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MINHAS PÉROLAS

domingo, 28 de dezembro de 2025

A Quietude dos Que Não Controlam o Amanhã ("Não depende de quem quer, nem de quem corre, mas de Deus, que usa de misericórdia." — Apóstolo Paulo (Romanos 9:16))

 




A Quietude dos Que Não Controlam o Amanhã ("Não depende de quem quer, nem de quem corre, mas de Deus, que usa de misericórdia." — Apóstolo Paulo (Romanos 9:16))

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há uma angústia moderna que se disfarça de virtude: a obsessão por escolher tudo. Escolher o futuro, o sentido, o destino, a própria salvação. Como se o simples ato de decidir bastasse para dobrar o tempo, domesticar o acaso e obrigar o amanhã a cumprir nossos planos. No entanto, basta um tropeço da história — uma doença, uma perda, um evento imprevisto — para revelar o constrangimento dessa pretensa autonomia. Se fôssemos, de fato, autores soberanos de nós mesmos, o mundo não seria esse acúmulo de intenções frustradas e colheitas incoerentes.

Chamam isso de livre-arbítrio, mas o nome elegante não disfarça a fragilidade do conceito. A vontade humana opera cercada por forças que não escolheu: impulsos, medos, heranças invisíveis, condicionamentos sociais e limites biológicos. Decide, sim — mas decide dentro de um labirinto cujas paredes não construiu. Planeja o amanhã sem jamais enxergá-lo. A liberdade, assim entendida, mais se parece com um consolo psicológico do que com um poder real.

É curioso notar que os mais aflitos costumam ser justamente os que insistem em carregar o mundo nas próprias costas. A crença na autossuficiência cobra juros altos: ansiedade crônica, culpa excessiva, desespero diante do fracasso. Em contraste, há os que descansam. Não porque sejam passivos ou moralmente indiferentes, mas porque compreenderam algo incômodo ao ego moderno: nem o querer nem o realizar nascem inteiramente de nós. Há um governo silencioso operando por trás das intenções humanas, uma ordem que antecede e excede o indivíduo.

Isso não elimina a responsabilidade moral — ao contrário, redefine-a. Agir deixa de ser um gesto de soberania e passa a ser um ato de alinhamento. O erro não está em agir, mas em agir como se fôssemos deuses improvisados. A verdadeira rebeldia não é pecar, mas recusar-se a reconhecer limites. Foi essa ilusão que inaugurou a primeira dissidência cósmica: a ideia de que a criatura poderia bastar-se a si mesma. Desde então, a independência virou virtude e a submissão, insulto.

No entanto, há uma diferença essencial entre submissão e servidão cega. Submeter-se à ordem não é abdicar da ética, mas abandonar a fantasia de controle absoluto. O mal não nasce porque foi programado, mas porque insiste em resistir àquilo que o ultrapassa. Quando a Escritura afirma que tudo tem um propósito, inclusive a existência do ímpio, não descreve um sadismo divino, mas uma realidade incômoda: até a recusa humana acaba servindo a uma justiça maior que ela mesma não compreende.

Talvez o maior erro do homem contemporâneo seja confundir liberdade com isolamento. A crença de que criar o próprio destino é sinal de maturidade espiritual produz, paradoxalmente, sujeitos cada vez mais perdidos. Abrir mão da soberania pessoal não é um retrocesso moral, mas um alívio ontológico. É reconhecer que a vida não é um experimento individual, e sim uma participação — limitada, responsável e situada — numa ordem que não nos pede genialidade, apenas fidelidade.


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Como seu professor de Sociologia, hoje vamos explorar um texto que desafia um dos pilares do mundo moderno: a ideia de que somos "donos do nosso próprio nariz" e que nossa vontade é soberana. O autor nos propõe uma reflexão sobre os limites da liberdade individual frente às estruturas que nos cercam.


1. A Ilusão da Escolha no Mundo Moderno. O texto menciona que vivemos uma "obsessão por escolher tudo" e que isso gera uma falsa sensação de controle sobre o tempo e o futuro. Questão: Como a sociedade de consumo e o estilo de vida atual reforçam a ideia de que o indivíduo é o único responsável pelo seu sucesso, ignorando o que o texto chama de "heranças invisíveis" e "condicionamentos sociais"?

2. O Indivíduo e o Labirinto Social. O autor afirma que o homem decide "dentro de um labirinto cujas paredes não construiu". Questão: Utilizando o conceito de Fato Social de Émile Durkheim, explique como as leis, os costumes e a moral funcionam como essas "paredes do labirinto" que exercem coerção sobre nossas escolhas individuais.

3. As Consequências da Autossuficiência. O texto associa a crença na autossuficiência a "juros altos", como a ansiedade crônica e o desespero diante do fracasso. Questão: De que maneira a cobrança social para sermos "autores soberanos de nós mesmos" pode ser relacionada ao aumento de transtornos psicológicos na modernidade, uma vez que o indivíduo passa a carregar sozinho a culpa por seus insucessos?

4. Liberdade vs. Isolamento. O parágrafo final sugere que o homem contemporâneo confunde liberdade com isolamento. Questão: Sociologicamente, por que a ideia de "criar o próprio destino" de forma isolada pode enfraquecer os laços de solidariedade e o sentimento de pertencimento a uma comunidade ou ordem maior?

5. Responsabilidade como Alinhamento. O autor redefine a responsabilidade moral não como "soberania", mas como "alinhamento" a uma ordem que excede o indivíduo. Questão: Como essa visão de que somos "participantes de uma ordem" (e não criadores absolutos dela) altera a forma como entendemos nosso papel na sociedade e nossas obrigações para com os outros?


Dica do Prof: Lembrem-se de que, na Sociologia, raramente olhamos para o indivíduo sozinho. Sempre buscamos entender as "paredes invisíveis" que moldam o comportamento humano.

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