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domingo, 27 de setembro de 2009

A VERGONHA DE PROFESSOR (Senti vergonha de ter sentido vergonha!)




A VERGONHA DE PROFESSOR (Senti vergonha de ter sentido vergonha!)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há dias em que ser professor é carregar o peso de uma missão inglória. A sala de aula, que deveria ser um espaço de aprendizado e crescimento, tantas vezes se transforma em um palco de embates, julgamentos e frustrações. Ainda assim, há algo que me impede de desistir: a esperança de que, apesar de tudo, a educação pode, sim, ser a ferramenta para transformar vidas.

Recordo-me de uma manhã em que uma aluna pediu para sair da sala. Perguntei o que ela faria, sem imaginar que essa simples pergunta se transformaria em uma acusação no conselho de classe. Lá, disseram que eu havia questionado o que ela faria "no banheiro", algo que sequer sabia ser sua intenção. Esse episódio me fez repensar até os gestos mais banais, e desde então, adotei um silêncio cauteloso diante de situações semelhantes. Senti vergonha, mas não dela. Vergonha de mim mesmo, por hesitar em exercer minha autoridade com clareza e empatia.

Em outro momento, uma jovem recém-chegada à escola não poupou críticas. “Os professores são fracos; o colégio é ruim”, declarou na secretaria ao pedir transferência. A gestão, em um gesto desesperado para defender a honra da equipe, convocou uma reunião. A aluna deveria justificar suas palavras diante de todos os professores. A pressão foi tanta que ela saiu chorando, deixando no ar um misto de indignação e desconforto. Senti-me dividido. Era impossível ignorar a gravidade das palavras da estudante, mas também não pude deixar de sentir vergonha por termos optado pelo confronto em vez do diálogo.

Os constrangimentos, no entanto, não vêm apenas de alunos ou gestores. Certa vez, em um dia reservado para apenas uma aula, cumpri meu horário, ministrei a disciplina e até apliquei uma prova de uma colega. No dia seguinte, ao conferir o ponto, lá estava o carimbo: "não compareceu". Quando questionei, ouvi que erros assim eram frequentes. A justificativa doeu mais do que a acusação, pois revelava o quanto a negligência havia se tornado comum na rotina escolar.

Vi diretores elogiarem professores que nada contribuíam para o aprendizado, mas que mantinham a fachada de controle absoluto. Vi coordenadores justificarem falhas com desculpas, como se fossem peças de uma engrenagem emperrada. Em reuniões, somos confrontados com realidades como salas superlotadas e tarefas administrativas que nos transformam em carcereiros, vigiando alunos à porta para evitar represálias. Nesse ambiente sufocante, ética e profissionalismo se tornam luxos difíceis de sustentar.

E, apesar de tudo, sigo aqui. Refletindo sobre tantos episódios, percebo que a vergonha que carreguei nunca foi minha. Ela pertence ao sistema que desvaloriza e despreza o papel do professor. Um sistema que silencia a empatia e celebra a aparência em vez da essência.

Ainda assim, escolho acreditar na educação. Acredito que ela pode ser mais do que uma máquina de moer esperanças; pode ser o espaço onde sonhos se constroem, não onde se apagam. Por mais difícil que seja, opto por resistir. Não por teimosia, mas porque cada dia na sala de aula é uma nova chance de fazer a diferença. Afinal, a vergonha não está em tentar, mas em desistir de acreditar que o futuro pode ser melhor.

Com base no texto apresentado, elaborei 5 questões que exploram diferentes aspectos da experiência do professor e da dinâmica escolar:

O autor menciona que a sala de aula, que deveria ser um espaço de aprendizado, muitas vezes se transforma em um palco de embates. Quais os fatores que contribuem para essa transformação e como eles impactam o processo de ensino e aprendizagem?

Essa questão leva os alunos a refletir sobre as dinâmicas de poder dentro da escola, as relações interpessoais e como elas influenciam o ambiente escolar.

O autor relata diversos episódios em que se sentiu constrangido ou desvalorizado. Como esses sentimentos podem afetar a motivação e o desempenho dos professores?

A questão busca que os alunos compreendam as consequências emocionais e profissionais de um ambiente escolar desvalorizador para os professores.

O texto menciona a importância da empatia na relação professor-aluno. De que forma a falta de empatia pode prejudicar o processo educativo?

Essa questão incentiva os alunos a refletir sobre a importância da escuta ativa e da compreensão das necessidades individuais dos alunos.

O autor critica o sistema educacional, destacando a burocracia e a falta de reconhecimento dos professores. Como esses elementos podem influenciar a qualidade do ensino?

A questão leva os alunos a analisar as implicações das políticas educacionais e das estruturas escolares na prática pedagógica.

Apesar dos desafios, o autor expressa esperança na educação. Qual a importância de manter a esperança em um ambiente escolar desafiador?

Essa questão estimula os alunos a refletir sobre o papel do educador como agente de transformação social e a importância de acreditar no potencial da educação.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente crônica parceiro!


Parabéns pela releitura do nosso contexto escolar.

Professor Almir Sardeiro (ALMIZIN)