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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 5 de junho de 2025

O Programa Pé-de-Meia: O Preço da Permanência ("A verdade é a melhor parte da mentira." — Mário Quintana)

 



O Programa Pé-de-Meia: O Preço da Permanência ("A verdade é a melhor parte da mentira." — Mário Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando os primeiros dias de 2024 trouxeram a notícia do "Programa Pé-de-Meia", confesso que uma ponta de esperança se acendeu em mim. A proposta de combater a evasão escolar e diminuir as desigualdades educacionais por meio de incentivos financeiros parecia, à primeira vista, um sopro de ar fresco. Mas, vivendo o cotidiano da educação, aprendi que nem toda promessa se sustenta em chão firme — e a fragilidade dessa iniciativa, embora bem-intencionada, logo se revelou. É como tentar manter de pé uma casa em ruínas com pilares feitos de papel-moeda.

A essência do programa — remunerar matrícula, frequência e conclusão — rapidamente me fez refletir: será que o dinheiro, sozinho, tem o poder de acender a chama do saber nas juventudes? O educador "Miguel Arroyo (2023)" ressoa em meus pensamentos com precisão: "não é a escola que falta aos alunos, é o sentido de estar nela". Em muitos corredores, vejo estudantes de olhos vazios, cumprindo presença, mas sem a curiosidade que deveria mover a aprendizagem. Estão fisicamente ali, mas emocionalmente distantes, movidos pela recompensa e não pelo desejo genuíno de aprender. Corre-se o risco de a escola tornar-se um balcão de trocas, afastando-se de sua verdadeira vocação como espaço de formação humana e crítica.

Essa lógica financeira, embora sedutora, pode aprofundar ainda mais as fissuras sociais. A socióloga "Silvia Viana (2022)" nos adverte sobre a "meritocracia da sobrevivência", um disfarce que encobre desigualdades estruturais sob a aparência de esforço recompensado. Quantos jovens, mesmo enfrentando adversidades imensas, ficam fora do programa por não se enquadrarem nos critérios do Cadastro Único? Muitos precisam trabalhar para ajudar em casa, outros lidam com realidades que vão além da simples ausência de dinheiro. Ao focar nas recompensas individuais, o Estado desvia-se de responsabilidades fundamentais: oferecer escolas com infraestrutura adequada, valorizar seus professores e construir currículos que dialoguem com a realidade dos alunos.

O fato é que o Pé-de-Meia não enfrenta o cerne da questão: a "qualidade da educação" e a "equidade estrutural". Lembro da esperança que me trouxe a promulgação da Lei nº 13.935/2019, com a promessa de psicólogos e assistentes sociais nas escolas. Pensei: “Agora, teremos um respiro!” Mas a realidade, como sempre, mostrou-se mais dura. Sem condições materiais, vínculos estáveis e valorização real desses profissionais, suas ações se tornaram paliativos. O especialista em políticas educacionais "Daniel Cara (2023)" sintetiza bem: "Nenhuma política pública se sustenta sem investimento real e sem escuta dos que vivem o chão da escola". E, vivendo esse chão, não há como discordar.

Proteger de verdade a escola exige muito mais do que palavras bonitas em datas simbólicas ou depósitos condicionais. É preciso "coragem institucional" para romper com a lógica meritocrática que adoece, desmantelar as relações autoritárias que sufocam e silenciar os pactos de omissão que perpetuam a injustiça. Só assim a escola deixará de ser palco de uma segurança encenada para se tornar um refúgio autêntico. Que sejamos capazes, como sociedade, de ouvir o que o chão da escola nos diz — e, mais do que isso, de transformá-lo no solo fértil de acolhimento e florescimento que ela sempre deveria ter sido. Muito além de protocolos vazios, muito além do preço que se tenta fixar à permanência.




Minha crônica oferece uma análise crítica e aprofundada sobre o Programa Pé-de-Meia, apontando suas limitações e a necessidade de uma abordagem mais complexa para os desafios da educação brasileira. Como professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas para explorar essas ideias.


1 - A crônica questiona se o incentivo financeiro do Programa Pé-de-Meia, por si só, é suficiente para reter os alunos, sugerindo que "não é a escola que falta aos alunos, é o sentido de estar nela". Como a Sociologia da Educação compreende o conceito de "sentido" na aprendizagem e de que forma a ausência desse sentido pode ser um fator de evasão escolar, mesmo diante de incentivos financeiros?


2 - O texto aborda a "meritocracia da sobrevivência" e como o foco excessivo em recompensas individuais pode "disfarçar desigualdades estruturais". Com base na Sociologia das Desigualdades, analise como programas que priorizam o mérito individual podem falhar em resolver problemas sistêmicos e quais seriam as implicações para a equidade educacional.


3 - A crônica critica a burocratização do cuidado na escola, mencionando que a Lei nº 13.935/2019 (psicólogos e assistentes sociais) se torna "paliativa" sem condições de trabalho e valorização. Sob a ótica da Sociologia do Trabalho e das Políticas Públicas, discuta a importância do investimento em recursos humanos e infraestrutura para a efetividade de políticas educacionais de apoio e acolhimento.


4 - O autor apela por "coragem institucional para romper com a lógica meritocrática", "desmantelar relações autoritárias" e "silenciar os pactos de omissão". Como a Sociologia das Organizações e a Sociologia do Conflito interpretam a resistência das instituições a essas mudanças profundas e qual o papel da liderança e da participação coletiva nesse processo?


5 - A reflexão final do texto propõe que a escola se torne um "refúgio autêntico" e "solo fértil de acolhimento e florescimento", indo "muito além de protocolos vazios". Do ponto de vista da Sociologia Crítica da Educação, como a escola pode transcender a função meramente reprodutora de desigualdades e se consolidar como um espaço de transformação social e emancipação para os estudantes?

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