"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Ódio Custa Caro ("O preconceito é um parasita da alma que cega a razão e devora o coração." — Augusto Cury)

 


O Ódio Custa Caro ("O preconceito é um parasita da alma que cega a razão e devora o coração." — Augusto Cury)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquele junho de 2025, a tela do meu computador estampava uma notícia que, embora não me surpreendesse, ainda assim me causou um nó no estômago. Um professor da rede municipal infantil de São Paulo fora condenado pela Justiça por perseguir um colega de trabalho em razão de sua orientação sexual.

Havia algo de podre no ar daquela escola municipal. Não era o cheiro de giz ou merenda escolar que costuma impregnar os corredores educacionais, mas um odor mais sutil e perturbador: o da intolerância fermentando em silêncio. Como observador privilegiado dessa tragédia cotidiana, pude testemunhar como o veneno da discriminação se infiltrou pelos cantos mais improváveis de um ambiente que deveria ser sagrado.

O protagonista dessa história sombria decidiu transformar sua perseguição em cruzada pessoal. Escudado pelo aparente anonimato da internet, criou um grupo de WhatsApp com os pais dos alunos, onde destilava insinuações venenosas contra o coordenador pedagógico. Ali, protegido pela tela do celular e pela cumplicidade silenciosa de quem não tinha coragem de confrontá-lo, passou a tecer sua narrativa maliciosa, plantando a desconfiança ao insinuar que a vítima pretendia impor uma suposta "ideologia de gênero".

A crueldade atingiu outro patamar quando compartilhou uma foto roubada do Instagram do coordenador, em que ele usava uma peruca rosa, provavelmente em algum momento de descontração. Nas mãos daquele professor, a fotografia se transformou em munição para um massacre moral — era como ver alguém incendiar uma biblioteca usando páginas de poesia.

As palavras lançadas ali germinaram como ervas daninhas, incitando o ódio. Inventou fantasmas onde não existiam, criou demônios onde havia apenas um profissional dedicado tentando fazer seu trabalho. Acusou o coordenador de querer subverter o currículo escolar, de introduzir ideias que assustavam alguns pais. Nada disso era real, mas a realidade é frequentemente menos poderosa que uma mentira bem contada para ouvidos dispostos a acreditar no pior.

O efeito foi imediato: surgiram denúncias falsas contra a vítima na Diretoria de Ensino — exatamente como o agressor desejava. Pais enganados, manipulados por narrativas fantasiosas, exigiam providências contra crimes que existiam apenas na imaginação de um homem que havia feito do preconceito sua religião pessoal.

Enquanto isso, vi o coordenador definhar aos poucos. Suas mãos tremiam durante as reuniões, seu sorriso — antes tão natural — tornou-se forçado e raro. Os outros professores começaram a evitá-lo nos corredores, não por concordarem com as perseguições, mas por medo de se tornarem próximos alvos. O silêncio cúmplice é, muitas vezes, tão destruidor quanto o grito de guerra.

Diante da perseguição contínua, o coordenador decidiu não mais se calar e buscou justiça. A decisão em primeira instância, no entanto, foi um baque: absolvição. O juiz interpretou aquilo como mero "embate ideológico", como se o direito à dignidade humana fosse questão de opinião.

Mas ele não estava sozinho. O Ministério Público recorreu, e o caso seguiu para o Tribunal de Justiça de São Paulo, onde a verdade começou a emergir com mais força. O boletim de ocorrência e os depoimentos colhidos consolidaram a materialidade do crime.

Reinterrogado, o réu tentou negar a homofobia, alegando apenas se opor a uma "agenda". Contudo, o depoimento da vítima soava como um grito silencioso: relatou o medo constante, o afastamento por problemas psiquiátricos causados pela perseguição, e como outros professores da escola temeram por sua integridade física. Uma mãe de aluno confirmou sua versão ao recordar o momento em que ouviu o professor dizer, numa reunião, que era "abertamente preconceituoso quanto à homossexualidade".

