"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 5 de março de 2022

Coleção 68 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 68 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “Não me fere o olhar alheio que me confunde ao chiqueiro, mas a distância entre o que sou e o que busco ser; a dor de tentar permanecer humano num lugar que insiste em me chamar de porco.”

2 “Um sistema que tenta comprar o interesse do aluno com recompensas baratas revela não a falta de disciplina dos estudantes, mas a pobreza de sentido de uma educação que paga por obediência porque já não inspira aprendizado.”

3 “Maior que o erro do mestre é a pequenez do aluno que o transforma em troféu, pois quem usa a falha alheia para brilhar revela não inteligência, mas a miséria de quem só sabe aprender pela humilhação.”

4 “Quando os animais aprendem a cheirar perfumes e ouvir música com fones, perdem o faro e a audição; assim como o homem moderno, que já não distingue o pão da pedra, perdeu o instinto de viver e o senso do real sob o luxo das aparências.”

5 “Confundir limites com fobia e afeto com abuso é negar o próprio sentido da educação: não é a frustração que gera monstros, mas a ausência de medida; pois sem aprender a suportar o ‘não’, nenhuma vontade amadurece, apenas apodrece.”

6 “O ensino que insiste em ser castelo de pedra esquece que o saber é feito de areia: só permanece quem aceita o vento, refaz-se com ele e entende que educar é reconstruir-se sempre.”

7 “A vida não renasce, apenas se gasta: até a lagartixa que regenera o rabo confirma que toda cura é parcial e que o tempo, por fim, vence o próprio instinto de permanecer.”

8 “Pensei que fosse amor, mas era apenas carência; e, sem nada a oferecer nem forma de reinventar a falta, restou-me partir antes que o afeto virasse miséria.”

9 “Quem foge do esforço engorda o corpo e embota a mente; apenas enfrentar a chuva, correndo contra o vento, reconstrói força, disciplina e liberdade.”

10 “Sem fé, como semear fé; e mesmo quando nasce, resta a dúvida: será força pura ou uma chama que se corrompe quando abusada?”

11 “Se a fé tivesse poder real, curaria doenças e espalharia riqueza; mas, vendo a loteria e a prudência religiosa, resta claro que milagres prometidos valem menos que a sorte e a ironia humana.”

12 “Quando a fé precede a prova, a mente se perde; só quem põe a evidência antes da crença evita hospícios e mantém os pés na realidade.”

13 “Não é a fé que move montanhas; é a montanha que testa a fé; e, diante de sua imutabilidade, toda crença parece apenas um gesto inútil.”

14 “A felicidade não nasce da fé, mas da evidência; sem provas, a crença é vazia; a única realidade que existe para um ser vivente é o que seus sentidos sensíveis podem comprovar.”

15 “Quando a luz se apaga e as máscaras caem, a verdade do ser emerge: as boas maneiras se dissolvem e o leopardo mostra que suas manchas nunca mudam.”

16 “Gozar intensamente, apenas nos divertindo, é a melhor vingança silenciosa: a própria alegria se torna resposta visível a quem zombava de nós.”

17 “Se o corpo é prisão da alma, por que a própria imaginação, prometida como fuga, não me lança à vastidão do infinito?”

18 “Ser charlatão é, afinal, ser mágico: criar esperança, gerar ilusão e tocar a vida dos outros; pois sem encantamento, a existência seria insuportavelmente nua.”

19 “Há cachorro para todos os gostos, e minha raiva não é da diversidade, mas daqueles que a rejeitam; intolerantes mordem mais que cães.”

20 “A morte é inevitável, mas a vontade de partir diante do peso da velhice e do sofrimento impõe-se com uma compulsão que supera a própria lei da mortalidade.”

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sábado, 26 de fevereiro de 2022

Coleção 67 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 67 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 "Na era digital, a antiga hierarquia entre mestre e discípulo se inverte: enquanto o professor hesita diante da tecnologia, o aluno a maneja com naturalidade, fazendo surgir a pergunta sobre quem, afinal, ensina e quem aprende."

2 "Prefiro a minha loucura criativa, que me empurra ao movimento e ao devir, do que a hipocrisia estagnada de quem me julga; pois, no fim, não é a razão que define o destino, mas a coragem de assumir o próprio abismo."

