"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

FAZENDO "TRANSAÇÕES" NO AMBIENTE ESCOLAR




Crônica


FAZENDO "TRANSAÇÕES" NO AMBIENTE ESCOLAR

         Por  Claudeci Ferreira de Andrade

    
Não há nada mais decepcionante do que está concentrado em uma aula de interpretação de texto, e bate à porta um para interromper: é um vendedor de livro; ora um vendedor de carteirinha estudantil; ora representantes de cursos de informática; ora o presidente do bairro e/ou da igreja, fazendo convites vários; vendedor de camiseta; depois a turma do grêmio estudantil com uma nova ideia; bem como os estagiários da saúde para distribuir camisinhas; anúncios da coordenação; os alunos da sala vizinha para tomar algo emprestado; até a merendeira. Aqui não dou conta de enumerar quantas futilidades oficiais nos pretendem encher o tempo de aula. Isso sem falar de um ou outro engraçadinho na própria sala que articula a inviabilização da boa aula com piadas sem graça. Eu sei muito bem o que é trabalhar até tarde da noite, preparando uma boa aula e sentir meus esforços desconsiderados. É como o recipiente em que você está levando morangos maduros para casa, rasga-se precisamente no momento em que você sai do carro, fazendo uma sujeira horrível. A sala de aula é um recipiente desejável, público cativo, porém frágil.
           Desde há muito tempo, a escola pública brasileira tem se escondido da qualidade. Escondido porque está com medo da sociedade. Não precisa esconder-se! Seus temores têm sido baseados em falsos relatórios dos enganadores: "estatistiqueiros". Enfrentar a comunidade para mostrar o caráter da boa educação é um indicador de qualidade. Não podemos deixar nem um só momento sequer de aula esvair-se como gás para o espaço. Não tenho visto nenhuma expressão de amor verdadeiro à causa, nessas interrupções. Contêm elas o conteúdo que o sistema planejou para ser dado em sala livremente? A escola quer encher nossa vida apenas com sua amizade?
           Cabe a nós professores a não entregar a esses interruptores a sala, esta, sacola de papel. Porque eles entram e saem e o público fica vazio, tão horrivelmente vazio! Nós, tão somente, admitimos que necessitassem do nosso conteúdo curricular, roguemos à unidade escolar, para que possamos dá-lo sem a interrupção dos que não têm propósito educacional, mas visam somente aos seus bolsos!
           Qual é a nossa resposta? Se a resposta da escola for uma de conivência, ela é forçada a ajudar-nos a lidar com essa realidade. Com muito cuidado ela terá que nos explicar o porquê de tanta incoerência como: não deixar entrar alunos com as roupas que eles têm, “escandalosas” e permitir a distribuição de camisinha para os menores do Ensino Médio. A princípio imaginamos que os tempos modernos estão nos apanhando como se apanha moscas em mel. Mas, enquanto estamos tremendos em nossa nudez diante da comunidade, ela cobre-nos com seu próprio manto, suas propagandas bem elaboradas e amigáveis, continuam nos oferecendo enganação: “isso te tornará mais confortável”.
            E isto resolve: que nos ofereçam palestras substanciosas que encham as salas de aula com algum conteúdo interdisciplinar que adicione. Até agora, reconhecemos prontamente que, perturbam-nos com coisas que não justificam a interrupção, entram e saem, deixando apenas um boqueirão vazio, ou melhor, cheio de indignação.
             Que sejam pelo menos ajustados: Professora vende confeitos; alunos vendem bombons, mas no pátio e na hora do recreio. Um desse dias comuns, eu comprei um vidrinho de óleo aquecedor, para comprovar que uma menina estava vendendo produtos eróticos no espaço escolar. Apenas confirmei, mais uma vez, que os ambientes moralistas modernizaram-se, pois já havia lido que existem vários sex shops para evangélicos inaugurados pelo país afora (http://dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130426&p=23 ). (acessado em 08/05/2013). Eu ia repreender? Claro que não! Sofro, mas tento acompanhar a evolução cultural.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/06/2009
Código do texto: T1641207

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

ALUNO RECONHECIDO, PROFESSOR MANIPULATÓRIO


Crônica

ALUNO RECONHECIDO, PROFESSOR MANIPULATÓRIO

Claudeci Ferreira de Andrade


          Não há dúvida de que as autoridades políticas possuam mecanismo que promova o reconhecimento devido ao profissional da educação e que elas desejam torná-lo disponível.

