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sábado, 18 de abril de 2009

Democracia Ilícita ( O Respeito aos outros basta!)



Crônica

DEMOCRACIA ILÍCITA ( O Respeito aos outros basta!)

sábado, 18 de abril de 2009
Claudeci Ferreira de Andrade

       Quarta-feira, o conselho de classe aconteceu, estava marcado, regozijei-me por não ser meu dia de trabalho. Sempre que posso, fujo desse momento antropofágico (ingestão do inimigo para apropriação de suas qualidades guerreiras). No qual, os representantes de turma estraçalham a moral, o profissional, até a honra do professor e o que mais lhe causar algum prazer. Os coordenadores que assistem, com uma falsa impassividade, anotam tudo, tudo talvez que eles gostariam de dizer aos seus professores, mas lhes faltava a coragem ou o bom senso não lhes permitia. Se “os canibais da reputação profissional”, no conselho, se voltassem para os coordenadores pedagógicos, já tinha acabado esse momento antropofágico! Ou não? Mas, o alvo rotineiro é falar mal de professor, dos colegas de classe e das instalações da escola, nunca vi nada diferente nesses muitos por anos de sacrifício ritualístico. É o momento da vingança sem motivo, e os que falam incentivam os que não têm nada a dizer. Não sei por que ainda existe a presença de aluno no conselho, sendo que os coordenadores podem fazer relatórios a todo instante, e alunos podem denunciar a todo instante: tacape fatal! Talvez, perdura ainda para descargo de consciência daqueles professores que contra-atacam vorazmente, justificando as tantas notas baixas em sua disciplina. Que não é meu caso!
      Todavia, houve até, entre os alunos, uma representante de classe, ainda insatisfeita porque eu não tinha ouvido o que falara de mim naquele conselho, então mostrou-se disposta a repetir a dose, interpelando-me nos corredores da escola na quinta-feira:
      — Professor, o senhor vai está presente no próximo conselho? – disse-me com todas as palavras e expressões que me traduziam muita “fome” de vingança.
      Eu gostaria muito de poder reproduzir nesta crônica as minhas íntimas sensações vividas nos últimos conselhos de classe de que participei, no quais os “críticos pedagógicos” (alunos) orientavam os seus professores a trabalharem “melhor” com eles, porém sou “incompetente” demais para tanto destroço.
      Numa ocasião dessas, ouvi o desabafo de uma colega:
      — "Os representantes de turma são os piores alunos da turma. Mas, também, são escolhidos por eles mesmos!"
      Concordo com minha colega, contudo o problema maior é a falta de mutualidade. Como teremos estímulos para continuar suportando todas as formas de indisciplina: falta de interesse nos estudos por tantos alunos descompromissados, violência física e verbal; ainda ministrar boas aulas?
      Os holocaustos eram oferecidos porque os fiéis permaneciam mal informados sobre Deus, e como resultado, agiam mal, Cristo os aboliu. Assim, faço minha as palavras de um comentário no blog da Glória Perez, falando sobre o Zeca da Novela Caminho das Índias, que educação é igual a futebol, todo mundo pensa que entende e quer dar opinião; aliás, na educação, não existe bastidores, quem sabe menos, sabe tudo. Eu penso que a verdadeira democracia educacional é o exercício do dever de respeitar a outrem. Dar voz para quem não a sabe usar sabiamente sempre foi um sério problema para Deus. 

Não era assim, mas agora, ir à escola significa ir para o esfaqueamento, quando não literal, metaforicamente, como antes: com palavras afiadas. Duvida, assiste a um conselho de classe. Onde alunos regulam professores.   

Claudeko
Publicado no Recanto das Letras em 19/06/2009
Código do texto: T1656709

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Comentários



Um comentário:

Anônimo disse...

Bom dia, professor... Bom feriado!

Li, reli tuas crônicas, teu pensar, um pouco de "desabafo" e por que não, um grito incontido?

Senti dentro de mim esta mesma realidade me roendo e faz anos, nunca tive força para gritar, mas te felicito por oportunas palavras("canibais", "antropofágico", "tacape") que transcreve fielmente tal momento, de norte a sul deste país, na mais cruel realidade já vivida, onde professor já é sinonimo de tantas outraspalavras, e em apenas uma, resumistes a que falará por si só, a que no fará viver, "holocausto".



Sou naturalmente otimista mas, já imagino a educação restringida a "jaulas" vigiadas por PM's. Lastimavelmente.



Aaaaaaaahhh...(risos) O meu, também sempre fura o pneu... Terrível, hein?

Não desanima não, grite por mim que estou aqui, em fim de linha e já não tenho "voz".

O que me consola hoje, são os que já passaram por mim, e hoje os encontro ganhando o pão nosso, com o pouco que lhes transmiti.

E eu, continuo vivendo certa de que, vivo a beleza de ser uma eterna aprendiz, amém.





Beijos querido!


Profª Míriam Dniz - Garanhuns - PE