3 "O aluno é o reflexo das ideologias que moldam o professor; quando esse vínculo falha, ele apenas repete vozes alheias, enquanto o sistema que o reprova é o mesmo que teme sua autonomia, pois pensar por si é sempre um ato de ruptura."

4 "O bandido é visto como alguém cuja palavra nunca é compromisso, mas armadilha; e, ao ser desconfiado, sente-se desafiado, convertendo a ofensa em vingança, porque sua lógica não é a da ética, mas a do cálculo do mal."

5 "Na escola, a convivência não gera amizade, pois o sistema fomenta rivalidades e desconfiança; os contratados, vistos como aliados do poder, não podem se juntar a qualquer resistência, perpetuando um ambiente em que todos coexistem, mas ninguém se une."

6 "Ao transformar comida no centro das reuniões, a escola recria o antigo 'pão e circo': um agrado que desvia o debate, suaviza tensões e mantém a participação, enquanto questões críticas sobre o trabalho permanecem silenciadas."

7 "Nas festas, onde a alegria pode ser encenada, a hipocrisia floresce; já nos velórios, a dor impede máscaras, revelando uma verdade que, embora dura, é mais digna de ser compartilhada."

8 "Diplomas apenas escondem a falta de inteligência, sem suprimi-la; ainda que o estudo autodidata desperte autonomia, como alerta Benjamin Franklin, ensinar a si mesmo é arriscar ter um 'tolo como professor', mostrando que a instrução formal continua essencial."

9 "Enquanto todos se acham capazes de ditar como o professor deve ensinar, ninguém ensina o aluno a aprender; e, paradoxalmente, o estudante repreende o mestre, lembrando que sem experiência como discente ele jamais compreenderá a essência do ensino."

10 "O fraco sobrevive imitando o forte: ouvindo cada palavra, vestindo sua camisa, seguindo seus passos — pois a proximidade do inimigo, disfarçada em falsa amizade, transforma-se na mais eficaz arma de hipocrisia, a verdadeira 'macumba do poder'."

11 "A escola se torna um espaço de proibições vazias, onde o 'não' não ensina, e a inversão de valores privilegia os mais perturbadores, comprometendo a aprendizagem; nesse cenário, o ignorante, por merecimento, acaba por ser completamente ignorado."

12 "Deus transcende a compreensão humana; qualquer tentativa de defini-Lo ou atribuir-Lhe conceitos finitos é uma humanização ilusória, uma 'brincadeira de ser Deus', pois se pudesse ser totalmente concebido, seria menor que o próprio homem."

13 "Os dogmas religiosos são respostas insuficientes diante do absoluto; mesmo o engano, capaz de atingir até os 'eleitos', não pode ser total, pois o Diabo, por mais astuto, é 'fraco demais' para frustrar completamente a vontade divina."

14 "A dor do desprezo persiste, intensificada pelo espelho que insiste em mostrar um 'nonada', negando ao autor o amor e reconhecimento que sente merecer, e revelando a angústia de se perceber insignificante."

15 "Encontro valor nas fofocas que me atingem: embora visem me desmerecer, sua mobilização revela que sou percebido como ameaça, e essa percepção alheia transforma-se em uma ilusão reconfortante de poder e relevância."

16 "A velhice impõe uma dor que a pobreza suavizaria; a humilhação de ser superado por qualquer jovem apaga conquistas passadas, enquanto rugas e fragilidade destroem a voz e o valor do tempo em que se foi herói."

17 "Como leprosos sociais, os velhos encontram apenas entre si aceitação, unidos pelo desapego e pelo gosto pelo 'nada'; esse esvaziamento gradual, segundo a reflexão teológica, seria a justa preparação divina para o retorno final ao pó."

18 "Pais insatisfeitos minam a educação ao desmoralizar o professor, transferindo suas falhas para ele; assim, filhos aprendem com um educador 'mal afamado', enquanto a irresponsabilidade dos pais se oculta na certeza de que o mestre não reagirá."

19 "Muitos professores, sobretudo evangélicos, rejeitam a internet e rotulam seus usuários como 'pseudo-filósofos'; seja por uma abstinência intelectual que os faz sentir superiores, seja por uma 'síndrome da ema' que projeta frustrações sobre doutores e políticos, evitando encarar a realidade."

