Os professores, por vezes fragilizados e desunidos, insistem em ensinar, embora o façam sob a constante reclamação de que as crianças jamais aprendem. Parece-me que a falta de credibilidade atingiu o mais alto patamar. O que isso tem a ver? Sim, eles mesmos, insistindo no mesmo erro, fazem greve todo ano e voltam de mãos vazias. O ponto dos dias parados é cortado e, por cima, terão de repor nas férias, com aulas infrutíferas, diga-se de passagem. "Ainda segundo a Procuradoria-Geral do Estado, a reposição de aulas por parte dos professores faltosos ao serviço na semana passada ocorrerá no mês de julho, e não mais aos sábados, conforme orientação expedida pelo Conselho Estadual da Educação e Ministério Público." (Professor em greve pode ter ponto cortado, diz PGE- DM Pág.12 de 12/02/2012). A misericórdia é que ninguém precisa trabalhar nos sábados, dia do Senhor!
O paradoxo, no entanto, não reside na luta, mas em sua forma cíclica e inócua. A crítica não mira a moral dos docentes, mas a impotência da estratégia. A categoria tem o direito inalienável à paralisação, mas o resultado pífio anualmente transforma o ato de resistência em punição velada: dias sem salário por aulas que serão repostas sem eficácia pedagógica. Essa equação perversa — amparada na legalidade fria da PGE e na ambiguidade da CLT, que lida com trabalhadores em contextos tão díspares — é o que, de fato, fragiliza a classe. Afinal, a sociedade cobra a qualidade da educação, mas silencia diante do castigo imposto àqueles que ousam reivindicar melhores condições. É essa falta de apoio que me faz sofrer um "nó no cérebro".
Professor também é sociedade e tem esse direito como qualquer outra categoria! Até a Polícia faz greve (Bahia, Rio etc), o que antes era impensável! As esposas faziam por eles; será essa mais uma conquista das mulheres? Epa! Isso me gera outro nó no cérebro: a educação não está repleta de mulheres cultas e empoderadas?
A ira de pais e alunos é atiçada contra os mestres "abusados", e não percebem que nem o alunado é, de fato, prejudicado. Greve de professor, afinal, não faz sentido: ninguém tem prejuízo, depois repõe. O imbecil sou eu, perseguindo a coerência. Como diz o Oscar Wilde: "A coerência é a virtude dos imbecis".
O governo, cinicamente, gosta da greve: diminui a folha de pagamento e economiza nas contas de água, luz e material de limpeza, enquanto finge estar demasiadamente preocupado com a quantidade de aulas. Epa! Sofro mais um nó no cérebro: se o ensino público é desqualificado, onde, afinal, o governo está pecando? Eita, vida ambígua! Ou será que a greve na educação tornou-se, realmente, "vale-férias" antecipadas? Socorra-me, CLT!
Fechamos com as palavras de José Saramago: "Aprendi a não tentar convencer ninguém. O trabalho de convencer é uma falta de respeito, é uma tentativa de colonização do outro."
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Como seu professor de Sociologia, vejo neste texto uma excelente oportunidade para debatermos as relações de poder, o papel dos sindicatos e a crise de legitimidade das instituições em nossa sociedade. Apresento um panorama crítico sobre a greve de professores, expondo contradições que a Sociologia tenta entender.
Abaixo, seguem 5 questões discursivas e simples para que possamos aprofundar nossa reflexão sobre o tema:
1 - Crise de Credibilidade e Legitimidade: O texto afirma que "a falta de credibilidade atingiu o mais alto patamar" na relação entre professores e alunos. Com base nos seus conhecimentos sociológicos, explique como a repetição de greves sem resultados efetivos pode afetar a legitimidade do professor e da própria escola como instituição social.
2 - Direito de Greve e Relações de Poder: O autor critica a "impotência da estratégia" da greve, mencionando que ela se transforma em "punição velada" (corte de ponto e reposição ineficaz). Explique o conceito de direito de greve sob a ótica da Sociologia do Trabalho e discuta por que, no contexto da educação pública, esse instrumento de luta pode se tornar ineficaz ou ambíguo, conforme sugere o texto.
3 - Ambivalência Social e Apoio Popular: O texto destaca que "a sociedade cobra a qualidade da educação, mas silencia diante do castigo imposto" aos professores. Discuta a ambivalência da sociedade em relação à luta docente. Por que a população, que seria a principal beneficiada pela melhoria da educação, frequentemente apoia menos a greve de professores do que a de outras categorias (como a polícia, mencionada no texto)?
4 - A Visão do Estado (Governo): O narrador ironiza que "o governo, cinicamente, gosta da greve" por diminuir custos. Analise, sob a perspectiva sociológica, como o Estado (ou o governo) se posiciona estrategicamente diante das paralisações do serviço público, considerando os interesses econômicos (corte de gastos) e a necessidade de manter uma aparência de preocupação social.
5 - Gênero e Luta Sindical: O autor levanta o questionamento sobre a presença majoritária de mulheres na educação ("a educação não está repleta de mulheres cultas e empoderadas?") em contraste com as greves de categorias predominantemente masculinas (como a policial). Faça uma breve análise sociológica sobre a questão de gênero no magistério e como essa característica pode, ou não, influenciar a organização, a coesão e a percepção social da luta sindical dos professores.