"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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sábado, 30 de junho de 2012

ABORDAGEM (— "Você já foi preso"?)



Crônica

ABORDAGEM (— "Você já foi preso"?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Sempre me disseram que os atalhos são perigosos, mas fiz pouco caso do precioso conselho, até que fui achado na economia do caminho e envergonhado. Saindo da escola, lá no Conjunto Valéria Perillo, Senador Canedo, depois do trabalho, no final do dia, porém ainda, não tinham acabado as minhas desgraças daquela quinta-feira. Desci a rampa de saída do postinho de saúde (PSF), com a moto, dali do pé da cerca ensombreada de hibisco, onde estacionava sempre, e cruzei a pracinha em frente pela calçada, já demonstrando meu cansaço de sala de aula, encurtando o trajeto para pegar a pista de volta a meu doce lar. Precavi-me, olhei para todos os lados, não tinha ninguém em perigo, então me atrevi, até porque não tinha visto a viatura da polícia militar vindo à minha direita. Que surpresa desagradável!!!  Abordaram-me aos gritos de comando e mão na arma, parei meio desatinado pela falta de experiência nessas situações; pediram-me meus documentos, estavam todos em ordem, como sempre os mantenho. Anotaram em um bloco oficial muitas coisas, inclusive meu endereço, a que menos me constrangeu, foi a pergunta: — "você já foi preso"? Porque, um fio de felicidade acendeu-se no meu coração, por poder contradizer-lhes respondendo destemidamente, com a força da verdade: — Ainda não, graças a Deus! 
           Bem, mas, depois de ter prometido piamente que aquilo não iria mais acontecer, eles, vendo minha intranquilidade ingênua, liberaram-me, dizendo para eu esquecer aquilo tudo.
          Os que aplicam as leis devem ser iluminados por Deus para terem polidez, destreza, talento e jeito para, no final, darem ao punido a mesma sensação de justiça que Lúcifer terá no final de seu julgamento Divino, motivando-lhe a expressão: — "Minha condenação é um ato de amor"! E aqui, foi mais ou menos o caso! Ou, pelo menos, tenhamos na consciência este pensamento de Friedrich Nietzsche: "O castigo foi feito para melhorar aquele que o aplica."
            Porém, como posso esquecer este terrível trauma moral? Embora merecido, diga-se de passagem! No outro dia, após o ocorrido, Sexta-feira de desforra, agora foi a vez dos alunos enquadrarem-me, quando pisei na entrada do portão, um, o Gabrielzinho, veio logo correndo em minha direção a peguntar, com aquele sorriso debochado: — "É bom ser pego pela polícia, fessor"?  Outros mais,  embora discretamente, abordaram-me com cuidado, contudo sem conseguir esconder a caçoada implícita: — "Os policiais queriam dinheiro, profe"? — "O senhor está importante, né prossô, dando autógrafo para a polícia"!
         Transgressões leves com penalidades máximas, isso fere mais do que cura. Aprendi essa lição, e meus alunos serão duplamente beneficiados...
Claudeko
Enviado por Claudeko em 04/03/2012
Reeditado em 26/06/2012
Código do texto: T3534178



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sábado, 23 de junho de 2012

PEDAGOGIA POR TERRA ("Não existe pedagogia quando o outro está disposto a não aprender a aprender" — Bruno Marinelli)