          Mas, nem sempre está claro como esse reconhecimento se torna nosso. Você já notou a maneira em que costumeiramente reivindicamos o reconhecimento? Rogamos: — “Aumentem o nosso salário”! “Diminuam nossa carga horária”! Mas, o que estamos supondo? É o reconhecimento “aspergido” de cima para baixo como estamos acostumados a engolir as outras resoluções e decretos mil. Implantariam as autoridades políticas para este reconhecimento em forma de um aumento salarial à categoria do magistério tão prontamente como aumentariam os seus próprios salários? É nossa profissão mais árdua se não pedirmos esse reconhecimento?

          Talvez fosse mais apropriado se começássemos fazendo movimentos grevistas, pedindo mais trabalho, pois é sempre assim, quando ganhamos um adicional no salário, vem junto, mais trabalho e um aumento na parcela da previdência. Poderíamos afirmar a estes chefes, com essa atitude irônica, que estamos dispostos a ser lembrados mesmo a preço de “banana”.
          Há três abordagens gerais à pergunta sobre como obtemos o reconhecimento da sociedade. Elas podem ser sumarizadas deste modo: Primeiro, o reconhecimento é merecido, os governantes são obrigados a no-lo dar por causa de nossa utilidade social; segundo, o reconhecimento é conseguido com agrado ou lisonja, as autoridades são induzidas por nossa mendicância e terceiro, o reconhecimento é inerente, as autoridades políticas são sábias, bem preparadas academicamente a ponto de ver o futuro da educação.
          A maior parte de nossas greves e petições por reconhecimento cai na segunda categoria. Supomos que nossos chefes retêm todos os mecanismos promovedores do nosso reconhecimento e que eles arbitrariamente dispensam àqueles com quem estão satisfeitos (como o Papai Noel das grandes casas comerciais doam bombons às crianças). Naturalmente, o outro lada desta ideia é que eles também podem se utilizar de maldições e despejar algumas delas sobre aqueles com quem estão descontentes (perseguição).
          Segundo um ou outro raciocínio, os nossos chefes usam seus recursos a fim de manipular-nos. Votando e aplaudindo um governo manipulador nos tornamos como resultado: manipulatórios. Que tal se a rebeldia, a irreverência e a indisciplina de nossos alunos nos manipulassem, também, para com os nossos chefes. Talvez quem sabe, teríamos o reconhecimento que eles têm, advindo das providências dos governantes em sua sede de erradicar o analfabetismo (gratificações, livros, merenda, transporte escolar, kit uniforme, vale cesta básica, salário escola etc.). Consequentimente, o reconhecimento não é o ato de um governo arbitrário! O aluno é importante, o professor não?!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 09/06/2009
Código do texto: T1640459

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sábado, 7 de fevereiro de 2009

O que há de melhor? (Instigando o Desejo de Melhorar)


Crônica

O que há de melhor? (Instigando o Desejo de Melhorar)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Você já comeu sem sentir vontade, comendo até ficar cheio, mas sem prazer? Pois, é exatamente o que sinto em ministrar a sexta aula de Língua Portuguesa, por semanas a fio, na mesma sala por falta de um horário de aula bem elaborado.

          O primeiro passo rumo a um ano letivo promissor é corresponder com as necessidades minimamente básicas. Muitos professores em toda parte estão ingerindo sem prazer alguma comida estragada, servida assim por incompetência de alguns no sistema educacional. Tenho dito: não podemos terminar bem se começamos mal; não se termina certo se se começou errado.

          Os três pilares que sustentam uma educação ideal a meu ver, primeiro organização gestora, depois conteúdo adequado e por último um vasto material didático atualizado. Esses pilares estão atraindo todo indivíduo da comunidade escolar para que enfrente as verdadeiras questões deste tempo de crise educacional e dê sua contribuição competente.

          Você professor tem desejo de alguma coisa melhor do que aquilo que conhece atualmente? Em caso afirmativo, então isso prova que nem tudo está perdido, há uma partícula ígnea de competência que lhe dá esse desejo. Quer esteja disposto admiti-lo ou não; quer o identifique dessa maneira, ou não; esse desejo é dado pelo bom senso de responsabilidade inerente em qualquer pessoa normal. Ele está lhe coagindo. Está impulsionando seu coração, sua vida, sua mente para fazer o que é preferível.

          Tal desejo não será satisfeito se apenas ocupamos alguma função no sistema. Há uma grande diferença entre ter um cargo de destaque e ser profissional. Há uma diferença entre conhecer os preceitos e conhecer a realidade. Pode haver uma grande lacuna entre submeter-se às formas exteriores, mostrar o regimento escolar e verdadeiramente conhecer as necessidades reais para um respeitoso funcionamento das engrenagens do sistema.
          Não somos professores por acaso. Nosso potencial é assombroso! Entretanto, muitas vezes decidimos tão pouco, nós que fomos destinados a partilhar o saber, conservamo-nos pouco acima dos animais, enquanto deveríamos ser um pouquinho abaixo dos anjos. Temos de ir deliberadamente contra esta forte vocação de deslizar para a escória da humanidade. Embora tenhamos ingressado no sistema educacional precisamos conservar o princípio que Deus colocou dentro de nós: o desejo de melhorar.
          Cientificamente, agora sabemos que o alimento digerido sem sabor não é utilizado pelo corpo na mesma extensão que o alimento consumido com prazer. Sem critério jamais poderemos ser felizes. Afinal, não somos criados para guardar as boas coisas só para nós!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/06/2009
Código do texto: T1638115

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domingo, 1 de fevereiro de 2009

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")


Crônica

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")

Claudeci Ferreira de Andrade


          Eu nunca recebi flores e minha única chance de recebê-las, antes de meu funeral, seria se um dia fosse eleito o “Professor destaque" em minha unidade escolar. Mas, para ser eleito o destaque é preciso fazer milagres. Coisa que ainda não aprendi.

          Por que somos tão impressionados com coisas miraculosas? Damos toda a nossa atenção àquilo que faz nosso coração bater e acelera a nossa respiração. Quando o chefe vê o espetacular, ele baixa a faculdade de discriminação e perde a razão simplesmente pelo gozo do evento e mostra toda a sua fraqueza, elegendo o funcionário destaque.
          Não é de surpreender, portanto, que muitos recorram a testificar de atos deveras impressionantes na escola: índice de reprovação zero, promoção de passeio, aulas de campo, projeto de dança, entrega de diários e relatórios antecipados, nenhuma falta com o livro de ponto, assinado quinze minutos antes do horário. Tem uns que recorrem até a métodos desonestos para se evidenciar, como inspecionar a vida alheia para apresentar a mais quente fofoca, “verdadeiros milagres”.
          A maioria de nós talvez não sejamos capazes de jactar-nos de tão magnífico portfólio avaliativo como o deles, mas podemos lembrar-nos de que seríamos capazes de Produzir milagres menores. Pensamos na inundação de sentimentos que tivemos durante o chamado à coordenação, isso produziu até lágrimas, e permanecermos firmes. Pensamos na ocasião em que falamos com alguém importante para ajudar adquirir alguma coisa para facilitar a fluência do trabalho, recebendo um não. E que dizer da ocasião em que conduzimos algum aluno “trapalhão” à coordenação e ouvirmos dela que esse é um aluno especial? Não constitui tudo isto prova de que estamos entre os dignos de destaque, também?
          Mas, o resultado final nos adverte de que tudo isto simplesmente é um grande problema. O poder miraculoso pode impressionar-nos; mas somos gratificados mesmos somente por um salário que nos dignifique à vida. Podemos livrar-nos de alguns maus hábitos de professor; dar boas aulas; podemos até mesmo levar pessoa a passarem no vestibular. Entretanto, os únicos impressionados são os outros. O que realmente necessitamos é de ser impressionados com uma vida digna de um profissional que se preze. De outro modo estaremos ainda influenciados por aquele velho mito de que a felicidade está fundamentada no bom desempenho em vez de no poder aquisitivo lato.
          Mas, a história de vida de qualquer pessoa (porque todos passam pela Escola) confirma que isto produz servidores atrofiados. Por melhores, miraculosas e rotuladas que sejam as ações, feitas com o seco propósito de vencer o concurso: “professor destaque”, são ações atrofiadas. Não porque as ações em si sejam sinistras, mas porque são feitas por pessoas alienadas.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/06/2009
Código do texto: T1636134