20 "Assim como é pecado deixar de fazer o bem, é mentira omitir a verdade; e aqueles que facilitam ou criam condições para essa omissão merecem igual pena moral."

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domingo, 20 de fevereiro de 2022

Coleção 66 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 66 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “Quando família, escola e fé se corrompem; pela ideologia que dissolve vínculos, pela pedagogia que vende verdades e pela religião que negocia milagres, a sociedade se fragmenta, e o indivíduo, recusando a mordaça, acaba travando dentro de si a mesma guerra que testemunha do lado de fora.”

2 “Quem aprende desde cedo a vender sua integridade por uma nota acostuma-se à lógica da troca moral; e, quando chegar ao mercado de trabalho, já estará treinado para se negociar por qualquer recompensa que lhe ofereçam.”

3 “Quando alguém, ainda na juventude, aprende a negociar a própria dignidade em troca de facilidades, inaugura um desejo que jamais se sacia; e, mais tarde, diante de necessidades maiores, não hesitará em cair a degraus ainda mais profundos, porque quem começa cedendo ao fácil termina escravizado pelo impossível.”

4 “Quando a educação se torna negócio, a calamidade deixa de ser acidente e passa a ser estratégia; e foi preciso uma pandemia para revelar que o sistema não estava doente por falha, mas por projeto.”

5 “Quem fura a greve não age por convicção, mas por conveniência: ao romper o pacto coletivo, entrega-se como peça paga para desarticular a força da categoria, fingindo autonomia enquanto serve aos interesses que a querem fraca.”

6 “O medo impõe respeito onde a benevolência falha; conceder facilidade ao miserável não cultiva gratidão, mas ingratidão, e quem se atreve a desafiar a generosidade acaba por desprezar a liberdade que lhe foi dada.”

7 “Acreditando que o sucesso dependia da escola, estudei o suficiente, até perceber que o mundo prospera também fora dos muros acadêmicos, e que a música, o esporte, as artes e a construção constroem realizações tão válidas quanto qualquer diploma.”

8 “Enquanto a sociedade exige que as crianças frequentem a escola, o mundo mostra que a prosperidade nasce também fora dela, criando um paradoxo entre o que é imposto e o que se observa como verdadeiro caminho para o sucesso.”

9 “Quando o diário eletrônico falha e arruina cálculos simples, percebe-se que o problema não é do usuário, mas da gestão educacional que economiza naquilo que deveria garantir eficiência; e o barato, como sempre, sai caro.”

10 “Quando todas as vias de justiça se fecham e a impotência se torna total, a vingança deixa de ser escolha e surge como o último recurso inevitável.”

11 “Quem abusa do que é público na sala de aula; como quem congela a aula no ar-condicionado ou arranca limões verdes do quintal alheio, revela o vício da gratuidade sem responsabilidade; e é esse mesmo espírito que, sem senso coletivo, elege os líderes que depois reclama.”

12 “Satanás não é um mito, mas o agente que promove o inferno; e quando esses agentes se reconhecem, formam o corporativismo que fortalece o erro. Assim, a maioria, unida na própria ruína, sempre vence a razão.”

13 “Como uma vacina que usa a doença atenuada para despertar defesas, intensificar e expor deliberadamente as feridas do sistema; espalhando más notícias, pode forçar a crise necessária para que o corpo educacional reaja e cure a si mesmo.”

14 “Ao ensinar incessantemente a todos e ver um aluno em qualquer pessoa, o professor dissolve sua própria distinção; e, no fim, torna-se também apenas ‘qualquer um’.”

15 “Numa escola, a verdadeira segurança não está no músculo armado, mas na recepção que acolhe, orienta e registra com honra; porque educação se protege com organização e respeito, não com intimidação.”

16 “O dinheiro desperta o Deus adormecido no homem: quem contribui compra amigos, quem se nega atrai inimigos; assim, nas relações, ele define caráter e lealdade.”

17 “Quando se age com convicção moral, a justiça se repete sem medo da lei ou do afeto; a verdade virá à tona, e a transparência absoluta garante que não haja vergonha, nem mesmo diante dos inimigos.”