Os desembargadores não tiveram dúvidas. As ofensas à dignidade e ao decoro do coordenador, utilizando-se de elementos referentes à sua orientação sexual, eram evidentes. A sentença anterior foi reformada, e a condenação veio finalmente: dois anos e quatro meses de reclusão em regime inicial aberto, além do pagamento de multa.

As palavras do relator, desembargador Nelson Fonseca Júnior, ecoaram como um chamado à razão: não se tratava de mera "polarização ideológica" ou "opinião", mas sim da "aplicação direta da lei penal, que tipifica criminalmente a manifestação de preconceito e discriminação".

Hoje, enquanto escrevo estas linhas, penso no preço que todos pagamos por essa história. O coordenador pagou com sua saúde mental. O professor pagará com sua liberdade restrita e reputação destruída. As crianças daquela escola pagaram com a perda de um ambiente verdadeiramente educativo, onde o respeito deveria ser a primeira lição.

A condenação não soou apenas como justiça feita — foi também um aviso. O ódio custa caro: custa a liberdade, custa a dignidade do outro e pode custar a impunidade. Mas o preço mais alto foi pago por todos nós como sociedade, porque cada vez que permitimos que a intolerância floresça em nossos espaços sagrados, perdemos um pouco de nossa humanidade coletiva.

A lição que fica é amarga, mas necessária: o amor e o respeito não são opcionais — são lei. Que essa decisão sirva de alerta àqueles que, sob o véu de discursos ideológicos ou supostas convicções morais, disseminam preconceito e violência. A intolerância sempre cobra seu preço, e os juros são mais caros do que qualquer um de nós pode pagar.


https://www.conjur.com.br/2025-jun-02/tj-sp-condena-professor-por-perseguir-coordenador-homossexual/ (Acessado em 02/06/2025)




Minha crônica aborda de forma contundente a questão da homofobia no ambiente escolar, expondo como o preconceito pode se manifestar e as consequências devastadoras para a vítima e para a comunidade. Aqui estão 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1 - A crônica descreve um ambiente escolar onde a "intolerância fermentava em silêncio". Como a Sociologia analisa a formação e a disseminação do preconceito em instituições como a escola, e quais mecanismos sociais podem contribuir para a normalização ou o enfrentamento da homofobia?


2 - O professor utilizou um grupo de WhatsApp com pais de alunos para disseminar sua narrativa homofóbica. Como a Sociologia da Comunicação e a Sociologia Digital analisam o papel das redes sociais na propagação do discurso de ódio e na mobilização de atitudes discriminatórias?


3 - A decisão em primeira instância considerou o caso um mero "embate ideológico". Como a Sociologia do Direito analisa a judicialização de questões relacionadas à discriminação e aos direitos humanos, e quais os desafios na interpretação e aplicação da lei em casos de homofobia?


4 - A crônica destaca o sofrimento do coordenador e o silêncio de outros professores por medo. Como a Sociologia das Emoções e a Sociologia da Moral analisam o impacto emocional da discriminação nas vítimas e o papel da omissão e da coragem moral diante de atos de preconceito?


5 - A condenação final é vista como um aviso sobre o preço da intolerância. Como a Sociologia analisa o papel da justiça e das sanções legais no combate à homofobia e na promoção de uma cultura de respeito à diversidade sexual?

domingo, 1 de junho de 2025

Entre Balas e Livros: Uma Reflexão Sobre o Valor do Conhecimento ("A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." — Nelson Mandela)

 


Entre Balas e Livros: Uma Reflexão Sobre o Valor do Conhecimento ("A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo." — Nelson Mandela)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Numa tarde qualquer, enquanto navegava pelas redes sociais, deparei-me com dois mundos que não deveriam compartilhar o mesmo tempo, muito menos o mesmo planeta. De um lado, o rosto sereno de uma jovem paquistanesa, iluminado por um sorriso firme; do outro, um garoto brasileiro entediado diante dos livros. Entre ambos, um abismo que me fez repensar tudo o que acreditava sobre educação, privilégio e propósito.

A primeira vez que ouvi o nome de Malala Yousafzai, eu tomava café, distraído, quando o noticiário rasgou a manhã com uma notícia absurda: uma menina de quinze anos fora baleada no rosto simplesmente por querer ir à escola. Enquanto eu me irritava com o trânsito rumo à universidade, ela lutava pela vida em um hospital inglês, ferida por homens que viam mais perigo nos livros do que nas próprias armas.

Nunca esqueci aquela cena que imaginei: o ônibus escolar atravessando as estradas poeirentas do vale do Swat, risos de meninas preenchendo o espaço até que passos pesados subissem os degraus metálicos. "Quem é Malala?" A pergunta cortou o ar como lâmina. Não houve tempo para medo ou resposta — apenas um disparo seco, capaz de transformar uma estudante anônima na voz mais poderosa da educação mundial.

Enquanto Malala emergia de um coma, com uma bala alojada próxima ao cérebro, em alguma sala de aula brasileira, um adolescente perguntava: "Professor, para que eu preciso saber quem é Aristóteles?" A coincidência entre essas duas cenas, tão distantes e ao mesmo tempo tão próximas, não me saiu mais da cabeça. Ela quase morreu para aprender. Ele não via sentido em aprender nada.

Passei dias remoendo esse contraste. Como pode, no mesmo planeta, uma jovem arriscar a vida por uma aula enquanto outra considera a filosofia inútil? Como entender que, aos dezessete anos, Malala discursava ao mundo no palco do Nobel da Paz, enquanto uma geração inteira questiona o valor de estudar?

Desde então, meus olhos sobre os alunos mudaram. Vejo-os manusear os celulares com a mesma habilidade com que Malala, escondida, folheava seus livros. Mas enquanto ela buscava respostas, eles evitam as perguntas. Ela encontrava propósito nas palavras proibidas; eles se afogam num oceano de conteúdos que pouco significam.

Vivemos o paradoxo do tempo: nunca foi tão fácil acessar o conhecimento, e nunca pareceu tão difícil despertar interesse por ele. Malala sangrou por uma chance de aprender — hoje, oferecemos essa chance de bandeja, mas ela é recebida com indiferença.

Aristóteles dizia que a felicidade é uma atividade — viver segundo a nossa natureza mais elevada. Talvez seja isso que nos falta: entender que estudar não é apenas acumular dados, mas buscar um sentido, um lugar no mundo. É transformar conhecimento em consciência, aprendizado em ação.

Quando vejo Malala discursando na ONU, com o mesmo sorriso que um tiro não conseguiu apagar, compreendo: ela não se tornou heroína naquele dia. Ela já era. Desde o instante em que, em segredo, abriu um livro. Desde o momento em que ousou perguntar por que as meninas não podiam aprender. A bala apenas revelou ao mundo uma verdade que ela já conhecia: que o conhecimento vale mais do que a própria vida.

E quando me deparo com o jovem do meme questionando Aristóteles, não sinto raiva — apenas uma tristeza profunda. Penso em quantas meninas, mundo afora, dariam tudo para ter o que ele despreza. Quantas Malalas existem hoje, ainda em silêncio, lutando por uma oportunidade que aqui é negligenciada.

A diferença entre eles não está na inteligência, mas no propósito. Malala encontrou nas palavras uma razão para viver. O menino ainda não entendeu que os livros podem oferecer uma razão para existir.

Talvez o drama do nosso tempo não seja a ignorância, mas a indiferença. Não é a falta de acesso ao saber, mas a ausência de fome por ele.

E eu, entre essas duas realidades, fico a pensar: o que diríamos a Malala se ela soubesse que, em outra parte do mundo, jovens com tudo aquilo que ela quase morreu para ter consideram o conhecimento irrelevante? Como reagiria ao saber que suas cicatrizes são vistas por alguns como exagero?

Imagino que ela sorriria — aquele mesmo sorriso que a bala não calou — e diria que não lutou apenas por si, mas por todos nós. Inclusive por aqueles que ainda não descobriram o valor daquilo pelo qual ela quase morreu: a liberdade de aprender, de questionar, de crescer.

Porque, no fim das contas, Aristóteles serve exatamente para isso: para lembrar que ser humano é nunca cessar de perguntar, nunca parar de buscar, nunca desistir de crescer. Mesmo que, às vezes, esse caminho nos leve a encarar uma bala no rosto.