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)

Crônica

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)

Claudeci Ferreira de Andrade


          Em verdade, se tem afirmado que para a educação não tem remédio. A melhora do sistema educacional deve ser o desafio de toda a sociedade. Mas, essa batalha se torna difícil porque muitos alimentam o sutil desejo de que tudo continue assim como estar para garantir o emprego. Existem funções que poderiam ser extintas sem prejuízo algum ao sistema, mas contamos com um conflito interior no momento da decisão: Se contribuímos com uma ação transformadora, sacrificamos nosso cargo, então opinamos por dar continuidade, esperando o fracasso coletivo. Essa é uma dimensão muito mais sutil que tem demonstrado ser a queda de muitos. Porém, não lhe incomoda se for todo mundo junto para o buraco? Já sei, o que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!

          Fazer como deveria ser feito fere o próprio egoísmo. Mas, nessa luta, devemos procurar por nós mesmos deixar de praticar atos egoístas ou mesmo parar de condescender com pensamentos egoístas. E quando não conseguirmos atingir o que sabemos que deveria, que a consciência não nos deixe em paz.

          Sua preocupação com o que os seus colegas pensam de você tem sido o sabor de sua vida profissional? Esta variação da luta contra o ego é tão sutil porque parece tão piedosa. Podemos até mesmo relatar nosso progresso nas reuniões pedagógicas e fazer disto o centro de infindável angústia particular. Mas isto apenas obscurecerá o fato de que o “eu” ainda é a motivação reinante em nossa vida.
          O único remédio para a educação é aceitar inteiramente o risco de perder o bom cargo e fazer o que deve ser feito na intenção de melhorar o todo, enquanto alguns tiverem olhando só para seu “umbigo” melhora só para ele. O dom das regalias não é uma recompensa por minhas realizações, mas uma efusão de meu próprio caráter. Tenho lutado por aquilo que eu anelo mais profundamente: a restauração do sistema educacional. Em minhas críticas há sempre muitas sugestões, talvez privadas somente ao analfabeto funcional.
          Tenho recebido como uma dádiva o que eu previamente ansiava obter, ser liberto do egoísmo. Deste modo, o egoísmo é destruído, ao enxergar a inabalável constatação, esta me diz que não mais preciso viver para mim mesmo, mas posso viver para aqueles que precisam de um lugar ao sol. Enquanto eu estiver zelando por meu cargo inútil, não faço o que tem de ser feito em prol da educação, então, assim, não prenuncio a melhora.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/06/2009
Código do texto: T1634556

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07/06/2009 12:15 - Maria José
Estou encantada com sua capacidade de escrita, quero ler todos os seus textos, me manda, tá.

sábado, 10 de janeiro de 2009

MAIS VANTAGENS AINDA (Suborno admirável)



Crônica

MAIS VANTAGENS AINDA ("O que é o céu se não um suborno, e o que é o inferno se não uma ameaça?" — Jorge Luis Borges)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Certo homem tinha um filho na escola pública, e vindo pegar seu boletim, descobriu de novo que seu amado filho estava reprovado. Pelo que disse à diretora:

          —Há três anos venho tentando fazer desse menino gente, mas ele não quer; pode cortá-lo da escola. Para que está ele ainda ocupando inutilmente a escola?

          — Esse, é um menino saudável e não é violento, deixe-o, não está causando dano algum! – Disse a gestora hipocritamente.

          Porque, de acordo com a Secretaria da Educação, esta criança está causando dano sim, por está ocupando a vaga de outra que precisa entrar no sistema educacional. E custa cem dólares por dia ao Estado. Ela representa mal a sua família e não somente é improdutiva, mas constitui um estorvo para os que querem ascender na carreira estudantil.

