"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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domingo, 27 de dezembro de 2009

Professor, Meio do Sistema (“A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come.”)




CRÔNICA

Professor, Meio do Sistema (“A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come.”)

domingo, 27 de dezembro de 2009
Por Claudeci Ferreira de Andrade

            Ouvindo uma reportagem na Rádio CBN sobre a nova lei contra os crimes na internet, e o entrevistado dizia que estava havendo uma injustiça muito grande, queriam penalizar os provedores de internet porque um usuário criou um site e manipulou-o de forma criminosa. E ele fez uma parábola que achei demais interessante: "Imagine a grande injustiça, penalizar o fabricante de um carro porque um ladrão usou esse carro para roubar!"
            Eu estou, por pouco tempo, em recesso, mas não cessei de pensar nos últimos dias letivos desse ano. E fiz uma relação dessas injustiças do mundo global da internet com as do mesmo porte no meu mundinho educacional, no qual um professor é obrigado a passar a limpo um diário de classe porque reprovou trinta por cento da classe. O mestre é mais uma vez penalizado porque os alunos descomprometidos com os estudos não fizeram um bom aproveitamento dos conteúdos ensinados por ele.
            Como disse o Ventania, de quem sou fã, diga-se de passagem, na sua canção Símbolo da Paz:  “Estou aqui sentado na beira da estrada. Fazendo uma fogueirinha. Enrolando uma palhinha. Escrevendo essas linhas. Vendo o caminhão passar”. É como se alguém estivesse penalizado por um dilema! Mas ao refletir nisso, comparei com o que vivi no final do ano passado: deixei para recuperação vinte por cento de meus alunos. Os colegas me criticaram dizendo que eu fui burro demais, ou gostava de fazer hora extra, ou ainda sadomasoquista, em meios aos gracejos. E, eu só queria fazer diferente dos anos anteriores em que aprovara direto, sem recuperação, todos. Naquela ocasião, eu fora criticado também. Disseram-me, pelas costas, que eu era um professor “frouxo”. Outros perguntavam: — como pode não ficar nenhum dos alunos que eu conheço muito bem, em Língua Portuguesa?
            Enfim, derrubaram a minha ficha, a recuperação é paralela, mas tenho que deixar alguns alunos, “gatos pingados”, das minhas classes de Língua Portuguesa para fechar a boca dos colegas invejosos que não suportam me ver em recesso antecipado. Ainda bem que os invejosos são extremos, assim tão gordos e inchados de tanto saborear minhas oportunidades, ou melhor, tão magros e pálidos porque mordem e não comem, parafraseando o escritor espanhol Francisco Quevedo que já refletiu: “A inveja é assim tão magra e pálida porque morde e não come.” Sem falar que a recuperação especial adotada para engordar os índices é mais um dos "fazem-de-conta" do sistema, pois a escola tem que aprovar todos os alunos e continuar fingindo que é rígida e moralista. Atualmente recupera-se nota, não conteúdo. Como é possível fazer em três dias o que não se conseguiu em um ano?
            É! Feito professor, sinto-me o elemento mais ordinário e infame da natureza, por ser forçado a pagar uma divida que não é exatamente minha. Como gostaria que meus "chinelos fossem de pneu"! Não é, seu Ventania? Mas, desse jeito morro prematuramente!

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 26/12/2009
Código do texto: T1996361

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.
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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Referenciais Arruinados (Disse a Mídia: A Escola/Família/Igreja atualmente é um pedaço inflamado da sociedade)




