário, descobrimos ter nascido com tais e tais inclinações quando falamos (“a boca fala do que o coração está cheio”), palavras que moldam nossas reações conscienciosas frente às circunstâncias advindas. Mas, com ternura infinita e cuidadosa linguagem, fala-nos a consciência. Fala-nos se erramos, se houve maus relacionamentos, ela fala para se impor como alicerce da vida cultural do homem. É minha consciência que sabe quem sou eu verdadeiramente. Portanto, ela me diz a verdade acerca de minha real condição. O juízo Divino acontece no tribunal da consciência de cada indivíduo e na consciência universal a todo instante, se assim não fora, não teríamos consequências justas para cada ato e procedimento de nosso ser. Nossa separação dela nos prejudica com a ausência de Deus. Ela nos pune infligindo ferimento psicológico, somos prejudicados sim naturalmente com as consequências de nossa separação de nós mesmos, ou seja, daquela que é a mais amável, cuidadora veraz, leal, estimulante do eu, renovadora, encorajadora e fonte de energia em nossa vida:  A consciência. Isto faz apenas bom sentido concordar que ela é absolutamente correta em confessar nossa condição. Voltando ao relacionamento correto com ela, e a partir daí, começamos a experimentar a cura completa para a infelicidade de que tanto buscamos.
          A consciência não é a voz de Deus porque não se pode apagar a voz de Deus, ela é sim cultural. Gostaria de apelar para quem ainda há que tenha consciência. Ela dói quando um princípio cultural é ferido.
        Hoje, ainda, estou me achando! A morte para mim será a perda de mim para mim mesmo, por isso escrevo sobre minhas experiências terráqueas, descrevendo-me objetivo e subjetivamente, para que sempre me tenham com vocês. E assim, por tabela, eu viva eternamente em em sua consciência.


 texto: T1629423

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domingo, 28 de dezembro de 2008

O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)



Crônica

O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade



                Uma mulher idosa, professora experiente, que já gozava de uma avantajada dose de discriminação, pois andava sem muita criatividade profissional, aceitou o desafio de fazer o portfólio como seu “salvador da pátria”, e encontrou grande alegria em juntar fotos, projetinhos, trabalhos, folders, diplomas e papeladas mil! Alguns dias depois de avaliada pela comissão, um colega interrogou-a sobre sua nova experiência.

            — Deve ter abandonado muitos afazeres importantes para reservar tempo para a confecção desse portfólio. A senhora comprometeu a dedicação ao lar, a família e até “desenterrou defunto” – tudo. Não é sacrifício demasiado para fazer uma coisa ridícula e inútil como é o tal portfólio?

            A velha professora meditou um momento:

            — Colega –  disse ela com sinceridade – constantemente me perguntam a respeito do que eu deixei de fazer por isso ou aquilo que faço na escola. É estranho, mas jamais alguém me perguntou sobre os benefícios disso ou aquilo que faço na escola. Na verdade eu deixei de fazer muito pouco, comparando com o lucro social e na relação com meus superiores. “O meu copo transborda”.  Agora que tenho um portfólio em mãos, tenho tudo o que preciso para dizer quem sou eu. Sendo assim, tudo que o coração de uma professora como eu pode desejar é o reconhecimento profissional. Nas páginas abarrotadas de boas informações maquiadas ou não, compradas ou não, encontra-se tudo que uma comissão amiga pode desejar. A comissão não apenas pode ver o meu alvo de perfeição, mas pode também fornecer-me orientações para que possa alcançá-lo. Ao aceitarmos essas orientações nos tornamos melhores profissionais. Mediante horas a fio em contato com a matéria a ser portfoliada, a consciência se aguça, tornando-se realidade dentro da minha alma que ainda está sedenta. Nada há para o presente ou para o futuro de um profissional que uma comissão avaliadora não possa perceber mediante a sistemática análise do seu portfólio. Podemos nos tornar completos nele.

            Também consigo ver esse lado que a velha professora viu. Tudo pode ser nosso, o que ainda não foi conquistado, quando apresentamos um excelente portfólio. Ele é fonte de um bom trabalho, de conhecimento e de realizações. Dele flui luz, esperança, capricho, esforço e conforto. Ele é o transformador de situação. É o manancial das revelações. Nenhuma segurança profissional maior pode alguém possuir do que a promessa de promoção, asseverada ali. É uma gostosa "verdade": você é o que é seu portfólio!? Só suspeito que a professora estava sendo tão irônica como eu estou sendo agora!

            O portfólio é uma espécie de Curriculum Vitae, pedi-lo como requisito para contratar é bastante coerente, mas para trabalhadores de muitos anos concursados eis a questão.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/06/2009
Código do texto: T1628062

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

EDUCAÇÃO EM CRISE (A ausência dos pais faz aumentar consideravelmente os casos de indisciplina no ambiente escolar.)

