"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

MINHAS PÉROLAS

sexta-feira, 27 de junho de 2025

Na Sala Onde a Infância se Perdeu ("É no problema da educação que reside o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade." — Immanuel Kant)

 





Na Sala Onde a Infância se Perdeu ("É no problema da educação que reside o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade." — Immanuel Kant)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Lembro-me bem daquele dia. Não pelo sol morno que nascia sobre Divinópolis, nem pelo cheiro de café que escapava das janelas — mas pela notícia que me atingiu como um trovão em céu azul. Um alerta, um grito silencioso vindo dos corredores da Escola Estadual Lídio da Costa Pereira, no bairro Alvorada. Ali, entre cadernos e giz, desenrolava-se uma história que me faria refletir profundamente sobre a teia complexa que envolve juventude, educação e responsabilidade.

Tudo começou com algo corriqueiro: o uso do celular em sala de aula — um hábito que, para muitos, tornou-se extensão do próprio corpo. A professora, no cumprimento de seu papel, repreendeu a aluna. Até aqui, nada de novo sob o sol. Mas o desfecho... ah, o desfecho foi inesperado e doloroso. Uma agressão. Não apenas contra a professora, mas também contra a diretora. Um ato que não ficou restrito aos muros da escola; reverberou pela cidade inteira, até chegar aos ouvidos da Promotoria da Infância e da Juventude.

Com apenas treze anos, aquela garota se viu diante de uma realidade dura. A Justiça, por intermédio do promotor Carlos José e Silva Fortes, classificou o ato infracional como grave. E, assim, veio a decisão: apreensão. No entanto, o centro de internação de menores de Divinópolis não possuía vagas para meninas, o que forçou um deslocamento. A adolescente foi levada para Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte — uma jornada não de descoberta, mas de consequência. Um salto brusco para um universo de regras e confrontos.

Nesse enredo, a sombra da responsabilidade parental também se fez presente. A mãe da jovem respondia a um processo administrativo por negligência e má influência no comportamento da filha. Termos pesados, sem dúvida, mas que a legislação brasileira não hesita em aplicar quando se trata do dever de “sustentar, educar e, crucialmente, orientar os filhos no respeito às leis.” Um lembrete duro de que a educação não se limita aos muros da escola — ela nasce, cresce (ou definha) no terreno do lar.

Anos se passaram desde aquele episódio, mas a imagem daquela garota, daquela escola, daquele dia, permanece vívida em minha memória. Compreendi, então, que o ocorrido não era um caso isolado, mas um sintoma de um problema mais profundo que assola nossa sociedade. Quantas outras crianças e adolescentes estão perdidas em um labirinto de escolhas impulsivas e ausência de orientação?

A experiência me ensinou que não basta punir — é preciso compreender. Entender as raízes, acolher as dores, prevenir os rompimentos. A apreensão pode ser um caminho, mas não é solução por si só. A verdadeira resposta está na construção de pontes, no diálogo sincero, no investimento em uma educação que ultrapasse os limites da sala de aula e alcance o coração das famílias.

Na sala onde a infância se perdeu, não foi apenas a autoridade da professora que foi agredida — foi também a frágil esperança de que ainda controlamos os rumos da juventude. O celular, instrumento tão pequeno, revelou-se o fio desencapado de uma estrutura inteira prestes a ruir. O bairro Alvorada, com suas esquinas esquecidas pelo poder público, não foi só palco, mas personagem silencioso desse enredo. A ausência de vagas para meninas no centro local de internação grita por trás das estatísticas: o sistema nunca nos preparou para cuidar delas. E enquanto isso, seguimos repreendendo alunos por tocarem o mundo com os dedos, sem jamais tocar suas dores com o coração.

Que a história daquela jovem em Divinópolis não sirva para alimentar julgamentos, mas para acender reflexões. Que nos faça lembrar que educar é um dever coletivo — e que o futuro só será mais justo e consciente se todos assumirmos a responsabilidade por ele.

https://www.instagram.com/reel/DLXkcC9Ofaz/?utm_source=ig_web_copy_link (Acessado em 21/06/2025)

Muito bem, turma! O texto que acabamos de ler nos apresenta uma situação real e complexa, que nos convida a pensar sobre diversos aspectos da nossa sociedade. Como bons sociólogos, precisamos ir além da superfície e analisar as camadas de significado que essa narrativa nos oferece. Para aprofundarmos nossa compreensão, preparei cinco questões discursivas simples para vocês. Usem o que aprenderam sobre os conceitos sociais e as dinâmicas de nossa sociedade para construir respostas claras e bem fundamentadas.


1 - O texto menciona que o uso do celular em sala de aula "tornou-se extensão do próprio corpo". Como a sociologia da educação pode nos ajudar a entender a relação entre a tecnologia, o comportamento dos alunos e os desafios que isso impõe à dinâmica escolar contemporânea?

2 - A agressão da adolescente à professora e à diretora é classificada como um "ato infracional grave". Discuta como a socialização (familiar e escolar) pode falhar em orientar os jovens sobre o respeito às regras e às autoridades, levando a desfechos como o descrito no texto.

3 - A crônica destaca a "sombra da responsabilidade parental", citando a mãe da jovem que responde a um processo por negligência e má influência. Explique, sob a perspectiva sociológica, a importância da família como uma instituição primária de socialização e como a ausência de um suporte familiar adequado pode impactar o desenvolvimento social de um indivíduo.

4 - O texto afirma que "não basta punir — é preciso compreender". Reflita sobre essa afirmação à luz da função social da pena e da importância de políticas públicas que visem à ressocialização e à prevenção da criminalidade juvenil, em vez de apenas focar na punição.

5 - A crônica conclui que "educar é um dever coletivo". Com base nas ideias apresentadas no texto, discuta de que forma a sociedade como um todo (incluindo escola, família, poder público e comunidade) pode e deve se articular para promover uma educação mais eficaz e um desenvolvimento mais saudável para crianças e adolescentes.

Nenhum comentário: