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MINHAS PÉROLAS

sábado, 3 de setembro de 2022

TODA EXPERIÊNCIA É DOLOROSA ("Não se aprende bem a não ser pela experiência." — Francis Bacon)

 


TODA EXPERIÊNCIA É DOLOROSA ("Não se aprende bem a não ser pela experiência." — Francis Bacon)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Foi só depois dos quarenta que me descobri, de fato, professor. Até então, colecionava diplomas, lia pedagogos consagrados, imitava metodologias da moda — mas não ensinava, apenas repetia. O tempo, esse mestre impiedoso e justo, foi quem me revelou a diferença entre dar aula e ensinar. E foi aí que compreendi: quem só foi professor a vida toda talvez nunca tenha sido, de verdade, professor.

Aprendi que didática é estratégia, e estratégia, quando desprovida de conteúdo, vira truque. E truques, como sabemos, entretêm — mas não transformam. A experiência, por outro lado, fere — mas ensina. Explica com firmeza o que os livros sussurram em linguagem técnica. E cobra caro. Ah, como cobra. Como dizia o velho Dr. Afonso: “experiência é um troféu feito das armas que nos feriram”.

Mas, nos tempos de hoje, quem quer saber disso? Alunos — e, por que não dizer, muitos pais — andam mais atentos à estética do que à ética, à forma mais do que à formação. Preferem professores jovens, simpáticos, com voz de podcast e cara de influencer. Professoras lindas são respeitadas, admiradas, seguidas nas redes sociais. O conteúdo? Às vezes, nem chega a ser notado. Não me surpreenderia se, em breve, concursos para o magistério incluíssem desfile de simpatia, carisma e aparência — critérios dignos de um Miss Brasil.

E que gestor, me pergunto, nunca escolheu coordenadoras pela imagem que projetam? O politicamente apresentável virou pré-requisito. Esquece-se que simular competência é bem diferente de ser competente. Há uma diferença abissal entre parecer saber e saber por ter vivido.

Costumo dizer que os melhores professores são aqueles que vieram de outras profissões, que chegaram à sala de aula depois dos quarenta, quando já haviam tropeçado o suficiente para falar com propriedade sobre o caminho. Porque só quem se perdeu entende de rota. E é isso que os alunos mais precisam: alguém que já tenha ido e voltado algumas vezes.

Não me interpretem mal. Não sou contra a juventude na docência, tampouco prego o culto ao sofrimento. Mas há uma verdade amarga que o tempo me ensinou: só ensina bem quem aprendeu devagar. E, para isso, não basta teoria. É preciso vida. É preciso falhar, recomeçar, silenciar — e, depois, só depois, falar. Por isso, ainda que as modas passem e a tecnologia nos imponha suas plataformas digitais, sigo acreditando que há um tipo raro de professor que não se forma em faculdade nenhuma. Forma-se na vida. Hoje, a lógica do espetáculo penetrou até nas salas de aula. Em muitos contextos, a performance passou a valer mais que a substância: o carisma substitui o conteúdo, a aparência dita o respeito, e o domínio técnico perde espaço para a boa oratória. Em meio a essa inversão, a formação docente tem se tornado uma vitrine, onde vence quem mais agrada — alunos, pais, gestores — num teatro que exige imagem, presença e simpatia constante. É por isso que acredito tanto nos professores que vieram de outras profissões: eles não precisam representar um papel, porque já viveram enredos reais. Sabem o que é fracassar fora dos muros escolares, sentir o peso de um erro no mundo do trabalho e encontrar caminhos com os pés no chão. Quando esses profissionais chegam à sala de aula, chegam inteiros — com voz vivida, e não apenas treinada.

No fundo, penso: se Deus é justo — e eu creio que é —, não teria permitido que acumulássemos tanta experiência só para sermos enterrados com ela. Seria um pecado imperdoável. Talvez por isso ainda me levanto, todos os dias, com a coragem de ensinar. Porque, quem sabe, no silêncio entre uma explicação e outra, eu consiga transferir um pouco do que a vida — e não os livros — me ensinou.  CiFA

Questões de Sociologia sobre "A Experiência na Docência"


Questão 1

O autor afirma que "quem só foi professor a vida toda talvez nunca tenha sido, de verdade, professor". Com base nessa reflexão e nos seus conhecimentos sobre socialização, explique como as experiências de vida em diferentes grupos sociais podem contribuir para a formação de um educador mais completo.


Questão 2

O texto critica a valorização da "estética" em detrimento da "ética" na educação atual. Relacione essa observação com o conceito de sociedade do espetáculo e explique como as redes sociais podem estar influenciando os critérios de escolha e valorização dos professores na sociedade contemporânea.


Questão 3

Quando o autor menciona que "simular competência é bem diferente de ser competente", ele está tratando de um fenômeno social importante. Explique como essa distinção se relaciona com os conceitos de papel social e status social, dando exemplos de como isso pode afetar a qualidade da educação.


Questão 4

O texto sugere que professores que vieram de outras profissões após os quarenta anos podem ser mais eficazes. Analise essa afirmação considerando os conceitos de mobilidade social e trajetória profissional, explicando como a diversidade de experiências pode enriquecer o processo educativo.


Questão 5

O autor critica a tendência de escolher educadores pelos critérios de "simpatia, carisma e aparência". Relacione essa crítica com os conceitos de meritocracia e capital cultural, explicando como esses critérios superficiais podem perpetuar desigualdades no sistema educacional.

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