EDUCAÇÃO EM CRISE
Por Gedeon Campos

                Os gráficos até podem dizer o contrário, mas a realidade da educação, na prática, não é nada boa. Não é de agora que a formação educacional por aqui vive a cargo exclusivamente das escolas que funcionam com parcos recursos. A família gradativamente vai saindo de cena, afinal, a maioria dos pais vem se limitando à singular responsabilidade de matricular as crianças menores, ainda assim por temer repressão do estado e por causa das ajudas assistenciais do tipo Bolsa Escola, PETI e outras tantas, por sua vez, atreladas à matrícula e à freqüência do aluno. Isso terá agravantes, porque a ausência dos pais faz aumentar consideravelmente os casos de indisciplina no ambiente escolar.
                Mas, se por um lado a formação educacional esbarra na indisposição dos pais em colaborar para a educação dos filhos, por outro, não dispomos de um projeto de educação que seja programa exclusivo do Estado. Por essa razão, o sistema sofre mutações constantes. A falta de propostas consistentes faz o sistema curvar-se diante da (má) vontade política e das organizações que ditam como deve ser a educação brasileira, introduzindo programas absurdos que tendem a desonerar o Estado, dando respostas quantitativas por meio da eliminação de etapas e da aceleração indiscriminada de alunos. O resultado da banalização desses programas é uma coisa insossa, já que o professor normalmente se Vê obrigado a ensinar o que ele não acredita que deve ensinar, limitando-se a disseminar crenças que possam ser consideradas úteis pelo sistema e a jogar para fora do ambiente escolar um sem tanto de homens que, embora “formados”, mal conseguem ler e desenhar o próprio nome. E o pior de tudo é que o professor converte-se, cédula por célula, num servidor cortês passando a executar as ordens de homens que não têm a sua cultura, aliás, de gente que não dispõe da menor experiência com o ofício e que leva o assunto “Educação” na base da propaganda. Talvez seja por isso que os profissionais vivam em constante depressão, já que o princípio geral da educação, como o qual muitos sonharam ao sair da academia, que era o de levar a criança a ler e a escrever contribuindo para sua experiência de mundo, mostra-se completamente distorcido. E o professor, agora um desconhecido a si mesmo, surpreende-se, inculcando a insensatez e o entusiasmo coletivo.
                E, por fim, como se não bastasse, resta um outro agravante relacionado à produção midiática. A indústria cultural brasileira vem se limitando à produção de bordões que são reproduzidos em cadeia de rádio e TV. Essa talvez seja a razão da gente não mais se assustar ao ouvir ou ver um professor no meio de alunos, na hora do recreio, dançando ao som de ritmos do tipo “só as cachorras, as preparadas” e assim por diante, já que a onda do memento parece ser contemporizar, ser light. Mesmo que, para isso, a gente venda nossa disposição de divulgar opiniões e prefira trazer essas besteiras para o contexto escolar. Afinal, está muito dissipada da nossa memória a imagem daquele professor que, em outros tempos, incomodava - ninguém se lembra que Sócrates foi condenado à morte e Platão, trancafiado, em decorrência daquilo que ensinavam – uma vez que o professor de agora não consegue ir além do burocrata que é, envolvido com diários e programas que se apóiam em números e controle das informações contidas nos conteúdos programáticos.
                (FARO, Circulação de idéias, ano I, edição nº 4, maio de 2006).

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

O ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS (Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados.)

Crônica 

O ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS PÚBLICAS (Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados.)

Por Bariani Ortencio


                Não há aprendizagem sem disciplina nem disciplina sem autoridade. A escola é o canteiro onde nascem as boas e as más sementes. Quem perdoa as pessoas são os castigos. Sem punição não pode haver disciplina e obediência: Educação sem amor; fofa.
                Faço palestras em escolas públicas e particulares, e fico pesaroso em ver a situação da maioria, as públicas, não os colégios militares, que são exemplares, estou denunciando, porém, não censurando quem quer que seja: as denúncias pela imprensa mostram que  o mal está generalizado em todo o País: “48.000 crianças em escolas goianas são analfabetas. 87% estão na rede pública. Faltam 250 mil professores na rede pública, mas e o salário?
                O projeto do cidadão está na escola e, no lar, o ambiente afetivo da criança, onde aprende educação, e como a educação vem de casa, uma parcela de culpa  é dos pais. Permitem a criança no computador pela noite a dentro e o professor acordando o aluno debruçado na carteira. Uns falando ao celular e outros assistindo aulas com o aparelho de som aos ouvidos, alguns prometendo, com palavrões, pegar o professor fora da escola.
                Professores amedrontados, humilhados, tentam agradar alunos malcriados. Pais omissos, diretores e coordenadores sem pulso forte e professores fazendo B.O na polícia. Colocam o filho na escola “pra professora dar um jeito”, achando que o professor (maioria professoras) é obrigado a domar a fera mal educada. E vai por aí, alunos drogados, sem uniformes, alguns vestidos até com deboche. O pior é não ter reprovação, não haver exigência de porcentagem de freqüência: “Lá na escola não pode repetir de ano. Então eu vou passando... João, 16 anos, com graves dificuldades para ler, escrever e fazer contas simples, mas cursa a nona série. Nesse sistema onde números são mais importantes que o ensino, alguém já parou para pensar no futuro destes jovens?” (O POPULAR, 18.8.2008).
                “De todos os assuntos de interesse da sociedade brasileira, o mais urgente é, sem dúvida, o problema da educação básica, primária ou fundamental... Os péssimos resultados colhidos estão aí, constatados e divulgados por organismos nacionais e internacionais especializados em avaliação escolar: os alunos brasileiros do ensino fundamental estão entre os piores do mundo, em matemática, língua portuguesa e ciências. Piores do que nós há somente dois ou três insignificantes países do Caribe e da África... E a escola fundamental continua de mal a pior, com seus concluintes incapazes de redigir um simples bilhete e mal sabendo as quatro operações...” (Lena Castelo Branco – DM, 30.9.2008).

