"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 4 de junho de 2022

A BELEZA E A INCLUSÃO SOCIAL ("Devem-se escolher os amigos pela beleza, os conhecidos pelo caráter e os inimigos pela inteligência." — Oscar Wilde)

 


A BELEZA E A INCLUSÃO SOCIAL ("Devem-se escolher os amigos pela beleza, os conhecidos pelo caráter e os inimigos pela inteligência." — Oscar Wilde)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

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sábado, 28 de maio de 2022

Redação ou Gramática: TÓPICO DE PORTUGUÊS? ("Uma famosa tática do Diabo é dividir para conquistar." (Pr. Ronildo Santos)

 


Redação ou Gramática: TÓPICO DE PORTUGUÊS? ("Uma famosa tática do Diabo é dividir para conquistar." (Pr. Ronildo Santos)

Era uma manhã cinzenta de segunda-feira quando, ao entrar na sala dos professores, deparei com mais uma planilha enviada pela secretaria da educação. Não era uma qualquer: vinha repleta de quadros coloridos e siglas misteriosas, anunciando não um avanço, mas uma nova etapa naquilo que me parece ser a arte de esquartejar o saber. Língua Portuguesa, antes um corpo uno, aparecia fatiada em partes que, até então, formavam um todo inseparável — "Gramática", "Redação", "Oralidade", além de uma profusão de tópicos soltos, como se o vasto território do conhecimento pudesse ser domesticado e encaixado em caixinhas estanques.

Olhei para aquela planilha e um arrepio me percorreu a espinha. O que foi que leram, ou deixaram de ler, esses técnicos que, nos gabinetes da secretaria, decidem os rumos da nossa prática? A fragmentação ali exposta parecia menos uma inovação pedagógica e mais uma estratégia fria de poder. E, inevitavelmente, a sabedoria ancestral ecoou em minha mente, na sentença lúcida de Leonardo da Vinci: “Assim como todo o reino dividido é desfeito, toda a inteligência dividida em diversos estudos se confunde e enfraquece.” A frase, distante no tempo, soava absurdamente atual, quase um lamento que, pensei, ecoava pelos corredores silenciosos de tantas escolas Brasil afora.

Ao longo dos meus anos como professor, testemunhei de perto como essa fragmentação imposta de cima para baixo pode transformar colegas em adversários velados. Já vi professores de Redação torcerem o nariz para os de Gramática, como se disputassem um território sagrado, como se a vírgula fosse inimiga da ideia que a precede, como se a linguagem pudesse florescer sem forma, ou a forma, existir sem o conteúdo que a habita. Uma guerra fria sutil, mas corrosiva, se instala nas salas dos professores, onde o que deveria ser parceria e complementaridade se transforma, paradoxalmente, em concorrência, tudo isso em nome de uma suposta "pedagogia" fragmentada.

Mas será que reside mesmo alguma lógica pedagógica genuína por trás dessa cisão contínua? Ou será, como o cinismo dos anos me ensinou a suspeitar, apenas uma forma eficaz de manter o sistema inchado e funcional para suas próprias engrenagens burocráticas? Quando se cria uma disciplina para cada fragmento minúsculo do conhecimento, multiplicam-se cargos, multiplicam-se especializações cada vez mais estreitas, multiplicam-se planejamentos, reuniões e relatórios — e, com isso, justificam-se empregos, mesmo que à custa da coesão do saber e da clareza para o aluno. Um sacerdócio que, em sua essência, deveria ser dedicado integralmente à formação humana em sua plenitude, torna-se, aos poucos, apenas mais um cargo a ser protegido burocraticamente, uma fatia de um bolo cada vez mais dividido. E assim, ironicamente, o analfabetismo, esse fantasma que já deveria ter sido exorcizado do nosso país há muito, resiste em mutações sucessivas, como se alguém, em algum lugar, tivesse um interesse obscuro na sua permanência, na "criação de voltas" que retroalimentam o próprio sistema.

