"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

MINHAS PÉROLAS

sábado, 14 de setembro de 2019

Violência Escolar: Uma Crônica do Colapso Social (Abaixo a "pedagogia" da facada)




Crônica

Violência Escolar: Uma Crônica do Colapso Social (Abaixo a "pedagogia" da facada)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O dia começou como tantos outros, até ser abruptamente transformado em pesadelo. Em 30 de agosto de 2019, a escola, que deveria ser sinônimo de aprendizado e crescimento, converteu-se em cenário de uma violência fatal: um aluno tirou a vida do coordenador do Programa Mais Educação com uma facada, por um motivo banal. Esse episódio brutal e inexplicável revela a crescente banalização da existência e a corrosão do respeito dentro dos espaços educativos.


Lembranças de incidentes anteriores e posteriores somam-se ao choque. Em 28 de agosto de 2018, um adolescente de 14 anos esfaqueou um colega de 13 no Centro de Ensino Fundamental 19, em Ceilândia, após uma discussão. Meses depois, em 3 de dezembro de 2018, uma mulher invadiu uma escola municipal no Pedregal (Novo Gama) e assassinou outra por vingança, após uma disputa iniciada nas redes sociais. Essas tragédias não são isoladas; são ecos de um ambiente social marcado por tensões crescentes.

Em 30 de abril de 2019, o professor e coordenador Júlio César Barroso de Sousa foi assassinado por um aluno, em Valparaíso, após intervir em uma briga. Mais uma vez, o centro de ensino, que deveria ser um porto seguro, converteu-se em palco de vingança. Assim, as escolas se transformam em verdadeiros campos de batalha, onde educação e segurança disputam espaço em meio ao caos social.

Mesmo dentro das salas de aula, a violência assume formas perturbadoras. Professores, exaustos e desamparados, recorrem a práticas extremas para tentar manter o controle — como amarrar alunos às cadeiras ou cobrir suas cabeças para evitar cola. Houve até um episódio em que estudantes foram hospitalizados após ingerirem bebida adulterada com "boa noite Cinderela". Tais situações nos obrigam a questionar: que tipo de sociedade estamos formando e permitindo? O que vivenciei nas escolas transcende a lógica comum. Ninguém merece sofrer ataques, sejam eles motivados por questões políticas ou por conflitos cotidianos. No entanto, a escola é obrigada a aceitar delinquentes reincidentes sem qualquer respaldo institucional. Tenta-se disciplinar o indisciplinável com regras superficiais, como proibir bermudas e celulares, enquanto se ignoram riscos muito mais profundos e letais. A cada novo episódio, é inevitável questionar o rumo da educação. A Secretaria impõe às escolas a obrigação de matricular e tolerar alunos problemáticos, tornando o cotidiano insuportável. No fim, o prejuízo recai sobre professores e funcionários, enquanto agressores são, por vezes, defendidos. Aos educadores resta o luto permanente: físico, emocional e moral. Essa inversão de prioridades e a hipocrisia corroem o sistema. O estresse e a frustração cobram um preço alto, afetando a saúde dos que resistem. Eu carrego a cicatriz de um câncer intestinal, uma marca de quem está esgotado por batalhar. Minha persistência testemunha o compromisso, mas também revela o quanto estou exaurido — e quantos professores tombaram antes de mim dentro dos próprios locais de trabalho. "Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo" (Mateus 23:23-24). Essa passagem ecoa, refletindo a miopia do sistema. Abaixo a pedagogia da violência! Não preciso de facas ou mártires para ser aquilo que desejo: um professor, mesmo quando ensino quem não quer aprender. Eu sigo, apenas, confiando que a fé possa socorrer os que ainda resistem na linha de frente da educação.
Resta-nos, enfim, refletir sobre o preço da indiferença coletiva e da violência normalizada. A sociedade precisa olhar para si e se perguntar como trata os mais vulneráveis. Que caminhos podemos construir para que a escola volte a ser um instrumento de paz e desenvolvimento humano? Deixo essas perguntas na esperança de que as respostas não cheguem tarde demais.

***


Questões Discursivas sobre Violência nas Escolas e o Futuro da Educação:


1. Violência nas Escolas: Reflexo da Sociedade e Ameaça à Educação

a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, analise os seguintes pontos:

A banalização da violência: Como a banalização da violência na sociedade se reflete no ambiente escolar, culminando em atos brutais como o assassinato do coordenador do Programa Mais Educação?


A escola como campo de batalha: Quais os fatores sociais e culturais que contribuem para a transformação das escolas em ambientes de insegurança e medo, onde a educação cede espaço à violência?


A culpabilização das vítimas: De que forma a culpabilização das vítimas de violência, como a punição com medidas disciplinares rigorosas, contribui para a perpetuação do ciclo de violência nas escolas?


b) Propondo soluções:

Prevenção da violência: Que medidas podem ser tomadas no âmbito escolar, familiar e social para prevenir a violência nas escolas, promovendo um ambiente seguro e acolhedor para todos os alunos?


Educação para a paz: Como a educação pode ser utilizada como ferramenta para promover valores como o respeito, a tolerância e a resolução pacífica de conflitos, combatendo a cultura da violência na sociedade?


O papel do Estado: Quais as responsabilidades do Estado na garantia da segurança nas escolas e na promoção de uma educação de qualidade para todos os cidadãos?


2. O Desafiante Papel do Educador em um Cenário de Violência e Injustiças

a) A partir do texto e de seus conhecimentos sociológicos, explore as seguintes questões:

A sobrecarga e o desamparo dos educadores: Como a sobrecarga de trabalho, a falta de recursos e o desamparo institucional contribuem para o sofrimento dos educadores, como no caso do autor do texto que enfrenta um câncer e ainda precisa lidar com a violência nas escolas?


A hipocrisia e as injustiças no sistema educacional: De que forma a hipocrisia e as injustiças no sistema educacional, como a obrigatoriedade de matricular alunos reincidentes em atos de violência, afetam a saúde mental e emocional dos educadores?


A busca por um futuro melhor: Que medidas podem ser tomadas para valorizar a profissão docente, garantir melhores condições de trabalho e criar um ambiente educacional mais justo e humanizado?


b) Reflexões sobre o papel do educador:

A missão do educador: Qual o papel fundamental do educador em um contexto social marcado pela violência e pelas desigualdades? Como os educadores podem contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e pacífica?


A importância do autocuidado: Como os educadores podem cuidar de sua saúde mental e emocional para lidar com os desafios da profissão e manter a força para continuar sua missão?


A busca por apoio e solidariedade: Quais os mecanismos de apoio e solidariedade que podem ser disponibilizados aos educadores para que se sintam amparados e acolhidos em sua árdua missão?

Comentários

2 comentários:

Unknown disse...

Uma crônica digna de ser publicada em jornais de grande circulação.

Claudeci Andrade disse...

https://veja.abril.com.br/brasil/aluno-ataca-professor-a-facadas-em-escola-municipal-de-sao-paulo/