Crônica

PEDAGOGIA POR TERRA ("Não existe pedagogia quando o outro está disposto a não aprender a aprender" — Bruno Marinelli)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          No calor das reivindicações dos professores do estado de Goiás pelo plano de carreira, fui coagido a refletir no valor do profissional da educação, mais especificamente sobre o pedagogo. Então, perguntei-me por que uma ferrugem corrosiva destrói tanto esse título e trava essa função?
           Um formado em pedagogia do Movimento dos sem-terra, no programa deles,  respondeu-me: “Seria interessante que os cursos superiores dedicados à formação dos assentados não se limitassem à qualificação de educadores e sim fossem estendidos às diferentes áreas do conhecimento humano e necessidades dos assentamentos. Pensamos que são necessários cursos também na área de agricultura, de saúde, de economia, de direito...” (Aluno da Primeira Turma), (http://jeferson.silva.nom.br/js/pedagogia-da-terra-um-estudo-sobre-a-formacao-superior-de-professores-do-mst/amp/) — acessado em 24/09/2017.
          Agora a UFG, também, adotou a "Pedagogia da terra"! Ter um diploma de pedagogia da UFG era um privilégio sem medidas. Só os campeões de uma concorrência exacerbada gozavam dele. Hoje, não, com o advento dos Cursos a distância, cota aos negros, para alunos do colégio público e dos analfabetos funcionais, ENEMs da vida e o descaso do governo desvirtuaram as licenciaturas de lá, todos os sem-terra, sem-teto e sem-...(qualquer coisa) vão ter curso superior em pedagogia facilitada; credenciados a concorrer nos concursos públicos da educação, então teremos uma avalanche de pedagogo na escola pública, logo teremos mais coordenadores que professores. É algo parecido com um desequilíbrio na cadeia alimentar, se matássemos todos as cobras superpovoariam os ratos! Sem esquecermos da "pedagogia parcelada" da UEG e seus efeitos catastróficos à autoestima de muitos que estão fora de sua função. Tudo isso causará uma inchação sem remédio!!
          Ironizando ou não, um amigo professor, um excelente professor de geografia, diga se de passagem, com boa formação, ainda no estágio probatório pela educação estadual, disse-me: —"Claudeko, já pensei até em fazer um curso de pedreiro... De tanto que estou insatisfeito nessa profissão. No último sábado, o rapaz colocou 22 metros de cerâmica na minha casa e levou R$ 212,00...Enquanto que no colégio, num dia inteiro de serviço, jamais me rende 70% desse valor.Tem base?"
          Eu diria que de jeito nenhum tem base, todavia não me assusta, apenas me indigna, pois sempre tivemos alunos bem mais remunerados do que nós! Mas, preocupa-me a questão: Com que status podemos ser os professores deles!? Além dessa humilhação e do desrespeito social à função, acaçapam-nos ainda mais em um lugar de segregação e também derrubam nossa autoestima, apesar de portarmos um diploma de licenciatura da UFG. Quando aumenta a oferta da mão de obra, o trabalho barateia.          
Claudeko
Enviado por Claudeko em 25/02/2012
Reeditado em 23/06/2012
Código do texto: T3518769


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sábado, 16 de junho de 2012

SISTEMA SOFISTA ( "O sofismo é a arte dos hipócritas." — Ale Ruffini)



Crônica


SISTEMA SOFISTA ( "O sofismo é a arte dos hipócritas." — Ale Ruffini)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Lembro-me como se fosse hoje o primeiro dia em que entrei naquela sala de aula lotada, com cadeiras enfileiradas de forma opressora e um quadro envolto por uma iluminação precária. Havia um ar de tensão no ambiente, como se eu estivesse entrando em uma arena de batalha, não em um templo do saber.

Desde o início, percebi que o sistema educacional público criava uma estranha dinâmica entre alunos e professores. Éramos vistos como adversários, não aliados na jornada pelo conhecimento. Os critérios de avaliação, supostamente justos, pareciam meras fachadas para subornos disfarçados de "pontinho para tudo".

Os alunos, esvaziados de conhecimento útil e condenados à incompetência funcional, não me respeitavam como professor. Eu era apenas uma metonímia daquele sistema falido que os oprimia. Contudo, fora da sala de aula, esses mesmos estudantes me cumprimentavam efusivamente, como se fôssemos "bons amigos".

A desconfiança pairava no ar, e qualquer metodologia que eu tentasse implementar, por mais bem-intencionada que fosse, esbarrava em um muro de resistência psicológica. Como construir conhecimento quando a via de transmissão é interrompida por barreiras emocionais tão espessas?