É nesse cenário de retalhamento que surgem aberrações curriculares com nomenclaturas tão vazias quanto confusas: “Tópico de Língua Portuguesa”, “Tópico de Educação Física”. Termos que, em sua aparente modernidade, apenas diluem o conhecimento em fragmentos desconectados, dificultando ainda mais para o estudante — e para o próprio professor — a visão do todo, a compreensão das conexões entre as áreas do saber. O estudante, diante dessas divisões artificiais, perde o fio da meada, e o professor, reduzido a especialista de uma parte da parte, já não consegue dialogar plenamente com o restante da linguagem, com o restante do currículo, com o restante da vida do aluno.

Essa lógica implacável da divisão, da fragmentação, me remete a uma estratégia ancestral, cruel e eficaz, consagrada em tempos de guerra e dominação: o “dividir para conquistar” — o "divide et impera" que, segundo se conta, Júlio César já utilizava nas Gálias, promovendo alianças com tribos rivais para enfraquecer o inimigo comum e manter o controle. O princípio é simples: fracionar grandes blocos de força — sejam eles povos, exércitos ou áreas do saber — para impedir sua coesão, sua capacidade de organização e reação conjunta. Em política e sociologia, isso se traduz no controle de grupos que, separados e especializados em fatias cada vez menores, perdem a visão do todo e, com ela, a capacidade de contestar ou propor uma alternativa unificada. Na educação, temo que o mesmo princípio esteja operando silenciosamente, por vezes de forma não intencional, outras nem tanto: fragmenta-se o conhecimento em tópicos e especialidades, fragiliza-se o pensamento crítico que surge da conexão entre saberes, e o controle — o controle sobre o processo, sobre a avaliação, sobre o próprio futuro — permanece, não se sabe bem com quem, mas certamente longe das mãos de quem aprende e de quem ensina na linha de frente. Nesse contexto de confusão e retalhamento, a escola, em vez de formar indivíduos íntegros e capazes de ligar os pontos, dispersa saberes. Em vez de integrar experiências e conhecimentos, compartimenta vidas em caixinhas curriculares. E diante dessa Babel pedagógica, onde ninguém parece saber ao certo qual é sua função primordial — nem o aluno, nem o professor, nem a família que tenta acompanhar —, não é de se estranhar que movimentos como o homeschooling ganhem força, expressando, talvez em sua radicalidade, uma profunda desconfiança de que a escola, em seu formato atual, já não cumpre seu papel essencial com a clareza e a integralidade necessárias.

Ao final daquela segunda-feira, recolhi meus papéis da mesa, desliguei o ventilador barulhento da sala dos professores e fui embora, com uma pergunta martelando insistentemente na cabeça: que futuro estamos, de fato, construindo quando separamos o que, na vida real, só faz sentido quando unido? A inteligência, a verdadeira compreensão do mundo, não se fortalece quando esquartejada em fragmentos desconexos. Ela floresce no encontro entre as áreas do saber, na conexão entre a teoria e a prática, na totalidade de uma mente que vê o mundo como um organismo vivo e interdependente.

Se quisermos reinventar a escola — e a urgência me diz que precisamos, e muito —, que essa reinvenção comece por unir o que arbitrariamente separaram. Que se inspire na sabedoria de ouvir quem vive o dia a dia entre a lousa e o coração dos alunos. Que a caneta que escreve os currículos se inspire na sabedoria que integra, que conecta, que busca a totalidade, não na estratégia fria que divide para fragilizar. Porque só haverá transformação verdadeira na educação, só haverá um salto qualitativo em nosso desenvolvimento, quando o saber for tratado como um organismo vivo, indivisível, pulsante de significado. E talvez aí, enfim, possamos começar a escrever um novo capítulo em nossa história — um onde o analfabetismo seja apenas uma memória distante nos livros de história, e não um fantasma reciclado e mantido vivo em cada nova geração por um sistema que se beneficia do caos.



Como seu professor de Sociologia, estive pensando profundamente sobre as estruturas e dinâmicas sociais que moldam (ou fragmentam) o ambiente escolar e o próprio conhecimento. Então preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos esses pontos:


1. O texto critica a divisão do ensino em partes ("Gramática", "Redação", "Tópicos") como uma forma de "esquartejar o saber". Sob a perspectiva da Sociologia da Educação, como a organização e a divisão do conhecimento no currículo escolar podem refletir ou influenciar a forma como a sociedade entende e valoriza diferentes tipos de saber?