                Nos colégios dirigidos por militares graduados (ambos os sexos) predominam a disciplina e a eficiência. Todos os alunos são uniformizados e se levantam quando o professor entra na sala de aula. No final da palestra a maioria faz perguntas interessantes.

                “A terceira edição do Prêmio Ciências no Ensino Médio, do MEC, premiou duas escolas goianas da rede estadual: uma foi o Colégio da Policia Militar Hugo de Carvalho Ramos, de Goiânia.” (DM, 6.6.2008).

                Não é da nossa intenção ensinar o Pai Nosso ao vigário a ninguém, mas apenas um palpite que julgamos feliz: para todos os males há remédios, e o remédio eficaz, o “santo remédio” para o mal da Educação em nosso País, o caminho certo para colocar a escola pública nos trilhos, é, além da reprovação, o modelo da Escola Militar. Assim teremos aprendizagem com disciplina e disciplina com autoridade. Macktub!
( O POPULAR, Crônicas e Outras histórias, 19.12.2008).
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 16/01/2011
Código do texto: T2732919

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sábado, 20 de dezembro de 2008

SOU MAIS UMA 'PEDRA NO CAMINHO'! Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra, a nossa própria passividade seria uma forma de ação." — Jean-Paul Sartre)



CRÔNICA

SOU MAIS UMA 'PEDRA NO CAMINHO'! ("Ainda que fôssemos surdos e mudos como uma pedra, a nossa própria passividade seria uma forma de ação." — Jean-Paul Sartre)

Por Claudeci Ferreira de Andrade



            “O poema, publicado no livro ‘Alguma Poesia’ (1930), causou um verdadeiro escândalo na imprensa da época, provocando ataques ferrenhos ao autor por críticos que se negavam sequer a considerar poesia aquele texto ousadamente estruturado na repetição e numa construção lingüística simples, coloquial, que afirma a fala popular: ‘tinha uma pedra’ em detrimento da forma culta ‘havia uma pedra’”.(http://soslportuguesa.blogspot.com/2015/09/modernismo-2-fase-carlos-drummond-de_22.html) — acessado em 15/07/2019.


"No meio do caminho tinha uma pedra


tinha uma pedra no meio do caminho


tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra."
(Carlos Drummond de Andrade)

           É certo que na maioria dos caminhos é bom evitar os extremos e permanecer “no meio do caminho”, como nos é dito por pensadores que defendem o equilíbrio. Normalmente, eu estou do lado desses bons conselheiros. Mas, há ocasiões em que o professor não pode ficar no centro do caminho parado, impunemente. Ocasiões há em que o homem no centro do caminho, no meio da estrada, está totalmente errado. No caso da educação, isso acontece quando os princípios pedagógicos estão mal aplicados, mal resolvidos e indefiníveis. É como dizer de alguém estar em cima do muro.
           Fui advertido por está conduzindo minha moto no meio da estrada, em cima da faixa central. Foi-me recordado o que eu sabia havia anos — que através do DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), o governo gasta milhares de Reais cada ano, pintando a linha divisória para mostrar aos motoristas o centro da estrada, de modo que eles possam permanecer em sua mão, e não no centro, como aconteceu comigo.
           Assim também, os professores dedicados e disciplinados sentirão que a linha de demarcação entre a má e a boa educação devia ser mantida perfeitamente distinta. Esses se recusam a se familiarizar com o modismo do mundo educacional, mas não querem ser tradicionalistas, e assim, viram-se pedras no meio do caminho. Quem ainda não se sentiu obrigado a parar no meio do caminho por não saber que direção tomar exatamente. São tantas injustiças, tantos favorecimentos! E os alunos diante daquela "pedra" no meio do caminho sem expressar seu posicionamento com relação às mudanças pré-moldadas pelos homens dos escritórios, estes que se dizem não tradicionais, transformam-se em pedras também. Ou os mestres se comportarão entusiasticamente favoráveis do lado certo, ou a pedra drummondiana permanece representada por mestres que usam metodologias que não apontam caminho algum.
           E mais: a LDBEN (Lei de diretrizes e bases da Educação Nacional) e os Parâmetros Curriculares não deixam lugar para compromisso com a “lambança”. Entende-se que os grandes professores não podem aceitar transigências. Em nossas opiniões não deve haver a menor aparência de incerteza. A comunidade tem o direito de saber o que deve esperar de nós.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 01/06/2009
Código do texto: T1625938

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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