"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 23 de junho de 2018

PRUDÊNCIA ("Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente." — Pindaro)



Crônica

PRUDÊNCIA ("Quem quer vencer um obstáculo deve armar-se da força do leão e da prudência da serpente." — Pindaro)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Aqui estou eu, sob o céu que tanto admiro, mas que parece estar em constante mutação. Em um momento de instabilidade, agi precipitadamente, tomando decisões imperfeitas. Agora, percebo a necessidade de uma análise mais profunda e calma antes de tomar qualquer outra decisão errada. Evito me expor neste momento de incerteza, priorizando o descanso do fim de semana.

Mas, como posso descansar quando as respostas que procuro não são dadas? A minha atenção está comprometida por tantas preocupações. O que antes era combinado já não existe mais e a rotina se perde em arranjos precários. Será que isso vai passar agora? Medito sobre isso…

A introspecção tem sido a minha companheira constante, favorecendo apenas o meu autoconhecimento. Espero não ficar parado quando a situação exigir ação. Sinto-me preso em ideias corrosivas, perdendo mobilidade enquanto os concorrentes ocupam espaço no meu céu, tomando o meu lugar.

Eles estão sempre planejando uma traição, então é melhor prevenir do que remediar. Não quero ser levado à justiça, então vou deixar todos os meus documentos regularizados e abandonar minhas práticas suspeitas para trás. O bom dos meus pecados é que eles funcionam como cometas, apontando-me, abrindo e pavimentando o meu caminho com fogo.

“Aquele que botar as mãos sobre mim, para me governar, é um usurpador, um tirano. Eu o declaro meu inimigo.” (Pierre-Joseph Proudhon). Então, esta minha crônica emotiva é para dizer-lhes que estou vivendo exatamente como já disse o Sêneca: devemos viver de tal maneira que não façamos nada que não possamos dizer aos nossos inimigos.

Como Salomão bem disse em Provérbios 14:15: “O simples crê em toda palavra, mas o prudente assiste aos seus passos”. Há muita diferença. O simples acredita em qualquer coisa que aparece, enquanto o homem prudente é cauteloso e cético sobre tudo.

Eu amo a cautela. Eu sou prudente. Eu sempre olho para a frente, tentando ver as falhas do caminho ou riscos. Eu me escondo dos perigos, alterando o que acredito. Nunca quero ser pego acreditando em mentiras ou caindo em uma armadilha.

Por outro lado, o ingênuo desinteressadamente deixa a vida acontecer. Eles não questionam só acreditam, por isso continuam andando e repetidamente sofrendo os perigos que não podem ver.

“Antes da vitória vem a tentação. E quanto maior os louros a conquistar, maior a tentação a que é preciso resistir” (Stephen King). E assim termina minha crônica emotiva, uma reflexão sobre os acontecimentos da vida e uma mensagem impactante para vocês, leitores.

Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 25/02/2017
Reeditado em 23/06/2018
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sábado, 16 de junho de 2018

O Despertar das Lembranças ("Aprendi a selecionar meus diamantes... pedaços de vidro já não me enganam mais!" — Tati Bernardi)



Crônica

O DESPERTAR DAS LEMBRANÇAS ("Aprendi a selecionar meus diamantes... pedaços de vidro já não me enganam mais!" — Tati Bernardi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Hoje, ao despertar, fui surpreendido por uma visita inesperada. O passado, esse velho conhecido, bateu à minha porta, trazendo consigo um emaranhado de lembranças que se entrelaçam como fios de uma teia. Como diria o poeta Mario Quintana, o passado não reconhece seu lugar: está sempre presente. E assim, me vi imerso em um mosaico de memórias, um misto de momentos felizes e tristes, de amores vividos e perdidos, de vitórias celebradas e derrotas lamentadas.

Senti meus pilares – o físico, o espiritual e o mental – oscilarem. O controle sobre meu destino parecia escorregar por entre os dedos, como grãos de areia em uma ampulheta. Me percebi como um mero ente no meio do universo, parte de um projeto maior que não compreendo. Mas, já no crepúsculo da minha jornada, decidi que meus últimos dias serão vividos à minha maneira, do jeito que for possível.

