"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho!)


Crônica


COMO SALVAR O SISTEMA EDUCACIONAL PÚBLICO (O que você não quer mesmo é ser sacrificado sozinho! — Cifa)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Afirma-se, em verdade, que para a educação não há remédio. Melhorar o sistema educacional deveria ser o desafio de toda a sociedade. Contudo, essa batalha se torna árdua porque muitos alimentam o sutil desejo de que tudo permaneça inalterado, apenas para garantir o próprio emprego. Há funções que poderiam ser extintas sem prejuízo algum ao sistema, mas enfrentamos um conflito íntimo no momento da decisão: se contribuímos com uma ação transformadora, sacrificamos nosso cargo; e, por medo disso, optamos por manter o curso da mediocridade, esperando o fracasso coletivo. Essa covardia disfarçada de prudência tem sido a ruína de muitos. Mas diga-me: não o incomoda seguir para o buraco junto com os demais? Já sei — o que você realmente teme é ser o único sacrificado.

Fazer o que deve ser feito fere o próprio egoísmo. Nessa luta silenciosa, é preciso empenhar-se para abandonar atos e pensamentos que servem apenas ao “eu”. E se falharmos em cumprir o que sabemos ser correto, que a consciência não nos dê descanso.

A preocupação excessiva com o olhar alheio tem ditado o sabor da vida profissional de muitos. Essa forma disfarçada de egoísmo é tão sutil que chega a parecer piedosa. Relatamos nossos progressos em reuniões pedagógicas e transformamos isso no centro de uma angústia particular, quando, na verdade, apenas mascaramos o fato de que o “eu” continua sendo o senhor de nossas ações.

O único remédio para a educação é aceitar inteiramente o risco de perder o bom cargo e fazer o que deve ser feito em prol do todo. Enquanto alguns olharem apenas para o próprio “umbigo”, a melhora será apenas individual — e, portanto, ilusória.

Tenho recebido, não como recompensa, mas como um dom de caráter, a dádiva de ansiar pela libertação deste egoísmo. Assim, a auto-obsessão se dissolve diante da constatação de que não precisamos mais viver sob o temor da perda, mas sim em favor daqueles que anseiam por um lugar ao sol — a nova geração de estudantes. Fazer o que deve ser feito, portanto, significa arriscar-se no campo de batalha da inovação ética, transformando a sala de aula em um farol de luz, onde a inutilidade não encontra guarida, prenunciando, assim, a única e verdadeira melhora do sistema.

Mas o que seria, afinal, “fazer o que deve ser feito”? Significa ter coragem de propor cortes reais, extinguir cargos cuja função já perdeu o sentido, substituir conselhos burocráticos por equipes de ação, dar à coordenação o caráter de liderança ética e não de chefia punitiva. É exigir do gestor presença na sala de aula — e não apenas na ata; é revisar projetos que não educam e servem apenas ao verniz das aparências. A inovação ética nasce da prática: menos relatórios, mais escuta; menos reuniões de aparência, mais enfrentamento do que está podre. O discurso profético se cumpre quando se nomeia o erro e se enfrenta o medo. Só assim o belo ideal se converte em transformação concreta.

Porque o verdadeiro educador não teme perder o posto, mas perder o propósito. É nesse campo de batalha interior que a educação se decide — não entre os que se acomodam, mas entre os que ousam arriscar-se a melhorar o todo, mesmo que isso lhes custe a própria estabilidade.


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Este texto, repleto de crítica social e reflexão ética, é um excelente material para a nossa aula de Sociologia. Ele nos permite analisar as estruturas de poder, a burocracia, e a moralidade dentro de uma instituição social fundamental: a Educação. Com base nas ideias apresentadas, preparei 5 questões discursivas simples para estimular nossa capacidade de análise sociológica.


Questão 1: Burocracia e Manutenção da Inutilidade

O texto critica a existência de funções que poderiam ser extintas e a atitude de manter o status quo para "garantir o próprio emprego".

Com base nos estudos de Max Weber sobre Burocracia, explique como a rigidez e a formalidade excessiva das estruturas educacionais podem gerar e proteger a "inutilidade" das funções, priorizando a estabilidade do cargo em vez da eficiência do sistema.

Questão 2: O Conflito entre o "Eu" e o "Todo"

O autor descreve um "conflito íntimo" onde o profissional opta por "manter o curso da mediocridade, esperando o fracasso coletivo" por medo de ser "o único sacrificado".