           

Minha crônica estabelece um contraste pungente entre a luta pela educação em contextos de opressão e a apatia em ambientes de privilégio, levantando questões importantes sobre propósito, valor do conhecimento e as desigualdades globais. Aqui estão 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1 - A crônica contrasta a experiência de Malala Yousafzai, que arriscou a vida pela educação, com a de um estudante brasileiro que questiona a relevância de aprender sobre Aristóteles. Como a Sociologia da Educação analisa as diferentes valorações da educação em diversos contextos sociais e culturais, e quais fatores podem influenciar a percepção do valor do conhecimento pelos jovens?


2 - O autor reflete sobre o "abismo" entre esses dois mundos em relação a privilégio e propósito. Como a Sociologia das Desigualdades examina as disparidades no acesso e na valorização da educação em escala global, e de que maneira o contexto socioeconômico e político molda as oportunidades e as motivações dos estudantes?


3 - A crônica menciona o paradoxo de viver em uma época com fácil acesso ao conhecimento, mas com dificuldade em despertar o interesse por ele. Como a Sociologia da Cultura e a Sociologia da Juventude analisam o impacto da cultura digital e das redes sociais no engajamento dos jovens com o aprendizado e na construção de seus propósitos?


4 - O autor cita Aristóteles sobre a felicidade como uma atividade ligada à nossa natureza mais elevada, sugerindo que o estudo pode ser um caminho para encontrar sentido. Como a Sociologia analisa a relação entre educação, desenvolvimento pessoal e a busca por significado na vida, e qual o papel da escola na promoção dessa busca?


5 - A crônica termina com uma reflexão sobre a indiferença como um drama do nosso tempo, em contraste com a "fome" por conhecimento de Malala. Como a Sociologia pode nos ajudar a compreender as atitudes de apatia e engajamento em relação à educação, e quais estratégias poderiam ser utilizadas para despertar nos jovens a valorização do aprendizado como um direito e uma ferramenta de transformação?

O Teatro do Absurdo Digital ("O que é a lei? Uma teia de aranha através da qual as grandes moscas passam e as pequenas ficam presas." — Honoré de Balzac)

 



O Teatro do Absurdo Digital ("O que é a lei? Uma teia de aranha através da qual as grandes moscas passam e as pequenas ficam presas." — Honoré de Balzac)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Nos últimos meses, assisti a uma das peças mais surreais do teatro educacional brasileiro: a encenação da chamada "Lei do Celular". Como espectador privilegiado dos bastidores escolares, testemunhei não apenas o fracasso anunciado de mais uma medida autoritária, mas também a hipocrisia coletiva que cerca nossa relação com a tecnologia na educação.

Janeiro trouxe a grande novidade legislativa: celulares banidos das escolas. Políticos sorriram para as câmeras, gestores educacionais aplaudiram a “revolução”, e eu me preparei para assistir ao espetáculo da ingenuidade institucional em ação. Não demorou para que a realidade desmentisse o otimismo oficial.

Nos corredores da escola, deparei-me com cenas ao mesmo tempo cômicas e patéticas. Estudantes desenvolveram uma engenhosidade digna de agentes secretos: celulares escondidos em estojos, dentro de livros com páginas recortadas, ou presos à barriga com fita adesiva. A criatividade para burlar a lei superava, com folga, o empenho demonstrado nas aulas.

Marina, de dezesseis anos, riu da minha cara quando perguntei se havia parado de usar o celular na escola. "Tio, vocês adultos acham que a gente é idiota? A gente só ficou mais esperto." E estava certa. Os números não mentem: 63% dos alunos continuam levando os aparelhos diariamente. Mais da metade os utiliza durante as aulas. A lei tornou-se letra morta antes mesmo de completar seis meses.

O que mais me revolta não é a desobediência juvenil — essa, ao menos, carrega a honestidade da rebeldia declarada. É a postura dos adultos que sustenta essa farsa. Professores fingem não ver os alunos mexendo no celular porque sabem que não há estrutura para fazer a norma valer. Gestores divulgam a medida sem oferecer alternativas viáveis. Políticos criam regras sem ouvir quem vive a realidade escolar.