           No ponto culminante desse relato, quando a situação parece estar muito tensa e desejamos saber se um aluno deve ou não ser expulso da escola quando reprovado na mesma série por mais de duas vezes; há o argumento apresentado por essa gestora escolar. Ela até admite que a declaração do pai é correta, porém, replica:
          — Deixe-o ainda este ano. Vamos conceder-lhe uma recuperação especial. Vamos inscrevê-lo no programa de bolsas, dar-lhe os livros, o uniforme, esse ano não vai faltar o lanche das crianças e se tiver boa frequência, a família será beneficiada com o salário escola.
          Agora, o pai e a diretora estão juntos aí com uma só ideologia, em unidade de propósito, então perguntemos: “Tiramos o menino da escola?” E eles dirão:
          — Não; não o tiremos. Deixá-lo-emos este ano. Procuraremos fazer outra coisa. Dar-lhe-emos mais vantagens.
          Ouça, amigo leitor: você acha que está passado o limite, e um aluno, que vai à escola só para fazer número, merece ser cortado; sim ou não? Eis aqui a evidência da opinião contraditória do sistema educacional a respeito do caso nesse tempo de misericórdia e graça, dizendo: “Deixe-o. A essa criança do fundamental, a esse jovem do Ensino Médio, àquela pessoa idosa da EJA, que ficou fora da graça muitos anos, concede-lhes mais um ano. E mais um depois disso, e então mais um ainda.”

          O mercado de trabalho corta mais depressa do que o sistema educacional. Quão admirável é o sistema educacional que servimos! Ele não nos trata como os empresários tratam seus funcionários e colegas de trabalho se tratam, mas continua oferecendo sua misericórdia e seus favorecimentos sem referência no mundo no qual pretende inserir seus "formados". RsRsRs.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2009
Código do texto: T1633765

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10/06/2009 12:49 - dimitriguimaraes
DESISTIR DO SER HUMANO SERIA O FIM DE TODOS NÓS. TODO SACRIFICIO ENPENHADO DEVE SER LOUVADO.



07/06/2009 12:17 - Joana
Foi bom ler sobre os subornos da escola, mas como eliminar essa tal nota para tudo?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)


Crônica

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)

Por Claudeci ferreira de Andrade


            Ouço constantemente de meus alunos: — "Ela está se achando!" Dizem daquela pessoa oferecida, desinibida, autoconfiante e a “puxa saco” do professor etc! 
           Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se. Sou o útero de mim mesmo. Se você descobre que está com uma enfermidade e não procura um médico. Se, em vez disto, conclui que não necessita de um, deixa o tempo correr e não mais precisará de um médico. Muitas viúvas aflitas têm exclamado pesarosamente que o esposo não quis admitir que necessitava de auxílio médico — para a sua própria destruição. Compreendo que “se achar” é se valorizar, é se querer, é buscar o melhor para si.
           Nossa alienação de nós mesmos resulta no esvaziamento de boas opiniões próprias sobre si mesmo, este, por sua vez, nos causa incalculável sofrimento. Porém, os inimigos fracassados, entretanto, mentem convincentemente, a nossos ouvidos, têm nos levado a desconfiar do nosso maravilhoso potencial, fazendo afirmações ilusórias e completamente equivocadas sobre nosso caráter. Dizem que quando repetimos uma transgressão, a consciência é queimada parcialmente e que se repetirmos o erro por várias vezes, somos “burros”, talvez querem dizer: — ela não sinaliza mais. (está morta). O “si” em si do homem é sua consciência. Se a consciência abandonasse o homem, ele perderia toda a sua cultura, seria uma falsidade ambulante, teria um viver mentiroso. Em vez disso, quando a consciência age com suma integridade, nenhum opróbrio artificial é alcançado sobre esse fanal de comando do homem. Nenhuma disciplina arbitrária é extorquida. Considerando isso, podemos até mesmos descobrir uma definida cortesia para com a qual tratarmos a nós mesmos.
          Nosso caráter, adjetivador da  consciência, nunca muda, uma vez formado pode até mudar de cor, como os cabelos na velhice, mas tudo já previsto no DNA:  “Pode o leopardo mudar suas manchas”? Pelo contrário, descobrimos ter nascido com tais e tais inclinações quando falamos (“a boca fala do que o coração está cheio”), palavras que moldam nossas reações conscienciosas frente às circunstâncias advindas. Mas, com ternura infinita e cuidadosa linguagem, fala-nos a consciência. Fala-nos se erramos, se houve maus relacionamentos, ela fala para se impor como alicerce da vida cultural do homem. É minha consciência que sabe quem sou eu verdadeiramente. Portanto, ela me diz a verdade acerca de minha real condição. O juízo Divino acontece no tribunal da consciência de cada indivíduo e na consciência universal a todo instante, se assim não fora, não teríamos consequências justas para cada ato e procedimento de nosso ser. Nossa separação dela nos prejudica com a ausência de Deus. Ela nos pune infligindo ferimento psicológico, somos prejudicados sim naturalmente com as consequências de nossa separação de nós mesmos, ou seja, daquela que é a mais amável, cuidadora veraz, leal, estimulante do eu, renovadora, encorajadora e fonte de energia em nossa vida:  A consciência. Isto faz apenas bom sentido concordar que ela é absolutamente correta em confessar nossa condição. Voltando ao relacionamento correto com ela, e a partir daí, começamos a experimentar a cura completa para a infelicidade de que tanto buscamos.
          A consciência não é a voz de Deus porque não se pode apagar a voz de Deus, ela é sim cultural. Gostaria de apelar para quem ainda há que tenha consciência. Ela dói quando um princípio cultural é ferido.
        Hoje, ainda, estou me achando! A morte para mim será a perda de mim para mim mesmo, por isso escrevo sobre minhas experiências terráqueas, descrevendo-me objetivo e subjetivamente, para que sempre me tenham com vocês. E assim, por tabela, eu viva eternamente em em sua consciência.