2. A crônica sugere que a fragmentação curricular pode estar ligada à "arte de dividir para enfraquecer" e a interesses burocráticos ou de poder. Como a Sociologia analisa as relações de poder dentro das instituições (como a secretaria de educação e a escola) e de que forma essas relações podem impactar as decisões sobre o que e como se ensina?

3. O narrador observa que a fragmentação transforma professores em "adversários" em vez de parceiros. De que maneira a estrutura e a organização do trabalho em equipe ou por áreas dentro de uma instituição podem afetar as relações sociais e a colaboração entre os profissionais?

4. O texto menciona a persistência do analfabetismo e levanta a hipótese de que o próprio "sistema" pode, de alguma forma, perpetuar problemas sociais. Como a Sociologia estuda a complexidade dos sistemas sociais e por que a resolução de certos problemas sociais pode ser desafiadora, mesmo com o aparente investimento e organização?

5. A crônica usa a metáfora da "Babel pedagógica" e questiona como construir um futuro unindo o que foi separado. Como a Sociologia vê a importância da coesão social e da integração de diferentes saberes e perspectivas para o desenvolvimento de indivíduos e para a própria sociedade?

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sábado, 21 de maio de 2022

COLEÇÃO 78 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire). "Um pensamento, quando é escrito, é menos opressor, embora às vezes se comporte como um tumor maligno: mesmo se extirpado ou arrancado, volta a desenvolver-se, tornando-se pior do que antes." —Vladimir Nabokov


 

COLEÇÃO 78 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 A decadência da autoridade escolar transformou o professor em igual do aluno, e o respeito em suspeita: já não há hierarquia, apenas o reflexo arrogante do “se ele pode, eu também posso”.

2 Quando o dinheiro se torna o novo deus, o amor vira comércio, a inteligência perde valor e o mestre é reduzido a herege diante dos fanatismos que tomam o lugar do pensamento.

3 Do mendigo ao cientista, do tolo ao terraplanista, tudo revela a mesma ironia: o mundo gira em torno de confusões que insistimos em chamar de lógica.

4 Quando o ego se torna sentido e o amor próprio, uma forma de fé, o homem descobre em si o milagre e o demônio que o sustentam.

5 O fim do mundo não virá pela maldade, mas pelo dia em que o homem chamará sua própria destruição de ato de amor divino.

6 Quando a burocracia ensina o mestre a dar aula, a educação morre sufocada entre carimbos e correções que servem mais ao controle que ao saber.

7 Na escola onde o aluno é cliente e o professor, réu, a disciplina é apenas a máscara do medo e a educação, um comércio de aparências.

8 Na lógica do desejo, o amor vira mercado: o que se julga dono é escravo, e o que consome também se vende.

9 Na guerra fria dos sexos, onde a igualdade virou suspeita e o olhar é já uma culpa, o homem prefere ser menor a arriscar a paridade que o condena.

10 Quando o bem público vira brinquedo de quem se crê credor do mundo, a sala de aula congela, a autoridade derrete e o país elege o reflexo de seu próprio vício pelo gratuito.

11 Se os lírios seguem a ordem e o pássaro nunca cai, mas o homem despenca atrás de modas e ruídos, talvez Deus cuide mais do que obedece do que do que se julga superior à própria natureza.

12 Na caverna escolar, onde o uniforme acorrenta mais que as sombras, a luz do mestre não liberta; incomoda a ponto de fazerem dele o inimigo a ser morto.

13 Quem apaga o autor não rouba só um nome, mas revela o veneno com que inveja aquilo que não pode criar.

14 Na escola que reza unida mas desconfia em silêncio, a oração é gesto vazio e as mãos dadas apenas o ritual que tenta encobrir o abismo entre todos.

15 Quando a pressa do sistema vale mais que a vida, a escola vira altar de riscos e a fé no Estado cede lugar ao desejo cínico de que só o caos resolva o próprio caos.

16 Viver é acolher sol e tempestade, luz e abismo, porque a existência só se cumpre quando aceitamos o universo inteiro dentro de nós.