Utilizando o conceito de Ação Social (também de Weber) ou o conceito de Solidariedade (de Durkheim), analise a tensão entre o interesse individual (garantir o cargo) e a responsabilidade social (melhorar o sistema educacional).

Questão 3: Egoísmo e "Piedade" Profissional

O texto afirma que a preocupação excessiva com o olhar alheio ("o que os colegas pensam") é uma forma de egoísmo "tão sutil que chega a parecer piedosa".

Na perspectiva sociológica, discuta como a busca por reconhecimento e a necessidade de validação dentro de um grupo profissional podem, paradoxalmente, desviar o foco da função ética e transformadora do educador. Que tipo de capital social (Bourdieu) está sendo buscado nesse processo?

Questão 4: A Ética da Inovação e a Estabilidade

O texto propõe que o "único remédio" é aceitar o risco de perder o cargo e que "fazer o que deve ser feito" significa arriscar-se no "campo de batalha da inovação ética".

Identifique as sugestões concretas de "inovação ética" listadas no texto (como exigir presença do gestor na sala de aula ou substituir conselhos burocráticos). Explique por que, no contexto de uma instituição estabelecida, a implementação dessas mudanças exigiria o sacrifício da "estabilidade" e geraria resistência social.

Questão 5: O Sentido Profissional e a Crítica Profética

O texto conclui que o verdadeiro educador não teme "perder o posto, mas perder o propósito" e que o "discurso profético se cumpre quando se nomeia o erro".

Relacione o "propósito" do educador, conforme o texto, com a ideia de Vocação. Explique o papel da crítica (o "discurso profético") na Sociologia do Conhecimento, mostrando como nomear os erros institucionais é essencial para impulsionar a mudança e evitar a acomodação.

Comentários

sábado, 10 de janeiro de 2009

MAIS VANTAGENS AINDA (Suborno admirável)



Crônica

MAIS VANTAGENS AINDA ("O que é o céu se não um suborno, e o que é o inferno se não uma ameaça?" — Jorge Luis Borges)

Claudeci Ferreira de Andrade


           Certo homem tinha um filho na escola pública, e vindo pegar seu boletim, descobriu de novo que seu amado filho estava reprovado. Pelo que disse à diretora:

          —Há três anos venho tentando fazer desse menino gente, mas ele não quer; pode cortá-lo da escola. Para que está ele ainda ocupando inutilmente a escola?

          — Esse, é um menino saudável e não é violento, deixe-o, não está causando dano algum! – Disse a gestora hipocritamente.

          Porque, de acordo com a Secretaria da Educação, esta criança está causando dano sim, por está ocupando a vaga de outra que precisa entrar no sistema educacional. E custa cem dólares por dia ao Estado. Ela representa mal a sua família e não somente é improdutiva, mas constitui um estorvo para os que querem ascender na carreira estudantil.

           No ponto culminante desse relato, quando a situação parece estar muito tensa e desejamos saber se um aluno deve ou não ser expulso da escola quando reprovado na mesma série por mais de duas vezes; há o argumento apresentado por essa gestora escolar. Ela até admite que a declaração do pai é correta, porém, replica:
          — Deixe-o ainda este ano. Vamos conceder-lhe uma recuperação especial. Vamos inscrevê-lo no programa de bolsas, dar-lhe os livros, o uniforme, esse ano não vai faltar o lanche das crianças e se tiver boa frequência, a família será beneficiada com o salário escola.
          Agora, o pai e a diretora estão juntos aí com uma só ideologia, em unidade de propósito, então perguntemos: “Tiramos o menino da escola?” E eles dirão:
          — Não; não o tiremos. Deixá-lo-emos este ano. Procuraremos fazer outra coisa. Dar-lhe-emos mais vantagens.
          Ouça, amigo leitor: você acha que está passado o limite, e um aluno, que vai à escola só para fazer número, merece ser cortado; sim ou não? Eis aqui a evidência da opinião contraditória do sistema educacional a respeito do caso nesse tempo de misericórdia e graça, dizendo: “Deixe-o. A essa criança do fundamental, a esse jovem do Ensino Médio, àquela pessoa idosa da EJA, que ficou fora da graça muitos anos, concede-lhes mais um ano. E mais um depois disso, e então mais um ainda.”

