"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Coleção 74 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 

Coleção 74 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Amam uns e devoram outros; assim revelam que a ternura exibida aos cães é apenas o disfarce de uma humanidade seletiva, onde a compaixão virou modinha e o caráter se corrompe no mesmo prato em que se serve a hipocrisia.

2 Se a fé realmente movesse montanhas, não haveria pobres nem doentes; mas como o acaso continua premiando os mesmos bilhetes, resta crer que o milagre é loteria, não devoção.

3 Passar a mão na cabeça do aluno pode ferir tanto quanto o abuso físico; pois ao poupá-lo do rigor, corrompe-se não o corpo, mas o caráter, tornando-o incapaz de crescer com responsabilidade e verdade.

4 Num sistema onde cumprir o dever não basta, o trabalhador descobre que só conquista seus direitos lutando por eles; como quem saqueia o que lhe pertence, pagando com desgaste e incerteza o preço da justiça que lhe foi negada.

5 Não sou eu quem morre, mas o outro que se apaga de minha percepção; eu persisto nas lembranças que deixo, enquanto só Deus, que domina o nada, existe sem precisar ser lembrado.

6 O “Efeito Ema” é o autoengano de quem, ao pintar o mundo com as cores dos próprios óculos, acredita que todos enxergam o mesmo tom; e, iludido por essa miragem, fala com a segurança de quem confunde fantasia com realidade.

7 A rebeldia juvenil nasce da infância roubada; é o protesto tardio de quem foi tratado como brinquedo e nunca pôde brincar; talvez por isso ensino com rigor, pois aprendi cedo a construir meus próprios jogos sem precisar de infância alheia.

8 O amor romântico é um mito elegante que disfarça acordos de conveniência; casam-se por interesse, traem por encanto, e chamam de sentimento o que não passa de egoísmo bem enfeitado.

9 A escola, cercada de proibições, ensinou apenas o “não”; não pode isso, não pode aquilo, até que já não se pode aprender; e, ironicamente, os piores sentam na frente, enquanto os melhores ficam esquecidos no fundo, como se o mérito também tivesse sido reprovado.

10 Na escola-caverna, os alunos, acorrentados pela uniformidade, temem a luz do saber; e, em vez de se libertarem, preferem matar o filósofo que ousa mostrar-lhes a saída.

11 O fraco vence quando aprende a vestir a pele do inimigo; imita, finge pertencer e, sob o feitiço da hipocrisia, transforma a dissimulação em sua mais eficaz forma de sobrevivência.

12 O aluno trai o professor que o tratou como amigo, denunciando-o por permitir o jogo que ele próprio não terminou; ironia amarga de uma escola onde se pune a tolerância e se absolve a irresponsabilidade.

13 A falsa moral nasce da frustração: quem não pode viver o prazer faz dele um crime e, ao proibir nos outros o que lhe falta, torna-se carrasco da própria carência.

14 Na escola pública, já não há estudantes, apenas iguais no desinteresse; e os piores, ao humilhar o professor, fazem da insolência uma aula de poder, buscando na violência a fama que o saber não lhes dá.

15 Na escola, reina a lei do talião; quem bate apanha, e no trabalho, o desemprego virou sinônimo de incompetência; assim, a sociedade chama de justiça natural o que, na verdade, é apenas a barbárie travestida de mérito.

16 A escola virou espelho da rua; ali, quem bate apanha, e o saber cede lugar à vingança; do mesmo modo, no trabalho, o desemprego é tratado como castigo justo, como se a miséria fosse sempre culpa de quem a sofre.

17 Na escola pública, qualquer crápula matriculado sente-se no direito de humilhar quem o ensina; ali, títulos não valem nada, e a dor do mestre ou do doutor é a mesma, pois basta ser chamado de professor para ser desrespeitado por igual.

18 Ao promover o bagunceiro só para se livrar dele, o professor dá um tiro no próprio pé; alimenta o fracasso que o sufoca, obedece à secretaria que manda e se acomoda na facilidade viciosa de empurrar o problema adiante.

19 Quando o professor precisa comprar a atenção ou ameaçar para ensinar, já perdeu a lição; pois o fruto do saber não nasce de suborno nem de medo, mas morre onde o mérito é trocado por conveniência.

20 Meus colegas não se envergonham de mim, mas da verdade que minhas palavras revelam; vivemos o mesmo caos, apenas eu o confesso, enquanto eles o escondem sob o silêncio que os preserva da própria consciência.

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