Coleção 74 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)
Por Claudeci Andrade
1 Amam uns e devoram outros; assim revelam que a ternura exibida aos cães é apenas o disfarce de uma humanidade seletiva, onde a compaixão virou modinha e o caráter se corrompe no mesmo prato em que se serve a hipocrisia.
2 Se a fé realmente movesse montanhas, não haveria pobres nem doentes; mas como o acaso continua premiando os mesmos bilhetes, resta crer que o milagre é loteria, não devoção.
3 Passar a mão na cabeça do aluno pode ferir tanto quanto o abuso físico; pois ao poupá-lo do rigor, corrompe-se não o corpo, mas o caráter, tornando-o incapaz de crescer com responsabilidade e verdade.
4 Num sistema onde cumprir o dever não basta, o trabalhador descobre que só conquista seus direitos lutando por eles; como quem saqueia o que lhe pertence, pagando com desgaste e incerteza o preço da justiça que lhe foi negada.
5 Não sou eu quem morre, mas o outro que se apaga de minha percepção; eu persisto nas lembranças que deixo, enquanto só Deus, que domina o nada, existe sem precisar ser lembrado.
6 O “Efeito Ema” é o autoengano de quem, ao pintar o mundo com as cores dos próprios óculos, acredita que todos enxergam o mesmo tom; e, iludido por essa miragem, fala com a segurança de quem confunde fantasia com realidade.
7 A rebeldia juvenil nasce da infância roubada; é o protesto tardio de quem foi tratado como brinquedo e nunca pôde brincar; talvez por isso ensino com rigor, pois aprendi cedo a construir meus próprios jogos sem precisar de infância alheia.
8 O amor romântico é um mito elegante que disfarça acordos de conveniência; casam-se por interesse, traem por encanto, e chamam de sentimento o que não passa de egoísmo bem enfeitado.
9 A escola, cercada de proibições, ensinou apenas o “não”; não pode isso, não pode aquilo, até que já não se pode aprender; e, ironicamente, os piores sentam na frente, enquanto os melhores ficam esquecidos no fundo, como se o mérito também tivesse sido reprovado.
10 Na escola-caverna, os alunos, acorrentados pela uniformidade, temem a luz do saber; e, em vez de se libertarem, preferem matar o filósofo que ousa mostrar-lhes a saída.
11 O fraco vence quando aprende a vestir a pele do inimigo; imita, finge pertencer e, sob o feitiço da hipocrisia, transforma a dissimulação em sua mais eficaz forma de sobrevivência.
12 O aluno trai o professor que o tratou como amigo, denunciando-o por permitir o jogo que ele próprio não terminou; ironia amarga de uma escola onde se pune a tolerância e se absolve a irresponsabilidade.
13 A falsa moral nasce da frustração: quem não pode viver o prazer faz dele um crime e, ao proibir nos outros o que lhe falta, torna-se carrasco da própria carência.
14 Na escola pública, já não há estudantes, apenas iguais no desinteresse; e os piores, ao humilhar o professor, fazem da insolência uma aula de poder, buscando na violência a fama que o saber não lhes dá.
15 Na escola, reina a lei do talião; quem bate apanha, e no trabalho, o desemprego virou sinônimo de incompetência; assim, a sociedade chama de justiça natural o que, na verdade, é apenas a barbárie travestida de mérito.
16 A escola virou espelho da rua; ali, quem bate apanha, e o saber cede lugar à vingança; do mesmo modo, no trabalho, o desemprego é tratado como castigo justo, como se a miséria fosse sempre culpa de quem a sofre.
17 Na escola pública, qualquer crápula matriculado sente-se no direito de humilhar quem o ensina; ali, títulos não valem nada, e a dor do mestre ou do doutor é a mesma, pois basta ser chamado de professor para ser desrespeitado por igual.
18 Ao promover o bagunceiro só para se livrar dele, o professor dá um tiro no próprio pé; alimenta o fracasso que o sufoca, obedece à secretaria que manda e se acomoda na facilidade viciosa de empurrar o problema adiante.
19 Quando o professor precisa comprar a atenção ou ameaçar para ensinar, já perdeu a lição; pois o fruto do saber não nasce de suborno nem de medo, mas morre onde o mérito é trocado por conveniência.
20 Meus colegas não se envergonham de mim, mas da verdade que minhas palavras revelam; vivemos o mesmo caos, apenas eu o confesso, enquanto eles o escondem sob o silêncio que os preserva da própria consciência.