Com o tempo, aprendi que não adianta cobrar demais das pessoas. Elas são o que são, e pressioná-las só gera frustração. Tudo segue um plano divino, e minha ansiedade não pode dominar-me. Continuarei a fazer meu trabalho com dedicação, mesmo que ninguém me escute ou valorize. Escreverei minhas crônicas, mesmo que poucos as leiam ou apreciem. Buscarei motivação dentro de mim mesmo, como Charlie Brown Jr. ensinou: “Eu faço da dificuldade a minha motivação”.

Hoje, mais uma vez, confirmei que a vida é uma surpresa constante. Não sabemos o que o próximo minuto nos reserva: planos e sonhos podem ser interrompidos por imprevistos e pesadelos. Amigos e amores podem se transformar em inimigos e desilusões. Saúde e alegria convivem com doenças e tristeza. O importante é viver bem, pois Deus está no controle – e se existe livre-arbítrio, prefiro não usá-lo.

Assim, encerro esta crônica: com a certeza de que cada lembrança é um fio no tecido da existência, e cabe a nós tecer a toalha de nossa história com sabedoria e gratidão. Cada dia é uma nova oportunidade para deitar e rolar na tapeçaria da vida, apreciando cada ponto, cada cor, cada textura. E, ao final, quem sabe, possamos olhar para trás e ver que, apesar de tudo, vivemos uma bela história.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. A presença do passado:

Como o autor descreve a visita do passado e como ela o afeta emocionalmente?

Que tipo de lembranças são evocadas pelo passado e como elas se relacionam com o presente do autor?

De que forma o passado pode ser interpretado como uma força que molda a identidade do autor?

2. A fragilidade da vida:

Como a visita do passado leva o autor a questionar sua própria trajetória e o papel que ele desempenha no universo?

Que sentimentos o autor experimenta ao se deparar com a fragilidade da vida?

Como o autor lida com a sensação de impotência diante da grandiosidade do universo?

3. A busca por significado e superação:

Apesar da fragilidade da vida, quais são as motivações do autor para continuar vivendo com intensidade?

Como o autor encontra significado em suas atividades, mesmo que elas não sejam reconhecidas ou valorizadas por outros?

Que tipo de filosofia de vida o autor parece seguir, e como ela o ajuda a superar as dificuldades?

4. Fé e livre-arbítrio:

Qual o papel da fé na visão de mundo do autor?

Como o autor concilia a crença em um plano divino com a ideia do livre-arbítrio?

A escolha do autor por entregar-se ao destino pode ser interpretada como uma forma de passividade ou de sabedoria?

5. A tapeçaria da vida:

Como o autor utiliza a metáfora da tapeçaria para representar a vida?

Que significado assumem as lembranças, os momentos felizes e tristes, na composição da tapeçaria da vida?

Qual a mensagem final que o autor deseja transmitir ao leitor sobre a importância de viver cada momento com plenitude?

Dicas para responder às questões:

Leia a crônica com atenção e identifique os pontos principais.

Releia os trechos que abordam os temas das questões.

Utilize suas próprias palavras para responder às perguntas, de forma clara e concisa.

Fundamente suas respostas com exemplos da crônica e, se possível, com outras fontes de conhecimento.


sábado, 9 de junho de 2018

AUTODIVULGAÇÃO ("A popularidade tem matado mais profetas do que a perseguição" — Vance Havner)



Crônica

AUTODIVULGAÇÃO ("A popularidade tem matado mais profetas do que a perseguição" — Vance Havner)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ao despertar hoje, encarei meu reflexo no espelho, não apenas para arrumar o cabelo, mas para confrontar uma pergunta que há tempos me assombra: quem sou eu neste mundo tão conectado e, paradoxalmente, tão solitário? O celular vibrou, mais uma notificação exigindo atenção, lembrando-me de como as redes sociais se tornaram vitrines onde expomos nossas vidas, muitas vezes maquiadas, em busca de validação.

