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domingo, 27 de setembro de 2020

O CORONAVÍRUS VEIO DE DEUS ("Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância." — Sócrates)

 


Crônica Filosófica

O CORONAVÍRUS VEIO DE DEUS ("Existe apenas um bem, o saber, e apenas um mal, a ignorância." — Sócrates)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ontem, folheando meu diário de professor — aquele com anotações das aulas que ministrei por mais de uma década — deparei-me com uma reflexão antiga que, agora, em tempos de pandemia, ganhou contornos quase proféticos. Sorri com ironia. As páginas amareladas traziam os embates silenciosos que vivi no quadro negro da existência, muito antes de máscaras e álcool em gel se tornarem companheiros diários.



Era uma terça-feira de março quando entrei na sala do 2º ano para discutir Nietzsche e sua provocativa declaração sobre a morte de Deus. Mal posicionei meus livros sobre a mesa e lá estava Mateus, com sua Bíblia sublinhada e o semblante fechado, como quem aguardava o momento exato para o contra-ataque.



— "Professor, o senhor acredita em Deus?"



A pergunta, carregada como um fuzil, surgia sempre nas primeiras aulas. Era um ritual de demarcação de território, como animais que se preparam para o confronto.



"Estamos aqui para discutir filosofia, não minhas crenças pessoais", respondi diplomaticamente, como recomendava o manual invisível da laicidade escolar.



Era curioso: eu, bacharel em teologia e professor de filosofia, precisava navegar naquele mar minado com a cautela de quem transporta nitroglicerina. A ironia não me escapava. Conhecia mais sobre religião do que muitos daqueles jovens fervorosos, mas não podia expressar-me livremente, enquanto eles bradavam suas convicções como estandartes.



— "Mas a Bíblia diz que..." E assim começava o desfile de versículos memorados, recitados com a convicção de quem lança a última palavra sobre qualquer tema. O estudo crítico dava lugar ao dogma; a reflexão cedia espaço à repetição.



Observava, com certa melancolia, como aqueles mesmos alunos, tão veementes na defesa da fé, eram frequentemente os que menos se dedicavam aos estudos. Suas redações claudicavam em argumentação, seus trabalhos de pesquisa eram superficiais e suas notas refletiam mais fervor do que disciplina intelectual. Uma contradição curiosa: tão zelosos das palavras sagradas, tão negligentes com as palavras do conhecimento secular.



E o mais intrigante: aqueles que se autodenominavam "guardiões da moral" eram muitas vezes os primeiros a humilhar colegas, espalhar boatos e criar ambientes tóxicos nos corredores da escola. A compaixão, virtude central de qualquer religião digna desse nome, parecia ausente em seus atos, embora abundante em seus discursos.



Quantas vezes fui chamado à diretoria após uma aula sobre existencialismo ou teoria da evolução? Perdi a conta. "Professor, os pais do Mateus estão preocupados com o conteúdo das suas aulas", dizia o diretor, sem nunca ter assistido a uma delas. E assim minha reputação ganhava arranhões, não pelo que eu dizia, mas pelo que presumiam que eu pudesse dizer.



E então veio o silêncio. Aquele março de 2020, que se estendeu por meses, por anos. As salas vazias, os corredores silenciosos, a escola hibernando enquanto um vírus invisível reescrevia nossa história coletiva.



Foi nesse silêncio que comecei a refletir sobre os versos de Raul Seixas que tanto gostava de citar nas aulas: "Buliram muito com o planeta / E o planeta como um cachorro eu vejo / Se ele já não aguenta mais as pulgas / Se livra delas num sacolejo". A metáfora ganhou cores vívidas e assustadoras.



O mundo agora discutia se o vírus era castigo divino ou fenômeno natural, se representava purificação ou calamidade. Enquanto isso, na solidão do meu apartamento, eu observava como aquele microscópico pedaço de proteína havia conseguido o que anos de filosofia não conseguiram: silenciar as certezas absolutas.



Nas aulas online que se seguiram, notei uma mudança sutil. Os mesmos alunos que outrora ostentavam certezas agora faziam perguntas. O vírus, que tirava o fôlego dos corpos, parecia ter, paradoxalmente, devolvido o fôlego ao pensamento.



— "Professor, por que Deus permitiria isso?" — perguntou Mateus em uma videochamada, a Bíblia ainda ao seu lado, mas o tom já não era de desafio, e sim de genuína inquietação.



— "Talvez essa seja a pergunta mais honesta que podemos fazer" — respondi. — "E talvez a filosofia não exista para dar respostas, mas para nos ensinar a viver com as perguntas."



Não sei se foi o isolamento, a proximidade da morte ou simplesmente o tempo amadurecendo consciências, mas nossas discussões ganharam profundidade. A dúvida, antes vista como inimiga da fé, tornava-se sua companheira necessária. O questionamento deixava de ser ameaça para ser caminho.



Hoje, olhando para trás, para aqueles embates em sala de aula e para a transformação silenciosa que a pandemia operou, compreendo que talvez o "novo normal" não seja apenas sobre máscaras e distanciamento, mas sobre uma forma mais humilde de habitar nossas certezas.



Talvez Isaías 45:7 esteja certo ao dizer que Deus faz tanto a paz quanto o mal — não porque seja caprichoso, mas porque a vida é tecida de contrastes, e é no escuro que aprendemos a valorizar a luz.



