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MINHAS PÉROLAS

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A Aula que Ninguém Deu: Mudanças Curriculares ("Não se pode construir um futuro sobre a areia movediça de uma ideologia." — Autor Desconhecido (adaptado))

 



A Aula que Ninguém Deu: Mudanças Curriculares ("Não se pode construir um futuro sobre a areia movediça de uma ideologia." — Autor Desconhecido (adaptado))

Por Claudeci Ferreira de Andrade

No país da jabuticaba e do jeitinho, eu ainda acreditava que as mudanças vinham com alarde — um decreto estampado no jornal, uma coletiva apressada, uma hashtag estrondosa no Twitter. Mas ultimamente, a educação tem sido alterada em silêncio, reescrita no rodapé, em letras miúdas, como quem tenta mudar a alma de uma casa mexendo sorrateiramente na fundação.


Sou do tempo em que o quadro negro era espelho das certezas. Nele, o verbo concordava com o sujeito, e os números obedeciam ao compasso da lógica. Os conteúdos tinham nome: matemática, português, história, ciências. O professor? Uma espécie em extinção, mas ainda resistia, feito farol nas manhãs nebulosas do ensino médio.


Até que, certa manhã, durante o café, li o que preferia não ter lido. Mudaram tudo. Sem estardalhaço, com uma caneta que carregava mais tinta ideológica que pedagógica. Decidiram que o novo currículo precisava ser “justo”, “intervencionista”. E, no meio do discurso, apagaram o que havia sido construído com suor e giz — como se ensinar fosse um acerto de contas com o passado.


Senti o chão fugir quando ouvi que, em vez de calcular juros compostos, o aluno agora deveria “refletir criticamente sobre a colonialidade dos saberes”. Juro que tentei compreender. Abri o documento — longo, técnico, quase um código da nova fé laica — e lá estavam as palavras de ordem travestidas de proposta pedagógica. Mais parecia um panfleto do que uma diretriz.


Não sou contra a diversidade, longe disso. Cresci admirando a pluralidade da nossa gente, dos nossos sotaques, das nossas cores. Mas me pergunto: quando ensinar virou sinônimo de reeducar? Quando a escola deixou de preparar para a vida e passou a preparar para um tipo específico de militância?


Senti-me traído. E não fui o único. Pais começaram a enviar mensagens aflitas: “Professor, é verdade que tiraram literatura para colocar desconstrução de gênero?” “O que meu filho está realmente aprendendo na escola?” E eu, sem saber mentir, apenas suspirei.


Não se trata de rejeitar a transformação. A educação precisa, sim, evoluir — mas para ampliar, não para substituir; incluir, não excluir; formar, não formatar. A escola deve ser ponte para o mundo, não trincheira de guerra cultural.


Hoje, ao entrar na sala, não sei mais se sou professor ou réu. O que sei é que a lousa pesa mais — não pelo pó do giz, mas pela poeira de um projeto que tenta apagar o que veio antes e, em seu lugar, erguer um altar às certezas do presente.


Educação é coisa séria. Não é palco para experimentos sociais nem laboratório de ideologias. Quem ousa brincar com isso não transforma um país — desfigura o futuro.


E o futuro, meus caros, não será indulgente com quem ensinou os jovens a pensar com raiva, mas não lhes deu as ferramentas para pensar com clareza.



Meu texto levanta questões cruciais sobre as mudanças curriculares e a potencial influência ideológica na educação, um debate central na sociologia da educação. A minha preocupação com a priorização de certas agendas em detrimento do ensino fundamental ressoa com diversas discussões contemporâneas. Com base nas minhas ideias principais, preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos essas tensões sociologicamente:


1- O autor expressa uma nostalgia por um tempo em que os conteúdos escolares pareciam mais definidos e menos ideológicos. Como a Sociologia da Educação analisa a construção social do currículo escolar, e de que maneira os contextos políticos e sociais influenciam a seleção e a organização dos conhecimentos ensinados nas escolas?


2- O texto critica a substituição de conteúdos tradicionais por temas como "reflexão crítica sobre a colonialidade dos saberes" e "desconstrução de gênero". Como a Sociologia do Conhecimento aborda a questão de quais conhecimentos são considerados legítimos e relevantes para serem ensinados, e como essa seleção se relaciona com as relações de poder na sociedade?


3- A preocupação com a transformação da escola em um espaço de "militância" em vez de "formação" é central no texto. De que maneira a Sociologia analisa o papel da escola na socialização política dos jovens, e quais são os limites entre a formação para a cidadania crítica e a potencial doutrinação ideológica?


4 - O autor menciona a reação de pais preocupados com o que seus filhos estão aprendendo. Como a Sociologia da Família e a Sociologia da Educação analisam a relação entre família e escola em relação aos valores e conhecimentos transmitidos, e como diferentes visões sobre o currículo podem gerar tensões entre essas duas instituições?


5 - A crítica final do autor se volta para o risco de "desfigurar o futuro" ao priorizar ideologias em vez de fornecer "ferramentas para pensar com clareza". Como a Sociologia do Futuro e a Sociologia da Educação podem analisar as consequências sociais de diferentes modelos curriculares para a formação das novas gerações e para o desenvolvimento do país?

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