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quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(17) “Sabedoria Além da Religião: Uma Perspectiva Ampla da Vida”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(17) “Sabedoria Além da Religião: Uma Perspectiva Ampla da Vida”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um conceito complexo e multifacetado, que pode ser entendido de diferentes formas e perspectivas. Neste ensaio, vou analisar a visão bíblica da sabedoria, que a associa ao temor do Senhor e à obediência às Suas palavras, e contrastá-la com outras visões que defendem uma abordagem mais ampla e equilibrada da vida.

A Bíblia apresenta a sabedoria como um dom de Deus, que é concedido aos que O buscam e O reverenciam. Em Provérbios 9:10, lemos: "O temor do Senhor é o princípio da sabedoria, e o conhecimento do Santo é o entendimento". A sabedoria é personificada como uma mulher que convida os simples a seguirem os seus conselhos e a desfrutarem dos seus benefícios. Em Provérbios 3:13-18, lemos: "Feliz é o homem que acha a sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor é o lucro que ela dá do que o da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que as joias; e nada do que possas desejar se compara a ela. Longura de dias há na sua mão direita; na sua esquerda, riquezas e honra. Os seus caminhos são caminhos de delícias, e todas as suas veredas de paz. É árvore de vida para os que dela tomam, e felizes são todos os que a retêm".

Essa visão da sabedoria implica uma relação de dependência e submissão a Deus, que é a fonte de toda a verdade e bondade. A sabedoria é vista como um meio para alcançar uma vida feliz e tranquila, que agrada a Deus e evita o mal. No entanto, essa visão pode ser questionada por diversas razões.

Em primeiro lugar, a sabedoria não pode ser reduzida a uma fórmula simples ou a um conjunto de regras. A sabedoria é um processo dinâmico e contínuo, que envolve reflexão crítica, discernimento prático e adaptação às circunstâncias. A sabedoria não é algo que se possui ou se adquire de uma vez por todas, mas algo que se busca e se desenvolve ao longo da vida.

Em segundo lugar, a sabedoria não pode ser limitada a uma única fonte ou autoridade. A sabedoria pode ser encontrada em diversas tradições, culturas e disciplinas, que oferecem diferentes perspectivas e contribuições para o conhecimento humano. A sabedoria não é exclusiva de uma religião ou de uma ideologia, mas é fruto de um diálogo aberto e respeitoso entre diferentes vozes e visões.

Em terceiro lugar, a sabedoria não pode ser identificada com apenas um tipo de felicidade ou paz. A sabedoria reconhece a complexidade e a diversidade da vida humana, que envolve não apenas prazer e paz, mas também dor e conflito. A sabedoria não nega ou evita as dificuldades da vida, mas as enfrenta com coragem e criatividade. A sabedoria não busca apenas a satisfação pessoal, mas também o bem comum e a justiça social.

Um exemplo de uma visão alternativa da sabedoria é a proposta pelo filósofo grego Aristóteles, que definiu a sabedoria como "a ciência das coisas mais elevadas" (Metafísica I.2). Para Aristóteles, a sabedoria era o grau mais alto da virtude intelectual, que consistia em conhecer as causas primeiras e os princípios mais universais da realidade. A sabedoria era também o fim último da vida humana, que consistia em contemplar a verdade e participar da atividade divina.

Outro exemplo de uma visão alternativa da sabedoria é a proposta pelo filósofo francês Michel de Montaigne, que definiu a sabedoria como "a arte de viver" (Ensaios I.26). Para Montaigne, a sabedoria era o grau mais alto da prudência, que consistia em saber julgar e agir de acordo com as circunstâncias. A sabedoria era também o fim último da vida humana, que consistia em desfrutar da variedade e da liberdade da existência.

Em conclusão, a sabedoria é um conceito rico e multifacetado, que pode ser entendido de diferentes formas e perspectivas. A visão bíblica da sabedoria, que a associa ao temor do Senhor e à obediência às Suas palavras, é uma visão válida e respeitável, mas não é a única nem a definitiva. Há outras visões que defendem uma abordagem mais ampla e equilibrada da vida, que reconhecem a diversidade e a complexidade da realidade humana. A busca pela sabedoria é uma busca pela felicidade, mas não há um único caminho ou uma única resposta para essa busca. Cada pessoa deve encontrar o seu próprio sentido e propósito na vida, sem desprezar ou desrespeitar as outras fontes de prazer e paz.

domingo, 7 de janeiro de 2024

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(16) “A Sabedoria Personificada: Uma Análise Crítica da Metáfora Bíblica”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(16) “A Sabedoria Personificada: Uma Análise Crítica da Metáfora Bíblica”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um conceito que tem sido valorizado e buscado por diversas tradições religiosas, filosóficas e culturais ao longo da história. Uma das formas de expressar a importância e o significado da sabedoria é através de metáforas, que são figuras de linguagem que estabelecem uma relação de semelhança entre dois termos. Uma das metáforas mais conhecidas sobre a sabedoria é a que a personifica como uma bela mulher, que oferece benefícios e recompensas para aqueles que a seguem.

