O Peso das Rugas na Sala de Aula ("Jovem, não deboche do idoso, porque só com muita sorte você chegará lá!" — Gilberto Martini Refatti)
A sala de aula, outrora palco sagrado de trocas e sabedoria, transformou-se num ringue onde a juventude, munida de sua arrogância temporal, desfere golpes impiedosos contra a experiência. Como professor veterano, sinto diariamente o peso crescente da discriminação etária pairando sobre mim, manifestando-se em olhares, gestos e palavras que ferem mais que críticas construtivas.
"Que nojo", disse uma aluna quando expressei admiração por ela. "Podre!", disparou uma jovem colega professora quando tentei uma aproximação profissional. Palavras simples, mas carregadas de um desprezo que ecoa muito além de seus significados literais. Não sou o único - outros colegas também relatam episódios semelhantes, onde a experiência é desvalorizada e a juventude é equivocadamente exaltada como sinônimo de superioridade.
A sociedade contemporânea, obcecada pela juventude e beleza física, parece ter esquecido o valor dos mais velhos. Os jovens são adorados e protegidos - quanto menor a idade, maior o amparo. Compreendo essa dinâmica, mas garanto: já fui jovem e não desejaria retornar àquela fase. Se pudesse escolher, preferiria manter a experiência que hoje carrego.
Observo seus comportamentos arriscados, como se a morte fosse uma impossibilidade distante, e reflito: poucos alcançarão os 60 anos. Mais importante que isso, poucos compreenderão a diferença crucial entre simplesmente durar e verdadeiramente viver. Para receber o presente da terceira idade, é preciso viver em harmonia com os elementos naturais do universo. Viver lentamente é durar, mas durar sem qualidade não é viver.
Em meio a esse cenário desafiador, encontro conforto em palavras como as de Dona Leila Maria: "Não te acho velho, pelo contrário, te admiro muito. Meu filho te adora, e eu também, meu mestre amigo! Siga em frente e não escuta o que eles falam... levanta a cabeça, você é muito inteligente e culto, parabéns!" São poucos os olhares que conseguem enxergar além das rugas, que compreendem que o essencial do ser humano está em sua contribuição para o mundo.
Como bem observou Dostoiévski, "O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive." A inversão de valores que presenciamos nas escolas e famílias parece resultar de uma recusa ao ideário dos mais velhos, substituindo a sabedoria por futilidades e atalhos vazios.
Não estou aqui para combater a "Idosofobia" - sei que esse preconceito persistirá. Porém, a vergonha que sentem de mim hoje, amanhã sentirão de si mesmos. Como diria Charles Bukowski ao interpretar o mandamento bíblico "Amai ao próximo": "Isso poderia significar algo como: 'Deixe-o em paz.'"
A velhice não é um fim, mas um novo começo - uma oportunidade de olhar para trás e contemplar o construído, enquanto seguimos aprendendo e crescendo. Sigo em frente, cabeça erguida e coração esperançoso, pois sei que as rugas que marcam meu rosto não são símbolos de obsolescência, mas mapas das experiências que me trouxeram até aqui.
5 Questões Discursivas sobre o Texto
1. Qual a principal crítica do autor em relação à forma como a sociedade contemporânea enxerga e trata os idosos?
2. Como a valorização excessiva da juventude e da beleza física impacta a forma como as pessoas envelhecem e são vistas?
3. Qual a importância da experiência dos mais velhos para a sociedade e como ela é desvalorizada no contexto atual?
4. De que forma a educação pode contribuir para mudar a percepção sobre a velhice e promover o respeito aos mais velhos?
5. Como a busca por experiências imediatas e a valorização de uma vida rápida podem comprometer a qualidade de vida e a longevidade?
A sala de aula, outrora palco sagrado de trocas e sabedoria, transformou-se num ringue onde a juventude, munida de sua arrogância temporal, desfere golpes impiedosos contra a experiência. Como professor veterano, sinto diariamente o peso crescente da discriminação etária pairando sobre mim, manifestando-se em olhares, gestos e palavras que ferem mais que críticas construtivas.
"Que nojo", disse uma aluna quando expressei admiração por ela. "Podre!", disparou uma jovem colega professora quando tentei uma aproximação profissional. Palavras simples, mas carregadas de um desprezo que ecoa muito além de seus significados literais. Não sou o único - outros colegas também relatam episódios semelhantes, onde a experiência é desvalorizada e a juventude é equivocadamente exaltada como sinônimo de superioridade.
A sociedade contemporânea, obcecada pela juventude e beleza física, parece ter esquecido o valor dos mais velhos. Os jovens são adorados e protegidos - quanto menor a idade, maior o amparo. Compreendo essa dinâmica, mas garanto: já fui jovem e não desejaria retornar àquela fase. Se pudesse escolher, preferiria manter a experiência que hoje carrego.
Observo seus comportamentos arriscados, como se a morte fosse uma impossibilidade distante, e reflito: poucos alcançarão os 60 anos. Mais importante que isso, poucos compreenderão a diferença crucial entre simplesmente durar e verdadeiramente viver. Para receber o presente da terceira idade, é preciso viver em harmonia com os elementos naturais do universo. Viver lentamente é durar, mas durar sem qualidade não é viver.
Em meio a esse cenário desafiador, encontro conforto em palavras como as de Dona Leila Maria: "Não te acho velho, pelo contrário, te admiro muito. Meu filho te adora, e eu também, meu mestre amigo! Siga em frente e não escuta o que eles falam... levanta a cabeça, você é muito inteligente e culto, parabéns!" São poucos os olhares que conseguem enxergar além das rugas, que compreendem que o essencial do ser humano está em sua contribuição para o mundo.
Como bem observou Dostoiévski, "O segredo da existência humana reside não só em viver, mas também em saber para que se vive." A inversão de valores que presenciamos nas escolas e famílias parece resultar de uma recusa ao ideário dos mais velhos, substituindo a sabedoria por futilidades e atalhos vazios.
Não estou aqui para combater a "Idosofobia" - sei que esse preconceito persistirá. Porém, a vergonha que sentem de mim hoje, amanhã sentirão de si mesmos. Como diria Charles Bukowski ao interpretar o mandamento bíblico "Amai ao próximo": "Isso poderia significar algo como: 'Deixe-o em paz.'"
A velhice não é um fim, mas um novo começo - uma oportunidade de olhar para trás e contemplar o construído, enquanto seguimos aprendendo e crescendo. Sigo em frente, cabeça erguida e coração esperançoso, pois sei que as rugas que marcam meu rosto não são símbolos de obsolescência, mas mapas das experiências que me trouxeram até aqui.
5 Questões Discursivas sobre o Texto
1. Qual a principal crítica do autor em relação à forma como a sociedade contemporânea enxerga e trata os idosos?
2. Como a valorização excessiva da juventude e da beleza física impacta a forma como as pessoas envelhecem e são vistas?
3. Qual a importância da experiência dos mais velhos para a sociedade e como ela é desvalorizada no contexto atual?
4. De que forma a educação pode contribuir para mudar a percepção sobre a velhice e promover o respeito aos mais velhos?
5. Como a busca por experiências imediatas e a valorização de uma vida rápida podem comprometer a qualidade de vida e a longevidade?
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