Saí para o trabalho, observando a multidão nas ruas. Cada rosto, pensei, esconde o mesmo dilema que enfrento: como se destacar sem perder a essência? Como ser autêntico em um mundo que parece valorizar mais a aparência que o conteúdo? No escritório, entre reuniões, percebi como nos tornamos produtos, vendendo nossa imagem, habilidades e tempo. Mas a que custo?

Há algo intrigantemente desafiador neste mundo moderno, algo que nos coloca diante de uma encruzilhada constante: ser um produto na vitrine ou preservar nossa identidade e privacidade. É uma dualidade que enfrentamos diariamente, um delicado equilíbrio entre a necessidade de nos destacarmos e a importância de sermos fiéis à nossa essência.

Vejo-me como protagonista desta crônica, navegando por um palco incerto onde sou, simultaneamente, ator e plateia da minha própria vida. É uma busca incessante por visibilidade e reconhecimento, mas também uma jornada de autoconhecimento e reflexão sobre quem sou e quem quero ser.

Diariamente, me questiono: o que me define? Como posso ser autêntico e, ao mesmo tempo, me destacar em meio à multidão? Este quebra-cabeça complexo é moldado por minhas experiências, valores, relacionamentos e pela própria busca por identidade. Descubro, então, que é essencial equilibrar as diferentes esferas da vida: trabalho e lazer, dinheiro e experiências, tempo e destino - todos esses elementos se entrelaçam em um grande espetáculo, onde a harmonia é fundamental.

No meio desse turbilhão, as relações afetivas emergem como o alicerce da minha existência. À noite, jantando com amigos, sinto o conforto das relações verdadeiras. Ali, entre risos e confissões, percebo que é nos laços afetivos que encontramos nossa âncora. São esses momentos que nos lembram quem realmente somos, fornecendo força nos momentos de fraqueza, apoio nos desafios e significado em meio à jornada.

Refletindo sobre o dia, penso em como equilibramos responsabilidades e prazeres. É uma dança constante, às vezes desajeitada, mas necessária. Sou como um "velho moço", carregando a sabedoria da idade e a curiosidade da juventude. Um eterno aprendiz, sempre aberto a novas experiências e conhecimentos, que respeita opiniões diversas, mas também defende suas convicções com paixão.

Sei que a vida é efêmera, que a morte espreita a cada esquina, mas não temo o fim. Temo, sim, não viver plenamente, não aproveitar cada instante como se fosse o último. Anseio por sentir cada emoção como se fosse a primeira vez, por ser feliz e, acima de tudo, por ser eu mesmo.

Nessa busca incessante pelo equilíbrio entre essência e exposição, encontro minha própria voz, minha própria identidade. E, ao fazê-lo, aprendo uma valiosa lição: a autenticidade é o caminho para a verdadeira realização, e ser nós mesmos é o que nos torna únicos e inigualáveis.

Antes de dormir, olho novamente para o espelho. Vejo alguém que busca ser autêntico em um mundo que muitas vezes pede o contrário. Alguém que sabe da efemeridade da vida e, por isso mesmo, quer vivê-la intensamente. Deito-me com uma certeza: a verdadeira realização está em ser quem somos. No grande palco da vida, não precisamos ser o melhor ator, mas sim o mais sincero. Afinal, nossa unicidade é nosso maior trunfo.

E você, caro leitor, já se perguntou hoje quem é no palco da sua vida? Lembre-se: a melhor performance é aquela que vem do coração, aquela que reflete quem somos em nosso âmago.

Questões Discursivas sobre Identidade e Autêntica no Mundo Digital: Uma Análise Sociológica

1. O texto apresenta uma reflexão profunda sobre a busca por identidade e autenticidade em um mundo digitalizado e interconectado. De acordo com o autor, quais são os principais desafios que essa busca enfrenta na sociedade contemporânea?