 texto: T1629423

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domingo, 28 de dezembro de 2008

O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)



Crônica

O OUTRO LADO DO PORTFÓLIO AVALIATIVO (Você é o que é seu portfólio!?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade



                Uma mulher idosa, professora experiente, que já gozava de uma avantajada dose de discriminação, pois andava sem muita criatividade profissional, aceitou o desafio de fazer o portfólio como seu “salvador da pátria”, e encontrou grande alegria em juntar fotos, projetinhos, trabalhos, folders, diplomas e papeladas mil! Alguns dias depois de avaliada pela comissão, um colega interrogou-a sobre sua nova experiência.

            — Deve ter abandonado muitos afazeres importantes para reservar tempo para a confecção desse portfólio. A senhora comprometeu a dedicação ao lar, a família e até “desenterrou defunto” – tudo. Não é sacrifício demasiado para fazer uma coisa ridícula e inútil como é o tal portfólio?

            A velha professora meditou um momento:

            — Colega –  disse ela com sinceridade – constantemente me perguntam a respeito do que eu deixei de fazer por isso ou aquilo que faço na escola. É estranho, mas jamais alguém me perguntou sobre os benefícios disso ou aquilo que faço na escola. Na verdade eu deixei de fazer muito pouco, comparando com o lucro social e na relação com meus superiores. “O meu copo transborda”.  Agora que tenho um portfólio em mãos, tenho tudo o que preciso para dizer quem sou eu. Sendo assim, tudo que o coração de uma professora como eu pode desejar é o reconhecimento profissional. Nas páginas abarrotadas de boas informações maquiadas ou não, compradas ou não, encontra-se tudo que uma comissão amiga pode desejar. A comissão não apenas pode ver o meu alvo de perfeição, mas pode também fornecer-me orientações para que possa alcançá-lo. Ao aceitarmos essas orientações nos tornamos melhores profissionais. Mediante horas a fio em contato com a matéria a ser portfoliada, a consciência se aguça, tornando-se realidade dentro da minha alma que ainda está sedenta. Nada há para o presente ou para o futuro de um profissional que uma comissão avaliadora não possa perceber mediante a sistemática análise do seu portfólio. Podemos nos tornar completos nele.

            Também consigo ver esse lado que a velha professora viu. Tudo pode ser nosso, o que ainda não foi conquistado, quando apresentamos um excelente portfólio. Ele é fonte de um bom trabalho, de conhecimento e de realizações. Dele flui luz, esperança, capricho, esforço e conforto. Ele é o transformador de situação. É o manancial das revelações. Nenhuma segurança profissional maior pode alguém possuir do que a promessa de promoção, asseverada ali. É uma gostosa "verdade": você é o que é seu portfólio!? Só suspeito que a professora estava sendo tão irônica como eu estou sendo agora!

            O portfólio é uma espécie de Curriculum Vitae, pedi-lo como requisito para contratar é bastante coerente, mas para trabalhadores de muitos anos concursados eis a questão.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 02/06/2009
Código do texto: T1628062

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