"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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sábado, 25 de maio de 2019

BULLYING ATRAI BULLYING! ("Jovem, não deboche do idoso, porque só com muita sorte você chegará lá!" — Gilberto Martini Refatti)



Crônica

BULLYING ATRAI BULLYING! ("Jovem, não deboche do idoso, porque só com muita sorte você chegará lá!" — Gilberto Martini Refatti)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

           Tenho observado, na escola, como os jovens e colegas de trabalho se refere a meu estado de velho, como se fosse  uma doença nojenta ou parâmetro de inferioridade. Um dia falei para uma aluna, em meio a sala de aula, que era seu fã! A outra me responde de lá: — "Que nojo". Ouvi também de uma professora jovem da qual tentei me aproximar: — "Podre"!

           Eu os compreendo, a pouca idade é a única coisa neles que o mundo adora (quanto menos idade, mais proteção). Garanto que já fui jovem e não gostaria de sê-lo novamente, e se pudesse, escolheria com a experiência de hoje, todavia não posso garantir que eles serão velhos, Também assisto às suas vontades de viver arriscadamente como se nunca fossem morrer e lhes digo que poucos chegarão aos 60 anos, porém gostaria que eles conhecessem a diferença entre viver e durar!
            É preciso viver bem e conviver harmoniosamente com os elementos naturais do universo para receberem a permissão para terceira idade. Durar muito tempo é viver lentamente, e o viver que não significa durar é sem qualidade. Aceitar a experiência é conquistar a sua duradora aceitação. "O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive." (Fiódor Dostoiévski).
            Louvados sejam dignamente os que na multidão dos conselhos dos idoso encontram a sabedoria! O universo me autorizou armazenar toda a minha experiência por estes bem aproveitados e longos anos de vida. Às veze, as migalhas caem da mesa, por ter as mãos tremulas e os lábios frouxos, e o cachorrinho não as apanha mais, ele come ração cara e suplementada! Porém, os bichos jamais superarão os homens de verdade e muito menos quando fazem greve de antropofagia. Aliás, essa inversão de valores facilmente perceptível na escola e na família, certamente é consequência dessa greve de fome, recusam o ideário dos mais velhos e criam novos atalhos, ou melhor, alimentam de futilidades.
           Dona Leila Maria conforta-me, mostrando-se compreensiva com estas palavras: "Não te acho velho, pelo contrário te admiro muito, meu filho te adora, e eu também, meu mestre amigo! Siga em frente e não escuta o que eles falam...levanta a cabeça, você é muito inteligente e culto, parabéns!" Poucos olhares sabem ver além de um rostinho enrugado e feio. O essencial do ser humano e o porquê da nossa existência é a contribuição. Para durar tem de se estar engajado. Excluir não é o mesmo que selecionar.
            Com todas as virtudes, professor velho não é bem visto nas escolas, por quê?... Que a maldição consecutiva recaia sobre os que abandonaram as suas raízes. E ai dos que removerem os marcos antigos! Talvez seja como disse Charles Bukowski: "A Bíblia diz: \'Amai ao próximo.\' — Isso poderia significar algo como: \'Deixe-o em paz.\'"
           Ao que o amigo Bruno Rodrigo disse sobre o primeiro paragrafo desta crônica: "Esta é sua melhor reflexão, Já estou compartilhando, o que você narrou nesse texto (riso). Então lhe respondi: Ficando mais velho, fico cada vez melhor para escrever. Não estou aqui combatendo a "Idosofobia", isso já mais acabará, todavia a vergonha que vocês sentem de mim hoje; amanhã, haverei de sentir de vocês! Bullying atrai bullying!            
Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 19/10/2017

Reeditado em 25/05/2019
Código do texto: T6147494 
Classificação de conteúdo: seguro

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sábado, 18 de maio de 2019

ADVERSIDADE LABORAL ("Muitos conseguem suportar a adversidade, mas poucos toleram o desprezo". — Thomas Fuller)



Crônica

ADVERSIDADE LABORAL ("Muitos conseguem suportar a adversidade, mas poucos toleram o desprezo". — Thomas Fuller)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em uma manhã outonal, enquanto folhas amareladas dançavam pelo pátio escolar, eu caminhava com minha pasta repleta de redações e o coração transbordando expectativas. Nem mesmo vinte anos lecionando Língua Portuguesa haviam diminuído meu entusiasmo pela arte das palavras. O corredor que levava à sala dos professores, embora fosse um campo minado de olhares e sussurros, não me impediu de prosseguir com aquela coleção de poemas dos alunos.