Professor João, colega de profissão, desabafou: "Querem que eu seja policial de celular agora. Já não basta ser professor, psicólogo e assistente social. Agora tenho que ser também guarda penitenciário digital." A amargura em sua voz traduz o sentimento de uma categoria já sobrecarregada e desvalorizada.

O absurdo se agrava quando descobrimos que apenas 4% das escolas possuem armários adequados para guardar os aparelhos. É como proibir carros nas ruas sem oferecer estacionamentos. A falta de planejamento transforma educadores em antagonistas e estudantes em criminosos digitais.

Conversei com Pedro, do terceiro ano, que resumiu a ironia da situação: "Professor, a escola diz que celular atrapalha o aprendizado, mas usa WhatsApp pra mandar recado pros pais e tablet nas aulas de inglês. É tecnologia boa e tecnologia ruim?" A pergunta, feita com a sinceridade juvenil, expôs a contradição central da nossa hipocrisia educacional.

Outro dado constrangedor: 44% dos estudantes desconhecem totalmente as novas regras ou sabem pouco sobre elas. Como cobrar o cumprimento de uma lei que sequer foi bem comunicada? É governar por decreto, não por diálogo.

Pior ainda: 27% dos professores que receberam informações sobre a mudança não as repassaram aos alunos. A cadeia de irresponsabilidade está completa — do gabinete ministerial ao chão da escola, todos transferem a culpa.

Enquanto isso, questões essenciais seguem ignoradas. Faltam livros, professores recebem salários indignos, escolas desabam — mas o grande problema nacional era o celular do adolescente.

A verdadeira nomofobia — o medo patológico de ficar sem celular — não está nos jovens. Está nos adultos que preferem proibir a educar, que escolhem o autoritarismo em vez do diálogo, que acreditam que problemas complexos se resolvem com soluções simplistas.

Diante desse circo de horrores educacional, cheguei a uma conclusão amarga: a "Lei do Celular" é apenas um sintoma da nossa incapacidade crônica de enfrentar desafios reais. É mais fácil criminalizar o aparelho do que questionar métodos pedagógicos obsoletos. Mais cômodo culpar a tecnologia do que investir na formação docente.

No fim, o que presenciei não foi a implantação de uma política educacional, mas a encenação de uma peça no teatro do absurdo. E o mais trágico é que, nessa farsa, os únicos que saem perdendo são justamente aqueles que deveríamos proteger: nossos estudantes e nossos professores. Mas isso, aparentemente, é só um detalhe no grande espetáculo da demagogia educacional brasileira.


https://g1.globo.com/educacao/noticia/2025/05/27/mesmo-com-proibicao-maioria-dos-estudantes-do-ensino-medio-segue-levando-celular-para-a-escola-e-admite-uso-em-sala-de-aula.ghtml (Acessado em 01/06/2025)



Minha crônica oferece uma análise crítica contundente sobre a implementação da "Lei do Celular" nas escolas, expondo a distância entre a norma e a prática, além de levantar questões sobre a hipocrisia e as prioridades no sistema educacional. Aqui estão 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1 - A crônica descreve a "Lei do Celular" como um "fracasso anunciado" e um exemplo de "ingenuidade institucional". Como a Sociologia analisa a eficácia das leis e normas sociais, e quais fatores podem explicar o descompasso entre a legislação e o comportamento dos indivíduos no contexto escolar em relação ao uso de celulares?


2 - O autor destaca a "engenhosidade" dos estudantes em burlar a lei e a omissão dos professores diante do uso de celulares em sala de aula. Sob a perspectiva da Sociologia da Educação e da Sociologia do Desvio, discuta as dinâmicas de resistência e adaptação que emergem quando normas são percebidas como inadequadas ou inaplicáveis pela comunidade escolar.


3 - A crônica critica a postura dos adultos (políticos, gestores) que impõem a lei sem considerar a realidade das escolas e sem oferecer alternativas. Como a Sociologia Política e a Sociologia das Políticas Públicas analisam o processo de formulação e implementação de políticas educacionais, e quais os impactos da falta de diálogo e da imposição de cima para baixo?