Essa metáfora é encontrada no livro bíblico de Provérbios, que é uma coleção de ditos e ensinamentos atribuídos ao rei Salomão, considerado o homem mais sábio de sua época. No capítulo 8, a sabedoria se apresenta como uma mulher que clama nas ruas e nas praças, convidando os homens a ouvirem os seus conselhos e a aceitarem os seus convites. Ela afirma que quem a achar encontrará a vida e obterá o favor do Senhor (Provérbios 8:35). Ela também promete dar aos seus seguidores vida longa, riqueza e honra (Provérbios 3:16).

Essa metáfora tem um forte apelo retórico e emocional, pois associa a sabedoria a qualidades desejáveis e atrativas, como a beleza, a bondade, a generosidade e a fidelidade. Além disso, ela cria um contraste com outra mulher que também aparece em Provérbios: a mulher insensata, que é descrita como sedutora, enganadora, adultera e destruidora (Provérbios 5:3-6; 7:10-27; 9:13-18). Assim, a metáfora da sabedoria como mulher visa persuadir os leitores a escolherem o caminho da sabedoria e evitarem o caminho da insensatez.

No entanto, essa metáfora também pode ser questionada e criticada sob uma perspectiva analítica e realista. Isso porque ela simplifica e idealiza a relação entre a sabedoria e a vida, ignorando ou minimizando os aspectos complexos, contraditórios e imprevisíveis que envolvem a existência humana. A metáfora da sabedoria como mulher sugere que basta abraçar a sabedoria para garantir as recompensas prometidas, como se houvesse uma fórmula mágica ou uma lei infalível que determinasse o destino das pessoas.

No entanto, essa visão não corresponde à realidade, pois há muitos fatores que influenciam o sucesso e a felicidade das pessoas, além da sabedoria. Por exemplo, a longevidade não depende apenas da sabedoria, mas também de fatores biológicos, genéticos, ambientais e acidentais, que podem afetar positiva ou negativamente a saúde e a duração da vida. Da mesma forma, a riqueza não é apenas o resultado da sabedoria financeira, mas também do contexto econômico e social em que se vive, das oportunidades e dos obstáculos que se enfrentam, das injustiças e das desigualdades que se sofrem. A honra, por sua vez, pode ser subjetiva e relativa, dependendo dos valores culturais e individuais de cada pessoa.

Além disso, essa metáfora também pode ser confrontada com outra perspectiva religiosa presente na própria Bíblia: a do Evangelho de Jesus Cristo. O Evangelho apresenta uma visão diferente sobre a sabedoria e as recompensas que ela oferece. Em vez de prometer vida longa, riqueza e honra terrenas, o Evangelho promete vida eterna, riquezas espirituais e filiação a Deus. Essas recompensas são superiores e transcendentes às recompensas da sabedoria de Provérbios, pois não estão sujeitas às limitações e às contingências da vida material. No entanto, é preciso reconhecer que nem todos compartilham dessa fé cristã, e que há outras crenças religiosas que podem ter visões diferentes sobre a sabedoria e as suas consequências.

Em conclusão, a metáfora da sabedoria como mulher é uma forma poética e persuasiva de expressar a importância e o valor da sabedoria, mas não pode ser tomada como uma verdade absoluta e inquestionável. A vida real é mais complexa e dinâmica do que uma simples metáfora, e requer uma visão crítica e equilibrada sobre o papel da sabedoria em nossa vida. A sabedoria é um bem que deve ser buscado e cultivado, mas não é uma garantia de sucesso e felicidade. A sabedoria deve ser acompanhada de outras virtudes, como a humildade, a justiça, a compaixão e a fé, para que possamos viver de forma plena e significativa.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(15) “Entre o Céu e a Terra: A Busca pela Sabedoria e Realização Pessoal”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(15) “Entre o Céu e a Terra: A Busca pela Sabedoria e Realização Pessoal”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um valor fundamental para a vida humana, pois permite compreender melhor a realidade e agir de forma mais adequada. No livro de Provérbios, a sabedoria é apresentada como um dom divino, que traz felicidade e prosperidade para quem a possui. O provérbio de Provérbios 3:13-15 diz: "Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento; porque melhor é o seu lucro do que o lucro da prata, e melhor a sua renda do que o ouro mais fino. Mais preciosa é do que os rubis, e tudo o que mais possas desejar não se pode comparar a ela." (Bíblia Sagrada, Nova Versão Internacional).