A proposta era simples: escrever poemas sobre amor. Em minha ingenuidade, esperava encontrar versos que ecoassem a profundidade de Santo Agostinho ou a genialidade de Fernando Pessoa. O que recebi, no entanto, foram frases soltas, sem métrica, sentimento ou qualquer vestígio de dedicação ao ofício poético. Como aceitar que um poema se resumisse a uma receita sem sabor, a uma repetição de frases rasas, desprovidas de vontade e esforço?

Foi na sala dos professores que cometi o que hoje considero meu erro mais doloroso: compartilhei minha frustração e algumas das produções dos alunos. A reação dos colegas assemelhou-se a um vendaval que arranca flores recém-plantadas. "Aceita como está", diziam uns. "É o que eles conseguem fazer, afinal, é o que pensam!", provocavam outros. Um burburinho tomou conta do ambiente, sugerindo que minhas expectativas e exigências eram excessivas.

As paredes da escola, outrora acolhedoras, começaram a ecoar histórias de traição. Descobri que alguns colegas incentivavam alunos a gravar minhas aulas, buscando deslizes como garimpeiros à procura de diamantes. Uma aluna, visivelmente instruída por terceiros, chegou a questionar minha formação acadêmica com um sorriso malicioso - pergunta que jamais surgiria espontaneamente.

A coordenação e direção, sempre à espreita nas portas das salas, pareciam mais empenhadas em apontar falhas dos professores do que em construir um ambiente propício ao aprendizado. O sistema educacional havia se transformado em uma fábrica de aprovações automáticas, onde buscar a excelência era visto como algo antiquado e excêntrico.

Penso em Fernando Pessoa, esse fingidor genial, e questiono: quantas vezes ele precisou transformar em verdade a dor que sentia ao criar? Refletindo sobre as palavras de Thomas Edison, compreendo que a genialidade nasce da resistência, da teimosia e, sobretudo, da paixão pelo que vale a pena. Talvez meu erro não esteja em exigir qualidade, mas em esperar que outros compartilhem dessa busca pela excelência.

Como ensinou Chico Xavier, às vezes a verdade pode ferir mais que uma doce mentira, mas é através dela que edificamos bases sólidas para o futuro. A arte de ensinar, assim como a poesia, demanda coragem - coragem para manter padrões elevados em um mundo que celebra a mediocridade, coragem para persistir quando todos ao redor parecem ter desistido.

Diante disso, como professor, vejo-me entre dois caminhos: conformar-me com o pouco ou persistir em acreditar no muito. Escolho resistir e não baixar meus padrões, transformando cada poema malescrito em oportunidade de ensino, cada crítica em força para minhas convicções. Afinal, não são as notas altas ou aprovações fáceis que transformarão a vida dos alunos, mas aquele momento singular em que descobrem sua capacidade de superação.

Assim, persisto em plantar sementes de excelência, mesmo em solo aparentemente infértil, alimentando a esperança de que um dia, um aluno me surpreenderá com um poema que diga tudo sem dizer nada - e então, o mundo transcenderá os limites da escola.


Com base na profunda reflexão do autor sobre o ensino e a busca pela excelência, proponho as seguintes questões para estimular um debate rico e crítico:


Qual a principal crítica do autor ao ambiente escolar atual?

Essa questão direciona os alunos a identificar os pontos centrais da insatisfação do professor com a educação.


Como as expectativas do professor em relação aos poemas dos alunos colidiram com a realidade da sala de aula?

A pergunta incentiva os alunos a refletir sobre a importância das expectativas e como elas podem influenciar o processo de ensino-aprendizagem.