4 - O professor João expressa a sobrecarga da função docente ao ser cobrado a atuar como "policial de celular". Como a Sociologia do Trabalho analisa a expansão das responsabilidades e a desvalorização da profissão docente, e de que maneira a imposição de novas tarefas sem o suporte adequado afeta o bem-estar e a qualidade do trabalho dos professores?


5 - A crônica aponta a contradição da própria escola ao utilizar tecnologia para comunicação e ensino, ao mesmo tempo em que proíbe o uso pelos alunos. Como a Sociologia da Tecnologia analisa a ambivalência da tecnologia na sociedade e na educação, e quais critérios poderiam ser utilizados para diferenciar o uso "bom" do "ruim" de celulares no ambiente escolar?

sábado, 31 de maio de 2025

Silvaneide na sala onde o coração se cala: Coordenação. ("O fardo é leve quando levado por muitos." — Ovídio)

 



Silvaneide na sala onde o coração se cala: Coordenação. ("O fardo é leve quando levado por muitos." — Ovídio)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Foi numa sexta-feira comum — dessas em que os ponteiros do relógio correm apressados, indiferentes à dor — que o tempo, de repente, hesitou. Marcava meio-dia, mas ali, naquele instante, algo se quebrou. O som abafado da rotina deu lugar a um silêncio espesso, quase sólido, como se o ar carregasse o peso de uma despedida que ninguém soube prever.

Eu não estava lá. Mas consigo imaginar. Vejo, com a nitidez dos que sentem além da visão, a professora Silvaneide sendo chamada no corredor. Não conhecia seu andar, mas posso vê-la caminhando depressa, talvez preocupada, talvez apenas habituada à urgência que nos empurra pelos dias. Vejo seu olhar atento, talvez cansado, mas firme. E um sorriso — daqueles que ainda acolhem, mesmo quando o mundo já não merece tanto cuidado.

Ela ensinava português como quem borda sentidos com paciência e afeto. Era dessas professoras que acreditam, com fé antiga, que uma palavra bem dita pode redesenhar destinos. Mesmo quando tudo parece desmentir isso.

Naquela sexta, foi chamada à sala da pedagogia. Mais uma reunião. Mais uma cobrança. Mais uma justificativa para o injustificável. A rotina escolar transformada em tribunal — onde se julga quem ensina, mas não quem exige. A cada nova plataforma, um novo sufoco. A cada meta imposta, uma nova ferida aberta.

Não sei o que foi dito lá dentro. Sei apenas o que veio depois: um comunicado seco, um murmúrio que tentava esconder o grito. Ela caiu. Primeiro o corpo. Depois o silêncio. E, por fim, a certeza — não era apenas um desmaio.

O socorro chegou. Mas tarde demais. O coração de Silvaneide, espremido há anos sob o peso de exigências absurdas, finalmente desistiu. Não suportou.

Naquela tarde, provavelmente, não houve mais aula naquela unidade escolar. Mas, houve lições. Duras. Inadiáveis. Aprendemos que a pressão adoece. Que mata. Que reuniões podem ser tão letais quanto o descaso. E que os ombros dos professores, por mais largos que sejam, também têm limite.

Nos dias que se seguiram, vieram os comunicados, os posts, as homenagens. O sindicato, as redes sociais, os colegas — todos repetiam a palavra que agora pesa mais do que nunca: “pressão”. E eu só consigo pensar em quantas outras Silvaneides continuam em pé, adoecendo em silêncio, por puro amor à profissão.

Ela tinha 56 anos. Uma filha. Um marido. E tantos sonhos que nunca verão o tempo passar.

Na sala onde seu coração se calou, ficaram perguntas que ninguém ousa responder. Até quando faremos da escola um lugar de medo? Até quando aceitaremos a cobrança como método e a desumanidade como norma?

Hoje, ao olharem a cadeira vazia na sala dos professores, talvez seus colegas sintam que não dá mais para seguir como antes. Que a morte de Silvaneide não pode ser apenas mais um número numa planilha fria, mas um alerta. Um grito. O mais triste dos gritos — pedindo apenas um pouco de humanidade.