Por Claudeci Andrade
1 Amam uns e devoram outros; assim revelam que a ternura exibida aos cães é apenas o disfarce de uma humanidade seletiva, onde a compaixão virou modinha e o caráter se corrompe no mesmo prato em que se serve a hipocrisia.
2 Se a fé realmente movesse montanhas, não haveria pobres nem doentes; mas como o acaso continua premiando os mesmos bilhetes, resta crer que o milagre é loteria, não devoção.
3 Passar a mão na cabeça do aluno pode ferir tanto quanto o abuso físico; pois ao poupá-lo do rigor, corrompe-se não o corpo, mas o caráter, tornando-o incapaz de crescer com responsabilidade e verdade.
4 Num sistema onde cumprir o dever não basta, o trabalhador descobre que só conquista seus direitos lutando por eles; como quem saqueia o que lhe pertence, pagando com desgaste e incerteza o preço da justiça que lhe foi negada.
5 Não sou eu quem morre, mas o outro que se apaga de minha percepção; eu persisto nas lembranças que deixo, enquanto só Deus, que domina o nada, existe sem precisar ser lembrado.
6 O “Efeito Ema” é o autoengano de quem, ao pintar o mundo com as cores dos próprios óculos, acredita que todos enxergam o mesmo tom; e, iludido por essa miragem, fala com a segurança de quem confunde fantasia com realidade.
7 A rebeldia juvenil nasce da infância roubada; é o protesto tardio de quem foi tratado como brinquedo e nunca pôde brincar; talvez por isso ensino com rigor, pois aprendi cedo a construir meus próprios jogos sem precisar de infância alheia.
8 O amor romântico é um mito elegante que disfarça acordos de conveniência; casam-se por interesse, traem por encanto, e chamam de sentimento o que não passa de egoísmo bem enfeitado.
9 A escola, cercada de proibições, ensinou apenas o “não”; não pode isso, não pode aquilo, até que já não se pode aprender; e, ironicamente, os piores sentam na frente, enquanto os melhores ficam esquecidos no fundo, como se o mérito também tivesse sido reprovado.
10 Na escola-caverna, os alunos, acorrentados pela uniformidade, temem a luz do saber; e, em vez de se libertarem, preferem matar o filósofo que ousa mostrar-lhes a saída.
11 O fraco vence quando aprende a vestir a pele do inimigo; imita, finge pertencer e, sob o feitiço da hipocrisia, transforma a dissimulação em sua mais eficaz forma de sobrevivência.
12 O aluno trai o professor que o tratou como amigo, denunciando-o por permitir o jogo que ele próprio não terminou; ironia amarga de uma escola onde se pune a tolerância e se absolve a irresponsabilidade.
13 A falsa moral nasce da frustração: quem não pode viver o prazer faz dele um crime e, ao proibir nos outros o que lhe falta, torna-se carrasco da própria carência.
14 Na escola pública, já não há estudantes, apenas iguais no desinteresse; e os piores, ao humilhar o professor, fazem da insolência uma aula de poder, buscando na violência a fama que o saber não lhes dá.
15 Na escola, reina a lei do talião; quem bate apanha, e no trabalho, o desemprego virou sinônimo de incompetência; assim, a sociedade chama de justiça natural o que, na verdade, é apenas a barbárie travestida de mérito.
16 A escola virou espelho da rua; ali, quem bate apanha, e o saber cede lugar à vingança; do mesmo modo, no trabalho, o desemprego é tratado como castigo justo, como se a miséria fosse sempre culpa de quem a sofre.
17 Na escola pública, qualquer crápula matriculado sente-se no direito de humilhar quem o ensina; ali, títulos não valem nada, e a dor do mestre ou do doutor é a mesma, pois basta ser chamado de professor para ser desrespeitado por igual.
18 Ao promover o bagunceiro só para se livrar dele, o professor dá um tiro no próprio pé; alimenta o fracasso que o sufoca, obedece à secretaria que manda e se acomoda na facilidade viciosa de empurrar o problema adiante.
19 Quando o professor precisa comprar a atenção ou ameaçar para ensinar, já perdeu a lição; pois o fruto do saber não nasce de suborno nem de medo, mas morre onde o mérito é trocado por conveniência.
20 Meus colegas não se envergonham de mim, mas da verdade que minhas palavras revelam; vivemos o mesmo caos, apenas eu o confesso, enquanto eles o escondem sob o silêncio que os preserva da própria consciência.



