"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 25 de janeiro de 2014

SEQUESTRO MORAL ("Precisamos aprender a falar sem aquela conotação de resistência. A beleza da fala está no patrocínio do entendimento." — Juahrez Alves)

Crônica

SEQUESTRO MORAL ("Precisamos aprender a falar sem aquela conotação de resistência. A beleza da fala está no patrocínio do entendimento." — Juahrez Alves)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Por esta época (último bimestre escolar do ano letivo), amiúdam-se as campanhas para formatura dos terceiros e nonos anos. Formados em quê? (pergunte-se de passagem). Que um político esbanjador de dinheiro público, tendo muito a ganhar com isso, seja o patrocinador ou ainda, os pais paguem por esse lazer dos seus filhos. Estou cansado de contribuir para festas da escola: ora é o retorno de alguém ao trabalho, ora aniversário de todo mundo, ora o "chá de berço" de alunas e funcionárias,  ora a despedida; e isso é o ano todo! E ainda comemorações do dia disso ou dia daquilo. Agora o simbólico padrinho de turma ser pressionado mais uma vez até o sumo de sua moral e dignidade é uma aberração. Pagar para trabalhar nunca me agradou, apesar de já ter feito isso algumas vezes, por que não pude fugir mesmo (pressão demasiada).
           Alunos correndo atrás de seus professores, pedindo dinheiro ou lhe vendendo alguma futilidade não é mais deprimente que seria, se fosse implorando por nota? Devo admitir, pois nesse último caso, o professor pode negociar com o aluno um trabalho escolar no intuito de fazê-lo merecer a sua nota sem configurar corrupção, desenvolvendo assim sua intelectualidade. Mas, pedir dinheiro, é descarado demais. Suborná-los para ter uma boa relação, se nunca der, eles bagunçam mais ainda vingando-se do professor "pão duro" e olha que jamais faltará incentivos do mal, dos "aneticonizadores". Ajudar com dinheiro o aluno menor de idade sem a interferência de seus pais é pré-dispô-lo à marginalidade. Dinheiro fácil nunca fez bem a ninguém!

           O trabalho, por mais simples que seja, dignifica o laborioso e, longe de ser um castigo, é uma benção, serve para desenvolver o ser humano tridimensionalmente (mente, corpo e espírito). Ah! Mas, ao "de menor" é proibido trabalhar, tinha me esquecido disso!!!!

           Neste mês de outubro, comemoram-se o dia da criança e o dia do professor logo em seguida! Se temos de patrocinar a festa das crianças, e não o fizermos jamais terá a festa dos professores. Se não acontecer uma, de forma alguma acontecerá a outra respectivamente. E ai do professor se se atrever dizer piadinhas cobrando o reconhecimento gratuito, leva uma resposta das quais ouvir de uma aluna, daquelas que se acham a melhor por ser crente: — professor que não colabora nem merece festa. Justiça à flor da pele!!!

            Patrocinar lazer de aluno não é papel de professor que se preza. É como disse Eliete: "Estudar é um trabalho que dá trabalho". E eu a parafraseio, dizendo sobre o ensinar sendo um trabalho trabalhoso. Todavia, sinto-me igualmente a um sequestrado por muitas vozes, recusando-me a pagar o resgate, porém todas se atentam contra minha sobrevivência.
Claudeko Ferreira
Enviado por Claudeko Ferreira em 02/10/2013
Reeditado em 25/01/2014
Código do texto: T4508127
Classificação de conteúdo: seguro

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Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

sábado, 18 de janeiro de 2014

HONRA SEM MÉRITO (Quem pretende apenas a glória não a merece – Mario Quintana)


Crônica

HONRA SEM MÉRITO (Quem pretende apenas a glória não a merece – Mario Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Final de bimestre, é hora de fechar as notas dos alunos. Uma única preocupação ronda por ali: Os professores se justificam, implorando para a coordenadora endossar algumas notas abaixo da média. E por raras permissões, não antes dela se justificar aos alunos, como se a autoridade viesse de baixo: — "Eu já avisei turma, muitos aqui vão ficar com nota vermelha, a culpa é de vocês mesmos, depois não reclamem" — De certa forma, ela tem razão, é sempre bom evitar as denúncias.
           O que há de ruim nisso? Parece-me que temos de pedir permissão ao aluno incompetente para reprová-lo. No conselho de classe, ali, estão eles representados pelos menos ruim da turma, afiados a condenar e encurralar os professores rebeldes aos seus desejos. São por vezes, ainda, os representantes, os porta-vozes ora da coordenadora, ora dos alunos segundo a conveniência; os defensores de causa alguma. Quando eles determinam maneiras pedagógicas frouxas com as quais gostariam de ser tratados, estão usando a lógica do sistema. Mas, a coordenação, por sua vez, está apta a continuar ordenando os professores: — Recuperem as notas dos seus alunos cabalmente. Fica claro a todos nós sobre o conferir nota boa aos alunos, isso nos poupa muito do sofrimento no conselho de classe, isentando-nos de culpa. 
           Eles são gratos a seus presenteadores e nos reservarão alguns tímidos elogios, depois quando não precisar mais de nossa "ajuda"; enquanto isso, não nos faltam os escárnios. Eu profetizo que em breve, muitos pais inteligentes descobrirão a incompetência do filho e defasagem em sua formação acadêmica, então pedirão à escola para não promovê-lo assim... Aí será o fim desse sistema! O presidente Bolsonaro já descobriu os "idiotas úteis", ou melhor, os "ingênuos úteis". 
           No último conselho que participei, apelava veemente a coordenadora aos professores, usando palavras fortes e até ameaças, objetivando dar outra chance à aluna faltosa, aplicando trabalhos extras, pois ela agora iria "deslanchar". Essa palavra, de acordo nosso contexto, é muito parecida com "desleixar",  tendo sonoridade semelhante e significado consequente. Se não fosse, talvez significasse: "vomitar o lanche" – disse um engraçadinho, de humor imprestável, do meio dos professores, para descontrair.
           Contendo as risadas: — "Você pagará por esse golpe baixo" — retrucou a coordenadora.
           Eu gosto de fechar a boca de meus maus alunos, dando-lhes notas boas, foi lição do meu professor de inglês na faculdade, não fui um mau aluno, mas não me importava com a língua estrangeira. Hoje sei que funciona como vingança, sofro a dor da incompetência, estudei a vida toda o inglês, nunca reprovei, porém não sei falar e/ou escrever uma palavra sequer do tal idioma.
           Assim explicamos, o porquê de se ver muitas notas boas nos boletins dos alunos atuais, e eles não conseguem tirar notas boas nas provas diagnósticas do governo. Então, reformulo a profecia: logo chegará o tempo da colheita, no qual os alunos bem "notados" apedrejarão seus professores mãos-abertas, cobrando o prejuízo que lhes causaram. Tudo em nome da boa e justa convivência! E vejo que as escolas já estão sofrendo, todos os dias é noticiado arrombamento, furto, incêndio e vandalismo em geral como prova da vingança. 
Claudeko Ferreira
Enviado por Claudeko Ferreira em 29/09/2013
Reeditado em 18/01/2014
Código do texto: T4504043
Classificação de conteúdo: seguro
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sábado, 11 de janeiro de 2014

ASSALTO DE PRESTÍGIO ("O prestígio sem mérito obtém considerações sem estima." — Sébastien-Roch Chamfort)


Crônica

ASSALTO DE PRESTÍGIO ("O prestígio sem mérito obtém considerações sem estima." — Sébastien-Roch Chamfort)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Como os alunos são criativos no preparar de uma apresentação em classe!!! Valendo-me disso, anunciei-lhes, no primeiro dia de aula, depois das férias, que tinham quarenta dias para todos mostrarem os seus trabalhos do terceiro bimestre, pois era o tempo que eu precisava para fechar as notas de Língua Portuguesa e entregá-las à secretaria do colégio. Este desfecho não foi um dos piores, já sofri coisa pior; vou contar-lhes: O tempo passou, e o prazo se encerrou, sem que muitos fizessem seu trabalho! Restava-lhes agora formular um ótimo argumento para forçar o professor estender a data. É incrível como os alunos de hoje deixam sempre tudo para o último dia! Eles não conseguindo mais, insatisfeitos, uns foram falar com a coordenadora e era impressionante como voltavam felizes para me mostrar que eu estava derrotado, sem palavras. A coordenadora garantiu a apresentação deles para a segunda-feira, três dias a mais sem minha permissão! Como assim? Nem falou comigo! Ela quis elevar seu prestígio sem nem mesmo pensar no mal que estava me causando: pisando na minha moral. Porém, esse comportamento de autoridade defasada é comum nesse meio educacional. 
            Na mesma ocasião, um pouco antes, os colegas do mesmo nível de funcionalidade que o meu, enciumados, não suportaram me ver feliz por estar movimentando a unidade escolar, então foram eficientemente motivadores desse quadro, quase pressionando a coordenadora a zelar pela sua reputação, fazenda-a retomar as rédeas, e que ela exigisse de mim não permitir os meus alunos apresentarem fora do horário, isto é, saírem de suas aulas para formarem os grupos de apresentação em minha aula (Não tenho culpa se eles valorizaram mais uma avaliação participativa do que a aula comum deles). Agora farão o quê? Como me apagarão, se daqui por diante, vou dar só prova escrita, individual e sem consulta, para me encaixar na tal semana de prova que eles gostam tanto? Mas, por que ninguém vem me pedir autorização para deixar meus alunos se ausentarem de minhas aulas e irem ao passeio promovido pela professora de matemática? Quando percebo, minha classe de sexta-feira está com pouquíssimos alunos, foram a um passeio. Passeios dão prestígios a quem? E a professora de Educação Física passa o bimestre todo tirando alundo de minhas aulas para jogar, forçando-me a aplicar prova depois dos outros, só nota boa, pois já pescaram as respostas. 
               Quando um funcionário de cargo superior, em busca de mais prestígio, contradiz as ordens de um inferior para se mostrar a terceiros é concorrência desleal.  Pior ainda, é a coordenadora pedagógica exigir que os professores executem o combinado e depois se comportar como político que compra voto, suplantando e dificultando a autoridade do professor que é quebrada, com concessões no cronograma para mostrar ao aluno que ela pode mais.
           Entretanto, por que eu quero sair da rotina e inovar minhas aulas? O prestígio me interessa também! Agora compreendo que o melhor da escola está na acirrada luta por prestígio. Os alunos nos põem para brigar, porque também se favorecem no vácuo da sanidade que se foi no "vale-tudo" em busca da tal confirmação. Eu preciso me autoafirmar; a coordenadora também. No entanto precisamos mais, e ainda mais... Quem é menos competente, tem consciência disso! Uns quando não podem conquistar com lealdade, furtam o tal valor social, "puxando o tapete", é isso: desbancar um na presença dos outros para se rirem dele.
Claudeko Ferreira
Enviado por Claudeko Ferreira em 12/09/2013
Reeditado em 11/01/2014
Código do texto: T4479242
Classificação de conteúdo: seguro

