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MINHAS PÉROLAS

domingo, 22 de junho de 2025

"Minha Linda" ("As palavras são como abelhas, têm mel e ferrão." — Provérbio Turco)

 



"Minha Linda" ("As palavras são como abelhas, têm mel e ferrão." — Provérbio Turco)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sala de aula, esse universo de infinitas possibilidades, é também palco de interações delicadas. Como professor, navego diariamente por esse espaço, consciente do poder das palavras e da sutileza dos gestos. Há, no entanto, fronteiras invisíveis — talvez imperceptíveis aos desavisados — que jamais deveriam ser cruzadas. Foi a notícia sobre um colega, eco distante de um drama ocorrido em outra instituição, que me fez refletir sobre a fragilidade dessas barreiras.

Ouvi dizer que ele, movido por uma aparente inocência, tinha o hábito de elogiar as alunas com expressões como “minha linda”. A intenção, segundo seus defensores, era apenas exaltar o brilho juvenil, valorizar o esforço no aprendizado. Uma colega próxima, em sua defesa fervorosa, repetia: “Ele é retíssimo, só elogiava, dizia ‘minha linda’, e interpretaram como cantada”.

A repercussão, contudo, foi grave e irreversível: os pais de sete alunas, todas com menos de quatorze anos, procuraram a delegacia. Um boletim de ocorrência foi registrado, com pedido formal de providências.

A história me perturbou profundamente. Por mais pura que seja a intenção, há um código de conduta que se impõe — uma postura ética e profissional inegociável, sobretudo quando lidamos com mentes em formação. A relação entre professor e aluno é, por natureza, assimétrica; existe uma autoridade pedagógica que exige distanciamento claro, um limite respeitoso.

Elogios excessivos, especialmente aqueles que tangenciam a aparência física, são minas terrestres em potencial. Não se trata de reprimir a afetividade ou o reconhecimento sincero, mas de calibrar as palavras, evitando ambiguidades que possam ser mal interpretadas — ou, pior, transformadas em algo muito mais grave.

O alerta é constante, e eu mesmo o repito, como quem ensina a si: a cautela é a bússola nesse terreno minado. Uma palavra fora de contexto, um gesto mal compreendido, pode levar a consequências irreparáveis — inclusive no campo penal. O que para um é trivial, para outro pode ser ofensa, assédio, ou mesmo, conforme a lei e o olhar de quem interpreta, um crime gravíssimo.

Deus me livre de um dia cruzar essa linha, de ver minhas palavras — que buscam educar e inspirar — serem transformadas em motivo de dor ou acusação. Jamais chamaria meus alunos de “meus amores”. A responsabilidade do educador é imensa, e nela, a prudência é um valor inegociável: uma sentinela constante que protege não apenas a nós, mas, acima de tudo, os mais vulneráveis. ***

Meu texto é uma crônica muito importante sobre as complexidades da relação professor-aluno, a ética profissional e os riscos da má interpretação no ambiente escolar. Ela nos faz refletir sobre a responsabilidade imensa de quem educa e a necessidade de cautela. Como professor de Sociologia do Ensino Médio, preparei 5 questões discursivas e simples para que possamos aprofundar as discussões sobre as ideias levantadas em minha crônica.


1 - A crônica aborda a relação assimétrica entre professor e aluno. Como a Sociologia da Educação explica essa assimetria de poder e por que ela exige um distanciamento ético e profissional do educador para proteger os mais vulneráveis?


2 - O texto discute como elogios com boa intenção podem ser "mal interpretados" e gerar graves consequências. Do ponto de vista da Sociologia da Comunicação e da Interpretação Social, como o contexto social e as diferentes percepções (entre adultos e adolescentes, por exemplo) podem levar a entendimentos distintos de uma mesma mensagem, e qual a responsabilidade do emissor nesse processo?


3 - A crônica menciona que o caso do professor pode "terminar no âmbito penal", indicando a judicialização das relações no ambiente escolar. Sob a ótica da Sociologia do Direito, como a crescente tendência de levar conflitos interpessoais para o sistema judiciário afeta a dinâmica escolar e a confiança entre os atores envolvidos (professores, alunos, pais)?


4 - O autor fala sobre a "fragilidade das barreiras" invisíveis de conduta e a necessidade de "prudência" por parte do educador. Pensando na Sociologia da Moral e dos Valores, quais são os principais desafios para a construção de um código de conduta ético claro e eficaz para os profissionais da educação em uma sociedade com normas sociais em constante mudança?


5 - A reflexão final da crônica enfatiza a "responsabilidade imensa" do educador na proteção dos "mais vulneráveis". Com base na Sociologia da Infância e dos Direitos Humanos, por que a escola e seus profissionais têm um papel crucial na salvaguarda dos direitos e da integridade de crianças e adolescentes, e quais as implicações sociais quando essa função é comprometida ou negligenciada?

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