E, se há algum consolo possível, que ele venha em forma de mudança. Porque já não é mais possível fingir que está tudo bem. Não quando uma professora morre tentando explicar por que seus alunos não aprenderam a redigir bem, enquanto o mundo, lá fora, ainda não aprendeu a escutar. https://appsindicato.org.br/nota-de-pesar-pelo-falecimento-da-professora-silvaneide-monteiro-andrade/ (Acessado em 01/06/2025)




A Minha crônica oferece uma perspectiva tocante e crítica sobre as condições de trabalho dos professores e o impacto da pressão no seu bem-estar. Vamos a 5 questões discursivas para explorar as ideias centrais sob um olhar sociológico:


1 - A crônica descreve a morte da professora Silvaneide durante uma reunião de cobrança de metas. Como a Sociologia do Trabalho analisa a relação entre pressão no trabalho e a saúde dos trabalhadores, e quais elementos específicos do ambiente escolar podem contribuir para o aumento do estresse e do adoecimento dos professores?


2 - O texto menciona a transformação da rotina escolar em um "tribunal" onde se julga quem ensina. Sob a perspectiva da Sociologia das Instituições, como podemos analisar as mudanças nas dinâmicas de poder e nas formas de avaliação dentro da escola, e quais as consequências dessas mudanças para os profissionais da educação?


3 - A reação dos colegas de Silvaneide e do sindicato aponta para a "pressão" como um fator crucial na sua morte. Como a Sociologia pode nos ajudar a compreender a construção social da pressão no ambiente de trabalho e de que maneira essa pressão se manifesta especificamente na profissão docente?


4 - A crônica questiona até quando a escola será um lugar de medo e a cobrança será aceita como método. Utilizando conceitos da Sociologia da Educação, discuta o papel da cultura organizacional da escola e como ela pode influenciar o bem-estar dos professores, promovendo ou inibindo um ambiente de trabalho saudável.


5 - O final do texto clama por uma mudança e por mais humanidade. De que forma a Sociologia pode contribuir para a reflexão sobre a humanização das relações de trabalho na educação e quais mecanismos sociais e políticos poderiam ser implementados para promover um ambiente mais saudável e acolhedor para os professores?

sexta-feira, 30 de maio de 2025

A Falácia da Inclusão Genérica: Quando Abarcar não Significa Conter ("O essencial é invisível aos olhos." — Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe)

 



A Falácia da Inclusão Genérica: Quando Abarcar não Significa Conter ("O essencial é invisível aos olhos." — Antoine de Saint-Exupéry, O Pequeno Príncipe)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era uma manhã comum, dessas em que a rotina corre apressada e os detalhes escapam por entre os dedos. Estávamos no elevador, meu filho e eu, naquele breve intervalo entre andares que, por vezes, revela mais do que uma vida inteira de convivência. “Cadê o celular?”, perguntei, revirando bolsos e bolsas com a urgência de quem sempre tem pressa. Ele ficou ali, parado, silencioso, escondendo o objeto debaixo do braço — como se nada tivesse acontecido. Naquele instante, compreendi, com dor e lucidez, uma verdade que eu já suspeitava: por mais que eu repetisse “celular”, apontasse, explicasse, aquela palavra simplesmente não existia no universo dele.

Meu filho é autista, nível três, não verbal. Todos os dias, senta-se ao fundo de uma sala de aula enquanto o professor discorre sobre “as implicações do pacifismo de Gandhi para a descolonização da Ásia”. Enquanto isso, ele colore figuras ou realiza exercícios de pareamento. É como se dois mundos paralelos coexistissem no mesmo espaço — um drama histórico complexo e um documentário silencioso sobre formas e cores, sem qualquer ponto de encontro.

E chamamos isso de inclusão.

A palavra, do latim includere, significa abarcar, conter. Mas o que vejo é exclusão travestida de boa intenção — um espetáculo ensaiado, onde todos fingimos que a presença física já é, por si, uma conquista. Como colocar alguém que não enxerga em um cinema e acreditar que isso basta para lhe oferecer cultura ou prazer.

