"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 27 de setembro de 2009

A VERGONHA DE PROFESSOR (Senti vergonha de ter sentido vergonha!)




A VERGONHA DE PROFESSOR (Senti vergonha de ter sentido vergonha!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há dias em que ser professor é carregar o peso de uma missão inglória. A sala de aula, que deveria ser um espaço de aprendizado e crescimento, tantas vezes se transforma em um palco de embates, julgamentos e frustrações. Ainda assim, há algo que me impede de desistir: a esperança de que, apesar de tudo, a educação pode, sim, ser a ferramenta para transformar vidas.

Recordo-me de uma manhã em que uma aluna pediu para sair da sala. Sem imaginar que essa simples permissão se transformaria em uma acusação no conselho de classe. Lá, disseram que eu havia questionado o que ela faria "no banheiro", porém eu teria perguntado o que ela ia fazer lá fora, algo que sequer sabia aonde iria. Esse episódio me fez repensar até os gestos mais banais, e desde então, adotei um silêncio cauteloso diante de situações semelhantes. Senti vergonha, mas não dela. Vergonha de mim mesmo, por hesitar em exercer minha autoridade com clareza e empatia.

Em outro momento, uma jovem recém-chegada à escola não poupou críticas. “Os professores são fracos; o colégio é ruim”, declarou na secretaria ao pedir transferência. A gestão, em um gesto desesperado para defender a honra da equipe, convocou uma reunião. A aluna deveria justificar suas palavras diante de todos os professores. A pressão foi tanta que ela saiu chorando, deixando no ar um misto de indignação e desconforto. Senti-me dividido. Era impossível ignorar a gravidade das palavras da estudante, mas também não pude deixar de sentir vergonha por termos optado pelo confronto em vez do diálogo.

Os constrangimentos, no entanto, não vêm apenas de alunos ou gestores. Certa vez, em um dia reservado para apenas uma aula, cumpri meu horário, ministrei a disciplina e até apliquei uma prova de uma colega. No dia seguinte, ao conferir o ponto, lá estava o carimbo: "não compareceu". Quando questionei, ouvi que erros assim eram frequentes. A justificativa doeu mais do que a acusação, pois revelava o quanto a negligência havia se tornado comum na rotina escolar.

Vi diretores elogiarem professores que nada contribuíam para o aprendizado, mas que mantinham a fachada de controle absoluto. Vi coordenadores justificarem falhas com desculpas, como se fossem peças de uma engrenagem emperrada. Em reuniões, somos confrontados com realidades como salas superlotadas e tarefas administrativas que nos transformam em carcereiros, vigiando alunos à porta para evitar represálias. Nesse ambiente sufocante, ética e profissionalismo se tornam luxos difíceis de sustentar.

E, apesar de tudo, sigo aqui. Refletindo sobre tantos episódios, percebo que a vergonha que carreguei nunca foi minha. Ela pertence ao sistema que desvaloriza e despreza o papel do professor. Um sistema que silencia a empatia e celebra a aparência em vez da essência.

Ainda assim, escolho acreditar na educação. Acredito que ela pode ser mais do que uma máquina de moer esperanças; pode ser o espaço onde sonhos se constroem, não onde se apagam. Por mais difícil que seja, opto por resistir. Não por teimosia, mas porque cada dia na sala de aula é uma nova chance de fazer a diferença. Afinal, a vergonha não está em tentar, mas em desistir de acreditar que o futuro pode ser melhor.

Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:

O autor menciona que a sala de aula, que deveria ser um espaço de aprendizado, muitas vezes se transforma em um palco de embates. Quais os fatores que contribuem para essa transformação e como eles impactam o processo de ensino e aprendizagem?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre as dinâmicas de poder dentro da escola, as relações interpessoais e como elas influenciam o ambiente escolar.

O autor relata diversos episódios em que se sentiu constrangido ou desvalorizado. Como esses sentimentos podem afetar a motivação e o desempenho dos professores?

A questão busca que os alunos compreendam as consequências emocionais e profissionais de um ambiente escolar desvalorizador para os professores.

O texto menciona a importância da empatia na relação professor-aluno. De que forma a falta de empatia pode prejudicar o processo educativo?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da escuta ativa e da compreensão das necessidades individuais dos alunos.

O autor critica o sistema educacional, destacando a burocracia e a falta de reconhecimento dos professores. Como esses elementos podem influenciar a qualidade do ensino?

A questão leva os alunos a analisar as implicações das políticas educacionais e das estruturas escolares na prática pedagógica.

Apesar dos desafios, o autor expressa esperança na educação. Qual a importância de manter a esperança em um ambiente escolar desafiador?

Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o papel do educador como agente de transformação social e a importância de acreditar no potencial da educação.

domingo, 20 de setembro de 2009

(RE)SSIGNIFICAÇÃO DO ENSINO MÉDIO (Vale até o "RÉ" de "RÉ, assim: "ER")







CRÔNICA

(Re)ssignificação do Ensino Médio (Vale até o "RÉ" de "RÉ, assim: "ER")

domingo, 20 de setembro de 2009
Por Claudeci Fer(re)ira de Andrade

         Os jovens que concluíram o Ensino Médio (re)centemente t(er)ão uma explícita razão para (re)cursar o Ensino Médio, agora “(re)ssignificado”. Ou pelo contrário continuarão com um diploma de um curso com significado apod(re)cido, ou melhor, p(re)cisando de uma (re)ciclagem. É necessário que isso aconteça porque tem a v(er) com o (re)c(re)scimento na vida acadêmica e/ou das estatísticas.
         Na língua portuguesa, lidamos também com os significados das palavras, toda palavra tem seu significado denotativo e os novos significados conotativos. Ou seja, por extensão semântica, as palavras passam a s(er) emp(re)gadas para outros eventos. No mundo da linguística, não vejo nenhuma emp(re)gabilidade coe(re)nte para a palavra: “(re)ssignificar”, nada p(er)de significado, pelo contrário, ag(re)ga-se outros, um neologismo com o pecado dos demais, é como diz(er) que o almoço hoje é “galinhada” se é arroz com frango! Em todos os dicionários que pesquisei, achei apenas na Wikipédia: “(Re)ssignificação é o método utilizado em neurolinguística para faz(er) com que pessoas possam atribuir novo significado a acontecimentos através da mudança de sua visão de mundo”. Que discordo completamente; dar “novo significado” é totalmente dife(re)nte de “(re)ssignificar”, mas quem sou eu para discordar de alguma coisa! Um des(re)ssignificante!
         (Re)torno é voltar ao ponto de origem, talvez s(er)ia isso o que melhor desejassem para o Ensino Médio, (re)começar do z(er)o, está aí o que eu elogiaria, se se valessem da exp(er)iência passada, quiçá, (re)solvesse os problemas da educação sem deixar sequelas ou (re)rrastros. Mas, quem sou para elogiar alguma coisa, sou apenas um des(re)ssignificante!
         Mas, o que (re)p(re)tende a Sec(re)taria da Educação de Goiás: (Re)duzir a evasão; Melhorar a ap(re)ndizagem dos alunos; Aumentar a aprovação; Aumentar o núm(er)o de matrículas.
         Essas (re)p(re)tensões s(er)ão p(er)feitamente alcançadas quando os formados do Ensino Médio se inteira(re)m da (re)v(er)dade de que não tinham (re)conhecimento, então (re)tornarão ao colégio para “(re)cursarem” o (re)cém nascido Ensino Médio.
         Na mente de alguns, deve hav(er) c(er)to estigma em conexão com o (re)ssignificamento de sua vida acadêmica. Especialmente se esses pa(re)ciam s(er) bons alunos, nota 10. Ao “(re)procura(re)m” o colégio surge a p(er)gunta: o que estava (er)rado? O (re) inv(er)tido! Mais uma marcha (ré) na educação: O que s(er)ia (Re)educação? É como c(r(e)r) que  s(er)ia possível “a TV deseduca as crianças”. Uma vez educado, educado para semp(re)! Por isso, temos educação e educação. Uma só com "Pão e circo", e a outra conteudista.
Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 20/09/2009
Código do texto: T1820795


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sábado, 12 de setembro de 2009

CAPACITAÇÃO DE PROFESSOR E A POLITICAGEM (Planejar é burocratizar, e o que seria desburocratizar?)




