Crônica
FAZENDO "TRANSAÇÕES" NO AMBIENTE ESCOLAR
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Não há nada mais decepcionante do que está concentrado em uma aula de interpretação de texto, e bate à porta um para interromper: é um vendedor de livro; ora um vendedor de carteirinha estudantil; ora representantes de cursos de informática; ora o presidente do bairro e/ou da igreja, fazendo convites vários; vendedor de camiseta; depois a turma do grêmio estudantil com uma nova ideia; bem como os estagiários da saúde para distribuir camisinhas; anúncios da coordenação; os alunos da sala vizinha para tomar algo emprestado; até a merendeira. Aqui não dou conta de enumerar quantas futilidades oficiais nos pretendem encher o tempo de aula. Isso sem falar de um ou outro engraçadinho na própria sala que articula a inviabilização da boa aula com piadas sem graça. Eu sei muito bem o que é trabalhar até tarde da noite, preparando uma boa aula e sentir meus esforços desconsiderados. É como o recipiente em que você está levando morangos maduros para casa, rasga-se precisamente no momento em que você sai do carro, fazendo uma sujeira horrível. A sala de aula é um recipiente desejável, público cativo, porém frágil.
Desde há muito tempo, a escola pública brasileira tem se escondido da qualidade. Escondido porque está com medo da sociedade. Não precisa esconder-se! Seus temores têm sido baseados em falsos relatórios dos enganadores: "estatistiqueiros". Enfrentar a comunidade para mostrar o caráter da boa educação é um indicador de qualidade. Não podemos deixar nem um só momento sequer de aula esvair-se como gás para o espaço. Não tenho visto nenhuma expressão de amor verdadeiro à causa, nessas interrupções. Contêm elas o conteúdo que o sistema planejou para ser dado em sala livremente? A escola quer encher nossa vida apenas com sua amizade?
Cabe a nós professores a não entregar a esses interruptores a sala, esta, sacola de papel. Porque eles entram e saem e o público fica vazio, tão horrivelmente vazio! Nós, tão somente, admitimos que necessitassem do nosso conteúdo curricular, roguemos à unidade escolar, para que possamos dá-lo sem a interrupção dos que não têm propósito educacional, mas visam somente aos seus bolsos!
Qual é a nossa resposta? Se a resposta da escola for uma de conivência, ela é forçada a ajudar-nos a lidar com essa realidade. Com muito cuidado ela terá que nos explicar o porquê de tanta incoerência como: não deixar entrar alunos com as roupas que eles têm, “escandalosas” e permitir a distribuição de camisinha para os menores do Ensino Médio. A princípio imaginamos que os tempos modernos estão nos apanhando como se apanha moscas em mel. Mas, enquanto estamos tremendos em nossa nudez diante da comunidade, ela cobre-nos com seu próprio manto, suas propagandas bem elaboradas e amigáveis, continuam nos oferecendo enganação: “isso te tornará mais confortável”.
E isto resolve: que nos ofereçam palestras substanciosas que encham as salas de aula com algum conteúdo interdisciplinar que adicione. Até agora, reconhecemos prontamente que, perturbam-nos com coisas que não justificam a interrupção, entram e saem, deixando apenas um boqueirão vazio, ou melhor, cheio de indignação.
Que sejam pelo menos ajustados: Professora vende confeitos; alunos vendem bombons, mas no pátio e na hora do recreio. Um desse dias comuns, eu comprei um vidrinho de óleo aquecedor, para comprovar que uma menina estava vendendo produtos eróticos no espaço escolar. Apenas confirmei, mais uma vez, que os ambientes moralistas modernizaram-se, pois já havia lido que existem vários sex shops para evangélicos inaugurados pelo país afora (http://dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130426&p=23 ). (acessado em 08/05/2013). Eu ia repreender? Claro que não! Sofro, mas tento acompanhar a evolução cultural.
Não há nada mais decepcionante do que está concentrado em uma aula de interpretação de texto, e bate à porta um para interromper: é um vendedor de livro; ora um vendedor de carteirinha estudantil; ora representantes de cursos de informática; ora o presidente do bairro e/ou da igreja, fazendo convites vários; vendedor de camiseta; depois a turma do grêmio estudantil com uma nova ideia; bem como os estagiários da saúde para distribuir camisinhas; anúncios da coordenação; os alunos da sala vizinha para tomar algo emprestado; até a merendeira. Aqui não dou conta de enumerar quantas futilidades oficiais nos pretendem encher o tempo de aula. Isso sem falar de um ou outro engraçadinho na própria sala que articula a inviabilização da boa aula com piadas sem graça. Eu sei muito bem o que é trabalhar até tarde da noite, preparando uma boa aula e sentir meus esforços desconsiderados. É como o recipiente em que você está levando morangos maduros para casa, rasga-se precisamente no momento em que você sai do carro, fazendo uma sujeira horrível. A sala de aula é um recipiente desejável, público cativo, porém frágil.
Desde há muito tempo, a escola pública brasileira tem se escondido da qualidade. Escondido porque está com medo da sociedade. Não precisa esconder-se! Seus temores têm sido baseados em falsos relatórios dos enganadores: "estatistiqueiros". Enfrentar a comunidade para mostrar o caráter da boa educação é um indicador de qualidade. Não podemos deixar nem um só momento sequer de aula esvair-se como gás para o espaço. Não tenho visto nenhuma expressão de amor verdadeiro à causa, nessas interrupções. Contêm elas o conteúdo que o sistema planejou para ser dado em sala livremente? A escola quer encher nossa vida apenas com sua amizade?
Cabe a nós professores a não entregar a esses interruptores a sala, esta, sacola de papel. Porque eles entram e saem e o público fica vazio, tão horrivelmente vazio! Nós, tão somente, admitimos que necessitassem do nosso conteúdo curricular, roguemos à unidade escolar, para que possamos dá-lo sem a interrupção dos que não têm propósito educacional, mas visam somente aos seus bolsos!
Qual é a nossa resposta? Se a resposta da escola for uma de conivência, ela é forçada a ajudar-nos a lidar com essa realidade. Com muito cuidado ela terá que nos explicar o porquê de tanta incoerência como: não deixar entrar alunos com as roupas que eles têm, “escandalosas” e permitir a distribuição de camisinha para os menores do Ensino Médio. A princípio imaginamos que os tempos modernos estão nos apanhando como se apanha moscas em mel. Mas, enquanto estamos tremendos em nossa nudez diante da comunidade, ela cobre-nos com seu próprio manto, suas propagandas bem elaboradas e amigáveis, continuam nos oferecendo enganação: “isso te tornará mais confortável”.
E isto resolve: que nos ofereçam palestras substanciosas que encham as salas de aula com algum conteúdo interdisciplinar que adicione. Até agora, reconhecemos prontamente que, perturbam-nos com coisas que não justificam a interrupção, entram e saem, deixando apenas um boqueirão vazio, ou melhor, cheio de indignação.
Que sejam pelo menos ajustados: Professora vende confeitos; alunos vendem bombons, mas no pátio e na hora do recreio. Um desse dias comuns, eu comprei um vidrinho de óleo aquecedor, para comprovar que uma menina estava vendendo produtos eróticos no espaço escolar. Apenas confirmei, mais uma vez, que os ambientes moralistas modernizaram-se, pois já havia lido que existem vários sex shops para evangélicos inaugurados pelo país afora (http://dm.com.br/jornal/#!/view?e=20130426&p=23 ). (acessado em 08/05/2013). Eu ia repreender? Claro que não! Sofro, mas tento acompanhar a evolução cultural.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/06/2009
Código do texto: T1641207
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