Qual o papel da escola na formação de indivíduos críticos e criativos?

Essa questão leva os alunos a considerar a função da educação na sociedade e os valores que devem ser transmitidos.


Como a busca pela excelência pode ser conciliada com a necessidade de acolher as diferenças individuais dos alunos?

A pergunta incentiva os alunos a pensar sobre como equilibrar a exigência de qualidade com a valorização da diversidade.


Quais os desafios para construir uma educação que valorize a criatividade e a originalidade dos alunos?

Essa questão abre espaço para uma discussão mais ampla sobre os obstáculos que impedem a construção de uma educação mais significativa.


Observações:

Abordagem interdisciplinar: As questões incentivam os alunos a relacionar os conceitos sociológicos com conhecimentos de outras áreas, como literatura, psicologia e filosofia.

Crítica e reflexão: As perguntas estimulam os alunos a pensar criticamente sobre as informações apresentadas no texto e a construir suas próprias opiniões sobre o tema.

Diálogo e debate: As questões podem ser utilizadas como ponto de partida para debates em sala de aula, promovendo o respeito às diferentes perspectivas e a construção de um conhecimento coletivo.

Ao trabalhar com essas questões, é importante que o professor crie um ambiente seguro e acolhedor para que os alunos possam expressar suas ideias e opiniões de forma livre e respeitosa. A partir desse debate, é possível aprofundar a reflexão sobre temas como educação, criatividade, excelência e o papel do professor na sociedade.

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domingo, 12 de maio de 2019

QUEM DITA AS REGRAS NA ESCOLA? ("O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos." — Raul Brandão)


QUEM DITA AS REGRAS NA ESCOLA? ("O respeito pelos pais só resiste enquanto os pais respeitem o interesse dos filhos." — Raul Brandão)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Sabe aquele sonho que nos acompanha por uma vida inteira? O meu era simples, mas significativo: comprar um carro e viajar pela Costa Nordestina com minha esposa. Depois de décadas economizando cada centavo, finalmente conseguimos realizar esse desejo. Lá estávamos nós, dois velhinhos empolgados, prontos para enfrentar a estrada com nosso possante zero quilômetro.

A euforia inicial, no entanto, logo deu lugar a uma série de pequenos imprevistos. Mal tínhamos saído da cidade quando os problemas começaram. A cada obstáculo, eu parava o carro e sacava minha carteira de motorista do bolso, como se aquele pedaço de plástico pudesse me dar a confiança que eu tanto precisava.

"Querido, por que você fica olhando tanto para essa carteira?", perguntou minha esposa, intrigada.

"Por segurança", respondi com um sorriso nervoso. "É que aqui diz que sou habilitado para dirigir. Preciso me certificar de que não é mentira."

Enquanto seguíamos viagem, entre solavancos e paradas bruscas, comecei a refletir sobre minha jornada como professor. Quantas vezes não me senti como agora, inseguro ao volante de uma sala de aula? A licenciatura era minha carteira de habilitação, mas será que ela bastava?

Percebi que, assim como na estrada, ser professor vai muito além de conhecer a matéria ou ter um diploma. É preciso conhecer os alunos, observá-los, entendê-los. Eles são os verdadeiros guias dessa viagem chamada educação, o mapa e a bússola de nossa travessia.

Lembrei-me das reuniões com coordenadores pedagógicos, sempre à caça de professores perdidos, sem rumo. E dos pais, ah, os pais! Exigindo rigidez na escola enquanto seus filhos ditavam as regras em casa. Era como dirigir em uma estrada esburacada, com placas confusas e motoristas imprudentes por todos os lados.

A disposição de espírito para ser um bom professor é como um tanque cheio de combustível, mas nossa "carne fraca" é como um pneu furado. Precisamos constantemente calibrar nossas ações, alinhar-nos com os alunos, observar e avaliar. Sem observação, a avaliação se torna um exercício vazio; sem avaliação, a observação é mera presunção.