CRÔNICA


CAPACITAÇÃO DE PROFESSOR E A POLITICAGEM (Planejar é burocratizar, e o que seria desburocratizar?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu me reconheço como réu culposo neste episódio. Ausentei-me da escola por quatro dias, deixando meus alunos sem aulas e recusando-me a pagar um substituto. Considero injusto retirar de meu salário, já defasado, para suprir aquilo que deveria ser responsabilidade da própria instituição. Fui participar de uma capacitação no IFG, a pedido do NTE (Núcleo de Tecnologia Educacional), órgão ao qual eu era vinculado e que mantinha convênio com a Secretaria Municipal de Educação. Tratava-se de um curso vinculado à secretaria estadual, o tão divulgado Profuncionário, voltado à formação dos servidores administrativos das escolas estadual e municipal.

Ao retornar, a diretora da Escola Municipal onde trabalho informou-me, com frieza calculada:

— Sua declaração do IFG (Instituto Federal de Goiás) não vale, o pessoal da Secretaria me disse isso. Se você quiser pode ligar lá. Vamos cortar seu ponto.

No dia seguinte, ao tentar assinar o ponto, não me surpreendi ao encontrar, no espaço destinado à minha assinatura, o carimbo “não compareceu” — um eufemismo burocrático que me custaria caro.

Busquei então a responsável pelos tutores da região (Aparecida de Goiânia e Senador Canedo), pedindo que defendesse minha situação com cuidado, antecipando cada argumento que a Secretaria Municipal pudesse usar contra um professor que, além de docente, também atua como tutor. Solicitei que considerasse todos os detalhes legais, cada possível questionamento de credibilidade, cada nuance administrativa. Afinal, sabemos que nossos oponentes são “brilhantes”. Porém, nada disso importou: ninguém se preocupou com o meu prejuízo.

Incidentes como esse parecem simples, restritos a poucos personagens. Contudo, esquecemos que, entre as Secretarias de Educação Estadual e Municipal, há muito mais em disputa do que interesse em formação profissional. Há “politicagem”, rivalidades institucionais e vaidades administrativas. Resolver um problema aparentemente pequeno exige navegar por interesses partidários, ressentimentos pessoais, falta de ética e ausência de compromisso com o que deveria ser central: a qualidade da educação pública.

E, se sou ou não um bom professor ou servidor, eis uma verdade inevitável: minhas ações me colocam em relação salvífica ou não salvífica diante do sistema. E, afinal, “quem tiver sem pecado atire-me a primeira pedra.”

Falar em educação de qualidade, com professores realmente capacitados, por aqui, é quase utópico. Além disso, qualquer planejamento é constantemente inviabilizado pelos sábados letivos, já que grande parte das capacitações se concentra nos finais de semana, justamente para evitar declarações de ausência. Ou seja, sacrifica-se o profissional, culpabiliza-se o professor e, ainda assim, cobra-se excelência.

Como exigir compromisso, quando o próprio sistema o sabota?


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O texto apresentado é um rico estudo de caso sobre as dinâmicas institucionais e as tensões no serviço público brasileiro. Assumo a função de professor de Sociologia do Ensino Médio para preparar este Alinhamento Construtivo. As questões a seguir visam estimular a análise crítica dos alunos sobre a burocracia, as relações de poder e a ética na gestão educacional, com base nos conceitos da Sociologia.

1. Burocracia e Frieza Calculada: O narrador é penalizado com o carimbo "não compareceu" e o corte de ponto, após a diretora agir com "frieza calculada". Explique como o conceito de Burocracia (na perspectiva de Max Weber) pode ser aplicado para analisar essa situação, na qual a rigidez das normas e dos procedimentos se torna mais importante do que o objetivo final (a formação do professor).

2. Conflito Institucional e "Politicagem": O texto sugere que o problema vai além do simples corte de ponto, envolvendo "politicagem, rivalidades institucionais e vaidades administrativas" entre as Secretarias de Educação Estadual e Municipal. Discuta como os conflitos de interesse e poder entre instituições públicas diferentes podem afetar negativamente o profissional (o professor) e comprometer o serviço essencial (a qualidade da educação).

3. Profissão Docente e Desvalorização Sistêmica: O professor recusa-se a pagar um substituto por considerar injusto retirar do seu "salário já defasado". De que forma a precarização da profissão docente (baixa remuneração e falta de apoio institucional) cria um ciclo vicioso que sabota o compromisso e inviabiliza o aprimoramento profissional do servidor, dificultando a busca por excelência?