17 Estamos todos perdidos; e lembrar disso é a única lucidez que ainda nos resta.

18 A religião não consola; apenas aquieta, mantendo a multidão em silêncio enquanto o mundo segue igual.

19 Quando um lado se perde na própria miséria, o outro apenas reflete o mesmo vício; nenhum desequilíbrio nasce sozinho.

20 O riso abre portas porque desarma o medo: quem faz alguém sorrir não domina, mas conquista pela leveza que inspira confiança.

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sábado, 14 de maio de 2022

Coleção 77 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 77 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 A hipocrisia social transforma o elogio em assédio conforme o rosto e o bolso de quem o diz, exaltando o belo e o rico enquanto silencia o feio e o pobre, que, como um peixe fora d’água, já não encontra lugar no mundo que adora a aparência.

2 Quando a autoridade do saber é desarmada pelo medo e pela impunidade, o professor, que deveria guiar; torna-se refém de um sistema onde a força cala o intelecto e a indisciplina vence a educação.

3 Na paternidade emprestada do padrasto, todo gesto é culpa: o afeto soa suspeito, a distância parece frieza, e só o perverso encontra lucro onde o amor é sempre mal interpretado.

4 Na selva social que despreza o saber, o professor sobrevive mascarado; não por vaidade, mas por instinto; disfarçando-se para resistir à violência e à indiferença de um mundo que o tornou espécie em extinção.

5 A religião, nascida do pacto entre o esperto e o ingênuo, corrompeu lar e escola, trocando o saber pela fé cega e provando, em dois milênios de preces, que multiplicar templos não é o mesmo que evoluir o homem.

6 Entre a fé que censura e a escola que silencia, o pensamento livre agoniza; e o professor, cercado por dogmas e diplomas, descobre que tanto o púlpito quanto a lousa servem ao mesmo senhor: o controle das mentes.

7 Quando tudo se torna fácil e gratuito, o caráter se atrofia; e a educação, privada do esforço que forma o espírito, colhe gerações fortes em direitos, mas fracas em vontade.

8 Na escola convertida em campo de tensão, onde mestres e alunos se temem, o silêncio do Dia do Professor revela não só a ingratidão dos outros, mas o fracasso da própria classe em merecer celebração.

9 Entre o amor livre e o matrimônio possessivo, o adultério nasce como fruto do egoísmo que confunde afeto com propriedade, enquanto a prostituição, assumida e regulada, revela-se menos pecaminosa que o amor enjaulado pelo cartório.

10 Nas redes sociais, entre os que pensam e os que apenas postam, a escrita revela o abismo entre o saber e o ruído; e ao bom leitor resta a solidão de compreender demais num mundo que lê de menos.

11 A humanidade caminha para o próprio fim não por catástrofe externa, mas por confusão interna; ao humanizar os animais e bestializar-se, perde o instinto de amar e prepara-se para devorar a si mesma.

12 Quem cospe no prato que o sustenta é capaz de envenenar o que oferece; por isso, até a caridade perde o gosto quando nasce de mãos impuras.

13 Na escola que teme o “decoreba”, o saber escapa como peixe escaldado; pois, sem a repetição que fixa, o aprendizado morre na primeira isca esquecida.

14 Na feira da fé, o dinheiro compra tanto o prazer quanto a salvação; e, ao fim, quem pagou por Deus ou por desejo descobre o mesmo saldo: o nada.

15 O professor que recusa ser fantoche dos indisciplinados torna-se inimigo dos medíocres; mas é melhor ser odiado pela verdade do que amado pela pedagogia do fracasso.

16 O elogio é o veneno mais doce: alimenta a vaidade dos fracos, testa a humildade dos fortes e, por isso, só o sábio desconfia quando o aplaudem.

17 Na escola que desconfia de quem ensina, até o sinal do Wi-Fi vira instrumento de controle; prova de que o medo do pensamento livre vale mais que a própria educação.

18 Na escola que pune a excelência e recompensa a submissão, o idealismo morre de fome; e só sobrevive quem troca o magistério pelo simples ofício de ganhar o pão.