          O mercado de trabalho corta mais depressa do que o sistema educacional. Quão admirável é o sistema educacional que servimos! Ele não nos trata como os empresários tratam seus funcionários e colegas de trabalho se tratam, mas continua oferecendo sua misericórdia e seus favorecimentos sem referência no mundo no qual pretende inserir seus "formados". RsRsRs.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 05/06/2009
Código do texto: T1633765

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (Autoria de Claudeci Ferreira de Andrade,http://claudeko-claudeko.blogspot.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

ComentáriosComentar


10/06/2009 12:49 - dimitriguimaraes
DESISTIR DO SER HUMANO SERIA O FIM DE TODOS NÓS. TODO SACRIFICIO ENPENHADO DEVE SER LOUVADO.



07/06/2009 12:17 - Joana
Foi bom ler sobre os subornos da escola, mas como eliminar essa tal nota para tudo?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)


Crônica

A CONSCIÊNCIA DE SI (Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se.)

Por Claudeci ferreira de Andrade


            Ouço constantemente de meus alunos: — "Ela está se achando!" Dizem daquela pessoa oferecida, desinibida, autoconfiante e a “puxa saco” do professor etc! 
           Aquele que não se encontra dentro de si mesmo decompõe-se. Sou o útero de mim mesmo. Se você descobre que está com uma enfermidade e não procura um médico. Se, em vez disto, conclui que não necessita de um, deixa o tempo correr e não mais precisará de um médico. Muitas viúvas aflitas têm exclamado pesarosamente que o esposo não quis admitir que necessitava de auxílio médico — para a sua própria destruição. Compreendo que “se achar” é se valorizar, é se querer, é buscar o melhor para si.
           Nossa alienação de nós mesmos resulta no esvaziamento de boas opiniões próprias sobre si mesmo, este, por sua vez, nos causa incalculável sofrimento. Porém, os inimigos fracassados, entretanto, mentem convincentemente, a nossos ouvidos, têm nos levado a desconfiar do nosso maravilhoso potencial, fazendo afirmações ilusórias e completamente equivocadas sobre nosso caráter. Dizem que quando repetimos uma transgressão, a consciência é queimada parcialmente e que se repetirmos o erro por várias vezes, somos “burros”, talvez querem dizer: — ela não sinaliza mais. (está morta). O “si” em si do homem é sua consciência. Se a consciência abandonasse o homem, ele perderia toda a sua cultura, seria uma falsidade ambulante, teria um viver mentiroso. Em vez disso, quando a consciência age com suma integridade, nenhum opróbrio artificial é alcançado sobre esse fanal de comando do homem. Nenhuma disciplina arbitrária é extorquida. Considerando isso, podemos até mesmos descobrir uma definida cortesia para com a qual tratarmos a nós mesmos.
          Nosso caráter, adjetivador da  consciência, nunca muda, uma vez formado pode até mudar de cor, como os cabelos na velhice, mas tudo já previsto no DNA:  “Pode o leopardo mudar suas manchas”? Pelo contrário, descobrimos ter nascido com tais e tais inclinações quando falamos (“a boca fala do que o coração está cheio”), palavras que moldam nossas reações conscienciosas frente às circunstâncias advindas. Mas, com ternura infinita e cuidadosa linguagem, fala-nos a consciência. Fala-nos se erramos, se houve maus relacionamentos, ela fala para se impor como alicerce da vida cultural do homem. É minha consciência que sabe quem sou eu verdadeiramente. Portanto, ela me diz a verdade acerca de minha real condição. O juízo Divino acontece no tribunal da consciência de cada indivíduo e na consciência universal a todo instante, se assim não fora, não teríamos consequências justas para cada ato e procedimento de nosso ser. Nossa separação dela nos prejudica com a ausência de Deus. Ela nos pune infligindo ferimento psicológico, somos prejudicados sim naturalmente com as consequências de nossa separação de nós mesmos, ou seja, daquela que é a mais amável, cuidadora veraz, leal, estimulante do eu, renovadora, encorajadora e fonte de energia em nossa vida:  A consciência. Isto faz apenas bom sentido concordar que ela é absolutamente correta em confessar nossa condição. Voltando ao relacionamento correto com ela, e a partir daí, começamos a experimentar a cura completa para a infelicidade de que tanto buscamos.
          A consciência não é a voz de Deus porque não se pode apagar a voz de Deus, ela é sim cultural. Gostaria de apelar para quem ainda há que tenha consciência. Ela dói quando um princípio cultural é ferido.
        Hoje, ainda, estou me achando! A morte para mim será a perda de mim para mim mesmo, por isso escrevo sobre minhas experiências terráqueas, descrevendo-me objetivo e subjetivamente, para que sempre me tenham com vocês. E assim, por tabela, eu viva eternamente em em sua consciência.


 texto: T1629423

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