2. O autor se autodescreve como um "protagonista" em sua própria vida, navegando por um "palco incerto" onde é "ator e plateia". Com base em seus conhecimentos de sociologia, explique como essa metáfora representa as diferentes maneiras pelas quais construímos e expressamos nossa identidade na era digital.

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sábado, 2 de junho de 2018

OPORTUNIDADE ("Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano". — Voltaire)



Crônica

OPORTUNIDADE ("Encontra-se oportunidade para fazer o mal cem vezes por dia e para fazer o bem uma vez por ano". — Voltaire)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

            **Um Novo Começo: O Ano Letivo e Suas Promessas**

Hoje, o sol raiou mais uma vez, e com ele, a esperança de um novo começo se fez presente. As ruas ganharam vida, e o município se agitou com a chegada das aulas. Era o início de um capítulo inexplorado, repleto de oportunidades para conhecer novas pessoas e construir relações que, embora fossem predominantemente com crianças e adolescentes, eu sabia que não seriam menos significativas.

Não, eu não subestimava essas amizades. Sabia que, mesmo nos olhos jovens e nas mentes em formação, residia um poderoso potencial. Suas opiniões sobre mim, suas percepções, poderiam traçar meu caminho até lugares inimagináveis, onde o reconhecimento e a realização aguardavam ansiosamente.

Minha intuição me sussurrava que esse era o início de algo grandioso. Eu me sentia determinado, consciente do que desejava e do que precisava fazer para conquistar meu merecido lugar sob os holofotes. Por enquanto, esse era meu segredo, uma fagulha de potencial pronto para incendiar o futuro.

O dia se desenrolava diante de mim, e com ele vinham surpresas, nem todas agradáveis. Mas eu estava preparado para enfrentá-las, pois sabia que o amanhã me aguardava com novas decisões a serem tomadas. As palavras sábias de Albert Einstein ecoavam em minha mente: "No meio da dificuldade encontra-se a oportunidade."

O ano anterior havia sido uma etapa, agora nascia outra: este novo ano. Era um período repleto de novidades, um capítulo ainda em branco esperando para ser escrito. Afinidade, como Artur da Távola disse, é retomar a relação de onde ela parou, sem lamentar o tempo de separação. As oportunidades de amadurecimento estavam ali, e eu estava pronto para abraçá-las.

Este momento era meu, cheio de possibilidades. Eu estava disposto a me abrir para os novos contatos que certamente surgiriam. Aprimorar minha expressão e minha comunicação era essencial, pois o presente era o momento de aproveitar as chances de ser reconhecido pelo meu valor.

Minhas ideias estavam em ação, meus projetos ganhavam vida, mas eu sabia que não podia abandonar meu lado estrategista. Outras pessoas poderiam já ter trilhado esse caminho antes de mim. As pessoas que cruzavam meu caminho naquele dia eram as melhores para meu caminho de sucesso, e cada uma delas poderia ser a chave que abriria as portas para um futuro brilhante.

Então, quem seria você, meu caro leitor? Neste novo começo, estamos todos reunidos na mesma jornada, ansiosos por descobrir as surpresas que o futuro nos reserva. A vida é uma viagem emocionante, e eu estou pronto para embarcar nessa aventura com coragem, determinação e a certeza de que cada dia traz consigo a promessa de algo extraordinário.
Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 02/02/2017
Reeditado em 02/06/2018
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sábado, 26 de maio de 2018

O Erro Maravilhoso: Uma Crônica da Paternidade Inesperada ("Os filhos precisam de ninho e de asas. Ninho é o acolhimento, o aconchego. Asas para ter liberdade para crescer." — Isabelle Ludovico)



Crônica

O Erro Maravilhoso: Uma Crônica da Paternidade Inesperada ("Os filhos precisam de ninho e de asas. Ninho é o acolhimento, o aconchego. Asas para ter liberdade para crescer." — Isabelle Ludovico)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O relógio marcava três da tarde quando recebi a notícia que transformaria meu ceticismo em esperança. Naquele dia quente de janeiro, eu estava sentado em minha pequena varando com o notebook em mãos, absorto na releitura de "Memórias Póstumas de Brás Cubas". Sempre fui um admirador ferrenho de Machado de Assis — talvez por compartilhar com ele o mesmo olhar desencantado sobre a vida. Aquela passagem final do romance, com sua amarga contabilidade existencial — "Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria" — era meu mantra pessoal, repetido com convicção nietzschiana a qualquer um que ousasse me perguntar sobre planos familiares.

Na juventude, minha companhia preferida não era gente, era papel. Refugiava-me nos livros como quem entra num quarto escuro para evitar o sol excessivo do mundo lá fora. Foi aos dezessete anos, no último ano do Ensino Médio, que conheci Brás Cubas e sua paixão por Marcela. Identifiquei-me imediatamente com aquele narrador defunto: sua ironia cortante, seu pessimismo crônico, sua percepção amarga da vida. Aquela frase final, sublinhada com a fúria adolescente de quem se reconhece na miséria, tornara-se lema invisivelmente tatuado em minha língua: "COMO PODERIA EU COMETER TAMANHO ERRO, REPRODUZINDO A MISÉRIA QUE SOU?"

Mas então... a vida, essa ironista de primeira, decidiu me aplicar um golpe digno dos maiores contos de Machado. O toque estridente do Messenger interrompeu minha releitura da tarde. Era Nelma, falando de uma antiga paixão de verão — daquelas que deixam marcas mais profundas que o sol na pele. Sua voz, trêmula, anunciava o impensável: eu era pai de uma jovem de trinta e cinco anos. O chão desapareceu sob meus pés, as paredes da casa pareceram se comprimir sobre mim. Não por pavor, mas pela vertigem do impossível tornado real, a negação de décadas de ceticismo. "Ela quer te conhecer. Chama-se Nelma."

O nome ecoou em meus ouvidos como uma melodia esquecida, curativa. Nelma. Árvore medicinal. Tudo o que eu havia negado a mim mesmo durante décadas de pessimismo existencial – não por medo da vida em si, mas pela vertigem do impensável tornado real. Lembrei do fim de semana nos córregos em Araguaína, To, das decisões impulsivas daquele tempo, daquela sensação de imortalidade típica dos dezessete anos.

No local combinado para o encontro, dias depois, fui recebê-la na Rodoviária de Araguaína, TO. Os mesmos olhos amendoados que herdei de minha mãe. O andar desajeitado que sempre foi minha marca registrada. Um espelho que refletia não apenas minha imagem no presente, mas o que poderia ter sido minha vida caso eu tivesse feito outras escolhas no passado.

Ela chegou já crescida. Linda. Educada. Dona de uma serenidade que me desmontava completamente. E ali, diante daquele milagre em carne e osso, meu velho orgulho se calou para sempre. Meus olhos encontraram, em outros olhos, a chance de me amar fora de mim mesmo — pela primeira vez na vida, por extensão. A ironia de Brás Cubas perdeu lugar na minha estante de certezas e de livros. Substituí-a por uma frase de Paulo Coelho, que talvez eu tivesse desprezado no passado: “Nunca podemos julgar a vida dos outros, porque cada um sabe da sua própria dor e renúncia.” A vida não cabe em dogmas.

Aprender a amar, a vida me ensinou de forma inesperada. Mas agora, quero também ensinar. Ensinar que crescer dói — mas é necessário. Que filhos precisam de raízes, sim, mas também de asas para voar longe. Que o legado que realmente vale a pena transmitir não é o da miséria herdada, mas o da superação, construído dia após dia. Quero que minha filha tenha orgulho do sobrenome que carrega (Andrade), mesmo que ele venha arranhado por erros passados.

Corrigir o caminho é mais difícil que começar do zero, eu sei bem. Mas é isso que venho tentando fazer: corrigir o que aprendi errado, rever minhas máximas, trocar de livros e de lentes, e, acima de tudo, continuar crescendo, apesar da distância física que sempre nos separou, pois ela mora em Imperatriz-Ma. Descobri, tão rapidamente, a beleza de amar a mim mesmo em outra pessoa – de me amar por extensão. Lutar contra o orgulho, a rebelião e a teimosia para não me tornar um perdedor natural, como sabiamente nos lembra Provérbios 13:18 (Bíblia Viva): "A pessoa que se revolta contra o ensino e a correção acabará pobre e envergonhada; quem dá valor ao ensino e segue as instruções receberá honra".

Lembro, subitamente, de um caso que li no jornal: um rapaz de trinta anos sendo processado pelos próprios pais, nos Estados Unidos, por se recusar a sair de casa. Cinco avisos, mil dólares de ajuda, uma ordem judicial. O filho dizia que não estava pronto. Os pais, por sua vez, não estavam mais dispostos a esperar. E eu, do lado de cá, refletia sobre o contraste com a minha própria situação inesperada, pensando: quem educa, educa para o voo — não para o ninho eterno. E é uma família honrada que eu quero ter.

Mas voltando à minha Nelma. Se o DNA algum dia dissesse que ela não é minha, eu já saberia que a ciência também pode errar em seus vereditos. Porque o amor, esse laço que se criou, não precisa de prova biológica. Ele só precisa de presença, afeto e reconhecimento mútuo. Ser pai, descobri, não é uma sentença — é uma escolha. E eu escolhi amar.

Hoje, se me perguntam se quero ter filhos, sorrio com o coração cheio e respondo, convicto: "Cometi o melhor erro da minha vida." Tenho uma filha.

E a minha descendência, por mais que tenha surgido de um tropeço inesperado do passado, continuará abençoada pela vida e pelo amor que descobri. Como diz Éder Moisés, com a beleza da esperança: "Não lamente a flor caída. Logo ela te trará frutos e descendência." Que assim seja. Que o meu legado, agora renomeado pelo amor e pela superação, floresça em sua própria jornada.



Minha crônica é uma tapeçaria rica de reflexões pessoais, transformações e as complexidades das relações humanas, especialmente no âmbito familiar. A jornada do meu narrador, do ceticismo profundo à aceitação amorosa de uma paternidade inesperada, oferece um terreno fértil para a análise sociológica sobre como construímos nossas vidas, identidades e legados. Com base nas minhas ideias principais, e focando no poderoso arco narrativo da descoberta e da mudança, preparei 5 questões discursivas simples:


1. O texto descreve como a leitura de Machado de Assis influenciou a visão pessimista do narrador sobre a vida e a ideia de ter filhos. Como a Sociologia compreende o papel da literatura e de outras formas de cultura na socialização dos indivíduos e na formação de suas identidades, valores e perspectivas sobre instituições sociais fundamentais como a família?

2. A crônica contrasta a surpresa e a aceitação amorosa da paternidade tardia com a história dos pais que processaram o filho adulto. Como a Sociologia analisa as transformações na estrutura e nas dinâmicas familiares na sociedade contemporânea, incluindo as relações entre pais e filhos adultos e as expectativas sobre autonomia e dependência?

3. O narrador redefine o conceito de "legado", passando de "miséria" a "superação" e "honra" ao descobrir a filha. Como a Sociologia estuda a transmissão de legados intergeracionais – sejam eles materiais, culturais, emocionais ou simbólicos – e de que forma as experiências de vida inesperadas podem ressignificar a percepção individual sobre o que é transmitido e construído ao longo das gerações?

4. O texto aborda a jornada de aprendizado do narrador, de corrigir erros passados e aceitar novas ideias após a descoberta da filha. Como a Sociologia compreende os processos de mudança pessoal e ressignificação da vida adulta, e de que forma eventos inesperados ou transformações nas relações sociais podem impulsionar o aprendizado e a redefinição de valores e objetivos individuais?

