"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 21 de fevereiro de 2009

FAZENDO "TRANSAÇÕES" NO AMBIENTE ESCOLAR




Crônica


FAZENDO "TRANSAÇÕES" NO AMBIENTE ESCOLAR

         Por  Claudeci Ferreira de Andrade

    
Não há nada mais decepcionante do que está concentrado em uma aula de interpretação de texto, e bate à porta um para interromper: é um vendedor de livro; ora um vendedor de carteirinha estudantil; ora representantes de cursos de informática; ora o presidente do bairro e/ou da igreja, fazendo convites vários; vendedor de camiseta; depois a turma do grêmio estudantil com uma nova ideia; bem como os estagiários da saúde para distribuir camisinhas; anúncios da coordenação; os alunos da sala vizinha para tomar algo emprestado; até a merendeira. Aqui não dou conta de enumerar quantas futilidades oficiais nos pretendem encher o tempo de aula. Isso sem falar de um ou outro engraçadinho na própria sala que articula a inviabilização da boa aula com piadas sem graça. Eu sei muito bem o que é trabalhar até tarde da noite, preparando uma boa aula e sentir meus esforços desconsiderados. É como o recipiente em que você está levando morangos maduros para casa, rasga-se precisamente no momento em que você sai do carro, fazendo uma sujeira horrível. A sala de aula é um recipiente desejável, público cativo, porém frágil.
           Desde há muito tempo, a escola pública brasileira tem se escondido da qualidade. Escondido porque está com medo da sociedade. Não precisa esconder-se! Seus temores têm sido baseados em falsos relatórios dos enganadores: "estatistiqueiros". Enfrentar a comunidade para mostrar o caráter da boa educação é um indicador de qualidade. Não podemos deixar nem um só momento sequer de aula esvair-se como gás para o espaço. Não tenho visto nenhuma expressão de amor verdadeiro à causa, nessas interrupções. Contêm elas o conteúdo que o sistema planejou para ser dado em sala livremente? A escola quer encher nossa vida apenas com sua amizade?
           Cabe a nós professores a não entregar a esses interruptores a sala, esta, sacola de papel. Porque eles entram e saem e o público fica vazio, tão horrivelmente vazio! Nós, tão somente, admitimos que necessitassem do nosso conteúdo curricular, roguemos à unidade escolar, para que possamos dá-lo sem a interrupção dos que não têm propósito educacional, mas visam somente aos seus bolsos!
           Qual é a nossa resposta? Se a resposta da escola for uma de conivência, ela é forçada a ajudar-nos a lidar com essa realidade. Com muito cuidado ela terá que nos explicar o porquê de tanta incoerência como: não deixar entrar alunos com as roupas que eles têm, “escandalosas” e permitir a distribuição de camisinha para os menores do Ensino Médio. A princípio imaginamos que os tempos modernos estão nos apanhando como se apanha moscas em mel. Mas, enquanto estamos tremendos em nossa nudez diante da comunidade, ela cobre-nos com seu próprio manto, suas propagandas bem elaboradas e amigáveis, continuam nos oferecendo enganação: “isso te tornará mais confortável”.
            E isto resolve: que nos ofereçam palestras substanciosas que encham as salas de aula com algum conteúdo interdisciplinar que adicione. Até agora, reconhecemos prontamente que, perturbam-nos com coisas que não justificam a interrupção, entram e saem, deixando apenas um boqueirão vazio, ou melhor, cheio de indignação.
             Que sejam pelo menos ajustados: Professora vende confeitos; alunos vendem bombons, mas no pátio e na hora do recreio. Um desse dias comuns, eu comprei um vidrinho de óleo aquecedor, para comprovar que uma menina estava vendendo produtos eróticos no espaço escolar. Apenas confirmei, mais uma vez, que os ambientes moralistas modernizaram-se, pois já havia lido que existem vários sex shops para evangélicos inaugurados pelo país afora (http://dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130426&p=23 ). (acessado em 08/05/2013). Eu ia repreender? Claro que não! Sofro, mas tento acompanhar a evolução cultural.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/06/2009
Código do texto: T1641207

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

ALUNO RECONHECIDO, PROFESSOR MANIPULATÓRIO


Crônica

ALUNO RECONHECIDO, PROFESSOR MANIPULATÓRIO

Claudeci Ferreira de Andrade


          Não há dúvida de que as autoridades políticas possuam mecanismo que promova o reconhecimento devido ao profissional da educação e que elas desejam torná-lo disponível.