CRÔNICA

Referenciais Arruinados (Disse a Mídia: A Escola/Família/Igreja atualmente é um pedaço inflamado da sociedade)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          As evidências são monstruosas, a ponto de  nos revelar, com acontecimentos estrondosos também, que a escola já não é um lugar seguro. Li que há estupro, abuso à criança, roubo e todo tipo de violência ali dentro dos seus muros. Portanto, agora é um pedaço inflamado da sociedade. A frequência com que esses incidentes desagradáveis acontecem dentro da rotina da escola é extremamente elevada.
          Imagine os dois ambientes que seus filhos poderiam estar seguros: o lar e a escola. Pelo menos, este último é obviamente um lugar de elevados princípios que vivem acima de qualquer reprovação. Você sabe que a escola nunca se rebaixaria para fazer alguma coisa errada, pois é um lugar para ensinar o certo. Nem conscientemente toleraria o erro de outras pessoas, que ali tomam parte. Do outro lado, fora da escola, no lar, não fica nenhum adulto, todos têm que sair para trabalhar, a não ser o namorado da mãe, o vizinho que vem “brincar” com as crianças, e aquele no papel de padrasto talvez. Uma situação questionável! Da qual a mãe poderia esperar estarem protegidas! Sem saber ela que terá de arrancar estoques de agulha do corpo de suas crianças! (salvo exceções).
(http://www.sidneyrezende.com/noticia/67772+padrasto+confessa+ter+inserido+50+agulhas+no+corpo+de+crianca+na+bahia) (Acessado em 12/07/2015). 
           E depois ainda terá que matar serviço, correndo atrás de Institutos de Medicina Legal para procurar vestígios de estupradores que por uma razão qualquer estavam a caminho da escola do filho.
(http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI4166434-EI5030,00.html) (Acessado em 12/07/2015).
          Qual das situações, mais provavelmente, projetaria a impressão de que você deixou de viver à altura das suas expectativas de mãe ou de pai? A mídia tem tido um deplorável sucesso em persuadir alguns a formarem ilusões e, desenvolvendo desconfiança nas instituições tradicionais de proteção: escola, família e a igreja. Porque tem sede de divulgar o fracasso e o reboliço dessas entidades. Entrementes, tem continuado a fazer a obra funesta de esmagar vítimas de problemas adversos. O seu dedo gordo da condenação e rejeição está sempre esticado no nariz dessas instituições, já quase mortas, porém o organismo universal tem planos muito melhores para a restauração da sociedade. As catástrofes e o prenúncio do fim do mundo motivam-me a continuar vivendo esta vidinha que tento salvar. Só uma revolução social calará a famigerada mídia do terror, abarrotando-a de tantos contratempos!

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 25/12/2009
Código do texto: T1995368


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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A UTILIDADE DA IGNORÂNCIA ("Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância." — Galileu Galilei)



Crônica


A UTILIDADE DA IGNORÂNCIA ("Nunca encontrei uma pessoa tão ignorante que não pudesse ter aprendido algo com a sua ignorância." — Galileu Galilei)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

            Para uma coisa a ignorância serve: é fonte da felicidade fácil. O desconhecer leva o ignorante a uma surpresa a cada instante. Igual ao portador de alzheimer, a mesma coisa é nova todo instante. Em um aspecto me beneficia a ignorância: fico feliz com a certeza que não sou totalmente conhecedor, conheço apenas minha necessidade de aprender. Enquanto o Sócrates dizia que "nada sabia", eu digo que nem sei se sei alguma coisa. O excesso de sabedoria é ignorância, assim como o excesso de justiça é injustiça.  
           Deus fez o mal (Is 45:7), porque o mal também faz o homem feliz. Já disse Sócrates: "Existe apenas um bem, o saber; e apenas um mal, a ignorância." O ignorante repousa anestesiado no presente, tropeça e nem sabe onde tropeçou. O sábio vive atormentado com as ameaças de todos os tempos, tentando desviar-se dos perigos. Prefiro ser atormentado em aflição das incertezas, escolhendo onde pisar, do que a falsa paz da escuridão total. Posso não saber aonde estou indo, mas sei muito bem onde estou pisando. (CiFA
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 22/12/2009
Código do texto: T1991541

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domingo, 13 de dezembro de 2009

AS PRESTAÇÕES DA VIDA (Recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se faz)




CRÔNICA

AS PRESTAÇÕES DA VIDA ("Recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se faz")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

       Do que adiantou tantas capacitações, cursos e mais cursos, dedicação integral ao trabalho(60 horas aula), todos os seus salários e bons propósitos para o futuro? Se assim pensava conquistar mais vida, foi a morte que a conquistou repentinamente! Por que aquele não fartar-se de tanta estresse e correrias?
       O mundo estava se deteriorando ao seu derredor, mas ela ainda assistia os "pobres" e estava sempre ocupada demais com os necessitados. Também não perdia oportunidade para ganhar mais dinheiro, mas nem movimentava sua própria conta bancária, era sua irmã, chamando assim a atenção de todos para o essencial da vida. E as obras de caridade ajudaram-na em quê? Ah, os caridosos também morrem e deixam sua boa imagem para apenas refletirmos e nada mais! Mas tudo bem, se todos pensassem assim, quem iria ajudar o próximo? Quis garantir o seu futuro sem saber o que significava o presente. Sua despretensão de si mesma revelou verdadeira falta de consagração à vida, quem sabe a vida agradecia! Então, só nos deixou saudades, sendo que o prolongamento e a intensidade da vida eram possíveis. Pois, foi muito cedo!
       Quando enfeitiçada pelo “romantismo” de ser cada dia melhor, estava em desarmonia com a realidade em que vivia. Mas, contudo, não podia colher a morte como resultado por ser sonhadora. Estou pensando na Professora "Lourdinha". E me desculpem por está com meu lado emocional abalado. Qual aluno não a desrespeitou, e agora a homenageamos! Só não sabemos se celebramos a morte ou a vida dela. Será mesmo que existe a lei da causa e efeito infalível? Será que a colega de trabalho que chamou de salafrária, lamenta agora por ter tido parte em sua despedida?
       O livro de Ageu na Bíblia diz que devemos considerar o passado e não sermos irracionais em nossa análise do que realmente está acontecendo. Pelo menos, quando fazemos do nosso presente o centro de nossa vida, temos acesso ao futuro automaticamente coroado com uma morte madura. Ela, minha doce professora, que muito me ensinou, e agora é mais fácil administrar meus dias com esta sua última lição: "recebe-se como salário a morte pelo mal que se faz, e paga-se com a vida o bem que se faz". Não creio em ressurreição, mas vivo como se houvesse, pois o que vier será lucro. Que bom seria, se houvesse a ressurreição para eu rever minha "Lourdinha"!


Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 22/12/2009
Código do texto: T1991511

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

UM CORDEL DE LOURDINHA (Para a perpétua memória)




POEMA

UM CORDEL DE LOURDINHA (Para a perpétua memória)


Adalgisa Maria Viana

Maria de Lourdes Viana
24 de setembro nasceu,
Só nos deu alegria
Até que faleceu.

Ela era muito bela
De um coração exemplar,
Ajudava todo mundo
Sem nada em troca cobrar.

Os anos foram se passando
Para Verdelândia mudou,
Foi naquele lugar
Que nosso pai nos deixou.

Ela ainda bem novinha
Dos irmãos ajudou cuidar,
Sempre de cabeça erguida
Não gostava de reclamar.

Logo em seguida
Ela começou a trabalhar,
Com o pouco dinheiro que tinha
O seu lote quis comprar.

Dizem todos que a conheceram
Que por aonde ela passava,
Era amor e alegria
Que Maria de Lourdes deixava.

Quando alguém a maltratava
E eu ia lhe falar,
Ela com um sorriso lindo
Colocava-me a pensar

Ela sorrindo dizia
Vamos aprender perdoar,
Às vezes, para esta pessoa
Não teve ninguém para ajudar.

Gleides e ela diziam nossos pais
Juntos de Deus eles estão,
Por isso estamos bem
Pois eles seguram em nossas mãos.

Quando alguém tinha pena dela
Também não gostava,
Pois o que era para ser
Ela mesma suportava.

Dizia que Deus
Dá o sofrimento para passar,
Somente aquele tanto
Que podemos suportar

Um dia ela me falou
Com um sorriso lindinho,
Se não souber perdoar
De que vale esse mundinho.

Também ela me falava
Que tudo tem solução,
Que o amor dela era eterno
Para familiares, amigos e irmãos.


Quando mudei para Goiânia
Na minha casa sempre vinha passear,
Só que ela estava triste
E eu não conseguia ajudar.

Depois de algum tempo
Irmã Mires ela conheceu,
Foi quem ajudou imensamente
E o problema desapareceu.

Com a  ajuda da Mires
Para Barro Alto se mudou,
Na casa de boa gente
No convento a colocou.

Um dia lá em Curvelo
Ela de ser freira se cansou,
Bateu em retira
E para Goiânia voltou.

Depois se mudou para Senador Canedo
Para de dois sobrinhos cuidar,
Pois eles estavam crescidos
E precisavam trabalhar.

Ela não media esforço
Para família ajudar,
Mesmo se fosse impossível
Ajudava sem cessar

Ela gostava muito
De andar e trabalhar,
Sempre arrumava um tempinho
Para da saúde cuidar.

Comida era saudável
Tinha medo de adoecer,
Por isso ela classificava
O que devia comer.

Era tão responsável
Que nem namorado arrumou,
Só começou namorar
Quando o Claudeci encontrou.

Que Claudeci era um amor
Para mim ela dizia,
Qual era o destino deles
Somente a Deus pertencia.

Quando ela estava com ele
Sentia-se protegida,
Dizia que ele era o anjo
Que Deus colocou em sua vida.

Um dia com uma dorzinha
Lá no Canedo internou,
Só não sabia que aquele hospital
O seu triste fim traçou.

Ela ficou internada
Até naquele dia,
E sentiu que se não fugisse
No matadouro morria.

Ela ligou para Gleides
E disse que tinha fugido,
Porque se ficasse lá
Em breve teria morrido.

Então ela fugiu
E uma ambulância a procurou,
Só que ela escondeu
E para lá não mais voltou.

Correu para o São Salvador
Onde ela foi bem tratada,
Só que do hospital matador
Ela saiu infectada.

Ela pagou com a vida
Para outras vidas salvar,
Vamos ver que providência
A justiça vai tomar.

Eu deixo aqui meu recado
Não sei se vão entender,
Se eu maltratasse a Maria de Lourdes
No velório eu não ia aparecer.