Mas o pior ainda estava por vir. Em meio a salários aviltantes e condições de trabalho precárias, o sistema nos mantinha presos, envelhecendo em serviço até adoecermos. Afinal, segundo as autoridades, nossa "feiura" e "carrancismo" poderiam prejudicar o aprendizado dos alunos.

Éramos peças descartáveis naquela engrenagem corroída, cometendo os mesmos erros repetidamente. Se tentássemos parar, a máquina travaria completamente. Era melhor continuar girando, mesmo que faltando alguns dentes — Refiro-me à dificuldade que enfrentamos para tomar posse da aposentadoria conquistada por direito.

Os professores faltavam ao trabalho para aliviar o sofrimento, enquanto os alunos sequer traziam os livros, que ganharam do governo, para a sala de aula. A desordem reinava, e ninguém parecia saber apontar o culpado: o Sistema Sofista.

Nessa dança absurda, percebi que estávamos todos impregnados pelo vazio daquela realidade. Enquanto os professores valorizavam a idiotice em uma tentativa desesperada de se conectar, os alunos eram consumidos pela apatia e pela descrença.

No fim, o paradoxo se revelava: em um ambiente destinado a cultivar mentes brilhantes, éramos tragados para as profundezas da ignorância e do desalento. E, ainda assim, continuávamos girando, dia após dia, presos a esse ciclo interminável de desilusão e frustração.

Mas eu me recuso a perder a esperança. Pois, mesmo diante de tantos obstáculos, acredito que a boa educação pode ser a chave para romper esse ciclo opressivo. Basta termos a coragem de encarar o Sistema de frente e exigir as mudanças necessárias para que, um dia, as salas de aula voltem a ser verdadeiros templos do saber.

ALINHAMENTO CONSTRUTIVO

1. Narrativa e Clima:

O autor inicia o texto descrevendo a sala de aula como um ambiente opressor e tenso, comparando-o a uma "arena de batalha". Descreva como essa caracterização contribui para o tom geral do texto e para a crítica que o autor faz ao sistema educacional.

2. Relação entre Alunos e Professores:

O texto apresenta uma visão crítica da dinâmica entre alunos e professores no sistema educacional público. Analise como o autor retrata essa relação e quais os fatores que, segundo ele, contribuem para a desconfiança e a falta de respeito mútuo.

3. Crítica ao Sistema de Avaliação:

O autor critica os critérios de avaliação utilizados no sistema educacional, chamando-os de "meras fachadas para subornos disfarçados de 'pontinho para tudo'". Explique como essa crítica se relaciona com a visão do autor sobre o papel da educação e os desafios para a construção do conhecimento.

4. Condições precárias de trabalho e desvalorização dos professores:

O texto denuncia as condições precárias de trabalho e a desvalorização dos professores no sistema educacional. Discuta como esses fatores impactam a qualidade do ensino e a motivação dos docentes.

5. A busca por esperança e a luta por mudanças:

Apesar das críticas contundentes, o autor demonstra ter esperança em um futuro melhor para a educação. Analise como ele expressa essa esperança e quais as mudanças que ele considera necessárias para que as escolas se tornem verdadeiros "templos do saber".


sábado, 9 de junho de 2012

AVALIAÇÃO DE GREVE (Professor grevista é aquele que não aprende)



Crônica

AVALIAÇÃO DE GREVE (Ninguém deixa de morrer só porque os coveiros fazem greve." — Saint-Clair Mello)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