          Mas, nem sempre está claro como esse reconhecimento se torna nosso. Você já notou a maneira em que costumeiramente reivindicamos o reconhecimento? Rogamos: — “Aumentem o nosso salário”! “Diminuam nossa carga horária”! Mas, o que estamos supondo? É o reconhecimento “aspergido” de cima para baixo como estamos acostumados a engolir as outras resoluções e decretos mil. Implantariam as autoridades políticas para este reconhecimento em forma de um aumento salarial à categoria do magistério tão prontamente como aumentariam os seus próprios salários? É nossa profissão mais árdua se não pedirmos esse reconhecimento?

          Talvez fosse mais apropriado se começássemos fazendo movimentos grevistas, pedindo mais trabalho, pois é sempre assim, quando ganhamos um adicional no salário, vem junto, mais trabalho e um aumento na parcela da previdência. Poderíamos afirmar a estes chefes, com essa atitude irônica, que estamos dispostos a ser lembrados mesmo a preço de “banana”.
          Há três abordagens gerais à pergunta sobre como obtemos o reconhecimento da sociedade. Elas podem ser sumarizadas deste modo: Primeiro, o reconhecimento é merecido, os governantes são obrigados a no-lo dar por causa de nossa utilidade social; segundo, o reconhecimento é conseguido com agrado ou lisonja, as autoridades são induzidas por nossa mendicância e terceiro, o reconhecimento é inerente, as autoridades políticas são sábias, bem preparadas academicamente a ponto de ver o futuro da educação.
          A maior parte de nossas greves e petições por reconhecimento cai na segunda categoria. Supomos que nossos chefes retêm todos os mecanismos promovedores do nosso reconhecimento e que eles arbitrariamente dispensam àqueles com quem estão satisfeitos (como o Papai Noel das grandes casas comerciais doam bombons às crianças). Naturalmente, o outro lada desta ideia é que eles também podem se utilizar de maldições e despejar algumas delas sobre aqueles com quem estão descontentes (perseguição).
          Segundo um ou outro raciocínio, os nossos chefes usam seus recursos a fim de manipular-nos. Votando e aplaudindo um governo manipulador nos tornamos como resultado: manipulatórios. Que tal se a rebeldia, a irreverência e a indisciplina de nossos alunos nos manipulassem, também, para com os nossos chefes. Talvez quem sabe, teríamos o reconhecimento que eles têm, advindo das providências dos governantes em sua sede de erradicar o analfabetismo (gratificações, livros, merenda, transporte escolar, kit uniforme, vale cesta básica, salário escola etc.). Consequentimente, o reconhecimento não é o ato de um governo arbitrário! O aluno é importante, o professor não?!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 09/06/2009
Código do texto: T1640459

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sábado, 7 de fevereiro de 2009

O que há de melhor? (Instigando o Desejo de Melhorar)


Crônica

O que há de melhor? (Instigando o Desejo de Melhorar)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Você já comeu sem sentir vontade, comendo até ficar cheio, mas sem prazer? Pois, é exatamente o que sinto em ministrar a sexta aula de Língua Portuguesa, por semanas a fio, na mesma sala por falta de um horário de aula bem elaborado.

          O primeiro passo rumo a um ano letivo promissor é corresponder com as necessidades minimamente básicas. Muitos professores em toda parte estão ingerindo sem prazer alguma comida estragada, servida assim por incompetência de alguns no sistema educacional. Tenho dito: não podemos terminar bem se começamos mal; não se termina certo se se começou errado.

          Os três pilares que sustentam uma educação ideal a meu ver, primeiro organização gestora, depois conteúdo adequado e por último um vasto material didático atualizado. Esses pilares estão atraindo todo indivíduo da comunidade escolar para que enfrente as verdadeiras questões deste tempo de crise educacional e dê sua contribuição competente.

          Você professor tem desejo de alguma coisa melhor do que aquilo que conhece atualmente? Em caso afirmativo, então isso prova que nem tudo está perdido, há uma partícula ígnea de competência que lhe dá esse desejo. Quer esteja disposto admiti-lo ou não; quer o identifique dessa maneira, ou não; esse desejo é dado pelo bom senso de responsabilidade inerente em qualquer pessoa normal. Ele está lhe coagindo. Está impulsionando seu coração, sua vida, sua mente para fazer o que é preferível.

