"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 24 de maio de 2025

Quando o Riso Se Torna Ruína: A Escola, o Escândalo e a Linha Tênue entre o Público e o Privado

 



Quando o Riso Se Torna Ruína: A Escola, o Escândalo e a Linha Tênue entre o Público e o Privado

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na manhã de maio de 2025, a tela do meu celular revelou um episódio bizarro ocorrido em Cachoeiro de Itapemirim. O vídeo amador que circulava rapidamente nas redes mostrava a diretora de uma escola infantil em um momento de descontração absolutamente impróprio: ela brincava com um pênis de borracha na porta de uma sala de aula. A cena, que mesclava choque e um humor quase surreal, registrava a gestora chamando uma colega para exibir o objeto, sob o olhar curioso de quem filmava. Ao final, a pergunta da colega — *"quem te deu isso?"* — ecoava a incredulidade geral diante daquela conduta num ambiente educativo.

A reação dos pais e da comunidade online foi imediata e indignada. Atenta à repercussão, a prefeitura agiu com rapidez: já na manhã seguinte, a diretora foi ouvida e afastada de suas funções. Um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) foi instaurado, e outros dois servidores passaram a ser investigados. A Secretaria Municipal de Educação, por sua vez, emitiu uma nota de repúdio, reafirmando seu compromisso com a ética e o respeito no ambiente escolar, e anunciou a abertura de um novo processo seletivo para a gestão da unidade.

Como professora, confesso que a notícia me deixou perplexa. Embora as escolas, por vezes, sejam palco de situações inusitadas, raramente se vê um deboche tão explícito aos princípios que deveriam orientar a educação. Aquele objeto de borracha, exibido de forma leviana, manchou a imagem da instituição e lançou uma sombra sobre o esforço diário dos educadores para construir um ambiente de respeito e aprendizado. O alívio pelo afastamento da diretora se misturava à vergonha de ver a escola pública nos noticiários por causa de um escândalo.

Para os pais, a cena reproduzida pelas telas dos celulares gerou perplexidade e justa indignação. A escola, que deveria ser um espaço seguro e referência moral, tornou-se palco de um espetáculo grotesco. A velocidade com que o vídeo se espalhou nas redes sociais evidenciou o grau de exposição da nossa era digital, onde um instante de imprudência pode arruinar reputações e carreiras.

Naquela semana, a reflexão sobre os limites entre o público e o privado ganhou força na comunidade escolar. A busca por leveza, quando descontextualizada e desrespeitosa, cobra um preço alto — sobretudo quando parte de figuras em posição de liderança. O episódio serviu como um lembrete da vigilância constante a que estamos submetidos e da responsabilidade inerente ao papel de educador. Afinal, mesmo um gesto isolado carrega potencial pedagógico, seja para o bem, seja para o mal. Que este incidente sirva de alerta sobre a importância do decoro e da ética nos espaços dedicados à formação das futuras gerações.


https://g1.globo.com/es/espirito-santo/sul-es/noticia/2025/05/23/diretora-de-escola-e-afastada-das-funcoes-ao-ser-filmada-brincando-com-penis-de-borracha-na-porta-de-sala-de-aula-no-es.ghtml (Acessado em 24/05/2025)



Meu relato sobre o ocorrido na escola infantil suscita importantes reflexões sobre ética, comportamento e as expectativas sociais em relação aos profissionais da educação. A viralização do vídeo e a reação da comunidade demonstram a complexa interação entre o público e o privado na sociedade contemporânea. Com base nas ideias principais do texto, preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos sociologicamente esse evento:


1 - O texto descreve a reação de "choque" e "indignação" diante da conduta da diretora. Como a Sociologia analisa a construção social das normas de comportamento e da ética profissional em instituições como a escola, e como desvios dessas normas podem gerar reações coletivas?


2 - A velocidade com que o vídeo se espalhou nas redes sociais é destacada no texto. De que maneira a Sociologia das Mídias analisa o impacto da cultura da exposição e da viralização de conteúdos na percepção pública de eventos e na responsabilização de indivíduos, especialmente em contextos institucionais?


3 - O afastamento da diretora e a investigação de outros servidores demonstram a resposta institucional ao ocorrido. Como a Sociologia das Organizações estuda os mecanismos de controle social e as formas de regulação do comportamento dentro de instituições, e quais os processos que levam à aplicação de sanções em casos de desvio de conduta?


4 - O texto menciona a reflexão sobre os "limites entre o público e o privado". Como a Sociologia analisa a construção social das esferas pública e privada, e de que maneira as expectativas de comportamento podem variar entre esses domínios, especialmente para figuras públicas como diretores de escolas?


5 - A conclusão do texto aponta para o potencial pedagógico de um "gesto isolado". Como a Sociologia da Educação analisa o papel do exemplo e do comportamento dos adultos (especialmente figuras de autoridade) na socialização e na formação de valores das crianças no ambiente escolar?

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A Aula que Ninguém Deu: Mudanças Curriculares ("Não se pode construir um futuro sobre a areia movediça de uma ideologia." — Autor Desconhecido (adaptado))

 



A Aula que Ninguém Deu: Mudanças Curriculares ("Não se pode construir um futuro sobre a areia movediça de uma ideologia." — Autor Desconhecido (adaptado))

Por Claudeci Ferreira de Andrade

No país da jabuticaba e do jeitinho, eu ainda acreditava que as mudanças vinham com alarde — um decreto estampado no jornal, uma coletiva apressada, uma hashtag estrondosa no Twitter. Mas ultimamente, a educação tem sido alterada em silêncio, reescrita no rodapé, em letras miúdas, como quem tenta mudar a alma de uma casa mexendo sorrateiramente na fundação.