Aqui deixo meu abraço
Para minha irmãzinha querida,
Que partiu desse mundo
Despedindo desta vida.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 10/12/2009
Código do texto: T1971507


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domingo, 6 de dezembro de 2009

ABORDAGEM




FRASE

ABORDAGEM

O fraco tem força na multidão, o dissimulado na solidão
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 06/12/2009
Código do texto: T1963085

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domingo, 29 de novembro de 2009

O DIREITO DE NÃO ESTUDAR ( Quem não Respeita não Merece Respeito)







CRÔNICA

O DIREITO DE NÃO ESTUDAR ( Quem não Respeita não Merece Respeito)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

         
Como seria se todos os brasileiros fossem formados academicamente da forma que quer a escola? À primeira vista, sabemos que têm muitos seduzidos pelos os incentivos educacionais dos governos e que vão ali apenas porque estão sequestrados mentalmente. É certo que os muitos diplomas ainda não acabariam com a pobreza e a miséria de nossa gente. Conheci uma pessoa formada em Direito que trabalhava vendendo churros nas esquinas da cidade; não deixa de ser honroso, o que questiono é a submissão aos apelos do academicismo. Qual era o grau de escolaridade do grande realista brasileiro, Machado de Assis? Os que querem exercer seu direito de não estudar, quando forçados a permanecer em uma sala de aula, atrapalham o que quer se formar para ser outra coisa na vida. Mas, o que se exige de um vendedor de churros? Apenas que saiba passar trocos e fabricar seus deliciosos petiscos, e para isso não se precisa de escola! Se alguém insiste em dizer que quem não estudou é menos feliz, esse é senão os simples pedagogos que são considerados leigos, pelo próprio sistema educacional, para ensinar no Ensino Médio.
            Por outro lado, se um semianalfabeto se tornou o presidente do país, um outro pode se tornar o apresentador de um programa de TV famoso, ou ainda o dono de uma grande empresa. Então, por esses não terem diplomas de formação acadêmica, estariam ilegais? "Machado de Assis pouco frequentou a escola, era autodidata. Aos 16 anos, na revista 'Marmota Fluminense', publica o seu primeiro poema: 'Ela'. Foi aprendiz de tipógrafo, revisor, colaborador com artigos em vários jornais, servidor público, Diretor-Geral do Ministério da Viação e presidente da Academia Brasileira de Letras ou a 'Casa de Machado de Assis'". http://valiteratura.blogspot.com.br/2010/11/joaquim-maria-machado-de-assis.html (acessado em 04/07/2015).
            Jesus também não tinha diploma algum e foi ele que disse: — “os pobres sempre tereis convosco”(Mt 26:11). Isso só reforça o veredicto do fracasso dos intolerantes que simplesmente colam a etiqueta de menos humanos sobre os não letrados da sociedade, para se autopromoverem, e assim humilhar os que dedicaram seu tempo em outros conhecimentos da vida e outras funções. A escola deveria ensinar, também, a respeitar a liberdade dos talentosos (autodidatas) que decidiram não precisar dela, para serem úteis e felizes nos aspectos práticos da vida. Aquilo que uma pessoa exclui de sua vida é o que em si mesmo lhe seria exatamente prejudicial.
            Na minha prática docente, gostaria de chorar, lamentando muito, por aqueles que sofrem em sala de aula, tentando por vezes a fio, frustradamente, acertar as questões das provas de Língua Portuguesa e entender as regras da gramática cheias de exceções. Mas não conseguem, não têm o dom, e então recorrem à indisciplina para chamar a atenção a si mesmos, por outros meios, tentando igualar-se aos colegas, por atalhos, portanto perturbando os demais. Agora resolvi não me importar com os que querem chamar minha atenção desse jeito, todavia decepcionados por não conseguir, nem uma coisa, nem outra; talvez “cairão na real”. E a escola os tacha de "evadidos"; eu tachado de sem "domínio de classe"!!!
            A dor do não letrado, aos olhos da escola, não se compara com a sua própria dor, ou melhor, com a dor da consciência por fazê-lo sofrer, perder tempo, alisando a cadeira que não queria. Um vendedor de churros "formado" é mais gente que um outro de igual eficiência não academizado?
            Minha mãe semianalfabeta  ensinou-me a ler e escrever sem os moldes da escola! Por que hoje, qualquer capacitação tem que ser no desenho do atual sistema educacional falido: presencial, semipresencial, EJA ou a distância; faltas reprovam; media mínima aceitável; provas e fraudes mil; controle de qualidade; não dispensar antes do lanche; arrecadação?! (a desordem na gradação aqui é intencional).
          Como se não bastasse: uma vez alfabetizado pode perder o direito de não ler. Porém, isso é muito diferente do não estudar! Ainda tem-se o direito de não estudar!? Escolaridade e inteligência não são a mesma coisa. 

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 29/11/2009
Código do texto: T1950298

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