5. A crônica, ao falar em amar "por extensão" e na escolha de ser pai, toca na construção dos laços familiares para além da biologia. Como a Sociologia analisa a formação e a manutenção dos vínculos familiares e afetivos em contextos diversos, destacando que a família é uma construção social que vai além dos laços sanguíneos?

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sexta-feira, 25 de maio de 2018

sábado, 19 de maio de 2018

SOU ÁRVORE DESFOLHADA NO OUTONO, AINDA VIVA ("Os caluniadores são como o fogo que enegrece a madeira verde, não podendo queimá-la." — Voltaire)



Crônica

SOU ÁRVORE DESFOLHADA NO OUTONO, AINDA VIVA ("Os caluniadores são como o fogo que enegrece a madeira verde, não podendo queimá-la." — Voltaire)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

            Hoje acordei com uma sensação estranha, como se fosse um bicho magro de presépio, ilustrando o Natal de alguém, mas sem sentir a alegria da festa. Lembrei-me de uma cena da minha infância, quando eu subia em uma árvore para tentar pegar uma fruta apetitosa, mas nunca conseguia alcançá-la. Eu me esforçava, me arriscava, sacudia os galhos, mas nada adiantava. A fruta continuava lá, inatingível, rindo da minha frustração. Então eu descia, desanimado, e ficava jogando pedras na árvore, como se isso fosse me vingar.

            Essa cena é uma metáfora da minha vida atual. Eu tenho um objetivo, um sonho, uma esperança, mas parece que ele está cada vez mais longe de mim: ser sábio. É como ver o sol se pondo, ou sendo abandonado pelos seus raios. Eu quero me proteger, evitar desperdícios e excessos, controlar a impulsividade, fazer atividades leves, ser cordial com as pessoas. Mas isso não é suficiente para sair do marasmo em que me encontro. O fruto não cai de uma mão beijada.

               Então eu pensei: será que estou fazendo algo errado? Será que estou me conformando com pouco? Será que estou deixando de lutar pelo que quero? Será que estou perdendo a fé?

                 Foi aí que eu resolvi vestir uma camisa verde folha, que eu tinha guardada no armário. Eu gosto dessa cor, porque ela me lembra a natureza, a vida, a esperança. Eu me senti como um tapete de grama, cobrindo o chão das fazendas, fazendo as bestas felizes no campo. Eu pensei que talvez essa cor me trouxesse sorte, sucesso, felicidade. Mas logo percebi que isso era uma ilusão.

            A cor verde não é garantia de nada. Ela pode ser usada por ervas daninhas, que sufocam as plantas boas. Ela pode ser usada por árvores artificiais de Natal, que fingem ser naturais e alegres. Ela pode ser usada por pessoas falsas, que se escondem atrás de uma aparência de bondade e virtude.

               O que importa não é a cor que eu visto, mas a cor que eu sou. O que importa não é o fruto que eu vejo, mas o fruto que eu produzo. O que importa não é o destino que eu espero, mas o destino que eu faço.

               Por isso, decidi mudar de atitude. Em vez de ficar reclamando da vida, resolvi agradecer pelas dificuldades que enfrentei. Elas me fizeram sair do lugar, me fizeram crescer, me fizeram buscar novos caminhos. Em vez de ficar esperando pela compaixão dos outros, resolvi praticar a compaixão por mim mesmo e pelos outros. Ela me fez entender melhor as emoções e as motivações humanas, e também me fez superar o egoísmo e o orgulho. Em vez de ficar preso às minhas certezas, resolvi questioná-las e examiná-las. Elas me fizeram refletir profundamente e honestamente sobre as coisas, e também me fizeram estar aberto à correção e ao aprendizado.

               E assim eu descobri que a sabedoria não é algo que se possa obter por um método infalível ou por uma fórmula mágica. A sabedoria é uma jornada pessoal, que depende da minha disposição em questionar minhas certezas, em praticar a compaixão e em cultivar a humildade. Essa jornada fluida me torna verdadeiramente sábio.

E você? Qual é a sua jornada? Qual é a sua cor? Qual é o seu fruto?

Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 22/12/2016

Reeditado em 19/05/2018
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sábado, 12 de maio de 2018

ENTRE CONSELHOS E INQUIETAÇÕES ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci)



Crônica

ENTRE CONSELHOS E INQUIETAÇÕES ("O casamento é como enfiar a mão num saco de serpentes na esperança de apanhar uma enguia." — Leonardo da Vinci)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há dias em que a vida não espera você acordar para começar a cobrar sentido. E sábado, esse velho trapaceiro de promessas, sempre se apresenta como um convite ao descanso, mas mal sabe ele que carrego nas costas semanas inteiras de cansaço mal digerido. Às vezes, o sábado não é alívio; é interrogação.

Naquela manhã, o sol ainda bocejava, e meu celular já se remexia feito criança ansiosa por colo. Uma mensagem chegou antes mesmo que eu conseguisse calçar os chinelos. Era uma mulher — dessas que mal conhecem a gente, mas enxergam consolo no tom das nossas palavras. Procurava ajuda. Não técnica, nem jurídica — era da alma que ela falava. A vida conjugal estava em colapso e, por algum motivo indecifrável, eu era a tábua flutuando no naufrágio dela.

Sorri de canto, não por desdém, mas por reconhecimento. Ah, quantas vezes fui também o náufrago à procura de tábuas! Engraçado como, com o tempo, trocamos de lugar sem perceber: deixamos de nos afogar para ajudar a remar barcos furados dos outros. Ou fingimos saber remar.

Enquanto pensava em como responder, sentei-me na varanda e deixei o vento da manhã me lembrar quem sou. Tantos amigos me convidando para festas, encontros e programações coloridas — todas com aquela alegria embalada a vácuo, pronta para consumo rápido. Mas não. Nunca fui bom em multidões. Já participei de tantos sorrisos de ocasião que hoje, só de pensar, me dá coceira na alma.

Voltei à mensagem. A angústia dela pingava entre as palavras. O marido estava distante, ela aflita. E eu ali, com o celular na mão e o coração em dúvida. Até onde vai o papel de quem ouve? O quanto de si se pode entregar sem que alguém confunda empatia com obrigação? Há fronteiras invisíveis nas relações humanas que, quando rompidas, nos cobram caro — às vezes em silêncio, às vezes com gritos.

Enquanto buscava palavras que não doem, me dei conta de que talvez, o que ela mais precisasse fosse alguém que a escutasse sem julgamentos. Não conselhos. Apenas presença. E isso, sim, eu podia dar. Escrevi algo breve, humano, sem soluções milagrosas. E enviei.

Na sequência, a casa ficou em silêncio. O café esfriava na xícara, e meus pensamentos fervilhavam. Lembrei-me de tantas outras histórias que vieram até mim do nada — pessoas que veem em você uma espécie de farol, sem saber que você também se perde no nevoeiro de vez em quando.

O sábado passou arrastado, como se testasse minha paciência. Nenhum evento, nenhuma epifania. Apenas essa constatação inquieta: vivemos cercados de gente que clama por compreensão, enquanto nós mesmos tateamos por algum sentido. Às vezes, tudo o que nos resta é oferecer a escuta e manter o coração em paz.

Naquela noite, já deitado, pensei em como é tênue a linha entre consolar e ser consumido. Entre ajudar e adoecer. A vida, nesse ponto, é um pouco como andar sobre corda bamba: exige equilíbrio, sim, mas principalmente atenção para não se tornar personagem de uma história que não é sua.

E assim, como quem fecha um livro antes do fim, adormeci com a sensação de que viver é também saber dizer “não sei”. Que às vezes, não ter todas as respostas é a maior demonstração de sabedoria.


Duas questões discursivas sobre o texto:


Como a experiência de oferecer conselhos pode ser desafiadora e quais são os limites da nossa capacidade de ajudar os outros?

De que forma a sociedade molda nossas percepções sobre relacionamentos, sexualidade e a busca por felicidade?

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