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MINHAS PÉROLAS

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Antonio Bezerra

sexta-feira, 4 de abril de 2025

A cola e o escândalo ("A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." - Santo Agostinho)

 

A cola e o escândalo ("A esperança tem duas filhas lindas: a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las." - Santo Agostinho)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã comum de outono, com folhas dançando no chão e um certo cansaço pairando no ar. Entrei na sala de aula como quem entra num campo de batalha, mas ainda com o desejo tolo – ou teimoso – de encontrar ali um pouco de dignidade. Mal sabia eu que, naquela semana, a bomba viria do lugar mais improvável: das redes sociais.

Um aluno, com mais coragem do que juízo, decidiu registrar o momento em que colava descaradamente na prova. Não satisfeito com a façanha, publicou a imagem em seu perfil, rindo como quem tira sarro da própria sorte, como quem desafia o mundo e espera aplausos. O gesto viralizou entre os colegas, ganhou curtidas, risadas, comentários... e, claro, chegou aos ouvidos da direção. Chegou aos meus também, como uma bofetada. Pois, ouvi também, dizerem que quando um professor deixa o aluno colar é um desrespeito aos outros professores, recebi essa afirmativa como uma punição, administrada pelos próprios colegas que acreditaram nisso.

O mais espantoso não foi o ato em si – afinal, "colar não é novidade para ninguém". O que me deixou perplexo foi o julgamento que veio depois. E não falo do julgamento do aluno, mas do que recaiu sobre mim, o professor. Como se a responsabilidade da trapaça fosse minha, como se eu tivesse, de alguma forma, falhado em ensinar que a honestidade vale mais do que um dez no boletim. Houve aquele discurso de que "temos que responsabilizar os alunos que colam"... Como? Se depois temos que aprová-los, não importa de que forma. Talvez se atrevem tanto por que sabem que vão passar de série!

Senti o chão se mover sob meus pés. Alguns colegas cochichavam nos corredores, outros se perguntavam se eu teria sido “distraído demais”. Mas o que ninguém pareceu considerar foi que ensinar é uma arte com limites bem definidos: podemos guiar, mas não podemos controlar; podemos inspirar, mas não podemos impedir. Não sou carcereiro, sou educador.

Aquela publicação na internet não revelou apenas um aluno tentando enganar o sistema, mas também uma geração que, por vezes, confunde visibilidade com vitória e que troca princípios por curtidas. É duro dizer, mas não basta ensinar ética se ela não for desejada; não basta mostrar o caminho se o aluno escolhe o atalho – e ainda se gaba por isso.

Dias depois, veio a punição. A escola agiu, como devia, e o aluno, enfim, colheu o que plantou. Contudo, algo em mim já havia murchado. Não pela cola, não pela imagem exposta, mas por perceber que, mais uma vez, a sociedade preferia apontar o dedo para o educador, e não para quem erra por vontade própria.

Não, "nenhum professor em sã consciência incentiva a transgressão". Nenhum professor acorda pensando em como seus alunos podem burlar regras. Nossa missão, ingrata às vezes, é formar gente de valor. E para isso, não basta explicar fórmulas ou cobrar redações: é preciso resistir, dia após dia, à ideia de que somos culpados pelo que o mundo se recusa a ensinar em casa.

Hoje, quando entro em sala, carrego mais do que livros. Carrego dúvidas, esperanças e um cansaço que só os que lutam pelo futuro dos outros conseguem entender. E mesmo assim, continuo, porque ainda acredito que vale a pena. Acredito que um único aluno que escolhe o certo por convicção compensa todos os que se perdem pelo caminho.

E é por isso que sigo. Porque educar é plantar, e plantar, como todos sabem, é um ato de fé.


Como seu professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas e simples, baseando-me nas ideias principais do texto apresentado:


1. O texto descreve um ato de "cola" que é registrado e compartilhado nas redes sociais, gerando diversas reações. Como essa situação ilustra a influência das redes sociais na exposição e na percepção de comportamentos desviantes no contexto escolar?

2. A narrativa expressa a perplexidade do professor diante do julgamento que recai sobre ele após o ocorrido. Sob uma perspectiva sociológica, por que a figura do professor muitas vezes é responsabilizada por atos de indisciplina ou desonestidade dos alunos?

3. O autor menciona que a publicação online revelou uma geração que "confunde visibilidade com vitória e que troca princípios por curtidas". De que maneira essa afirmação se conecta com conceitos sociológicos como cultura do consumo, individualismo e a busca por validação social?

4. A escola aplica uma punição ao aluno que colou. Qual a função sociológica da punição em instituições como a escola? Como essa punição pode ser interpretada à luz das teorias sociológicas sobre controle social e socialização?

5. Na conclusão, o professor reflete sobre a dificuldade de formar "gente de valor" e a necessidade de resistir à ideia de que são culpados pelo que a sociedade não ensina em casa. Como a sociologia aborda a relação entre a escola, a família e a sociedade na formação de valores e na prevenção de comportamentos como a desonestidade acadêmica?

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