No fundo, sabemos que a estrada da educação é longa e cheia de desafios. E, assim como aquele motorista inexperiente que confere sua licença na esperança de garantir sua competência, seguimos aprendendo, ajustando o curso, na tentativa de nos tornarmos melhores guias nessa jornada.

Chegamos ao nosso destino depois de muitas aventuras e desventuras. Olhando para o mar do Nordeste, entendi que tanto na estrada quanto na sala de aula, a jornada é o que importa. Os obstáculos, as paradas inesperadas, as mudanças de rota - tudo isso faz parte do aprendizado.

Ser professor é como realizar esse sonho de viagem, requer paciência, perseverança e a coragem de seguir em frente, mesmo quando o caminho parece incerto. O que importa é reconhecer que estamos todos, alunos e professores, no mesmo caminho. Sejamos capazes de nos guiar e aprender uns com os outros, para que, quando os imprevistos surgirem, estejamos prontos para continuar a viagem, mais fortes e mais preparados.

E você, caro leitor, qual é a sua jornada? Lembre-se, seja na estrada ou na vida, não é o destino que nos define, mas como escolhemos percorrer o caminho.


Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e concisas para as seguintes questões:


O autor estabelece uma analogia entre a experiência de dirigir e a experiência de ser professor. Qual a principal ideia que essa analogia busca transmitir?


O texto menciona diversos desafios enfrentados pelos professores. Quais são os principais desafios destacados e como eles se relacionam com a prática pedagógica?


A importância da observação e da avaliação é enfatizada no texto. Explique como esses elementos se complementam e contribuem para a melhoria do processo de ensino-aprendizagem.


O autor reflete sobre a jornada do professor e a importância de aprender com os alunos. Como essa perspectiva pode transformar a relação professor-aluno?


Qual a mensagem central que o texto transmite sobre a profissão docente?

sábado, 11 de maio de 2019

DENUNCIAR POR DENUNCIAR ("Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores". — Leon Tolstói)



Crônica

DENUNCIAR POR DENUNCIAR ("Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores". — Leon Tolstói)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era mais uma manhã na secretaria de educação. O ar estava carregado de tensão e expectativa enquanto pais e alunos chegavam em ondas, cada um com sua própria história para contar, sua própria denúncia a fazer. O espetáculo estava prestes a começar.

— "Meu filho foi injustamente rejeitado na matrícula!" - bradava uma mãe indignada, com o rosto vermelho de raiva. Observei, fascinado, o funcionário acatando o pedido sem questionar. Vivíamos em um mundo onde a razão havia sido substituída pela conveniência, onde a verdade se tornara menos importante que a aparência de justiça. As palavras de Diógenes ecoavam em minha mente: "Entre os animais ferozes, o de mais perigosa mordedura é o delator; entre os animais domésticos, o adulador". A observação se encaixava perfeitamente ao que testemunhava. Com o avançar do dia, as denúncias se multiplicavam. Cada pessoa encontrava sua própria causa, sua cruzada particular. Hal Ozsan sussurrava em meus pensamentos: "E eu nunca conheci um louco, que não tem uma causa, e eu nunca conheci um pervertido, que não tem um coração partido". Era fascinante observar como as pessoas se agarravam a títulos e posições que não lhes pertenciam. Denunciantes se portavam como autoridades, guardas como policiais, tratoristas como motoristas, leiteiro como fazendeiro e caixa de lotérica como bancário. Um verdadeiro carnaval de identidades trocadas, um baile de máscaras onde ninguém era quem alegava ser. O aspecto mais perturbador era perceber como as verdadeiras vítimas sofriam duplamente: primeiro pelo ato que as vitimizou, depois pela exposição e pelo circo que se formava em torno de seu sofrimento. A dor alheia transformava-se em palco para autopromoção. Refletindo sobre as artes, o teatro e como a transgressão se tornara a nova norma, recordei Umberto Eco: "Para rebater uma acusação, não é necessário provar o contrário, basta deslegitimar o acusador". Era impressionante como se tornara fácil descartar acusações legítimas com argumentos retorcidos! Ao final do dia, exausto e contemplativo, as palavras de Tito ressoavam: "Tudo é puro para os que são puros; mas nada é puro para os impuros e descrentes, pois a mente e a consciência deles estão sujas". Observei a pilha de denúncias e os rostos ansiosos que aguardavam resoluções rápidas e fáceis. Estávamos presos em um ciclo interminável onde denúncias geravam mais denúncias, e acusações multiplicavam acusações. Em meio a esse turbilhão, a verdade e a justiça pareciam cada vez mais distantes. Deixei a secretaria naquela noite com questionamentos profundos: Em um mundo de denunciantes, quem assume o papel de juiz? Quem ousa ser simplesmente humano, com todas as suas imperfeições e complexidades? Por que persistimos nessa caça frenética sem fim aparente?
Talvez estejamos todos aprisionados neste teatro de aparências e moralismos superficiais, buscando papéis que nos façam sentir menos culpados ou mais importantes. A verdadeira questão que devemos enfrentar, enquanto o espetáculo das denúncias prossegue indefinidamente, é: quem está realmente em paz com sua consciência?