18 “As cruzinhas, registro minucioso da produção diária, são a garantia de uma avaliação justa; sem elas, o professor julga às cegas, e a precisão da justiça se perde.”

19 “Ser professor é abraçar uma missão contínua que não termina; manter a integridade exige afastar-se dos vendáveis, preservando a identidade profissional e a fidelidade à vocação.”

20 “A inteligência começa na humildade: antes de buscar o mundo, é preciso desconfiar de si mesmo, examinando limites e vieses para que o pensamento seja rigoroso e livre da arrogância.”

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sábado, 5 de fevereiro de 2022

Coleção 65 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


 

Coleção 65 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 "A ambição conduz o professor à educação, sem que ele perceba seus riscos; porém, é uma força maior que o preserva, para que seja ao mesmo tempo mestre e testemunha viva da própria filosofia que ensina."

2 "Diante da morte, quem não luta por sobreviver revela que nunca amou verdadeiramente a vida, pois o amor à existência se prova no seu último esforço por preservá-la."

3 "Não é a massa que fracassa, mas o indivíduo arrogante que, ao tentar provar seu valor, apenas demonstra sua própria insignificância."

4 "O naturalismo crescente animaliza o homem enquanto humaniza os animais, e, sob o discurso da igualdade de gênero que privilegia o meio sobre o biológico, cria-se a ilusão de uma metamorfose; até o ponto de atribuir à dieta o poder fantasioso de alterar o próprio DNA."

5 "Aprendi com o que plantei, mas a dor mais profunda vem dos espinhos que outros colocaram em meu caminho."

6 "O Titanic, feito para não afundar, afundou; assim como aviões, feitos para voar, por vezes caem. A história permanece aberta, e o futuro é imprevisível; por isso, quem afirma certezas absolutas não é digno de confiança."

7 "Se sou a fonte do prazer que sinto e o prazer é considerado pecado, então existir é pecar; assim, o medo do pecado torna-se medo da própria existência; alimentado por religiões que tentam negociar a salvação como se Deus tivesse preço."

8 "O prazer que a igreja condena é prometido como recompensa no céu, enquanto o que o céu repreende; sexo ou ambição, se pratica na própria igreja; assim, é o ‘inferno terrestre’ que nos ensina a esperteza e o pragmatismo do ‘jeitinho brasileiro’."

9 "Todo prazer reduz a potência ativa e anuncia o repouso; o que se segue não é pecado, mas o preparo necessário para buscar novo prazer."

10 "Não há pecado, apenas maneiras de viver e experimentar prazeres que preparam para o último prazer: a morte, cujo gozo é a continuação da essência que impulsiona a vida."

11 "O Brasil dos caminhoneiros desintegra-se ao perder sua inocência, enquanto seu povo ainda encarna Macunaíma, o herói sem caráter; e a riqueza nacional, simbolizada pela gasolina, evapora deixando apenas uma rima vazia."

12 "Quem promete liberdade aprisiona pelo próprio engano, e o pior inimigo é o amigo disfarçado, que oferece soluções inexistentes."

13 "Se o amor de Deus excede seu juízo, a justiça se desfaz; o excesso de amor, combinado à rigidez moral, torna-se, paradoxalmente, injustiça."

14 "Se a Bíblia veio antes da igreja, a instituição deriva da Escritura; se a igreja surgiu primeiro, é ela a fonte da própria Bíblia."

15 "Alguns nascem bons e só vacilam sob más influências; outros, perversos por natureza, revelam seu lado cruel quando desprezados; afinal, pode o leopardo mudar suas manchas?"

16 "Grandes homens não reclamam da falta de oportunidades; muitos que desprezaram professores e estudos voltam à EJA, acusando o sistema; seriam vítimas sociais ou levianos sociais?"

17 "O 'falar a mesma língua' das coordenações cria um cartel de ideias; a verdadeira união docente surge com responsabilidade e transparência, e o respeito dos docente e discentes só se conquista quando cessa a manipulação."

18 "Mesmo em minoria, os benfeitores merecem reconhecimento, pois sua sensatez valoriza o esforço do professor e preserva a relevância da profissão."

19 "O segredo de uma aula de qualidade está no vínculo entre professor e alunos, não no plano didático; tanto que alguns alunos chegaram a exigir pagamento apenas por assistir minha aula com disciplina."

20 "O professor, antes autoridade em sala, hoje só atua dentro do permitido, vigiado por pais desconfiados e exposto à cobertura tendenciosa da mídia."

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sábado, 29 de janeiro de 2022

Coleção 64 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 64 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “A culpa, disfarçada de virtude, acusa o inocente para ocultar-se; mas a verdade, mesmo soterrada por aparências, retorna sempre ao ponto de origem e restabelece o real.”

2 - “Os sábios temem a vida e a luz por saberem que nelas se dissipam o mistério e o sentido; os tolos, ao temerem a morte e as trevas, perdem a chance de viver e compreender; cada um foge justamente do que poderia libertá-lo.”

3 “Quem teme o próprio espaço que deveria proteger transforma o discurso de segurança em contradição viva, pois ninguém ensina coragem quando faz do medo seu exemplo.”

4 “Clamar por paz aos que já romperam com a moral é apelar ao vazio; o mal não se comove com súplicas, e a justiça sem força continua a ser apenas um grito impotente diante da violência.”

5 “A tentação, longe de ser mero desvio demoníaco, é a prova divina disfarçada; pois o mesmo Deus que julga o homem é quem o testa, fazendo do pecado e da culpa instrumentos de revelação moral.”

6 “O pai só é amparado na velhice se, antes, tiver ensinado o filho a não precisar dele; pois a verdadeira herança não é a dívida, mas a liberdade que torna o cuidado um ato de amor, não de obrigação.”

7 “Em quem há muita beleza, a ignorância se desnuda; e quando o poder é feio, sua corrupção desfigura até os que o seguem; a ponto de ninguém mais saber em qual espelho restou o próprio rosto.”

8 “A escola decai quando é conduzida por quem perdeu o brilho de ensinar; um sistema exausto, sustentado por rostos cansados, tenta inspirar futuro sem ter mais fé no próprio amanhã.”

9 “Se a beleza inspira mais que o saber, o ensino se torna espetáculo; mas quando o feio reconhece sua própria decadência e ainda assim preserva a lucidez, sua feiura é menos vulgar que a dos que perderam também a alma.”

10 “Se os alunos dominassem o ofício de aprender, até professores medíocres seriam suficientes; mas cercado por pais desentendidos e coordenadores que o impedem de ensinar, o educador se vê impotente, vítima de uma responsabilidade que nunca lhe pertenceu por completo.”

11 “Quando o interesse repentino de uma mulher bela parece desmedido, a sedução se revela arma: beleza e atenção podem ocultar manipulação, lembrando que nem todo presente é verdadeiro e nem toda isca é inocente.”

12 “Cursos fáceis funcionam como terremotos que desenterram os poupadores de esforço: diplomas se acumulam, mas a competência real permanece sepultada, deixando o recém-formado perdido diante de um mundo que não recompensa credenciais vazias.”

13 “A EJA a distância promete aprendizado, mas entrega alvoroço: certificação sem qualidade, lei do menor esforço e desigualdade mascarada, enquanto o ensino regular encara rigor que ela ignora; dois pesos e duas medidas que perpetuam a injustiça educacional.”

14 “Médias estatísticas escondem excelência e fracasso, transformando o rendimento real em número mediano; assim, o sistema lucra com o fracasso, alimenta burocracia inútil e mantém o estudante refém de uma matemática que mascara a verdade.”

15 “Sem reprovação, sementes ruins geram colheita malfazeja: alunos incompetentes retornam como professores, perpetuando um ciclo infalível de mediocridade que transforma a escola em fábrica de si mesma.”

16 “Quando a escola é chamada a substituir famílias incapazes, enfrenta uma missão impossível: educar os pais não é formar crianças, e a raiz do problema (a desestrutura familiar) permanece intacta, enquanto o sistema culpa quem não tem poder sobre ela.”

17 “Se cada versão da Bíblia é tratada como palavra de Deus, a univocidade divina se desfaz: crentes fanáticos, ao aceitar múltiplas interpretações, tornam-se politeístas sem perceber, cultuando diversas vozes onde juram professar uma só.”