19 A infelicidade não depende do tamanho do balde, mas do quanto falta para enchê-lo; sofre igual quem deseja muito e quem carece do pouco que lhe falta.

20 O amor não é o remédio das feridas, mas a recompensa de quem já aprendeu a curá-las sozinho.

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sábado, 7 de maio de 2022

Coleção 76 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 

Coleção 76 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 A prostituição, como qualquer trabalho, é a troca legítima de tempo, corpo e habilidade por sustento; condená-la revela mais a hipocrisia social e religiosa do que uma verdadeira defesa da moral, pois onde há demanda, a marginalização apenas perpetua a exploração e nega direitos que a legalização poderia garantir.

2 A reputação, outrora símbolo de virtude, tornou-se um artifício de sobrevivência: quem não tem riqueza precisa comprar aceitação com gentileza, pois, em um mundo que valoriza aparência e utilidade, o caráter serve menos à moral que à conveniência dos que julgam.

3 A rebeldia juvenil, disfarçada de indiferença, revela uma resistência à instrução que se manifesta no corpo e no olhar; enquanto os jovens desprezam o saber por considerá-lo antiquado, o professor persiste, não por glória, mas por dever, e nessa teimosa fidelidade ao ofício encontra a prova de que ainda merece existir.

4 A enfermidade e a pobreza desnudam a fragilidade dos vínculos humanos, revelando que a maioria das relações se sustenta no interesse; quando o bolso esvazia, a lealdade desaparece, e resta ao desiludido fingir autossuficiência para disfarçar o abandono que a miséria expõe.

5 A falsa erudição se revela na incapacidade de sustentar ideias sob crítica; nas arenas virtuais, onde a ignorância se disfarça de autoridade, quem questiona é punido, provando que a sabedoria não está em impor opiniões, mas em submeter o próprio pensamento ao exame que liberta do autoengano.

6 Toda exposição de ideias atrai inimigos, e medir-se por eles é reconhecer o valor do próprio pensamento; contudo, quando a incompreensão e a dor se acumulam, a ausência torna-se refúgio e castigo; um silêncio que separa os que aprendem dos que apenas observam, pois as pérolas do espírito não se lançam aos que não sabem vê-las brilhar.

7 Contra o narcisismo disfarçado de autoajuda, o pensamento proclama a humildade como forma de lucidez: reconhecer-se pequeno, esperar o pior e agir em silêncio é o antídoto contra a ilusão de grandeza que faz do homem um tolo satisfeito com sua própria mentira.

8 A rebeldia juvenil nasce do ressentimento por uma infância perdida e transforma-se em vingança disfarçada de liberdade; quem aprendeu a brincar com o pouco e em paz não precisa usar os outros como brinquedos, pois a verdadeira maturidade vem de quem nunca precisou ferir para se sentir vivo.

9 A celebração da consciência negra, esvaziada de propósito, torna-se símbolo de uma escravidão moderna; a da ociosidade e da desculpa, pois, sob o disfarce das causas coletivas, Vê-se apenas a fuga individual da responsabilidade e o culto à própria impotência.

10 O mal espalha-se com a naturalidade de uma doença, enquanto o bem exige esforço e consciência; quem convive com o vício aprende seus gestos, pois o pecado é sedutor e fiel à própria natureza, ao passo que a virtude, rara e silenciosa, é o único escudo que dispensa o medo da morte.

11 A escola, que deveria ser refúgio de saber, tornou-se território de hostilidade, onde a experiência incomoda e o mérito envelhece; ali, o professor veterano descobre que décadas de serviço valem menos que a conveniência dos medíocres, e que o reconhecimento só é dado a quem nada ameaça.

12 A Bíblia, tida como Palavra de Deus, revela-se espelho do leitor: quanto mais o homem tenta “clareá-la”, mais a transforma em suas próprias palavras; assim, o sagrado não se perde no texto, mas na ignorância de quem o interpreta sem sabedoria.

13 A doença revela o que somos: nela, o corpo fraqueja para que o espírito se prove; e, na solidão, descobre-se que amar sem possuir é a forma mais pura de caridade. Pois o bem não está no reconhecimento alheio, mas na intenção silenciosa; e é por isso que o céu se enche dos que agiram por respeito, não dos que esperaram gratidão.

14 A mediocridade das massas teme a luz da inteligência e, por isso, apaga quem brilha; na escola e na vida, os melhores são punidos por não se dobrarem ao comum, tornando-se minoria oprimida num mundo que confunde igualdade com nivelamento por baixo.

15 O cinema, exaltado como arte popular, tornou-se espelho da degradação moral: alimenta a ilusão dos acorrentados da caverna, que tomam sombras por cultura, enquanto a verdadeira elevação; intelectual, ética e espiritual, se perde num mundo que confunde prazer com valor e espetáculo com sabedoria.

16 A fé, corrompida pelo comércio e pela arrogância dos que dizem servir a Deus, perde seu sentido quando o homem percebe que existir basta, e que nem ele precisa de Deus, nem Deus dele — pois a verdadeira descrença nasce não da dúvida, mas da decepção com os que fingem crer.

17 O afeto humano raramente é puro: o sucesso e o dinheiro reconciliam o que o amor não sustenta, pois, no fim, todos gostam de quem oferece ganhos; e poucos amam sem receber nada em troca.

18 A autoridade da coordenadora revela-se ilusória: domina a teoria, mas foge da prática, ditando métodos que ela mesma é incapaz de aplicar; prova de que, na escola, o poder muitas vezes se sustenta mais na burocracia que no saber.

19 O egoísmo disfarçado de hábito revela-se nas reuniões onde cada um ocupa mais espaço do que precisa; ali, até as bolsas têm assento, enquanto o respeito coletivo permanece de pé; sinal de que a convivência profissional cedeu lugar à vaidade e à falta de consideração.

20 A escola vangloria-se dos que triunfam sem ela, celebrando como mérito próprio o sucesso que a desmente; e, no ritmo dessa ironia, chegará o dia em que bastará ser poeta para receber um diploma; prova de que o ensino se tornará homenagem ao acaso, não à educação.

sábado, 30 de abril de 2022

Coleção 75 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 75 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 O professor, frustrado com a perda de autoridade diante de alunos que confundem igualdade com arrogância, ironiza a máxima de Paulo Freire e vê na indisciplina deles o reflexo de um sistema educacional corrompido pela burocracia e pela inveja; afinal, “o osso é doce”; e poucos aceitam largar o conforto da ignorância para saborear o amargo do verdadeiro saber.

2 Entre o “ENEM” do esforço e o “ah, nem” da distração digital, denuncia-se a superficialidade das leituras inúteis que sufocam a reflexão e empobrecem a alma, lembrando que vale mais ler pouco, mas com profundidade, do que consumir muito sem aprender nada.

3 Em meio a uma juventude que confunde ouro com valor e fertilidade com virtude, denuncia-se a ostentação vazia que esconde a pobreza moral, lembrando que a verdadeira grandeza nasce da sabedoria herdada e da obediência a um pai piedoso; pois só o caráter, e não a aparência, resiste ao tempo e às tentações humanas.

4 Critica-se a rejeição à internet como sintoma de ignorância disfarçada de prudência, afirmando que, em tempos de saber compartilhado, evitar o mundo digital revela não virtude, mas incapacidade; pois quem teme a rede demonstra não dominar nem a tecnologia nem o pensamento que dela emerge.

5 Lamenta-se a domesticação do poder político, defendendo que um verdadeiro líder; como o leão de Maquiavel, deveria ser temido e respeitado, não submisso às formalidades democráticas; pois, onde a autoridade se fragiliza em gestos e justificativas, o mal encontra espaço para reinar sob o disfarce do “jeitinho” nacional.

6 Denuncia-se a arrogância dos que falam mais do que ouvem, vendo na pressa de responder sem compreender a prova maior da ignorância moderna; pois quem escreve sem escutar transforma a palavra em ruído e a comunicação em espelho de sua própria confusão interior.

7 Contrapõe-se o falso professor, movido pelo lucro e pela vaidade, ao verdadeiro mestre, guiado pela justiça e pelo amor ao saber, afirmando que apenas este, fiel à vocação e à elevação do aluno, transforma o amargo do ofício em doçura; enquanto aquele, escravo do aplauso e do salário, cava a própria ruína.

