EM FÉRIAS COM PAPAI (É como se eu restaurasse meu sistema operacional, funciono melhor!)
Por Claudeci Ferreira de Andrade
Visito
anualmente minha terra natal e meus ancestrais afim de me compreender melhor.
Araguaína-To, o berço dos meus primeiros vinte anos, mais meia década em Belém
de Maria - Pe, somam os anos mais importantes de minha vida. "A vida só se
compreende mediante um retorno ao passado, mas só se vive para
diante"(Soren Kierkegaard). Quando volto, é restauração do meu sistema
operacional, assim funcionará melhor! Depois de muito fazer isso, hoje de forma
aperfeiçoada, ainda sou o mesmo vivente de lá. Preciso me beneficiar daquelas
lições mais uma vez, faço como disse (Mário de Andrade): "Passado é lição
para refletir, não para repetir". Contudo, jamais posso invalidar as
providências de Deus e o Seu trabalho em minha vida. Também os parentes precisam de mim,
embora indiretamente.
Mais uma vez, vi aquela velha máquina
de costura, num bom estado de conservação, com sua marca em alto relevo:
"LEONAM", em um canto funcional, na oficina de meu pai, onde, com
ela, ele conserta os guarda-chuvas da redondeza. O meu velho com oitenta e dois anos
de idade, está ainda trabalhando e fazendo história! E novamente, achei muito
interessante ter o nome dele ali no modelo daquele instrumento, usado por minha
mãe, bastando ler-se de trás para a frente: MANOEL. E perdurará por muitos e
muitos anos ainda, se Deus o permitir! Então, participei de um singular momento
e bastante familiar. Visualizei mentalmente minha mãe sentada por horas a fio, fazendo suas costuras. Eu em êxtase, ouvindo o barulho da máquina, como era
antigamente, ora fazendo os remendos nas nossas roupas, ora ensaiando um modelo
novo enfeitando a família. Lembrei-me de coisas que também não gostava, ela nos
vestia com roupas iguais, comprava uma peça grande de tecido e fazia roupas
iguais para todos nós. Nós nos apelidávamos de "turma tinta", porque
íamos passear com as roupas novas, todas com a mesma estampa.
Outras coisas renasceram no momento, e
ainda flutuam em minha memória. Quando meu pai me disse ser aquela máquina muito
importante, também pelo o valor sentimental embutido nela. Provou isso, pois,
tinha vendido por um aperto financeiro e a comprou de volta. É uma
extensão de minha mãe ajudando meu pai, como sempre, é sua presença
representada ali naquela oficina. Tentei lembrar do rosto físico dela, mas só
me sobrou a face do seu amor. Entendi que nossas coisas se encarregam de ser
palidamente o que fomos em vida, dependendo da leitura feita delas. Minhas
lições de vida estavam ali, naquele exato momento de contemplação.
Confesso minha emoção e não pude conter as lágrimas brotantes em meio do
silêncio de uma consciência pesada por pouco ter feito, retribuindo tanta
dedicação com tão pouco recurso e sem muito talento, pois estudara quase nada,
porém seus instintos maternos já nos bastavam, agora compreendo melhor suas
intenções e sinto muito sua morte! Esforcei-me para achar algum erro naquelas
cenas mentais em tons de cinza, mas o presente era eloquente demais. Graças ao
passado, o tempo explicava-me tudo, ou melhor, o passado falava-me agora por si
mesmo. Cada desfecho era o desatar feliz dos nós dos idos tempos.
Meu pai, ainda meu grande presente,
por estar vivo. E eu agradeço a Deus. Nunca deixei de ser filho, mesmo já sendo
pai, apenas o compreendo como filho. Assim, o obrigo a ser eterno, porque só
nossos filhos desejam nossa eternidade. E gostaria que minhas raízes fossem
eternas!
Kllawdessy Ferreira
Enviado por Kllawdessy Ferreira em 29/07/2015
Reeditado em 31/07/2015
Código do texto: T5327631
Classificação de conteúdo: seguro
Reeditado em 31/07/2015
Código do texto: T5327631
Classificação de conteúdo: seguro
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário