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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

“Entre a Lei e o Giz: a Crueldade da Inclusão” (“A escola não pode tudo, mas pode algo decisivo: não mentir para os alunos.” — Rubem Alves)

 



“Entre a Lei e o Giz: a Crueldade da Inclusão” (“A escola não pode tudo, mas pode algo decisivo: não mentir para os alunos.” — Rubem Alves)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Valores, na teoria legislativa, podem até soar bonitos. Porém, na prática, revelam-se cruéis com os professores. E, antes que alguém de fora da sala de aula — defensor da inclusão sem conhecer a realidade — venha dizer que se trata de um “direito do aluno”, é preciso deixar claro: o professor não é contra o direito de ninguém. Muito pelo contrário, ele está ali justamente para garantir esse direito. Mas repetir que “é direito do aluno” não basta para que isso se realize.

Na realidade brasileira, a inclusão não funciona como deveria. É uma grande falácia, e quem sofre, no fim, são os próprios alunos. Sim, eles sofrem, porque seus direitos não são plenamente garantidos. E não é culpa do professor: ele é tão vítima quanto os estudantes.

Vou dar um exemplo. Se eu sou professora do Fundamental I, tenho duas turmas de 30 alunos. Entre eles, quatro são incluídos. Isso significa preparar atividades adaptadas em todas as aulas, elaborar quatro planos individuais por bimestre, mais quatro relatórios diferentes, além de prestar contas à família, ao professor de apoio e à direção. Se estou no Fundamental II, a carga é ainda maior: com 10 turmas e, em média, dois alunos incluídos por sala, chego a 20 alunos que exigem 20 Planos Educacionais Individualizados (PEI), somados a inúmeras adaptações, relatórios e registros.

Perceba o peso disso. O professor, que deveria ser um gestor pedagógico, acaba se tornando gestor de conflitos e burocracias. Seu planejamento se dissolve entre papéis, relatórios e cobranças. E onde ele encontra tempo para elaborar tantos PEIs? Na casa dele. Porque dentro da escola não existe um espaço real de planejamento semanal em que coordenadores, diretores, AEE, mediadores e regentes possam se reunir para discutir cada caso. Na prática, esse diálogo não existe.

E é justamente aqui que mora a saída: se houvesse um verdadeiro espaço de encontro, um pacto de corresponsabilidade entre todos os agentes escolares, talvez a inclusão deixasse de ser discurso vazio. Um modelo eficaz exigiria planejamento coletivo, formação continuada, apoio técnico e, sobretudo, tempo institucionalizado para que cada aluno fosse visto como sujeito singular. O diálogo que falta não é apenas entre papéis e relatórios, mas entre pessoas: famílias, professores, gestores e profissionais de apoio. Sem esse pacto vivo e permanente, a inclusão seguirá sendo promessa quebrada; com ele, poderia se tornar, enfim, uma realidade palpável.

O resultado, hoje, é óbvio: sofrem os alunos, sofrem os professores, e o sistema não funciona. O PEI, que deveria ser um instrumento de inclusão, acabou se tornando, para muitos docentes, um verdadeiro elefante branco.


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1. O texto afirma que a inclusão escolar no Brasil, na prática, não funciona como deveria. Em sua opinião, por que há uma diferença tão grande entre o que está previsto na lei e o que acontece dentro da sala de aula?

2. O autor descreve o professor como “vítima tanto quanto o aluno” diante das falhas do sistema de inclusão. Explique o que ele quis dizer com isso.

3. O texto apresenta o Plano Educacional Individualizado (PEI) como um “elefante branco”. O que essa metáfora quer transmitir sobre a eficácia desse instrumento?

4. Qual seria, na sua visão, o tipo de “diálogo” que deveria existir entre professores, gestores e famílias para que a inclusão funcionasse de fato?

5. De que maneira a burocracia escolar pode acabar prejudicando tanto os alunos quanto os professores? Cite exemplos a partir do texto.

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