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sábado, 4 de janeiro de 2014

"VAI COMENDO RAIMUNDO" (e “o salário óhhh”!)


Crônica

"VAI COMENDO RAIMUNDO" (e “o salário óhhh”!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em meio à rotina escolar, um aluno me chama de pai. Todos os dias, sem falta, ele insiste em me pedir a bênção. Seus pais verdadeiros não se incomodam, nem eu. Afinal, a escola é o seu segundo lar, e eu, por consequência, me torno seu segundo pai. O professor de matemática, por sua vez, torna-se um de seus tios. Não porque compartilhamos o mesmo sangue, mas porque ele também é professor dele. Em alguns momentos, sinto-me honrado, e acredito que o aluno também.

A professora de geografia, por outro lado, não é a favorita dele. No entanto, outros alunos a consideram a mais bela de todas as trabalhadoras ali: pequena e delicada, mas feroz quando necessário. Ela se faz grande diante de sua classe. Certamente, ela não tem inimigos ali, mas os acidentes têm sido uma constante, destacando a dureza da profissão. Uma vez, um aluno acidentalmente atingiu seu rosto, causando-lhe um olho inchado. Em outra ocasião, durante as brincadeiras do recreio, uma borracha foi lançada com tanta força que atingiu sua perna direita, fazendo-a encerrar sua tarde letiva naquele momento.

Por vezes, me pergunto quem é o santo padroeiro dos professores. Deve ser um santo tão desequilibrado e descuidado quanto eu, padrinho da turma do nono ano "B". Eles se vingam de si mesmos por tabela: um suicídio ideológico. Penalizam seus professores como se fosse um esporte, fazendo-nos sofrer em suas "abençoadas" garras. Até os momentos bons são frutos do cansaço daqueles que nunca nos dão trégua. Estamos tão desacostumados de boas e sadias relações, que até elogios da parte deles, vemos como tentativas de nos enganar! Então, no trabalho, andamos e falamos como quem pisa em ovos; é impossível não quebrá-los.

Eles, os intermediadores do conhecimento, querem aprender através de métodos que eles mesmos escolheram! E assim vai: "vai comendo Raimundo", como dizia o personagem do finado Chico Anysio, na Escolinha do professor Raimundo. E o salário, óhhh! E "vai comendo..." só no sentido figurado, pois o lanche da escola é só para os alunos; os professores, se tocarem, são considerados transgressores. Nesse particular, os alunos não precisam de exemplo e continuarão jogando arroz nos colegas.

No final das contas, somos todos parte de uma grande família disfuncional, aprendendo e ensinando uns aos outros, tropeçando e levantando, rindo e chorando. E, apesar de tudo, não trocaria essa experiência por nada. Pois, no final do dia, somos todos professores e alunos, aprendendo as lições mais importantes da vida: resiliência, empatia e, acima de tudo, amor.