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MINHAS PÉROLAS

domingo, 21 de agosto de 2022

A MÁSCARA DO DESESPERO FORJADO. ("Arrancar a máscara, que livramento!" — Victor Hugo)

 


A MÁSCARA DO DESESPERO FORJADO. ("Arrancar a máscara, que livramento!" — Victor Hugo)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Pela praça da matriz em Senador Canedo, entrei, meio indeciso, na fila para o almoço de três reais do restaurante popular. Depois de dez minutos, cheguei ao caixa, mas, com o dinheiro na mão, fui impedido de comprar o marmitex por estar sem máscara. Como assim, ao ar livre?

Saí sem fazer questão, decepcionado, mas até um pouco feliz, já que a moça me "ajudou" a manter meu regime zeloso. Era a primeira vez que, por pura curiosidade, eu queria provar a comida de lá. Minha gratidão foi tanta que nem me ative a observar se a atendente, para ser coerente com sua exigência, usava ou não o tal instrumento repressor. A atitude dela, de todo modo, me foi suficiente para construir alguns conceitos particulares, pois eu já estava tomado por sentimentos negativos. Já pensaram se eu dependesse unicamente desse restaurante para viver?

A ironia da situação só se intensificou no dia seguinte. Almocei em um restaurante "chic" em Goiânia, onde o aviso na porta dizia que "só podia entrar mascarado". Entramos usando o acessório, mas depois, para comer, "todos deixamos de ser incoerentes, tiramos as máscaras para comer e sentimos o cheiro da alimentação". A lição foi clara: "as máscaras sempre caem no final." Enquanto mastigava, observei as crianças da mesa vizinha. Elas olhavam o "gado" colorido entrando e saindo sem medo, pois o boi da cara preta já havia voltado mansinho e elas estavam acostumadas.

É nesse ponto que a ambiguidade da máscara se mostra mais cruel: não é apenas um pano no rosto, mas o símbolo de um tempo em que a coerência se perdeu. A máscara protege e oprime, higieniza e silencia; é ao mesmo tempo sinal de zelo e sinal da besta. A comida insossa, engolida sem prazer, ganha o mesmo sabor artificial da atmosfera mascarada que nos envolve. O gesto de vestir e despir esse artefato parece encenar uma liturgia do absurdo, em que a fé não está em Deus, mas na regra sem sentido. Assim, compreendi que ninguém escapa desse mercado simbólico: "SÓ COMPRA OU VENDE MASCARADOS para o seu próprio bem!"

Na saída, pus novamente a máscara segundo as normas, mas o assaltado fui eu. O outro mascarado do lado de dentro do balcão me cobrou muito caro pelo almoço, para não perder o estigma. No Brasil, políticos analfabetos funcionais descidem pela saúde.


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Para nossa aula de Sociologia de hoje, vamos analisar o texto que acabamos de ler. Ele nos faz refletir sobre várias questões do nosso cotidiano e da sociedade. Pensem nas seguintes perguntas e preparem-se para a nossa discussão.


1- O autor fala sobre a incoerência da exigência da máscara no restaurante popular e a hipocrisia do uso dela no restaurante “chic”. Relacione essa crítica com o conceito sociológico de "anomia", que se refere à ausência ou à contradição das normas sociais.

2 - A partir da observação do autor sobre as crianças que "olham o 'gado' colorido", explique como a socialização pode levar à aceitação de comportamentos e regras que, em outras circunstâncias, seriam vistos como absurdos.

3 - No texto, a máscara é descrita como um símbolo que "protege e oprime, higieniza e silencia". Analise a máscara como um símbolo social e discuta a relação entre sua função de proteção e a possível perda de individualidade ou liberdade que ela representa.

4 - A frase "SÓ COMPRA OU VENDE MASCARADOS para o seu próprio bem!" sugere uma crítica ao sistema de consumo e às relações sociais. Explique como a máscara, nesse contexto, pode ser vista como um elemento que padroniza as pessoas e as reduz a meros consumidores ou vendedores, em um "mercado simbólico".

5 - O autor finaliza o texto afirmando que "políticos analfabetos funcionais descidem pela saúde". Discuta como a sua experiência pessoal se conecta a uma crítica mais ampla às estruturas de poder e à falta de preparo de alguns líderes para tomar decisões que afetam a vida de toda a sociedade.

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