- Crônica Filosófica
A BÍBLIA É TODA APOCALIPSE ("Toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ministrar a verdade, para repreender o mal, para corrigir os erros e para ensinar a maneira certa de viver..." — II Tm. 3:16)
Por Claudeci Ferreira de Andrade Há dias em que o mundo parece andar para trás — não com os pés, mas com a alma, tropeçando em si mesmo como se buscasse, de forma cega, o próprio fim. E, nesses dias, sinto uma urgência quase silenciosa de me retirar. Não para fugir, mas para recuar para dentro. Como quem fecha as cortinas, não por medo da luz, mas para enxergar melhor o que se passa no palco da consciência.
Ultimamente, tenho me recolhido mais ao silêncio do que ao descanso. Não é cansaço — é busca. Enquanto muitos se distraem na pressa, eu me detenho nas entrelinhas. Tenho me debruçado sobre a Torah, não por capricho religioso, mas por sede de sentido. Uma inquietação me visita com frequência: e se o apocalipse não for um evento futuro, mas um processo íntimo que já começou?
À medida que mergulho nos textos antigos, os sinais deixam de parecer distantes ou fantasiosos. Eles ganham rosto, cheiro e som no cotidiano. O caos que antes imaginávamos descer do céu talvez esteja brotando da terra — das mãos, das telas, dos silêncios ruidosos entre as conversas. Sinto que, aos poucos, meu espírito ganha músculos. Não para guerrear, mas para sustentar escolhas. Para permanecer de pé quando tudo ao redor ameaça ruir.
Tomo decisões como quem atravessa uma ponte em chamas: não olho para trás. Liberdade, agora, deixou de ser um conceito bonito e distante para se tornar prática. E essa prática começa na maneira como passo a olhar o mundo — não como algo que me domina, mas como um cenário que posso, pouco a pouco, redesenhar.
Dizem que Nostradamus marcou o fim para 2060. Mas, sinceramente? Eu não quero esperar tanto. Não por impaciência, mas por lucidez. O que precisa acabar não é o mundo inteiro, mas esse modo besta de existir que a gente normalizou — um mundo em que a fé virou espetáculo, o medo virou conteúdo e o amor, raridade.
Se há mesmo um apocalipse a caminho, que seja o que limpa, e não o que destrói. Que as "Bestas" do Apocalipse — simbólicas ou literais — venham não para punir, mas para sacudir esse conformismo sonolento que tomou conta da humanidade. Porque, se há um juízo final, talvez ele não seja um dia, mas um despertar.
No fundo, não temo o fim. Temo o desperdício do meio. Temo que passemos por esta vida sem termos vivido de verdade. Por isso, hoje, enquanto o mundo se engasga com suas próprias profecias, eu escolho respirar. E seguir. Porque, às vezes, o verdadeiro recomeço só acontece quando o fim começa por dentro.
Minha crônica é uma meditação tocante e profunda sobre a sensação de desordem no mundo e a busca por um refúgio interno e um sentido que resista ao caos externo. Ela nos convida a pensar sociologicamente sobre a nossa própria experiência e a experiência coletiva em tempos de incerteza. Vejo nela muitos pontos importantes para reflexão. Com base nas suas minhas, preparei 5 questões discursivas simples:
1. O texto expressa a sensação de que o mundo está "andando para trás" e a ideia de um "apocalipse" como um "processo íntimo que já começou". Como a Sociologia analisa as percepções sociais de crise, declínio ou "fim dos tempos" em diferentes sociedades e épocas, considerando como essas visões são construídas socialmente?
2. O narrador busca sentido na Torá em um mundo que ele percebe como espetacularizado e superficial ("fé virou espetáculo", "medo virou conteúdo"). Como a Sociologia estuda a busca por sentido, espiritualidade e propósito na vida contemporânea, especialmente em sociedades marcadas pela secularização e pela pluralidade de crenças e valores?
3. A crônica fala sobre o ato de "recuar para dentro" e a escolha de "sustentar escolhas" para "permanecer de pé" diante do caos externo. Do ponto de vista sociológico, como a agência individual (a capacidade de escolha e ação dos indivíduos) se relaciona com as estruturas sociais e o contexto em que vivemos, e como os indivíduos respondem a períodos de incerteza ou crise percebida?
4. O texto critica um "modo besta de existir que a gente normalizou", onde "o amor, raridade". Como a Sociologia analisa as normas sociais, os valores culturais e os padrões de comportamento que se tornam "normalizados" em uma sociedade, e quais as consequências sociais (como a percepção sobre o amor, o medo, etc.) dessa normalização?
5. A crônica sugere que o "juízo final" pode ser um "despertar" para a consciência. Como a Sociologia compreende o papel da consciência crítica e da reflexão individual e coletiva na identificação de problemas sociais e na busca por transformação ou mudança em uma sociedade?
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