No entanto, essa visão da sabedoria como o bem supremo pode ser questionada sob uma perspectiva mais ampla e equilibrada. Afinal, a vida humana não se resume apenas à sabedoria, mas envolve também outros aspectos importantes, como a educação, o sucesso profissional, a riqueza e a saúde. Esses aspectos também contribuem para a realização pessoal e para a melhoria da qualidade de vida, e não devem ser desprezados ou subestimados.

Além disso, a sabedoria não é um conceito único e imutável, mas pode ter diferentes significados e formas de expressão. A sabedoria não se limita apenas ao temor a Deus e à obediência à sua palavra revelada na Bíblia, mas pode ser adquirida também por meio da experiência, da empatia, do conhecimento prático e do entendimento das complexidades da vida. Como disse o filósofo grego Sócrates: "Só sei que nada sei". Essa frase expressa uma atitude de humildade e de busca constante pelo conhecimento verdadeiro.

É importante reconhecer que, para muitas pessoas, a busca pela sabedoria espiritual não exclui a busca por outros objetivos terrenos. A vida é multifacetada, e a valorização da educação, das conquistas profissionais e das experiências materiais não é necessariamente incompatível com a busca pela sabedoria espiritual. Como disse o teólogo cristão Agostinho de Hipona: "Ama e faz o que quiseres". Essa frase indica que o amor é o princípio orientador da vida cristã, que permite conciliar os diferentes aspectos da vida.

Em suma, embora a sabedoria seja um valor inegável, é fundamental não desconsiderar outros aspectos da vida. A busca por realizações materiais e sucesso profissional também desempenha um papel importante na realização pessoal e na busca pela felicidade, e não devem ser ignorados em favor de uma interpretação excessivamente unilateral da sabedoria. A sabedoria deve ser entendida como um dom divino, mas também como um fruto do esforço humano, que envolve tanto a dimensão espiritual quanto a dimensão material da vida.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(14) "Riqueza versus Sabedoria: Uma Análise da Busca pela Satisfação na Sociedade Moderna"

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(14) "Riqueza versus Sabedoria: Uma Análise da Busca pela Satisfação na Sociedade Moderna"

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ao longo da história, diversas correntes filosóficas e intelectuais ressaltaram a importância da busca pelo sucesso financeiro como um objetivo primordial. A filosofia do materialismo, por exemplo, enfatiza que a acumulação de riquezas e bens materiais é o caminho para a satisfação e felicidade. Como disse o filósofo Karl Marx, "A produção de muitas coisas úteis resulta em muitas pessoas inúteis". A sociedade moderna frequentemente promove essa perspectiva, incentivando as pessoas a medir seu valor pelo tamanho de suas carteiras.

Em contrapartida, a busca por sabedoria e entendimento é vista por muitos como algo abstrato, que não fornece os benefícios tangíveis que a riqueza pode proporcionar. No entanto, uma análise mais profunda revela que a sabedoria e o entendimento são ativos igualmente valiosos, se não mais. Como diz Provérbios 16:16: "Quão melhor é adquirir a sabedoria do que o ouro! Adquirir o entendimento é preferível à prata!".

A sabedoria não se limita apenas a tomar decisões corretas, mas também a compreender a natureza do mundo e das relações humanas. Isso pode levar a uma vida mais satisfatória e significativa, melhorando as interações com os outros e promovendo o crescimento pessoal. Como Sócrates disse: "Uma vida sem reflexão não vale a pena viver".

A busca pela sabedoria também é mais acessível e inclusiva, pois não depende da quantidade de recursos financeiros disponíveis. Ela pode ser adquirida por meio da aprendizagem, reflexão e experiência, independentemente da situação econômica de alguém.

É vital reconhecer que a busca pela riqueza, quando priorizada em detrimento da sabedoria, muitas vezes leva a consequências negativas, como o amor ao dinheiro, que é frequentemente apontado como a raiz de diversos males. Como diz 1 Timóteo 6:10: "Pois o amor ao dinheiro é raiz de todos os males". Ao dar mais importância à busca da sabedoria, podemos evitar cair na armadilha do materialismo.