Duas questões discursivas sobre o texto:


1. O texto descreve um cenário de constantes denúncias e acusações. Como a busca por justiça pode se transformar em um espetáculo, onde a verdade se perde em meio a interesses pessoais e disputas de poder?


Esta questão convida os alunos a refletir sobre os mecanismos sociais que podem transformar a busca por justiça em um jogo de poder, e as consequências dessa dinâmica para as relações sociais.


2. O texto questiona a natureza das acusações e a busca por pureza em um mundo marcado pela complexidade humana. Como a sociologia pode contribuir para uma compreensão mais profunda das motivações que levam as pessoas a denunciar e acusar os outros, e quais as implicações sociais dessa prática?


Esta questão estimula os alunos a analisar as diferentes motivações que levam as pessoas a denunciar e acusar os outros, considerando os fatores sociais, psicológicos e culturais que podem influenciar esse comportamento.

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sábado, 4 de maio de 2019

Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)



Os Muitos "sim" ( "Ou você opta por seguir a luz, ou a escuridão, não faz sentido burlar o caminho escuro com uma lanterna na mão." — Lu Lena)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Era mais uma tarde abafada na escola estadual onde eu lecionava há mais de uma década. O ventilador de teto zumbia preguiçosamente, mal movendo o ar pesado da sala dos professores. Enquanto folheava distraidamente uma pilha de provas, minha mente vagou para uma cena da televisão: a personagem do "Zorra Total", uma médica obesa que aconselhava dietas rigorosas aos pacientes enquanto ela mesma devorava guloseimas às escondidas. Que ironia! Pensei comigo mesmo, percebendo o paralelo com nossa situação na escola.

De repente, uma voz estridente cortou o silêncio como um trovão em dia de sol. "Por que é sempre assim?" A pergunta de Jussara, nossa nova coordenadora pedagógica, ecoou pela sala. Seus olhos faiscavam de frustração, as mãos gesticulando freneticamente no ar. "Isto pode! Aquilo pode! Ali pode! Acolá pode! A escola é toda feita no 'jeitinho brasileiro', onde tudo pode! Estou farta de tudo isto!"

Observei-a com uma mistura de compaixão e divertimento. Jussara era nova no cargo, cheia de ideais e energia, lembrando-me de mim mesmo anos atrás, igualmente indignado com as incongruências do sistema educacional. Tentei acalmá-la: "Ora, Jussara, isto não é tão mau assim. Os documentos oficiais da educação até proíbem muitas coisas. Mas na prática..." Dei de ombros, deixando a frase no ar.

Ela não se deixou consolar. "Tudo que leio é 'isso pode, isso pode, isso pode', e este 'tudo pode' já se tornou uma obrigação! Estou a ponto de detestar tudo!" O desabafo de Jussara continuou, suas palavras pintando um quadro vívido de uma escola onde as regras pareciam existir apenas no papel. Bonés, celulares, camisetas de time - tudo teoricamente proibido, mas na prática... bem, na prática era outra história.