18 “Confesso desprezar a mediocridade travestida de igualdade: toda generalização é burra, e o ideal; se é que existe, é respeitar as diferenças sem iludir-se com uniformidade forçada.”

19 “Em grupos, a traição é estatística: sempre surge um Judas que vende o plano alheio; e os oportunistas que chegam com promessas vazias inevitavelmente partem de mãos vazias, revelando que até o fracasso humano serve para preservar a ordem divina.”

20 “Quando a punição não é formalizada, o aluno indisciplinado explora a brecha, migrando de sala em sala sob falso afeto, perpetuando a desordem e transformando a escola num espaço onde a impunidade se desloca sem controle.”

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O DOUTRINAMENTO DA VACINAÇÃO. ("A política é a doutrina do possível". — Otto von Bismarck)

 


            

O DOUTRINAMENTO DA VACINAÇÃO ("A política é a doutrina do possível". — Otto von Bismarck)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ainda me lembro com nitidez do som abafado dos primeiros noticiários sobre aquele vírus longínquo, algo que parecia confinado ao noticiário internacional, tão distante da nossa realidade quanto um eclipse em outro hemisfério. Mas, como uma onda silenciosa, o Coronavírus atravessou oceanos e certezas, invadindo nossas rotinas, redesenhando o cotidiano que julgávamos imutável. Suas variantes continuam a surgir, como se nos lembrassem — dia após dia — que o antigo normal talvez não passe de uma miragem no retrovisor.

Ontem, da janela da sala, vi duas pessoas se encontrando na calçada. Um mascarado se aproximou, e o outro deu um passo atrás, quase por instinto. Um balé estranho, que há pouco tempo seria incompreensível, hoje é gesto automático. Confesso que fiz o mesmo no mercado pela manhã — aquele recuo quase coreografado, quando alguém cruza o nosso novo e silencioso perímetro de segurança. Já me convenceram de que deve ser assim. Mas, às vezes, me pergunto: será que essa distância também se instalou entre as almas? Talvez precisemos de proteção não apenas contra vírus, mas contra a presença do outro — contra sua humanidade tão próxima, tão ameaçadora.

Enquanto isso, ouve-se um clamor pelas escolas públicas: querem reabrir, reviver o chamado "velho normal", como se fosse possível ressuscitar um tempo idealizado — tempo esse que, para muitos, era sustento, era rotina, era chão firme. Pressionam pelo retorno das aulas presenciais, com a justificativa de que são mais eficazes do que as remotas. Talvez isso seja verdade em alguns casos — sobretudo no delicado processo da alfabetização. Mas não consigo evitar uma pergunta incômoda: não estaríamos delegando demais à escola aquilo que deveria começar em casa?

Educar é, antes de tudo, ato de presença, e não apenas física. Quando terceirizamos completamente a formação inicial de nossas crianças, não transferimos apenas letras e números, mas abrimos as portas para que suas personalidades sejam moldadas por outros — por olhares que carregam ideologias, convicções, intenções. Ninguém ensina de forma absolutamente neutra. Assim como um repórter não consegue narrar os fatos sem deixar escapar algum traço pessoal, o educador também imprime sua marca, ainda que involuntariamente.

E é nesse espaço sutil — quase invisível — que ideologias ganham corpo, ocupando as lacunas deixadas por uma sociedade que, muitas vezes, se ausenta da formação de seus próprios filhos. A escola reflete o mundo, sim, mas também o influencia. E, então, nos perguntamos: até que ponto o Estado é verdadeiramente laico, se seus agentes carregam convicções que transbordam nas salas de aula?

Hoje à tarde, caminhando pelo bairro, ouvi um grupo debatendo a possibilidade de demissão por justa causa para funcionários que se recusarem a tomar a vacina. E lembrei dos nossos paradoxos nacionais — não somos obrigados a votar, mas precisamos do comprovante de votação para obter um passaporte. Um curioso jogo de liberdades condicionadas, de obrigações disfarçadas.

E se um aluno ou professor contrair o vírus dentro da escola? A quem caberia a responsabilidade? Poderia o Estado ser responsabilizado por isso? A verdade é que máscaras, por mais indispensáveis que sejam, não são invulneráveis. E as vacinas, ainda que representem nossa maior esperança, não são garantias absolutas.

