Quando o Saber Vira Retórica Vazia ("Ainda que seja uma verdade desconfortável, prefiro que seja dita a uma mentira que me conforte." — Voltaire)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Existe algo quase hipnótico na forma como certas figuras se impõem no imaginário coletivo, revestidas de uma autoridade que parece imune à crítica. Eu, que transito pelos labirintos do conhecimento e me debruço sobre as palavras dos mestres, me vejo refletindo sobre a natureza do saber. Certa vez, deparei-me com uma frase atribuída a Paulo Freire que, confesso, deixou-me com uma pulga atrás da orelha: "Ao saber que sabemos nos preparamos para saber que não sabemos e ao saber que não sabemos, nos preparamos para saber que pudemos primeiro saber melhor o que já sabemos. Segundo saber o que ainda não sabemos, quer dizer nos tornarmos capazes de produzir o conhecimento ainda não existentes." Não, leitor, não se apresse em julgar. Sei o que você pode estar pensando — que tirei a citação do contexto para desmerecer um ícone. Mas, lhe asseguro: trata-se de uma fala que flutua por mais de uma hora em um vídeo no YouTube, sem jamais ancorar em um porto de sentido.
Essa experiência me trouxe uma epifania. Não seria isso, pensei, uma metáfora do que ocorre em nossas escolas? Onde, tantas vezes, a complexidade vazia toma o lugar da clareza, e o verdadeiro aprendizado se perde em meandros discursivos? Observo, com certa inquietação, que talvez nossos filhos não estejam indo à escola para aprender a pensar, mas para serem doutrinados — moldados por ideologias que, sob o manto do "saber", ocultam a ausência de um conhecimento real e prático.
Pensei, então, nos índices que nos assombram: o QI médio do brasileiro, que estudos apontam ser de 83, enquanto chimpanzés chegam a 95. Uma comparação incômoda, mas que, no íntimo, me força a questionar: qual seria, então, o QI de figuras tão reverenciadas, como o patrono da Educação no Brasil, se considerarmos a incoerência de certos discursos? E, extrapolando, o que dizer de personalidades públicas que, mesmo após anos de exposição e vivência, não conseguem articular uma frase com mínima coesão e sentido? O medo me invade ao imaginar o impacto dessa ideologia na formação de nossas crianças.
É a velha fábula do rei nu, que andava pelas ruas em sua suposta veste invisível, convencendo os súditos de que apenas os inteligentes podiam vê-la. E, por medo de parecerem tolos, todos fingiam admirar a roupa inexistente — até que a voz inocente de uma criança rompeu o silêncio complacente: — "O rei está nu!" Vejo, hoje, um cenário semelhante. Militantes de certa vertente continuam a posar como intelectuais, enquanto grande parte da massa finge acreditar em discursos vazios. Eu, porém, não. E sei que você, leitor, também não. Porque, afinal, a "moderação na defesa da verdade é, em si, um serviço prestado à mentira". E, nessa busca incessante pela clareza, o que nos resta é a coragem de gritar: o saber verdadeiro não se esconde na retórica vazia.
https://www.instagram.com/reel/DKHmhDRgSZJ/?utm_source=ig_web_copy_link (Acessado em 16/06/2025)
Minha crônica é uma reflexão perspicaz sobre a natureza do conhecimento, a validade dos discursos na educação e o perigo da doutrinação. Como seu professor de sociologia, preparei cinco questões discursivas simples para aprofundar as ideias de meu texto.
1 - A crônica questiona a "complexidade vazia" em discursos que "flutuam sem jamais ancorar em um porto de sentido". Como a Sociologia do Conhecimento analisa a diferença entre o saber genuíno e a retórica vazia, e quais as implicações dessa distinção para o aprendizado?
2 - O texto sugere que crianças podem estar sendo "doutrinadas" na escola, moldadas por ideologias que "ocultam a ausência de um conhecimento real". Com base na Sociologia da Educação, discuta como as ideologias podem influenciar o currículo escolar e a prática pedagógica, e quais são os riscos disso para o pensamento crítico dos alunos.
3 - Ao mencionar a fábula do "rei nu", a crônica critica a postura de "militantes" e da "massa" que fingem acreditar em "discursos vazios" por medo ou conveniência. Sob a ótica da Sociologia Política e da Comunicação, como podemos entender a formação e a manutenção de consensos sociais baseados em aparências e a dificuldade de questionar figuras de autoridade?
4 - A comparação do QI médio do brasileiro com o de chimpanzés, embora incômoda, serve como uma provocação. Do ponto de vista da Sociologia da Desigualdade e da Avaliação Social, como os testes de inteligência (QI) são compreendidos na análise social, e quais são os perigos de se usar tais índices de forma descontextualizada para julgar a capacidade intelectual de uma população ou a qualidade de um sistema educacional?
5 - A frase final da crônica, que "a 'moderação na defesa da verdade é, em si, um serviço prestado à mentira'", é um forte posicionamento. Com base na Sociologia Crítica, discuta a importância da coragem intelectual e do questionamento constante para a construção de uma sociedade mais justa e consciente, especialmente em um cenário onde a desinformação e os discursos vazios se proliferam.