          Tal desejo não será satisfeito se apenas ocupamos alguma função no sistema. Há uma grande diferença entre ter um cargo de destaque e ser profissional. Há uma diferença entre conhecer os preceitos e conhecer a realidade. Pode haver uma grande lacuna entre submeter-se às formas exteriores, mostrar o regimento escolar e verdadeiramente conhecer as necessidades reais para um respeitoso funcionamento das engrenagens do sistema.
          Não somos professores por acaso. Nosso potencial é assombroso! Entretanto, muitas vezes decidimos tão pouco, nós que fomos destinados a partilhar o saber, conservamo-nos pouco acima dos animais, enquanto deveríamos ser um pouquinho abaixo dos anjos. Temos de ir deliberadamente contra esta forte vocação de deslizar para a escória da humanidade. Embora tenhamos ingressado no sistema educacional precisamos conservar o princípio que Deus colocou dentro de nós: o desejo de melhorar.
          Cientificamente, agora sabemos que o alimento digerido sem sabor não é utilizado pelo corpo na mesma extensão que o alimento consumido com prazer. Sem critério jamais poderemos ser felizes. Afinal, não somos criados para guardar as boas coisas só para nós!
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 08/06/2009
Código do texto: T1638115

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domingo, 1 de fevereiro de 2009

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")


Crônica

FLORES ANTES DO FUNERAL ( “Professor destaque")

Claudeci Ferreira de Andrade


          Eu nunca recebi flores e minha única chance de recebê-las, antes de meu funeral, seria se um dia fosse eleito o “Professor destaque" em minha unidade escolar. Mas, para ser eleito o destaque é preciso fazer milagres. Coisa que ainda não aprendi.

          Por que somos tão impressionados com coisas miraculosas? Damos toda a nossa atenção àquilo que faz nosso coração bater e acelera a nossa respiração. Quando o chefe vê o espetacular, ele baixa a faculdade de discriminação e perde a razão simplesmente pelo gozo do evento e mostra toda a sua fraqueza, elegendo o funcionário destaque.
          Não é de surpreender, portanto, que muitos recorram a testificar de atos deveras impressionantes na escola: índice de reprovação zero, promoção de passeio, aulas de campo, projeto de dança, entrega de diários e relatórios antecipados, nenhuma falta com o livro de ponto, assinado quinze minutos antes do horário. Tem uns que recorrem até a métodos desonestos para se evidenciar, como inspecionar a vida alheia para apresentar a mais quente fofoca, “verdadeiros milagres”.
          A maioria de nós talvez não sejamos capazes de jactar-nos de tão magnífico portfólio avaliativo como o deles, mas podemos lembrar-nos de que seríamos capazes de Produzir milagres menores. Pensamos na inundação de sentimentos que tivemos durante o chamado à coordenação, isso produziu até lágrimas, e permanecermos firmes. Pensamos na ocasião em que falamos com alguém importante para ajudar adquirir alguma coisa para facilitar a fluência do trabalho, recebendo um não. E que dizer da ocasião em que conduzimos algum aluno “trapalhão” à coordenação e ouvirmos dela que esse é um aluno especial? Não constitui tudo isto prova de que estamos entre os dignos de destaque, também?
          Mas, o resultado final nos adverte de que tudo isto simplesmente é um grande problema. O poder miraculoso pode impressionar-nos; mas somos gratificados mesmos somente por um salário que nos dignifique à vida. Podemos livrar-nos de alguns maus hábitos de professor; dar boas aulas; podemos até mesmo levar pessoa a passarem no vestibular. Entretanto, os únicos impressionados são os outros. O que realmente necessitamos é de ser impressionados com uma vida digna de um profissional que se preze. De outro modo estaremos ainda influenciados por aquele velho mito de que a felicidade está fundamentada no bom desempenho em vez de no poder aquisitivo lato.
          Mas, a história de vida de qualquer pessoa (porque todos passam pela Escola) confirma que isto produz servidores atrofiados. Por melhores, miraculosas e rotuladas que sejam as ações, feitas com o seco propósito de vencer o concurso: “professor destaque”, são ações atrofiadas. Não porque as ações em si sejam sinistras, mas porque são feitas por pessoas alienadas.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 07/06/2009
Código do texto: T1636134

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