Observei os outros professores na sala. Alguns assentiam discretamente, outros fingiam não ouvir, absortos em suas próprias tarefas. Mas eu sabia que todos ali já havíamos passado por momentos semelhantes de frustração. A situação de Jussara não era nova. Outros gestores já haviam se rebelado contra essa suposta democracia educacional, que, em vez de promover a aprendizagem, parecia criar um espaço onde a indisciplina se instalava confortavelmente.

"Sabe, Jussara", comecei, escolhendo cuidadosamente minhas palavras, "às vezes me pergunto se esse 'jeitinho brasileiro' não é apenas um reflexo da nossa própria natureza humana. Até Deus, dizem, nos coloca diante de escolhas fáceis e difíceis." Ela me olhou, intrigada. Continuei: "O importante é lembrar que o resultado do nosso trabalho reflete exatamente a relação e o respeito que construímos com nossos alunos. As regras são importantes, sim, mas talvez o segredo esteja em como as aplicamos."

Um silêncio pensativo caiu sobre a sala. Jussara parecia ponderar minhas palavras, sua expressão suavizando-se gradualmente. Era verdade que o bom gestor não deve forçar seus liderados a agir contra a própria vontade. Contudo, as brechas nas normas educacionais eram um privilégio de quem sabia manipulá-las a seu favor.

O famoso "jeitinho brasileiro" é uma herança antiga, como se o próprio tempo nos ensinasse a driblar as regras. No dia a dia, somos constantemente bombardeados por oportunidades e desafios. Até mesmo nas provações que a vida nos impõe, percebemos que muitas vezes o que parece difícil é, na verdade, uma questão de perspicácia.

Entretanto, uma reflexão se impõe: o verdadeiro resultado de um trabalho em equipe reflete a relação de respeito entre liderados e gestores. Nas escolas, onde certas regras são impostas como verdades absolutas, a situação se complica. "Não pode usar camiseta de time, não pode boné, não pode celular, não pode reprovar, não pode nada!" — e assim, o espaço para o aprendizado se reduz, como se o "não" fosse um professor silencioso, incapaz de ensinar.

Naquele momento, o sinal tocou, anunciando o fim do intervalo. Enquanto nos preparávamos para retornar às salas de aula, percebi que aquela conversa havia mexido com algo dentro de mim. Talvez o verdadeiro desafio não fosse lutar contra o "jeitinho brasileiro", mas encontrar uma forma de usá-lo a nosso favor, transformando a flexibilidade em uma ferramenta para o aprendizado e o crescimento.

Saí da sala dos professores com um novo olhar. As contradições e desafios continuariam lá, é claro, mas agora eu os via não como obstáculos intransponíveis, mas como oportunidades para exercer nossa criatividade e compaixão. A vida é feita de escolhas e, por mais que o "jeitinho" possa oferecer soluções rápidas, é necessário lembrar que o verdadeiro aprendizado e a disciplina são fundamentais.

E você, caro leitor, já se pegou praticando seu próprio "jeitinho" em situações desafiadoras? Talvez a verdadeira lição aqui seja aprender a navegar pelas complexidades da vida com um pouco mais de graça e um pouco menos de rigidez. Afinal, no grande teatro da vida, todos nós somos, de certa forma, atores em nossa própria "Zorra Total". Somente assim conseguiremos transformar nossas escolas em lugares onde todos possam crescer e se desenvolver de maneira justa e respeitosa.


1. Como o "jeitinho brasileiro" é retratado no texto e qual é a sua relação com o sistema educacional descrito?


2. Qual é a principal frustração de Jussara em relação às regras escolares e como isso reflete nas práticas cotidianas da escola?


3. De que maneira o autor sugere que as regras escolares deveriam ser aplicadas para promover um ambiente de aprendizado mais eficaz?


4. Como a metáfora da personagem do "Zorra Total" é utilizada para ilustrar a situação na escola? Explique a ironia presente nessa comparação.


5. Qual é a reflexão final do autor sobre o "jeitinho brasileiro" e como ele propõe que essa característica cultural seja utilizada de forma positiva no contexto educacional?

ESCOLHA DIFÍCIL É VOTAR EM UM POLÍTICO ("Não existe ser humano mais miserável do que aquele em que a única coisa habitual é a indecisão." — William James)


ESCOLHA DIFÍCIL É VOTAR EM UM POLÍTICO ("Não existe ser humano mais miserável do que aquele em que a única coisa habitual é a indecisão." — William James)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Aqui estou eu, sozinho, envolto no silêncio que tanto anseio, mas que também me aterroriza. Pior do que isso, as pessoas me assustam, e quando estou entre elas, o pânico se instala. Meu problema são os outros. Então, busco refúgio em um lugar solitário, mas lá não há ninguém para me consolar. Eis o meu dilema! Como disse Mario Quintana, "O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso".

Hoje é um dia importante para nós, brasileiros. Estou prestes a embarcar em uma jornada arriscada, escolher um vereador que me representará pelos próximos quatro anos. E o prefeito? Nem se fala! Estou tomado por uma ansiedade descomunal, pelo desejo de fazer a diferença. Não nego que é um bom dia para acomodações, mesmo que o desafio seja superar a dúvida. Preciso de um distanciamento emocional e muita frieza para isso. Ainda que os interesses individuais falem mais alto, convém dispensar alguma atenção à coletividade, a fim de contribuir com a harmonia geral. Isso já vem ocupando a minha mente: nada mais é coerente do que votar em um ex-aluno, talvez ele tenha aprendido meus modos, pois confio em mim. Você não...? Como disse Marguerite Yourcenar, "A felicidade é uma obra-prima: o menor erro falseia-a, a menor hesitação altera-a, a menor falta de delicadeza desfeia-a, a menor palermice embrutece-a."

Amanhã, após a comoção do pleito político, ou seja, depois da votação, sentirei minha alma lavada, por cumprir o meu dever de cidadão. No entanto, uma perda poderá ocorrer em minha vida, a ideia é de limpeza, pois o sabão leva restos de pele também.

Tudo foi tão rápido e decepcionante. Após as apurações, vi meu candidato, o qual apoiei, perder. Talvez seja uma dor necessária. Eu perdi meu voto! Mas, num sentido mais amplo, é como se extraísse um dente podre. Para a próxima estarei mais maduro ou desdentado! Todavia, vou procurar aplicar o melhor dessa experiência, principalmente mostrar satisfação pela vida. Estou me certificando de que a pressão emocional da decepção não vá mesmo impedir o que precisa de apenas um impulso para a frente. Dê-me o seu empurrãozinho... Como disse Paulo de Tarso, "O maior impasse da humanidade: Não fazer o BEM que gostaria e fazer o MAL que não quer!"

No final das contas, acredito que a educação é uma via de mão dupla. Não basta apenas a escola oferecer, é preciso que o aluno queira aprender. E para aqueles que realmente desejam, que não se deixem desanimar pelas adversidades. Sou exemplo disso. Afinal, a educação é a chave para um futuro melhor. E eu, como professor, estarei sempre aqui, pronto para orientar aqueles que desejam seguir esse caminho, mesmo que tenham sido frustrados em alguma situação da vida. A vida é feita de altos e baixos, e é nos momentos de adversidade que crescemos e nos tornamos mais fortes. Portanto, não desista, continue lutando, pois o futuro é brilhante para aqueles que acreditam em si mesmos.

Com base no texto apresentado, elabore respostas completas e concisas para as seguintes questões:

  1. O texto inicia com uma reflexão sobre a solidão e as relações interpessoais. Qual a relação entre essa reflexão inicial e a decisão de votar?
  2. O autor demonstra uma grande expectativa em relação ao processo eleitoral. Quais são as suas principais preocupações e esperanças em relação à política?
  3. O texto aborda a questão da decepção após o resultado das eleições. Como o autor lida com essa frustração e qual a importância dessa experiência para ele?
  4. Qual a importância da educação para o autor? Como ele relaciona a educação com a superação das adversidades e a construção de um futuro melhor?
  5. O texto apresenta uma visão complexa sobre a natureza humana e as relações sociais. Quais são os principais dilemas e contradições apresentados pelo autor?