          Os Professores de vez enquanto se respeitam, por isso estão fragilizados e desunidos, querem ensinar, mas sempre reclamando das crianças que nunca aprendem. Parece-me que a falta de credibilidade chegou lá, no mais alto patamar. O que isso tem a ver? Sim, eles mesmos de jeito nenhum aprenderam a lição, fazem greve todo ano e voltam de mãos vazias. O ponto, dos dias sem trabalho, é cortado e, por cima, terão de repor, nas férias, com várias aulas infrutíferas, assim diga-se de passagem. "Ainda segundo a Procuradoria-Geral do Estado, a reposição de aulas por parte dos professores faltosos ao serviço na semana passada ocorrerá no mês de julho, e não mais aos sábados, conforme orientação expedida pelo Conselho Estadual da Educação e Ministério Público." (Professor em greve pode ter ponto cortado, diz PGE- DM Pág.12 de 12/02/2012). A misericórdia é que ninguém precisa trabalhar nos sábados, dia do Senhor! 
           Professor também é sociedade, tem esse direito como qualquer outra categoria! Até a Polícia faz greve (Bahia, Rio etc) e jamais podia! As esposas faziam por eles, será essa mais uma conquista das mulheres? Epa! Agora me deu um nó no cérebro, e a educação não está cheia de mulheres cultas? 
          A ira de pais e alunos é atiçada contra os mestres "abusados", e não sabem que nem o alunado é prejudicado. Isso é, greve de professor de forma alguma faz sentido, ninguém tem prejuízo, depois repõe. O imbecil sou eu, perseguindo a coerência. Como diz o Oscar Wilde:  "A coerência é a virtude dos imbecis". 
           O governo gosta, em época de greve na escola, diminui a folha de pagamento, economiza também nas contas de água, luz e material de limpeza, mas finge estar demais preocupado com a quantidade de aulas necessárias ao aluno durante o ano letivo. Epa! Sofro outro nó no cérebro, se o ensino público é desqualificado, onde o governo está pecando? Eita, vida ambígua! Ou será se greve na educação tornou-se "vale-férias"? Socorra-me CLT!!! Fechamos com as palavras de José Saramago: "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."
Claudeko
Enviado por Claudeko em 12/02/2012
Reeditado em 06/06/2012
Código do texto: T3494454

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sábado, 2 de junho de 2012

O CARNAVAL DOS PROMOVIDOS ("Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso" — Edmund Burke)



Crônica

O CARNAVAL DOS PROMOVIDOS ("Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso" — Edmund Burke)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Não sei se é mais ridículo nesse "carnaval": um lobo vestido de ovelha ou uma ovelha vestida de lobo! Só sei que é muito difícil lidar com os intrujados por uma qualquer das fantasias apregoadoras da moralidade e ainda se divertir com isso tudo. Eles brigam entre si, defendendo seus territórios e ainda adorando seus ídolos travestidos de extravagância, e eu morro de medo por ser apenas a grama ou a carniça presa em seus dentes. E de nenhuma forma poderei ser melhor, até porque meus colegas dizem nos corredores que sou o pior professor da instituição. Se nem sou reconhecido por meu chefe ou o chefe do meu chefe, o que realmente vai fazer a diferença? Fá-lo na hora do lanche ou na reunião do instante do recreio: fico calado escondendo-me atrás do Smartphone para me sair melhor. Lembrei-me dos urubus educados, vestidos de luto que também se alimentam de carniça! Já os vi vestidos de ovelha, sua falsidade não me devorou ainda, porque tenho veneno nas veias.  
          Fora cogitado a ser coordenador há muitos anos atrás e sofro até hoje com isso! Queriam me uniformizar com uma capa de lobo ou uma de ovelha e me ensinariam uivar como tal ou balir simplesmente! Contudo jamais quero ser a ovelha doente do final de rebanho que as feras preferem, tampouco quero ser o antropofágico com indigestão por ser forçado circunstancialmente a comer papelão. Deus me livre desses pecados! Tenho minha natureza bem delfinada, e nunca quero sofrer as consequências da falsidade ideológica dos fingidos num ambiente de educação no qual se ensina com exemplos.
          Alguém tem de descarregar nos outros sua vingança, por as injustiças sofridas, então o faça a si mesmo. Pois, esse alguém sofredor, aprendeu bem, com suas feridas, como martirizar, do lado que mais dói, seus subalternos de então, aproveitando a inversão de papéis. Por aqui, na ciranda das pastas, a eficiência transborda! Acho que vou precisar de anticorpos para me proteger, o medo é meu amigo.
Claudeko
Enviado por Claudeko em 10/02/2012
Reeditado em 01/06/2012
Código do texto: T3491663

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