As contradições desse tempo me fazem lembrar as palavras de Luiz Roberto Bodstein:

"O pior em sociedade é o doutrinamento, já que confundido com 'chamada à verdade'. Mas no ensino real se entrega a chave para que o aprendiz busque a resposta por si mesmo, pois se o desejar ele o fará. Já no doutrinamento se busca transferir a crença do 'correto presumido', ilegítimo pela pretensão de que se detém a verdade, da suposta prevalência de uma crença sobre outra, e de uma imposição onde só a nossa versão é válida."

Que linha tênue é essa entre ensinar e doutrinar! Enquanto o verdadeiro ensino liberta, o doutrinamento aprisiona — e o pior cárcere é aquele em que se entra acreditando ser liberdade.

Vejo igrejas de portas fechadas, protocolos que se contradizem, e uma sociedade tensionada entre o medo e a necessidade de continuar. O chamado “novo normal” se assemelha a um labirinto onde tateamos às cegas, esperando por soluções que, às vezes, ganham contornos quase messiânicos.

Talvez essa seja a lição mais dura que herdamos deste tempo: precisamos aprender a questionar, a discernir, a buscar — por nós mesmos — o equilíbrio possível entre proteção e liberdade. A pandemia um dia vai passar, mas suas marcas continuarão visíveis em nossos gestos, em nossos olhares, na forma como nos aproximamos — ou nos afastamos — uns dos outros.

Enquanto isso, sigo aqui, observando da janela o mundo mascarado. E cada recuo diante do outro se transforma em lembrete sutil: algo mudou. E talvez nós — lá no fundo — também tenhamos mudado para sempre.



Esta crônica é um mergulho nas complexidades sociais e existenciais que a pandemia acentuou, abordando temas que vão da micro-interação à estrutura do Estado. Com um olhar sociológico, podemos extrair questões importantes para análise.

Com base nas ideias principais do texto e com um foco na perspectiva sociológica, preparei 5 questões discursivas simples:



1. As Mudanças nas Interações Sociais Pós-Pandemia: A crônica observa como gestos como manter distância e o uso de máscaras se tornaram um "balé estranho" e "gesto automático". Sociologicamente, como a pandemia do Coronavírus e as medidas de saúde pública alteraram as normas de interação social e a nossa percepção sobre o espaço pessoal e a proximidade física nas relações do dia a dia?

2. A Escola como Agente de Socialização e Transmissora de Valores: O texto levanta a questão de que o professor transfere mais do que apenas conhecimento formal ("letras e números"), imprimindo também "ideologias, convicções, intenções". Sociologicamente, como a escola atua como um agente de socialização, transmitindo valores e visões de mundo (muitas vezes de forma não intencional), além do currículo oficial?

3. Ensino vs. Doutrinamento no Contexto Social: A crônica cita Luiz Roberto Bodstein sobre a diferença entre "ensino real" (dar a chave para buscar respostas) e "doutrinamento" (transferir crenças). Sociologicamente, por que é importante essa distinção para a formação de cidadãos críticos, para a autonomia de pensamento e para a dinâmica das instituições educacionais em uma sociedade democrática e plural?

4. Controle Social e Poder do Estado: O texto aborda exemplos como a possível demissão de funcionários por justa causa por recusa de vacina e a exigência de comprovante de votação para o passaporte, chamando-os de "paradoxos nacionais" e "liberdades condicionadas". Sociologicamente, como podemos analisar essas situações como mecanismos de controle social exercidos pelo Estado, que utilizam regras e exigências para influenciar comportamentos e condicionar o acesso a determinados bens ou serviços?

5. Incerteza Social e Busca por Sentido no "Novo Normal": A crônica descreve a vivência do "novo normal" como um "labirinto onde tateamos às cegas" em busca de respostas e sentido. Sociologicamente, como períodos de grande incerteza, crise e desorientação social (como uma pandemia) afetam a confiança dos indivíduos e dos grupos sociais nas instituições, nas informações e na capacidade de encontrar um sentido ou direção clara para o futuro em meio ao caos e às contradições?

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