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MINHAS PÉROLAS

sábado, 12 de setembro de 2009

CAPACITAÇÃO DE PROFESSOR E A POLITICAGEM (Planejar é burocratizar, e o que seria desburocratizar?)




CRÔNICA


CAPACITAÇÃO DE PROFESSOR E A POLITICAGEM (Planejar é burocratizar, e o que seria desburocratizar?)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Eu me reconheço como réu culposo neste episódio. Ausentei-me da escola por quatro dias, deixando meus alunos sem aulas e recusando-me a pagar um substituto. Considero injusto retirar de meu salário, já defasado, para suprir aquilo que deveria ser responsabilidade da própria instituição. Fui participar de uma capacitação no IFG, a pedido do NTE (Núcleo de Tecnologia Educacional), órgão ao qual eu era vinculado e que mantinha convênio com a Secretaria Municipal de Educação. Tratava-se de um curso vinculado à secretaria estadual, o tão divulgado Profuncionário, voltado à formação dos servidores administrativos das escolas estadual e municipal.

Ao retornar, a diretora da Escola Municipal onde trabalho informou-me, com frieza calculada:

— Sua declaração do IFG (Instituto Federal de Goiás) não vale, o pessoal da Secretaria me disse isso. Se você quiser pode ligar lá. Vamos cortar seu ponto.

No dia seguinte, ao tentar assinar o ponto, não me surpreendi ao encontrar, no espaço destinado à minha assinatura, o carimbo “não compareceu” — um eufemismo burocrático que me custaria caro.

Busquei então a responsável pelos tutores da região (Aparecida de Goiânia e Senador Canedo), pedindo que defendesse minha situação com cuidado, antecipando cada argumento que a Secretaria Municipal pudesse usar contra um professor que, além de docente, também atua como tutor. Solicitei que considerasse todos os detalhes legais, cada possível questionamento de credibilidade, cada nuance administrativa. Afinal, sabemos que nossos oponentes são “brilhantes”. Porém, nada disso importou: ninguém se preocupou com o meu prejuízo.

Incidentes como esse parecem simples, restritos a poucos personagens. Contudo, esquecemos que, entre as Secretarias de Educação Estadual e Municipal, há muito mais em disputa do que interesse em formação profissional. Há “politicagem”, rivalidades institucionais e vaidades administrativas. Resolver um problema aparentemente pequeno exige navegar por interesses partidários, ressentimentos pessoais, falta de ética e ausência de compromisso com o que deveria ser central: a qualidade da educação pública.

E, se sou ou não um bom professor ou servidor, eis uma verdade inevitável: minhas ações me colocam em relação salvífica ou não salvífica diante do sistema. E, afinal, “quem tiver sem pecado atire-me a primeira pedra.”

Falar em educação de qualidade, com professores realmente capacitados, por aqui, é quase utópico. Além disso, qualquer planejamento é constantemente inviabilizado pelos sábados letivos, já que grande parte das capacitações se concentra nos finais de semana, justamente para evitar declarações de ausência. Ou seja, sacrifica-se o profissional, culpabiliza-se o professor e, ainda assim, cobra-se excelência.

Como exigir compromisso, quando o próprio sistema o sabota?


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O texto apresentado é um rico estudo de caso sobre as dinâmicas institucionais e as tensões no serviço público brasileiro. Assumo a função de professor de Sociologia do Ensino Médio para preparar este Alinhamento Construtivo. As questões a seguir visam estimular a análise crítica dos alunos sobre a burocracia, as relações de poder e a ética na gestão educacional, com base nos conceitos da Sociologia.

1. Burocracia e Frieza Calculada: O narrador é penalizado com o carimbo "não compareceu" e o corte de ponto, após a diretora agir com "frieza calculada". Explique como o conceito de Burocracia (na perspectiva de Max Weber) pode ser aplicado para analisar essa situação, na qual a rigidez das normas e dos procedimentos se torna mais importante do que o objetivo final (a formação do professor).

2. Conflito Institucional e "Politicagem": O texto sugere que o problema vai além do simples corte de ponto, envolvendo "politicagem, rivalidades institucionais e vaidades administrativas" entre as Secretarias de Educação Estadual e Municipal. Discuta como os conflitos de interesse e poder entre instituições públicas diferentes podem afetar negativamente o profissional (o professor) e comprometer o serviço essencial (a qualidade da educação).

3. Profissão Docente e Desvalorização Sistêmica: O professor recusa-se a pagar um substituto por considerar injusto retirar do seu "salário já defasado". De que forma a precarização da profissão docente (baixa remuneração e falta de apoio institucional) cria um ciclo vicioso que sabota o compromisso e inviabiliza o aprimoramento profissional do servidor, dificultando a busca por excelência?

4. Ética e Responsabilidade na Gestão: O narrador afirma que "ninguém se preocupou com o meu prejuízo", sendo que o foco deveria ser a qualidade da educação pública. Analise o incidente (punição por participar de uma capacitação solicitada por órgão conveniado) sob a ótica da ética na gestão pública. Qual deveria ser o principal compromisso dos gestores (Secretaria e Direção) neste cenário: a norma burocrática ou o desenvolvimento do servidor?

5. O Sacrifício do Professor: O texto critica a prática de concentrar a maioria das capacitações nos sábados letivos para "evitar declarações de ausência". Discuta como essa estratégia, que busca evitar a interrupção das aulas, transfere o sacrifício integral para o professor, inviabilizando seu planejamento e reforçando a ideia de que o sistema "culpa" o profissional enquanto cobra excelência.

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