"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Coleção 18 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


Pensamentos

Coleção 18 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

1 Se o sofrimento fosse, por si só, benéfico, não deixaria traumas; marcas patológicas que a própria medicina reconhece como doença. A existência dessas feridas psicológicas desmente a crença de que a dor sempre enobrece, revelando que nem todo sofrimento conduz ao crescimento.

2 Sob o rótulo de “pátria educadora”, esconde-se um sistema em ruínas, onde professores se tornam cúmplices de aprovações fáceis e alunos se habituam a favores em vez de mérito; uma inversão de valores que, sob aparência de progresso, dissolve o propósito da educação.

3 A pipa com linha cortante, capaz de ferir um motoqueiro trabalhador, simboliza a malícia infantil que reflete a ausência de valores e a negligência dos pais. A maldade dos filhos é, em essência, a herança moral dos que os criaram.

4 Se a morte triunfa sempre sobre a vida, é porque não é mera ausência, mas força ativa que a combate e vence. Não é apenas o fim, mas a adversária permanente da existência.

5 “O Diabo é adotador da morte?”; a provocação sugere que o mal se apropria do fim da vida como força ativa. Os vivos julgam os mortos com os critérios da existência; os mortos, por sua vez, julgam os vivos à luz de um mistério que só a morte conhece. Cada julgamento é prisioneiro da experiência de quem o emite.

6 O bem é ato singular, nascido da escolha consciente; o mal, possibilidade difusa, presente em todos os lugares. Por isso, o acerto exige um único e árduo caminho, enquanto o erro se abre em inúmeras vias fáceis de trilhar.

7 A beleza é uma percepção subjetiva, moldada pela condição do observador. “Olhos desbotados” simbolizam uma visão marcada pela experiência, que reconhece beleza fora dos padrões convencionais. Assim, o belo não é universal, mas espelho da singular perspectiva de cada um.

8 Vida e morte se definem em dependência mútua, cada uma limitada pela outra. Enquanto vivemos, nossa compreensão da vida é marcada pela sombra da morte; na morte, o entendimento é restrito ao que a vida permitiu. Essa indistinção cria um bloqueio ao pleno conhecimento de ambos os estados.

9 Deus, sendo infinito, não pode caber em nenhum “recipiente”, pois o infinito transcende toda limitação espacial ou conceitual. Tentar aprisioná-lo em uma “coisa dentro de outra” é a falha inevitável da compreensão humana diante do divino.

10 Vida e morte são faces da mesma moeda, interligadas e inseparáveis. Se a vida jamais se completa, a morte também é incompleta; um ciclo contínuo onde ambos coexistem na mesma insuficiência existencial.

11 Vida e morte não são opostos absolutos, mas estados interdependentes. A ressurreição depende de uma “mente predita”, mostrando que nunca se está totalmente morto ou vivo. A morte habita a vida como finitude, e a vida persiste na morte como promessa ou essência que transcende.

12 Assim como um paciente não pode prescrever seu próprio remédio, o aluno não deve escolher o que aprender, pois lhe falta o conhecimento técnico para tal decisão. Essa falsa autonomia nasce do prazer egoísta e imediato, que despreza o bem maior e ameaça a integridade da educação.

13 Quando as notas estão definidas, professores e alunos perdem o interesse, e as aulas finais tornam-se vazias. O esforço dos poucos assíduos é uma “não aula”; um benefício que, multiplicado pela ausência geral, resulta em zero.

14 O movimento é a única constante, sustentado pela alternância de forças opostas que se alimentam mutuamente. Deus, então, é o artífice que equilibra essas forças na medida exata, mantendo a eterna dinâmica da existência.

15 Livre-arbítrio e predestinação, embora opostos teológicos, convergem na essência única de cada indivíduo; suas “digitais invariáveis”. É essa identidade interior que reafirma o que cada um quer crer, tornando a escolha uma expressão pessoal e imutável.

16 A educação escolar não é obra divina nem demoníaca, mas um sistema movido pela cobiça humana. Seus participantes defendem suas causas não por ideais, mas por autopreservação; o emprego na escola é um ofício mercenário, onde prevalece o interesse pessoal sobre qualquer propósito maior.

17 O fracasso financeiro, antes visto como maldição pessoal, revela-se uma consequência da ineficácia em atender à clientela. A rejeição; até da gratidão, expõe a amarga realidade: a verdadeira maldição é realizar um trabalho que o mercado rejeita, pois o valor do ofício é, no fim, definido pelos que o consomem.

18 Vida e morte são páreos idôneos, ambos limitados e transitórios. Se a vida não é eterna, a morte também não o é; sonhos vêm e vão, e a morte, longe de ser fim absoluto, integra um ciclo que também se encerra.

19 A loucura não é concessão divina, pois quem recebe uma bênção não carrega sequelas ruins. Todos são responsáveis por si mesmos; as leis naturais impõem consequências inflexíveis, sem exceção para a saúde mental.

20 Os mortos não louvam porque estão separados do mundo dos vivos; uma desconexão que se reflete na ordem para que os vivos cuidem dos seus e na ideia de que “vivos comem os vivos”. A morte é isolamento absoluto, onde os rituais e preocupações da vida perdem sentido.

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sexta-feira, 8 de maio de 2020

Coleção 17 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



Pensamentos

Coleção 17 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Entre a estima e a rivalidade, a verdade se turva. Um aluno visto por dois professores revela percepções opostas, não por fatos incontestáveis, mas por afetos ou disputas veladas. O juízo, nesse jogo, deixa de ser medida objetiva e torna-se reflexo das inclinações humanas; ora suavizado pela simpatia, ora distorcido pela competição. Afinal, o que chamamos de avaliação justa talvez não passe de um espelho inclinado pela mão de quem observa.

2 Há elogios que, ao nascerem tortos, ferem quem pretendiam exaltar. Ao admirar a habilidade de Claudeci para lidar com a “bagunça”, a diretora parecia reconhecer mérito; mas o acréscimo de um “não consigo!” deslocou o louvor para a própria limitação, insinuando crítica velada ao ambiente. Assim, o elogio se converteu em espelho: refletiu menos a grandeza de Claudeci e mais a fragilidade de quem o proferiu.

3 No final do semestre, os professores são compelidos a assumir o papel de atores ou milagreiros, realizando uma “pseudocura” para que os alunos permaneçam na escola. Essa estratégia superficial visa apenas manter o número de matrículas ou garantir a conclusão das etapas, sem realmente atender às necessidades profundas da aprendizagem. Assim, o sistema educacional privilegia a quantidade em detrimento da qualidade e do verdadeiro desenvolvimento do aluno.

4 A indisciplina estudantil, ao manter alunos fora da sala, gera uma reprimenda ao professor, que é responsabilizado pela direção. Em seguida, a coordenadora impõe aulas extras para compensar o conteúdo perdido. Assim, a desordem dos alunos desencadeia uma cadeia de pressões administrativas que recai sobre o docente, exigindo dele a reparação do aprendizado ausente.

5 Embora ninguém seja verdadeiramente insubstituível em função, há perdas que transcendem a mera substituição. O vazio gerado pela ausência de algo estimado; seja objeto ou experiência; revela a singularidade do valor emocional que lhes conferimos, tornando-os, para o indivíduo, irremediavelmente únicos.

6 O Brasil vive um tempo de motins e instabilidade, um desvio abrupto do passado que já não encontra seu lugar. A população nas ruas, clamando por comida e justiça, revela uma crise que desnuda a felicidade antes despercebida; “era feliz nem sabia”, expressando a amarga nostalgia de um equilíbrio perdido.

7 O futuro só se antecipa pela sabedoria do passado, pois a história repete seus padrões. Assim, o conhecimento das experiências vividas é a colheita infalível que nos orienta, revelando que erros e acertos tendem a se renovar, moldando o que há de vir.

8 Ser “globalizado”, disperso em muitos saberes superficiais; tende a tornar o indivíduo menos valorizado. A verdadeira relevância nasce da especialização profunda, do ponto forte que o distingue, pois é essa singularidade que gera reconhecimento e demanda no mundo.

9 Se os “loucos” podem amar profundamente, a loucura é a força vital do afeto. O que a sociedade vê como desvio é, na verdade, o motor da conexão emocional, unindo os “tantãs” na singularidade compartilhada, onde a excentricidade gera prazer e cumplicidade em suas ações insólitas.

10 A verdadeira parceria se funda na colaboração, jamais na inimizade. “Só doença gera doença” revela que hostilidade e conflito são autodestrutivos, perpetuando um ciclo vicioso que destrói a relação. Em uma parceria genuína, ferir o outro é ferir a si mesmo.

11 Submeter-se a líderes orgulhosos e autoritários contraria os princípios do desenvolvimento. O orgulho sufoca liberdade, inovação e colaboração, essenciais ao crescimento. Assim, a obediência cega gera estagnação, onde “ninguém sai do chão” e o avanço se torna impossível.

12 A geração atual, a “raça de lente”; é a mais titulada, porém também a mais criticada. Rotulada cegamente de “rebelde sem causa”, ela carrega um vasto potencial tecnológico, mas falha em alcançar a excelência ou a sabedoria, revelando a desilusão de um progresso que não gera harmonia nem benefício social.

13 Minha formação não visou dominar a classe, mas o conteúdo. A evasão estudantil não é falha do aluno, dizem, mas consequência da atuação docente. É o professor quem, pela didática ou postura, pode afastar o aluno, alguns assumem a responsabilidade pelo engajamento.

14 Reprovar um aluno não é ato simples; transforma o professor em inimigo tanto do estudante quanto da direção, que vê na reprovação um problema institucional. Essa decisão, longe de ser mera avaliação, carrega tensões sociais e administrativas, revelando o conflito oculto na educação.

15 É injusto que o professor dedique um terço da aula a controlar a desordem, enquanto os alunos dispostos a aprender perdem tempo precioso. O conflito causado por poucos rouba a oportunidade de aprendizado dos muitos, revelando uma desigualdade silenciosa no espaço escolar.

16 Bandidos deveriam receber a mesma crueldade que impõem às vítimas, pois negar essa retribuição equivale a conivência com o crime. A justiça, para ser justa, exige resposta proporcional; sem ela, a sociedade torna-se cúmplice dos agressores.

17 Comover um bandido é esforço vão, pois o crime se assemelha a um vício compulsivo, como o fumante que não abandona o hábito apesar dos alertas. Sua motivação transcende apelos morais, enraizando-se numa compulsão que ignora a razão e a consciência.

18 Se as “aves velhas de gaiola”, dóceis, frágeis e boas; cessam de voar e buscar seu alimento, o mundo perde sua vitalidade e equilíbrio moral. A passividade e a dependência desses que representam a bondade ameaçam a proatividade e a força necessária para sustentar a transformação social.

19 A “paz manipulada”, tranquilidade superficial que oculta problemas reais; é nociva por permitir que falhas graves persistam. Alunos aprovados, porém analfabetos, são a prova dessa falsa calmaria que sacrifica o desenvolvimento individual e compromete a sociedade.

20 O aluno que oprime e intimida, sem entender as causas do próprio fracasso, repete um ciclo autodestrutivo bimestre após bimestre. Sem autorreflexão, o desespero crônico se torna inevitável. “Quem ajuda o tolo terá de ajudá-lo novamente” revela a futilidade de esforços diante da estagnação e dependência.

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sábado, 25 de abril de 2020

Coleção 16 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)



pensamentos

Coleção 16 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Perdoar com pressa é apagar a lição antes que seja aprendida; remove-se a consequência, perpetua-se o erro. O perdão ingênuo, longe de curar, alimenta o vício da falta. Assim, a prudência exige que, mesmo ao perdoar, se guarde uma reserva de cautela; não para nutrir rancor, mas para preservar a própria dignidade contra a reincidência.

2 Calar a própria verdade para dizer o que o outro deseja ouvir é uma rendição disfarçada de paz. Sob a pressão, a palavra torna-se moeda de alívio momentâneo, mas o preço é a própria integridade. Assim, a complacência não é harmonia, mas um reflexo da vulnerabilidade que troca autenticidade por trégua efêmera.

3 A apropriação do corpo feminino é a mais vil das posses civis, pois nega a autonomia sob o disfarce da norma. No casamento, essa violência paradoxalmente se reveste de legalidade, revelando a cumplicidade de um sistema que transforma o que deveria ser inviolável em propriedade legitimada.

4 Quem se adapta à própria beleza molda o mundo ao reflexo que vê no espelho. Assim, perdura prisioneiro de uma impressão única, incapaz de perceber que a realidade, além da estética, é feita de mudanças, imperfeições e profundidades que a aparência não alcança.

5 A liberdade sem discernimento pode ser tão letal quanto a repressão. Quem nunca aprendeu a escolher, ao ver-se livre, pode trocar as correntes por uma corda; não para romper amarras, mas para enforcar-se nas próprias decisões.

6 Ao escolher ver o mundo por lentes coloridas, a pessoa transforma a realidade em algo mais belo e inspirador. Crendo que os outros também a percebem assim, fortalece a autoestima e, nutrida por essa confiança, ganha voz para conceituar o mundo e expressar sua visão única sobre ele.

7 Se o Natal é prova de que podemos criar a felicidade, o perdão revela nosso limite: não apagamos a dor. A festa nasce de nossas mãos, mas a ferida, mesmo perdoada, permanece na memória como cicatriz que não se desfaz.

8 A promessa quebrada semeia desconfiança e convida à retaliação. Já a mentira, uma vez dita, exige novas mentiras para sustentar-se, formando um ciclo que preserva apenas a ilusão e o ego, enquanto corrói a verdade.

9 O mundo ensina com anzóis, a escola com ardis; e, por vezes, o inverso. Mas a educação mais profunda nasce da autoaprendizagem, forjada na dor e lapidada pelo sofrimento.

10 Nem sempre a união faz a força; às vezes, apenas une tristezas. Vivo para testemunhar isso e, a Deus, digo: “Cuida-me!”. Não escolhi nascer, mas por isso mesmo quero viver muito; como quem reivindica intensamente a vida que me foi dada.

11 O mundo se suja velozmente, e eu peço perdão por ainda existir neste caos. Porém, mesmo na angústia, persiste em mim um desejo profundo; talvez a última força capaz de resistir e transformar.

12 Sinto-me indispensável, mas sou apenas uma célula que morre para outra nascer. A vida e a educação seguem, renovando-se além de mim, lembrando que nossa importância é finita diante da continuidade do todo.

13 No jogo da existência, peças perdidas não se recuperam; mas a ilusão do fim engana os mortais. Porque, além de cada partida, há sempre uma nova, onde a vida se renova, restaurando o todo mesmo que as peças mudem.

14 Somos instrumentos dos deuses, presos ao destino. Mas se tivéssemos livre arbítrio, escolheríamos cumprir suas vontades — transformando servidão em agência e encontrando valor na própria entrega.

15 Todo revés nasce de um erro evitável, cuja culpa pesa sobre quem podia agir e nada fez. A rudeza; seja aspereza ou negligência; mata, pois destrói o que poderia ser salvo.

16 Na manipulação infantil, a semente da discórdia cresce rápido: incita os pais a confrontar o professor, transformando a inocência em arma contra a autoridade e corroendo o ambiente educativo.

17 Um aluno é herói para um professor e vilão para outro. Essa disparidade questiona a objetividade do julgamento e sugere que a estima de um pode degradar a percepção do outro, revelando os limites da avaliação humana.

18 Um elogio que revela mais sobre o elogiante do que o elogiado. Admirar Claudeci na bagunça é, ao mesmo tempo, confessar a própria incapacidade diante do caos; um reconhecimento velado da dificuldade que mina a intenção original.

19 No fim do semestre, professores viram atores de um milagre vazio, encenando soluções superficiais para segurar alunos. O sistema privilegia números, não aprendizagem, revelando a fragilidade de uma educação que finge curar sem enfrentar o real.

20 A indisciplina que expulsa alunos da sala gera conflitos e responsabiliza o professor. A consequência é a imposição de retrabalho para recuperar o perdido, revelando como o caos de poucos sobrecarrega toda a estrutura escolar.

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domingo, 19 de abril de 2020

Coleção 15 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)




Pensamentos

Coleção 15 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 A educação agoniza no limiar de uma catástrofe anunciada. Não se trata de surpresa, mas da realização trágica das predições feitas por todas as vozes educadoras do passado. O fim, já contido no começo, revela que os alicerces frágeis do sistema carregavam em si a semente da ruína.

2 Quando mestres réus por assédio fecham os olhos para alunos que exibem pornografia em sala, a escola revela sua falência ética: perdeu o direito de educar porque já não tem mais autoridade nem moral para corrigir.

3 Minha conduta foi ridícula; mas foi instinto de defesa. O sofrimento transforma: ou nos eleva à sabedoria, ou nos arrasta à vingança.

4 Só se torna um veraz educador aquele que aceita ver sua dignidade morrer de fome. É o preço de ensinar com verdade num mundo que despreza a lição.

5 O alunado relapso sonha com um emprego, mas não está pronto nem para o trabalho.

6 "A vaidade é o ponto cego da razão; por ela, até sábios se tornam tolos. Nem Deus me manipula assim. Só a sabedoria pode me guiar, não o elogio."

7 Oferecer ensino gratuito a quem não se dedica é um ato de autovulgarização do próprio sistema. Quando o saber é desperdiçado por um espírito vulgar, o investimento se torna um egoísmo sem retorno; uma generosidade estéril que rebaixa o valor da educação e trai a sociedade que a sustenta.

8 A educação brasileira parece correr sem sair do lugar. Multiplicam-se "recuperações", "ressignificações", "EJAs" e pedaladas pedagógicas; mas o essencial permanece intocado. É um esforço exausto que gira em torno de si mesmo, como quem confunde movimento com avanço.

9 Uma forte pretensão de mim mesmo não é vaidade; é devoção à vida. Ao me afirmar com paixão, é como se eu reverenciasse o milagre de estar aqui. E talvez, por gratidão, a vida me devolva essa fidelidade em forma de tempo. Quem ama viver, talvez não vá tão cedo.

10 Compromisso só tem valor quando é mútuo. Cuide-se como a um jardim: ao florescer, as borboletas virão. O que é bom se aproxima de quem vive em plenitude, não de quem implora por atenção.

11 A vida segue um fluxo regido por um equilíbrio sutil: cada bênção chega no instante exato, quando desafios e condições se alinham para recebê-la. Nada é aleatório; há uma harmonia oculta que distribui luz e sombra em justa medida, preservando o sentido da existência.

12 A riqueza, ao libertar tempo, oferece a chance de viver com mais sentido; delegando o que é fardo e abraçando o que traz prazer e propósito. Ter recursos e ainda assim permanecer infeliz é não compreender a essência do privilégio; afinal, rico infeliz é contradição e desperdício de liberdade.

13 Quem tranca portas para manter outros do lado de fora acaba, sem perceber, trancado junto ao seu próprio poder. Ao engaiolar, o dominador se engaiola, preso à vigilância e ao peso de sustentar o controle; descobrindo que sua liberdade se estreita na mesma medida em que restringe a dos outros.

14 A ausência de amor é veneno que corrói a vida; o ódio, paradoxalmente, é o fôlego dos invejosos. Assim, enquanto a falta de um sentimento nobre aniquila, um sentimento destrutivo pode, ironicamente, sustentar.

15 Mexer no que deveria permanecer intocado é semear problemas que não saberemos colher. A curiosidade imprudente abre portas para consequências que excedem nossa compreensão e domínio.

16 Os galhos podem parecer independentes, mas vivem do que as raízes sustentam. Quando elas morrem, todo vigor se esvai por igual, pois a força do todo repousa na solidez de sua base invisível.

17 A mente vagueia, buscando sentido até no ponto amarelo da rodovia, mas a solidão, densa e sufocante, interrompe o pensamento antes que ele floresça, consumindo-lhe o fôlego e a clareza.

18 Todo revés nasce de um erro humano, e peca mais quem tinha o poder de evitar e não o fez. A negligência e a insensibilidade cobram alto preço; rudez mata.

19 O erro perfeito revela uma verdade pela sua coerência intrínseca, enquanto a mentira, sempre imperfeita, nunca alcança a autenticidade do engano fiel. Assim, há uma integridade paradoxal no errado que a falsidade jamais possuirá.

20 Quem me sondou e conheceu escolhe se afastar, rendendo-se à maioria e seus interesses. Assim, tornam-se amigos dos meus inimigos; traindo a autenticidade em nome da conformidade social.

Por Claudeci Andrade

1 A educação agoniza no limiar de uma catástrofe anunciada. Não se trata de surpresa, mas da realização trágica das predições feitas por todas as vozes educadoras do passado. O fim, já contido no começo, revela que os alicerces frágeis do sistema carregavam em si a semente da ruína.

2 Quando mestres réus por assédio fecham os olhos para alunos que exibem pornografia em sala, a escola revela sua falência ética: perdeu o direito de educar porque já não tem mais autoridade nem moral para corrigir.

3 Minha conduta foi ridícula; mas foi instinto de defesa. O sofrimento transforma: ou nos eleva à sabedoria, ou nos arrasta à vingança.

4 Só se torna um veraz educador aquele que aceita ver sua dignidade morrer de fome. É o preço de ensinar com verdade num mundo que despreza a lição.

5 O alunado relapso sonha com um emprego, mas não está pronto nem para o trabalho.

6 "A vaidade é o ponto cego da razão; por ela, até sábios se tornam tolos. Nem Deus me manipula assim. Só a sabedoria pode me guiar, não o elogio."

7 Oferecer ensino gratuito a quem não se dedica é um ato de autovulgarização do próprio sistema. Quando o saber é desperdiçado por um espírito vulgar, o investimento se torna um egoísmo sem retorno; uma generosidade estéril que rebaixa o valor da educação e trai a sociedade que a sustenta.

8 A educação brasileira parece correr sem sair do lugar. Multiplicam-se "recuperações", "ressignificações", "EJAs" e pedaladas pedagógicas; mas o essencial permanece intocado. É um esforço exausto que gira em torno de si mesmo, como quem confunde movimento com avanço.

9 Uma forte pretensão de mim mesmo não é vaidade; é devoção à vida. Ao me afirmar com paixão, é como se eu reverenciasse o milagre de estar aqui. E talvez, por gratidão, a vida me devolva essa fidelidade em forma de tempo. Quem ama viver, talvez não vá tão cedo.

10 Compromisso só tem valor quando é mútuo. Cuide-se como a um jardim: ao florescer, as borboletas virão. O que é bom se aproxima de quem vive em plenitude, não de quem implora por atenção.

11 A vida segue um fluxo regido por um equilíbrio sutil: cada bênção chega no instante exato, quando desafios e condições se alinham para recebê-la. Nada é aleatório; há uma harmonia oculta que distribui luz e sombra em justa medida, preservando o sentido da existência.

12 A riqueza, ao libertar tempo, oferece a chance de viver com mais sentido; delegando o que é fardo e abraçando o que traz prazer e propósito. Ter recursos e ainda assim permanecer infeliz é não compreender a essência do privilégio; afinal, rico infeliz é contradição e desperdício de liberdade.

13 Quem tranca portas para manter outros do lado de fora acaba, sem perceber, trancado junto ao seu próprio poder. Ao engaiolar, o dominador se engaiola, preso à vigilância e ao peso de sustentar o controle; descobrindo que sua liberdade se estreita na mesma medida em que restringe a dos outros.

14 A ausência de amor é veneno que corrói a vida; o ódio, paradoxalmente, é o fôlego dos invejosos. Assim, enquanto a falta de um sentimento nobre aniquila, um sentimento destrutivo pode, ironicamente, sustentar.

15 Mexer no que deveria permanecer intocado é semear problemas que não saberemos colher. A curiosidade imprudente abre portas para consequências que excedem nossa compreensão e domínio.

16 Os galhos podem parecer independentes, mas vivem do que as raízes sustentam. Quando elas morrem, todo vigor se esvai por igual, pois a força do todo repousa na solidez de sua base invisível.

17 A mente vagueia, buscando sentido até no ponto amarelo da rodovia, mas a solidão, densa e sufocante, interrompe o pensamento antes que ele floresça, consumindo-lhe o fôlego e a clareza.

18 Todo revés nasce de um erro humano, e peca mais quem tinha o poder de evitar e não o fez. A negligência e a insensibilidade cobram alto preço; rudez mata.

19 O erro perfeito revela uma verdade pela sua coerência intrínseca, enquanto a mentira, sempre imperfeita, nunca alcança a autenticidade do engano fiel. Assim, há uma integridade paradoxal no errado que a falsidade jamais possuirá.

20 Quem me sondou e conheceu escolhe se afastar, rendendo-se à maioria e seus interesses. Assim, tornam-se amigos dos meus inimigos; traindo a autenticidade em nome da conformidade social.

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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Coleção 14 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)




Pensamentos

Coleção 14 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade


1 A crítica ao "mestre de português" expõe a tragédia de um tempo em que a ignorância se investe de autoridade e a falibilidade humana é usada como espetáculo. O erro, natural ao saber, vira munição para quem nada constrói; apenas deseja envergonhar. Não é busca por correção, mas vaidade ferida que prefere a humilhação à luz. É quando o julgamento deixa de ser ético para tornar-se vingança.

2 Quando o ensino se converte em espetáculo e o pedagogo em vendedor, a educação deixa de formar consciências para apenas cativar plateias. A "venda de ideias" substitui a busca pela verdade, e o brilho da performance ofusca a luz do pensamento. Nesse teatro, o saber se esvazia e o aluno desaprende a pensar.

3 Ao alimentar os pombos todos os dias, impede-se que aprendam a buscar o próprio sustento. Assim também é com o auxílio mal direcionado: sob a aparência de bondade, elimina-se o impulso vital da superação. O benfeitor, iludido, não percebe que perpetua a dependência ao invés de promover a liberdade.

4 Quando não precisam buscar alimento, os pombos esquecem como fazê-lo; e ocupam-se em jogos triviais, como mirar cabeças em voo. A fartura sem esforço gera não só passividade, mas um tipo de soberba lúdica. Também o ser humano, privado do desafio, tende à estagnação: troca o aprendizado pela distração e o esforço pela ilusão de controle.

5 Os que zombam da aula à noite saboreiam, pela manhã, um coffee break farto; não por mérito, mas pela sobra dos pseudocaridosos. Nesse teatro de aparências, a recompensa se afasta do esforço, e a caridade ostentada apenas reforça a desigualdade. A hipocrisia veste o luxo, enquanto o valor real segue desnutrido.

6 Só aprende quem quer aprender. Sem a vontade de viver melhor, o ensino se torna inútil, por mais bem-intencionado que seja. Obediência forçada não é virtude; é submissão sem consciência. O saber verdadeiro nasce da liberdade e do desejo, não da imposição.

7 Se Deus desmancha o que fez ou refaz o que desmanchou, a criação parece comédia; sem rumo e sem gravidade. Nesse vaivém divino, até a ressurreição soa incoerente: que sentido teria o retorno se o sacrifício foi o suicídio perfeito de Cristo? Um ato tão absoluto não combina com um Deus que hesita.

8 Só aprende quem quer; e querer nasce da necessidade de viver melhor. Onde não há esse desejo, o ensino imposto é inútil, pois obediência forçada não é virtude. Na escola pública, muitos alunos não buscam saber, mas lanche e aprovação fácil. A pandemia escancarou essa inversão: aulas suspensas, merenda garantida. Quando a função assistencial se sobrepõe à pedagógica, a escola deixa de formar mentes e passa a distribuir favores; e diplomas sem substância.

9 Agora sou eu quem escreve a redação sobre minhas férias, para mostrar que viajei e amenizar meus sentimentos de lesado. Pedir aos alunos que façam a redação sobre suas férias é proibido; a coordenadora considera o tema ultrapassado. Antigamente, eles competiam para mostrar quem desfrutou melhor. Mas hoje...

10 O sopro do saldo que baforo mal compensa o peso de longos anos letivos e o jugo imposto a distância. Aposentadoria é leite de onça; amarga ilusão de uma recompensa quase impossível, que escapa ao merecimento e reforça a precariedade do trabalhador esquecido.

11 Punir fabricantes por crimes cometidos com seus produtos é tão absurdo quanto exigir que professores refaçam a documentação dos alunos que reprovam por desinteresse. A verdadeira injustiça está em responsabilizar quem oferece recursos quando a falha reside no uso; ou na falta dele; por parte do receptor.

12 Para preservar a paz entre colegas, o professor usa a reprovação não como medida acadêmica, mas como escudo contra a inveja gerada por seu “recesso antecipado”. A justiça pedagógica cede espaço à estratégia de autoproteção em um ambiente de rivalidade velada.

13 A religião criou a angústia existencial ao ligar a morte a promessas e punições eternas, transformando a fé numa farsa que manipula ao negar a legítima opção do nada após a vida. Assim, aprisiona a liberdade do espírito em um teatro de esperanças e temores.

14 Protestar nas ruas, pedindo ao bandido para poupar a vida, é gesto ingênuo diante da violência irracional. A verdadeira paz, então, reside no silêncio, no jejum e na fuga; estratégias de retraimento diante de um mal que não se confronta, apenas se sobrevive.

15 A violência nasce do medo, e a vingança, longe de ser destrutiva, torna-se moeda de troca que encerra a perseguição. A paz, então, não é ausência de conflito, mas seu resultado; uma guerra onde “anjos matam réus” em nome de uma justiça utilitária e implacável.

16 Valorizar demais o parceiro é o prêmio fatal que conduz à traição. A lealdade torna-se castigo, e a amizade entre os traídos nasce da amarga solidariedade forjada na desilusão.

17 Antes a imperfeição da companhia do que a miséria da solidão absoluta. Mesmo mal acompanhado, o convívio é o filé mignon da vida; roer ossos sozinho é privar-se do essencial: a conexão humana.

18 Num mundo dito tolerante, ser “corneado” ultrapassa o sentido original: é condição universal. Traição e decepção são experiências inevitáveis, marcando a desilusão que todos compartilham; seja por parceiros, amigos, instituições ou o sistema.

19 A dor do insulto se ameniza ao reconhecer o agressor como louco. Dar-lhe importância seria loucura mútua; a sanidade reside em não levar a sério o que nasce da irracionalidade.

20 Evitar o esforço é rendição à inércia que atrofia corpo e mente. Melhor correr na chuva do que fugir dela; enfrentar a adversidade é o caminho para a vida, mesmo quando a força falta.

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