Em conclusão, embora a busca pela riqueza tenha seu lugar na sociedade, é importante lembrar que a busca pela sabedoria e pelo entendimento é igualmente valiosa e pode levar a uma vida mais plena e significativa. Devemos reavaliar nossas prioridades e reconhecer que a sabedoria não deve ser subestimada em nossa jornada para uma vida bem-sucedida e equilibrada.

quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(13) “Equilíbrio na Busca: Sabedoria, Compreensão e a Complexidade da Felicidade”

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(13) “Equilíbrio na Busca: Sabedoria, Compreensão e a Complexidade da Felicidade”

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A busca por sabedoria e entendimento, embora valiosa, não é a única chave para a verdadeira felicidade. A vida é complexa e multifacetada, envolvendo relacionamentos, saúde, realização pessoal e propósito. Como Albert Einstein disse: "A vida é como andar de bicicleta. Para manter o equilíbrio, você deve continuar em movimento." Isso sugere que a felicidade é um equilíbrio entre vários elementos em constante movimento.

A Bíblia também nos lembra em Provérbios 3:13-18 que "Feliz é a pessoa que acha a sabedoria e que consegue entender as coisas, pois isso é melhor do que prata e ouro." No entanto, colocar toda a ênfase na busca por sabedoria e compreensão pode ser limitador.

Além disso, a ideia de que a sabedoria e a compreensão são superiores a qualquer busca material pode ser questionada. O conforto financeiro e a segurança também desempenham um papel significativo na qualidade de vida. Como Benjamin Franklin observou: "Na vida, nada é certo, exceto a morte e os impostos." Ignorar a busca de estabilidade financeira pode ser arriscado.

Em resumo, embora a busca por sabedoria e compreensão seja valiosa, a felicidade é um conceito multifacetado que não pode ser reduzido a apenas esses elementos. É importante considerar a complexidade da vida e manter um equilíbrio entre a busca de conhecimento, relacionamentos saudáveis e estabilidade financeira para alcançar uma verdadeira felicidade.

domingo, 24 de dezembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(12) O castigo é prova de amor? — Heb, 12:6.

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico III(12) O castigo é prova de amor? — Heb, 12:6.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O amor de Deus é um tema central na fé cristã, que afirma que Deus é amor (1 João 4:8) e que demonstrou esse amor ao enviar seu Filho Jesus Cristo para morrer pelos pecados da humanidade (João 3:16). No entanto, muitas vezes se prega que o amor de Deus também envolve a adversidade e o castigo, como formas de disciplinar e corrigir os seus filhos (Hebreus 12:6). Neste ensaio, propomos uma análise crítica desse conceito, questionando a sua lógica e a sua ética, e sugerindo uma visão alternativa do amor de Deus.

Em primeiro lugar, é preciso reconhecer que a ideia de que o sofrimento é uma prova de amor é contraditória em si mesma. Como disse o filósofo Friedrich Nietzsche, "há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura" (Nietzsche, 1882). Ora, se o amor é um sentimento que busca o bem do outro, como pode causar-lhe mal? Se o amor é uma virtude que implica cuidado, compreensão e empatia, como pode infligir dor? Em situações humanas, ninguém aceitaria que alguém lhe fizesse sofrer por amor, pois isso seria visto como abuso ou violência. Por que, então, aceitar essa lógica quando se trata de Deus?

Em segundo lugar, é possível argumentar que a ideia de que o castigo de Deus é uma forma de amor pode ser usada para justificar o sofrimento desnecessário. Como disse o teólogo Dietrich Bonhoeffer, "o sofrimento não é um problema a ser resolvido, mas um mistério a ser vivido" (Bonhoeffer, 1953). No entanto, muitas vezes se usa o sofrimento como uma forma de manipular ou controlar as pessoas, fazendo-as acreditar que estão sendo amadas por Deus quando na verdade estão sendo oprimidas ou exploradas. Isso levanta preocupações éticas sobre a legitimação da dor e do sofrimento como meios de demonstrar amor.

Em terceiro lugar, é possível sugerir que o amor de Deus pode ser expresso de maneiras mais positivas e compassivas. Como disse o apóstolo Paulo, "o amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" (1 Coríntios 13:4-7). Em vez de usar o castigo como prova de amor, Deus pode demonstrar amor por meio de compaixão, orientação e apoio, ajudando os indivíduos a superar desafios de maneira menos dolorosa. Como disse o filósofo Voltaire, "o amor é uma tela fornecida pela natureza e bordada pela imaginação" (Voltaire, 1764).

Em conclusão, a ideia de que o sofrimento e o castigo são provas do amor de Deus pode ser questionável em termos de lógica e ética. É importante considerar alternativas que promovam a compreensão e a compaixão, em vez de justificar o sofrimento como uma demonstração de amor. Como disse o escritor Antoine de Saint-Exupéry, "o amor não consiste em olhar um para o outro, mas sim em olhar juntos na mesma direção" (Saint-Exupéry, 1943).

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O PALCO IMPLACÁVEL DA COMPETIÇÃO: A FAMÍLIA, A IGREJA E A ESCOLA! ("Elas transmitem valores que são essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional. No entanto, essas instituições também podem ser palco de competição." — Paulo Freire — 1921-1997)

 


O PALCO IMPLACÁVEL DA COMPETIÇÃO: A FAMÍLIA, A IGREJA E A ESCOLA! ("Elas transmitem valores que são essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional. No entanto, essas instituições também podem ser palco de competição." — Paulo Freire — 1921-1997)

Por Claudeci Ferreira de Andrade 

A manhã cinzenta deu lugar ao calor sufocante da tarde, enquanto eu, um mero espectador, me perdia em pensamentos sobre a teia complexa da competição que permeia nossa existência. Permitam-me contar-lhes uma história, não de vitórias retumbantes ou derrotas amargas, mas de uma tumultuada jornada através das vicissitudes da competição, esse palco onde a vida se desenrola como um espetáculo imprevisível.

Nós éramos apenas peões neste tabuleiro, onde a rivalidade se entrelaçava em cada jogada. Os times se formavam, orações ecoavam no vestiário, mas apenas um poderia emergir como o escolhido, abençoado por um Capiroto cuja "justiça" oscilava entre a crueldade e a imparcialidade. Parecia que a competição era uma entidade divina, sedenta por sacrifícios de suor e lágrimas, alimentando-se de nossas esperanças e ambições. "Todo lugar que há e promove a competição é o verdadeiro inferno. Dois times oram e só um ganha, abençoado por um Capiroto que se realiza em partes preferidas." (Cifa).

No palco da competição, me vi imerso em desafios que transcendiam a mera busca pela vitória. Era uma oportunidade de crescimento pessoal, uma jornada que me levava além dos limites preestabelecidos. No faz-de-conta do sistema educacional, as habilidades eram forjadas no calor da batalha, onde a superação de obstáculos se tornava uma epopeia moderna.

As equipes, como peças dispostas no tabuleiro da vida, se formavam com um propósito aparentemente nobre. No entanto, a ilusão de um equilíbrio utópico se desvanecia quando apenas um lado emergia vitorioso. O faz-de-conta se tornava uma miragem, e a busca pela excelência se transformava em uma jornada solitária e implacável.

No tumulto do jogo, percebi que a competição era mais do que um duelo de habilidades. Era um teste de resistência emocional, uma montanha-russa de sentimentos que oscilava entre a euforia da vitória e a amargura da derrota. Cada partida era um capítulo na história de uma jornada imprevisível, onde o destino era moldado pelo suor derramado e pela determinação inabalável.

À medida que o tempo se desdobrava diante de mim, percebi que a competição era, de fato, o reflexo de uma selva urbana, onde as leis do mais forte, do mais esperto, do mais "foda", regiam o destino de cada participante. Era como se o universo estivesse sussurrando em nossos ouvidos: "Quem não aguenta a pressão, que vá para a igreja rezar, porque no mundo real é cada um por si."

Hoje, enquanto olho para trás nessa narrativa de lances e desafios, compreendo que a competição é uma jornada repleta de nuances. Ela nos força a nos confrontarmos, a desafiarmos nossos próprios limites e a descobrirmos a verdadeira medida de nossa resiliência. No entanto, não posso negar que a mensagem do povo ecoa em meu ser: a competição é a selva da vida, onde o vencedor leva tudo e o resto, bem, o resto é história de quem não estava pronto para o jogo.

Assim, enquanto a tarde avança, abraço as lições aprendidas nesse palco implacável. Que cada competição seja uma oportunidade de crescimento, mas que nunca esqueçamos que, por trás da glória efêmera, há uma trama mais profunda, onde o verdadeiro desafio reside em manter a humanidade intacta enquanto dançamos no limiar entre o triunfo e a derrota. Afinal, no teatro da competição, somos todos protagonistas de nossas próprias histórias, esperando ansiosos para descobrir o desfecho de cada ato. E assim, a dança continua... Quando não há páreo: "Deus é o eterno desafio a si mesmo". — Rubem Alves:1933-2014).