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sábado, 3 de março de 2018

A SALA DA COORDENAÇÃO E A REFLEXÃO NECESSÁRIA ("A competência sem autoridade é tão importante como a autoridade sem competência." — Gustave Le Bon)


Crônica

A SALA DA COORDENAÇÃO E A REFLEXÃO NECESSÁRIA ("A competência sem autoridade é tão importante como a autoridade sem competência." — Gustave Le Bon)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

            Por acaso, fui à sala da coordenação durante uma aula vaga. Confesso que não tinha grandes expectativas de realizar algo útil naquele momento. Afinal, que utilidade pode haver em visitar uma sala cheia de problemas e tensões? Pairava no ar um misto de medo e desconfiança, mas resisti com certo capricho, curioso para ver o desenrolar daquela discussão.
            A coordenadora estava trazendo um aluno resmungão à sua sala. Ela decidiu suspender o aluno por três dias e pediu para falar com a mãe dele. O aluno, de maneira arrogante, ligou para a mãe e a ordenou que viesse à escola imediatamente. Ele colocou o celular no viva-voz, determinando que a coordenadora falasse, mas não tocasse no aparelho.
            Aos gritos, a coordenadora tentava explicar à mãe o motivo da convocação, porém era constantemente interrompida e desmentida pelo aluno. Por isso, a suspensão foi aumentada para quatro dias e a situação começou a se deteriorar. Eu decidi permanecer ali como testemunha, mesmo tendo ressalvas em relação à coordenadora.
           Após cerca de dez minutos, a mãe do aluno chegou, agravando ainda mais o desequilíbrio na discussão. A cena se assemelhava a um 7x1, assim como aquele fatídico jogo entre Alemanha e Brasil. Descrever todas as sensações e motivações daqueles momentos de desrespeito seria uma tarefa impossível até mesmo para um cronista como eu: veterano. 
           Para finalizar o embate, a coordenadora entregou o atestado de suspensão para a mãe assinar, mas o aluno gritou para que ela não o fizesse. Mais agressões verbais foram trocadas e saíram prometendo que não deixariam aquilo assim... Era triste, e, mais ainda, intrigante, observar a reação da mãe e o desfecho daquele caso. No final das contas, o aluno voltou para sua sala como se nada tivesse acontecido. 
           Aquele rapaz foi um dos meus piores alunos do ano passado e sua mãe também havia sido minha aluna naquela mesma escola. Quem estava errando? Por um instante, cheguei a questionar minha própria responsabilidade naquela situação. Será que eu não os ensinei adequadamente?
            Em seguida, as funcionárias da limpeza correram com água e açúcar para acalmar a tensão. A coordenadora exibia mãos pálidas e trêmulas, claramente abatida e envergonhada. Ela me disse: "Isso é para você ver o que nós passamos aqui, os professores precisam nos ajudar, fazendo relatórios!" Naquele momento, senti a confirmação de minha culpa e fui atingido por um sentimento avassalador. Quantos relatórios eu negligenciei em minha trajetória! Agora era o momento de sair daquela sala.
           O ensino público atravessa uma crise, com muitos outros alunos problemáticos que continuam a causar transtornos. A falta de autoridade de quem dirige é notória. 
Kllawdessy Ferreira

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Enviado por Kllawdessy Ferreira em 24/02/2018

Reeditado em 03/03/2018

Código do texto: T6263206 

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