8 Denuncia-se a hipocrisia de uma sociedade que se diz moral e religiosa, mas lucra com o vício e fecha os olhos ao crime, mostrando que a fé, quando serva do interesse, não purifica; pois nem a religião mais fervorosa impediu que o mal florescesse onde o amor deveria reinar.

9 Reflete-se sobre a relatividade da beleza e da pureza, mostrando que a obsessão por limpeza e perfeição revela mais egoísmo que virtude, pois, ao tentar padronizar o belo, a sociedade apaga as diferenças; e, nessa ânsia de parecer limpa e ideal, torna-se paradoxalmente a mais impura das criações.

10 Questionando o culto à limpeza e à aparência, o pensamento usa o porco; nem intrinsecamente feio nem doente, para afirmar que a obsessão higiênica, quando patológica ou prejudicial, vira egoísmo, e que a humanidade, embora possua a mesma "química" do belo, se torna feia ao transformar a estética em medição e padronização, onde a ditadura social do gosto dissolve as diferenças.

11 Reconhece-se que todo caos externo reflete a desordem interior, afirmando que ninguém é vítima do acaso, a solidão, o fracasso e a pobreza são espelhos do próprio caráter, e negar isso com frases de autoajuda é apenas perpetuar a ilusão que impede a verdadeira mudança.

12 Transforma-se o câncer em metáfora de revelação e purificação, vendo na doença o impulso para romper com tudo o que é estagnado ou indiferente; pois, diante da urgência de viver, a neutralidade torna-se cumplicidade, e afastar-se dos passivos é um ato de defesa da própria energia e da saúde do espírito.

13 Denuncia-se a hipocrisia que silencia o debate sobre sexualidade nas escolas, mostrando que, enquanto a mídia educa sem pudor, o professor é censurado por medo e moralismo; e que, sob o domínio do mercado e da fé disfarçada de virtude, o medo substituiu a ética tornando o silêncio a maior forma de conivência.

14 Afirma-se que o inferno, ao punir, humaniza, enquanto a igreja, ao simplificar Deus, O profana; tornando-se o céu dos condenados e o inferno do divino; pois bem e mal se confundem no uso que a razão lhes dá, e apenas o tolo, preso à ignorância, continua com a cabeça no buraco, incapaz de ver a verdade.

15 Sustenta-se que toda imposição moral revela carência e frustração, pois quem dita regras tenta compensar o que lhe falta; por isso, ninguém deve ser modelo para ninguém; afinal, até o conselho gratuito, como o afeto sem desejo, carece de valor quando não nasce da troca justa e consciente.

16 Denuncia-se a moralidade fingida dos fanáticos, que pregam virtude enquanto ocultam o vício, lembrando que a verdadeira imoralidade não está em quem vive com transparência, mas na inveja dos que disfarçam seus desejos sob o manto da fé e da correção.

17 Afirma-se que o saber habita até o inconsciente e se revela na fala, mas que a existência é finita e sem herança: a árvore morre em si mesma, enquanto a semente, autônoma, carrega outro destino; pois nenhum ser gera continuidade, apenas variações efêmeras de uma vida que nunca se repete.

18 Denuncia-se a falsidade profissional disfarçada de atendimento, mostrando que quem não domina o próprio ofício nem assume seu papel trai a função que representa; pois servir sem preparo ou comprometimento é a forma mais comum de não “vestir a camisa” e de fraudar o valor do trabalho.

19 Propõe-se que o excesso de proteção às mulheres, ao invés de equilibrar os gêneros, acabou invertendo seus papéis, enfraquecendo o modelo heteronormativo e revelando a ironia de uma moral que, ao tentar conter o desejo, acabou por reinventá-lo fora dos limites que ela mesma impôs.

20 Ironiza-se a fé hipócrita ao afirmar que um Deus moldado por sentimentos humanos só age conforme a pureza de quem O invoca; e que toda oração nascida do ódio nada cria, pois revela mais o limite do orador do que o poder do divino.

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