Durante anos, ouvi discursos inflamados sobre os benefícios da “interação social”. Mas, ao observar meu filho, não vejo interação — apenas isolamento. Ele está ali, como uma ilha muda cercada de vozes que não entende. Os colegas o notam, sim, mas como se nota uma cadeira que, de vez em quando, se arrasta sozinha. Não há diálogo, nem troca. Falta o encanto, o reconhecimento mútuo, que deveria marcar qualquer convivência verdadeira.

O estalo veio quando ouvi outra mãe descrever a rotina da filha no terceiro ano do ensino médio. “Tem dia que é um caos total”, dizia. O menino autista não conseguia acompanhar, e tampouco os colegas conseguiam aprender. O professor, entre a tolerância frustrada e a repressão impotente, acabava mandando o aluno para fora da sala. E tudo recomeçava. Era a evidência crua da falência de um sistema que confunde compaixão com competência.

Passeando pelas ruas, imagino meu filho em um lugar realmente feito para ele — onde o silêncio seja respeitado, os estímulos sejam cuidadosamente dosados e os profissionais saibam falar sua língua. Visualizo um recreio estruturado, onde cada atividade tenha um propósito terapêutico, onde o aprendizado se dê pelos caminhos que ele é capaz de percorrer.

Não se trata de segregação — essa palavra pesada, carregada de culpa. Trata-se de reconhecer que a verdadeira inclusão, às vezes, exige ambientes específicos, assim como um pianista precisa de um piano — e não de uma bateria — para expressar sua arte. Meu filho tem sua própria melodia. Mas ela se perde, sufocada pelo ruído de uma sala que opera em outra frequência.

Hoje, ao vê-lo esconder o celular sem entender meu pedido, entendi algo profundo: o amor exige coragem para abandonar as certezas que nos confortam. A inclusão que desejamos para nossos filhos não pode se resumir a um ideal bonito, feito para nos fazer sentir virtuosos. Ela precisa funcionar — para eles.

Talvez seja hora de ouvirmos aqueles que, justamente por não falarem, têm muito a dizer. O silêncio do meu filho — esse silêncio que grita — diz mais do que qualquer discurso.




A crônica que escrevi levanta importantes questões sobre a efetividade da inclusão escolar para crianças com autismo não verbal e com alto grau de suporte, apontando para a necessidade de abordagens mais individualizadas e ambientes adequados. Aqui estão 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1 - A crônica descreve a experiência de um filho autista não verbal em uma sala de aula regular, onde o conteúdo parece inacessível para ele. Como a Sociologia da Educação analisa o conceito de inclusão escolar e quais os desafios para garantir que ela seja efetiva para alunos com diferentes necessidades, como o autismo com alto grau de suporte?


2 - O autor argumenta que a mera presença física de alunos com necessidades especiais em salas comuns nem sempre configura uma verdadeira inclusão, podendo até se tornar uma forma de exclusão disfarçada. Sob a perspectiva da Sociologia da Exclusão Social, discuta essa afirmação, diferenciando inclusão formal de inclusão substancial no contexto escolar.


3 - A crônica menciona a falta de interação social significativa do filho do autor em sala de aula regular. Como a Sociologia da Interação Social analisa a importância da interação para o desenvolvimento social e cognitivo, e de que maneira a escola poderia promover interações mais significativas para alunos com autismo não verbal?


4 - O texto compara a necessidade de ambientes específicos para o aprendizado de crianças com autismo com as necessidades de um pianista e seu piano. Utilizando conceitos da Sociologia da Educação, discuta a importância de se considerar a diversidade das necessidades de aprendizado e a possibilidade de diferentes modelos de escolarização para atender a essa diversidade.


5 - A crônica termina com a ideia de que "o silêncio do meu filho — esse silêncio que grita — diz mais do que qualquer discurso". Como a Sociologia pode nos ajudar a compreender e a dar voz às experiências de pessoas com comunicação não verbal, e quais implicações essa compreensão pode ter para as políticas e práticas de inclusão escolar?