A manhã chegou, como tantas outras, marcada pelo som seco da sineta que reverberava pelos corredores, anunciando o início de mais um dia. Mas aquele barulho metálico, rotineiro, me levou a refletir: será que a educação que oferecemos ainda preserva sua essência, ou se perdeu em trocas superficiais? Na escola, tudo vale nota. Trazer o uniforme, organizar as cadeiras, comparecer à reunião de pais ou contribuir com um prato típico na feira cultural — cada gesto se traduz em um valor numérico. Uma lógica prática, é verdade, mas que parece subestimar a verdadeira finalidade da educação: aprender e crescer.
Essa sistemática transforma o aprendizado em moeda de troca. Ao observar os alunos, percebo que os "pontinhos" ditam comportamentos, criando uma rotina de subornos sutis. Quem atinge boas notas é recompensado com privilégios: a quadra de esportes, os elogios, o sorriso dos professores. E quem não atinge? Esses permanecem à margem, acumulando frustrações que logo transbordam. Vi olhares de vergonha se escondendo atrás de janelas, corpos imóveis nos cantos dos pátios, enquanto os risos dos colegas ecoavam.
A exclusão de uns e a exaltação de outros traz consequências mais profundas do que imaginamos. Para os alunos de notas baixas, resta o sentimento de derrota, uma desvalorização que os condena à apatia ou à agressividade como forma de resistência. Já os que ostentam boas notas enfrentam outro dilema: tornam-se reféns do número no boletim, esquecendo que o verdadeiro objetivo deveria ser aprender. Eles decoram sem compreender, acumulam estratégias para garantir resultados e, aos poucos, veem o prazer de aprender ser soterrado pelo peso de expectativas artificiais.
Essa dinâmica cria uma escola segmentada, onde a convivência se fragiliza e as desigualdades se ampliam. Os risos que deveriam unir acabam separando, alimentando rivalidades que, por vezes, se transformam em confrontos. Já testemunhei brigas que começaram com provocações e terminaram em feridas emocionais difíceis de curar. Em um ambiente assim, onde está a inclusão que tanto se prega?
Lembro-me de uma proposta da UNESCO, em 1989, sobre a criação de uma "cultura de paz". Derrubar muros e construir pontes, dizia o texto, deveria ser uma prática diária. No entanto, como promover a paz em uma escola que ergue barreiras invisíveis entre seus próprios alunos? Não basta falar de não-violência; é preciso agir contra a exclusão, contra as metodologias que reforçam desigualdades e silêncios.
A educação, no entanto, é um caminho árduo. O saber é doce, mas o processo de aprender é marcado por desafios. Para muitos, esses desafios parecem insuperáveis, e é aí que surgem os atalhos. Mas será que não cabe a nós, educadores, tornar esse caminho mais acessível, sem sacrificar a profundidade do aprendizado?
Ao final de mais um dia, enquanto o sol descia sobre os corredores vazios, a reflexão persistia: a transformação na educação não virá de uma fórmula mágica, mas de um esforço contínuo para resgatar o valor humano em cada aluno. Derrubar muros, simbólicos ou reais, não é apenas um ideal, mas uma necessidade urgente. Afinal, se queremos construir uma escola que ensine mais do que notas, precisamos começar pela base: a certeza de que o aprendizado é um direito de todos, não um privilégio de poucos.
Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:
O texto critica a transformação do aprendizado em uma mera troca de notas. Quais as consequências dessa visão utilitarista da educação para os alunos e para a sociedade?
Essa questão leva os alunos a refletir sobre os impactos da valorização excessiva das notas e como isso pode limitar o desenvolvimento integral dos estudantes.
A exclusão de alunos com dificuldades de aprendizagem é um tema presente no texto. Como essa exclusão pode afetar o bem-estar emocional e o desempenho acadêmico dos estudantes?
A questão busca que os alunos compreendam as consequências da exclusão social na escola e como ela pode perpetuar desigualdades.
O texto menciona a importância da construção de uma cultura de paz na escola. Quais as ações que os educadores podem tomar para promover a inclusão e a convivência pacífica entre os alunos?
Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre o papel da escola na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
A proposta da UNESCO sobre a criação de uma "cultura de paz" é mencionada no texto. Como essa proposta se relaciona com a prática pedagógica e como ela pode ser implementada nas escolas?
A questão leva os alunos a analisar as implicações da proposta da UNESCO para a educação e como ela pode ser aplicada no contexto escolar.
O texto critica a visão utilitarista da educação. Qual a importância de resgatar o valor intrínseco do conhecimento e do aprendizado?
Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o significado da educação para a vida e para a sociedade, além da mera obtenção de diplomas e empregos.