4. Ética e Responsabilidade na Gestão: O narrador afirma que "ninguém se preocupou com o meu prejuízo", sendo que o foco deveria ser a qualidade da educação pública. Analise o incidente (punição por participar de uma capacitação solicitada por órgão conveniado) sob a ótica da ética na gestão pública. Qual deveria ser o principal compromisso dos gestores (Secretaria e Direção) neste cenário: a norma burocrática ou o desenvolvimento do servidor?

5. O Sacrifício do Professor: O texto critica a prática de concentrar a maioria das capacitações nos sábados letivos para "evitar declarações de ausência". Discuta como essa estratégia, que busca evitar a interrupção das aulas, transfere o sacrifício integral para o professor, inviabilizando seu planejamento e reforçando a ideia de que o sistema "culpa" o profissional enquanto cobra excelência.

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sábado, 5 de setembro de 2009

CONSULTANDO O PROFESSOR: Um Duelo de Profissões (Que o Médico escritor Marcelo Caixeta analise isto)

CRÔNICA


CONSULTANDO O PROFESSOR: Um Duelo de Profissões (Que o Médico escritor Marcelo Caixeta analise isto)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Fui ao chão com a moto. Não foi um grande desastre: contive as duas rodas bruscamente para não atingir um “bicicleteiro”, mas o asfalto molhado não aderiu. Com uma algia intensa no ombro direito, temi ter fraturado a clavícula e fui rapidamente ao Hospital de Acidentados em Goiânia.

Com a carteirinha do "Ipasgo" em mãos, o atendimento no pronto-socorro fluiu de forma exemplar. Embora a dor entorpecesse minha razão, tornando-me inadequado para qualquer análise, aproveitei a sala de espera para conversar com outros acidentados sobre a fragilidade da vida humana, enquanto aguardava o laudo da radiografia.

Chegou minha vez. O médico me chamou para as considerações finais, informando que não havia fratura nem luxação, apenas uma contusão. Ao redigir a receita de um anti-inflamatório, aproveitei para pedir um atestado, a fim de justificar minha ausência na Feira Cultural da Escola, que acontecia naquele momento.

Até então, nada de extraordinário, mas o terrível veio com sua pergunta:

— Em que você trabalha?

— Sou Professor de Língua Portuguesa — respondi com certo entusiasmo, imaginando um diálogo em pé de igualdade, pois até ali, só havia recebido ordens e conselhos.

— Então merece! — expressou-se o médico com um ar de impassibilidade.

Passaram-se alguns segundos. Enquanto ele terminava de redigir o atestado, observei sua escrita disforme e quase ilegível, e elaborei ali uma suposta vingança. Quebrei o silêncio com a única resposta, a meu ver, que se encaixava nas duas intenções de sua expressão obscura:

— Sabe, Doutor, meu sonho era ser Médico; hoje estaria concorrendo com você!

Se ele quis dizer que eu "merecia" porque não havia me acidentado gravemente, seu comentário era simpático, e o meu equivalia a uma valorização: dois colegas de igual nível trabalhando juntos. Por outro lado, se o seu significava um "bem feito" por não gostar de Professor de Língua Portuguesa, o meu prenunciava um massacre, dada a nossa clara diferença nas habilidades linguísticas.

Se não nos entendemos, foi uma consulta sem comunicação plena. Contudo, não deixou de valer a pena a preocupação com o significado das nossas relações profissionais.


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Que desafio interessante! Assumo novamente o papel de professor de Sociologia do Ensino Médio. Primeiro, vou gerar as 5 questões discursivas simples sobre as ideias do texto. Em seguida, apresentarei as respostas sugeridas para cada uma delas, com foco na aplicação de conceitos sociológicos.

🧐 Questões Discursivas de Sociologia

1. Relações de Status e Prestígio Profissional: No diálogo, o professor sente a necessidade de "imaginar um diálogo em pé de igualdade" com o médico. Explique, com base na Sociologia das Profissões, como o status social e o prestígio historicamente associados à Medicina podem influenciar a interação e a percepção de valor entre um médico e um professor.

2. Análise da Reação Médica: A fala do médico, "Então merece!", é ambígua. Se interpretarmos essa frase como reflexo de um estereótipo social negativo sobre a docência, qual conceito sociológico explica a tendência de desvalorizar uma profissão essencial (como o magistério) em função de sua baixa remuneração ou das dificuldades cotidianas?

3. O Conflito de Linguagens e Capital Cultural: O professor observa a caligrafia "disforme e quase ilegível" do médico e planeja uma "vingança" baseada nas "diferenças linguísticas". Usando o conceito de Capital Cultural (de Pierre Bourdieu), discuta como a excelência em uma área (Medicina) não garante o domínio de outra (Língua Portuguesa), e como essa diferença pode gerar um conflito de "prestígio simbólico" entre as duas profissões.

4. Fragilidade da Vida Humana e Cotidiano: O narrador reflete com outros acidentados sobre a "fragilidade da vida humana" na sala de espera. Explique como um evento disruptivo (como um acidente, na perspectiva da Sociologia do Cotidiano) pode levar os indivíduos a suspenderem temporariamente suas preocupações rotineiras e a realizarem uma reflexão existencial ou social.

5. Interação Social e Comunicação Simbólica: O texto conclui que a consulta foi "sem comunicação plena", mas valeu pela reflexão sobre as "relações profissionais". Discuta como a Comunicação Simbólica e a Interação Social foram prejudicadas nesse encontro devido à ambiguidade das falas (o "merece" e o "concorrendo"), transformando o que deveria ser uma simples consulta em um "duelo" de percepções sobre o valor do trabalho.

✅ Respostas Sugeridas para as Questões

1. Relações de Status e Prestígio Profissional

O status social do médico, historicamente ligado a um longo e rigoroso processo de formação, alto poder aquisitivo e responsabilidade direta sobre a vida, é muito elevado. Essa hierarquia confere ao médico um prestígio que, na interação social, coloca o professor (cuja profissão frequentemente sofre com a desvalorização e baixos salários no Brasil) em uma posição de desvantagem percebida. O professor sente, portanto, a necessidade de buscar uma equiparidade simbólica para validar sua própria importância profissional.

2. Análise da Reação Médica

Se interpretarmos a fala do médico como um reflexo de preconceito, o conceito de Desvalorização Social da Profissão (ou desvalorização do trabalho) explica a situação. Essa desvalorização ocorre quando o prestígio e a remuneração de uma profissão não correspondem à sua importância social (a educação é essencial). Nesse caso, o médico estaria internalizando e reproduzindo um estereótipo que associa a docência a dificuldades e baixo retorno, transformando o "Então merece!" em uma forma de desdém ou "castigo" socialmente aceito.

3. O Conflito de Linguagens e Capital Cultural

O Capital Cultural (habilidades, conhecimentos e diplomas) do professor reside no domínio da Língua Portuguesa, enquanto o do médico reside na ciência e na técnica médica. O professor percebe a escrita ilegível do médico como uma falha na área de seu próprio domínio (a linguagem), o que o inspira a uma "vingança simbólica". Esse conflito demonstra que o alto Capital Cultural técnico-científico do médico não se traduz automaticamente em Capital Cultural linguístico-simbólico, expondo uma hierarquia de saberes e a vaidade profissional em torno de qual competência é mais valiosa.

4. Fragilidade da Vida Humana e Cotidiano

Um acidente é um evento disruptivo que rompe a rotina e a previsibilidade da vida cotidiana. Segundo a Sociologia do Cotidiano, ao serem confrontados com a possibilidade da morte ou da lesão, os indivíduos são forçados a realizar uma ruptura reflexiva. Na sala de espera, a vulnerabilidade compartilhada ("a fragilidade da vida humana") transforma estranhos em pares, levando-os a suspender temporariamente suas identidades sociais (professor, médico, etc.) e a se concentrar em questões existenciais comuns.

5. Interação Social e Comunicação Simbólica

A Interação Social no consultório foi comprometida porque a Comunicação Simbólica falhou: as frases-chave ("Então merece!" e "concorrendo com você!") eram ambíguas, carregadas de múltiplos significados e interpretações. Em vez de estabelecerem uma comunicação transparente, as falas funcionaram como símbolos de defesa e ataque profissional. O resultado é que a reflexão sobre as "relações profissionais" se tornou mais significativa do que o ato prático da consulta em si, ilustrando como as tensões de status podem dominar e invalidar um encontro simples.

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