O vírus, esse professor implacável, nos ensinou que nossas convicções mais sólidas podem ser dissolvidas pelo invisível. E que talvez a verdadeira sabedoria não esteja em ter todas as respostas, mas em aprender a viver com dignidade na presença das perguntas que nunca serão plenamente respondidas.



Fecho meu diário de professor, agora com novas anotações. A escola já não é a mesma. Eu não sou o mesmo. E, curiosamente, agradeço por isso.



Aqui estão 5 questões discursivas baseadas no texto, explorando as ideias principais e provocando reflexões sociológicas:


1. Laicidade e liberdade de expressão no ambiente escolar: O texto aborda a tensão entre a laicidade escolar e a liberdade de expressão dos alunos, especialmente em relação a questões religiosas. Como a sociologia pode analisar essa tensão e os desafios de conciliar diferentes visões de mundo no ambiente escolar?

2. O papel da religião na construção de identidades e conflitos: O texto mostra como a religião pode ser usada como instrumento de demarcação de território e conflito entre alunos e professores. Como a sociologia pode analisar o papel da religião na construção de identidades e na geração de conflitos no ambiente escolar e na sociedade em geral?

3. A relação entre fé, conhecimento e comportamento: O texto critica a contradição entre a veemência na defesa da fé e a negligência com o conhecimento secular, além da ausência de compaixão nos atos dos "guardiões da moral". Como a sociologia pode analisar a relação entre fé, conhecimento e comportamento, e como essa relação se manifesta no ambiente escolar?

4. O impacto da pandemia na relação entre fé e razão: O texto descreve como a pandemia transformou as certezas absolutas em perguntas, e como a dúvida se tornou companheira da fé. Como a sociologia pode analisar o impacto de eventos traumáticos, como a pandemia, na relação entre fé e razão e na busca por sentido?

5. O "novo normal" e a busca por humildade nas certezas: O texto conclui que o "novo normal" não é apenas sobre máscaras, mas sobre uma forma mais humilde de habitar as certezas. Como a sociologia pode analisar a construção social das certezas e a importância da humildade e do diálogo na construção de uma sociedade mais tolerante e plural?

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sábado, 19 de setembro de 2020

Coleção 26 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Pensamemtos

Coleção 26 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

A morte não resolve, põe fim! Já que o nascer põe começo no problema: vida!
Claudeci Ferreira de Andrade

Eu preferia não ter liberdade de expressão e muitos vigiando o que eu digo, do que expressar-me livremente onde ninguém respeita minha expressão. Abaixo a democracia que os egoístas mandam, salve a ditadura onde os justos podem mandar.
Claudeci Ferreira de Andrade

Trouxa quando morre vai para o céu! Porque Deus só ajuda quem quer ser ajudado. Deus ajuda quem se ajuda, logo você ajuda Deus ao invés de ajudar quem precisa de Deus, já que esse alguém não quer Deus, quer você.
Claudeci Ferreira de Andrade

A vida não é nada porque a estrada termina quando dia começa. A morte é tudo porque a estrada começa quando o dia termina.
Claudeci Ferreira de Andrade

A única forma de sobreviver ao ataque do bandido é dar ao criminoso a certeza que não se lembrará dele.
Claudeci Ferreira de Andrade

A linguagem corporal exige boa leitura, compreensão e interpretação. Mas como, se são só garatujos?
Claudeci Ferreira de Andrade

Todos os homens são subornáveis, se assim não fosse, o dinheiro não valeria nada.
Claudeci Ferreira de Andrade

O maior problema pedagógico da educação é que todo mundo quer ensinar o professor a ensinar, mas ninguém quer ensinar o aluno aprender.
Claudeci Ferreira de Andrade

Não há justiça na guerra, mata-se um leão por dia por que é justo à sobrevida.
Claudeci Ferreira de Andrade

Lê-se pelo autor, inimigos leem mais, não achando a recriminação, fingem não ler.
Claudeci Ferreira de Andrade

Minha meta para 2017 é enlinheirar, as que a Dilma me ensinou a dobrar.
Claudeci Ferreira de Andrade

Quem cria e nutre o fanático, fabrica seu demônio, sofrendo como pai de malogrado.
Claudeci Ferreira de Andrade

Todos querem ir para o céu, mas ninguém quer morrer, descobriram que porque o inferno é aqui!
Claudeci Ferreira de Andrade

A verdade por si só se defende, mas há quem defenda Deus, se achando um outro Deus maior!
Claudeci Ferreira de Andrade

A vingança é o abuso do ódio, se abusar do veneno, não faz efeito. É para se comer frio!
Claudeci Ferreira de Andrade

Sem gestão, odeio o pecado, que nem Deus, e amo os pecadores. Porque sou imperfeito.
Claudeci Ferreira de Andrade

Gente fraca não pode ser sincera, ela têm que parecer forte, fingindo poder.
Claudeci Ferreira de Andrade

Lições da pandemia: O Diabo educa mais do que Deus, por que as desgraças humanizam as pessoas: desgraçados solidários. E a religião humaniza Deus, manipulando a fé e vendendo bênçãos.
Claudeci Ferreira de Andrade

O homem é natureza e dentro da cadeia alimentar, ele consome como árvore, Co2, seu oxigênio.
Claudeci Ferreira de Andrade

A ira muda tudo, o amor não muda nada. O ódio é vaidade torpe e ó amor torpe vaidade.
Claudeci Ferreira de Andrade
Kllawdessy Ferreira

Enviado por Kllawdessy Ferreira em 21/11/2017
Reeditado em 19/09/2020
Código do texto: T6178618
Classificação de conteúdo: seguro