Alfabetizados, mas não Lúcidos ("Uma sociedade que não distingue entre educar e doutrinar está condenada a produzir escravos que se julgam livres." — Roger Scruton)
A escola, que deveria ser o lugar da transmissão de saber e da formação crítica, transformou-se em palanque de doutrinações e laboratório de experimentos políticos. Professores já não são mestres de conteúdo, mas animadores de plateia que substituem a lição pelo ativismo. As salas de aula viraram trincheiras ideológicas, onde o conhecimento objetivo é descartado como “opressor” e a ignorância travestida de identidade recebe aplausos.
O resultado é visível: formam-se jovens incapazes de interpretar um texto simples, mas cheios de certezas militantes. Rejeitam a matemática porque exige raciocínio, desprezam a literatura porque pede leitura, ridicularizam a filosofia porque cobra reflexão. Não é falta de inteligência, é falta de disciplina. E a escola, em vez de corrigi-los, bajula suas deficiências como se fossem virtudes.
O absurdo atinge o auge quando se percebe que a missão central da escola — ensinar — foi desvirtuada. Hoje se gasta mais tempo ensinando a “respeitar pronome” do que a conjugar verbo; mais tempo treinando slogans de protesto do que fórmulas de física. Os estudantes saem diplomados em ressentimento e analfabetismo funcional.
Mas talvez nem tudo esteja perdido. Ainda acredito que seja possível recuperar a escola como espaço de saber se resgatarmos o óbvio: o professor precisa voltar a ensinar, o aluno precisa voltar a aprender e o conhecimento precisa recuperar sua dignidade. Não é uma utopia; é um recomeço simples, que exige coragem para separar educação de militância e devolver ao conteúdo o protagonismo que lhe foi roubado. Valorizar a leitura séria, a escrita clara, o raciocínio lógico e a disciplina intelectual seria um primeiro passo. Pequeno, sim, mas capaz de romper a engrenagem que fabrica analfabetos funcionais com diploma. No fundo, é menos sobre reinventar a roda e mais sobre deixá-la girar de novo.
E o mais cruel é que quem ousa denunciar esse fracasso é chamado de “reacionário” ou “inimigo da educação”. Como se amar a verdade e exigir qualidade fosse um crime maior do que perpetuar a ignorância. É nesse ponto que se revela a falência moral do sistema: quando a mentira ganha status de virtude e a verdade é expulsa da sala de aula como intrusa.
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Depois de lermos e refletirmos sobre as ideias apresentadas no texto, preparei algumas questões para guiar nossa discussão. O objetivo é que vocês articulem suas próprias compreensões sobre os desafios e as propostas que o autor levanta para a educação.
1 - O texto afirma que a escola "transformou-se em palanque de doutrinações e laboratório de experimentos políticos". De acordo com o autor, quais são as principais mudanças observadas no papel da escola e do professor nesse novo cenário?
2 - O autor descreve jovens que "rejeitam a matemática porque exige raciocínio, desprezam a literatura porque pede leitura, ridicularizam a filosofia porque cobra reflexão". Explique, com base no texto, o que ele aponta como a causa dessa rejeição e qual a atitude da escola diante dela.
3 - Segundo o texto, houve uma desvirtuação da "missão central da escola — ensinar". Cite dois exemplos dados pelo autor para ilustrar essa mudança de foco no conteúdo ensinado.
4 - Mesmo diante das críticas, o autor expressa uma esperança de "recuperar a escola como espaço de saber". Quais são os três pontos "óbvios" que ele sugere resgatar para um recomeço?
5 - O texto finaliza mencionando que "quem ousa denunciar esse fracasso é chamado de 'reacionário' ou 'inimigo da educação'". Na sua interpretação, por que o autor considera essa reação uma "falência moral do sistema"?



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