Sou do tempo em que o quadro negro era espelho das certezas. Nele, o verbo concordava com o sujeito, e os números obedeciam ao compasso da lógica. Os conteúdos tinham nome: matemática, português, história, ciências. O professor? Uma espécie em extinção, mas ainda resistia, feito farol nas manhãs nebulosas do ensino médio.


Até que, certa manhã, durante o café, li o que preferia não ter lido. Mudaram tudo. Sem estardalhaço, com uma caneta que carregava mais tinta ideológica que pedagógica. Decidiram que o novo currículo precisava ser “justo”, “intervencionista”. E, no meio do discurso, apagaram o que havia sido construído com suor e giz — como se ensinar fosse um acerto de contas com o passado.


Senti o chão fugir quando ouvi que, em vez de calcular juros compostos, o aluno agora deveria “refletir criticamente sobre a colonialidade dos saberes”. Juro que tentei compreender. Abri o documento — longo, técnico, quase um código da nova fé laica — e lá estavam as palavras de ordem travestidas de proposta pedagógica. Mais parecia um panfleto do que uma diretriz.


Não sou contra a diversidade, longe disso. Cresci admirando a pluralidade da nossa gente, dos nossos sotaques, das nossas cores. Mas me pergunto: quando ensinar virou sinônimo de reeducar? Quando a escola deixou de preparar para a vida e passou a preparar para um tipo específico de militância?


Senti-me traído. E não fui o único. Pais começaram a enviar mensagens aflitas: “Professor, é verdade que tiraram literatura para colocar desconstrução de gênero?” “O que meu filho está realmente aprendendo na escola?” E eu, sem saber mentir, apenas suspirei.


Não se trata de rejeitar a transformação. A educação precisa, sim, evoluir — mas para ampliar, não para substituir; incluir, não excluir; formar, não formatar. A escola deve ser ponte para o mundo, não trincheira de guerra cultural.


Hoje, ao entrar na sala, não sei mais se sou professor ou réu. O que sei é que a lousa pesa mais — não pelo pó do giz, mas pela poeira de um projeto que tenta apagar o que veio antes e, em seu lugar, erguer um altar às certezas do presente.


Educação é coisa séria. Não é palco para experimentos sociais nem laboratório de ideologias. Quem ousa brincar com isso não transforma um país — desfigura o futuro.


E o futuro, meus caros, não será indulgente com quem ensinou os jovens a pensar com raiva, mas não lhes deu as ferramentas para pensar com clareza.



Meu texto levanta questões cruciais sobre as mudanças curriculares e a potencial influência ideológica na educação, um debate central na sociologia da educação. A minha preocupação com a priorização de certas agendas em detrimento do ensino fundamental ressoa com diversas discussões contemporâneas. Com base nas minhas ideias principais, preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos essas tensões sociologicamente:


1- O autor expressa uma nostalgia por um tempo em que os conteúdos escolares pareciam mais definidos e menos ideológicos. Como a Sociologia da Educação analisa a construção social do currículo escolar, e de que maneira os contextos políticos e sociais influenciam a seleção e a organização dos conhecimentos ensinados nas escolas?


2- O texto critica a substituição de conteúdos tradicionais por temas como "reflexão crítica sobre a colonialidade dos saberes" e "desconstrução de gênero". Como a Sociologia do Conhecimento aborda a questão de quais conhecimentos são considerados legítimos e relevantes para serem ensinados, e como essa seleção se relaciona com as relações de poder na sociedade?


3- A preocupação com a transformação da escola em um espaço de "militância" em vez de "formação" é central no texto. De que maneira a Sociologia analisa o papel da escola na socialização política dos jovens, e quais são os limites entre a formação para a cidadania crítica e a potencial doutrinação ideológica?


4 - O autor menciona a reação de pais preocupados com o que seus filhos estão aprendendo. Como a Sociologia da Família e a Sociologia da Educação analisam a relação entre família e escola em relação aos valores e conhecimentos transmitidos, e como diferentes visões sobre o currículo podem gerar tensões entre essas duas instituições?


5 - A crítica final do autor se volta para o risco de "desfigurar o futuro" ao priorizar ideologias em vez de fornecer "ferramentas para pensar com clareza". Como a Sociologia do Futuro e a Sociologia da Educação podem analisar as consequências sociais de diferentes modelos curriculares para a formação das novas gerações e para o desenvolvimento do país?

quinta-feira, 22 de maio de 2025

Na Inclusão: A sala, a escola e o impossível ("Não existe um único mapa para todos os viajantes." — Provérbio Sufi)

 



Na Inclusão: A sala, a escola e o impossível ("Não existe um único mapa para todos os viajantes." — Provérbio Sufi)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na quietude do consultório, o médico observava, em silêncio, o cenário humano à sua frente. Três famílias distintas aguardavam, cada uma imersa em sua própria realidade. Havia a mãe e o filho marcado pela presença constante da epilepsia, pairando sobre suas vidas como uma sombra imprevisível. Ao lado, outra mãe acompanhava o menino recolhido em seu universo particular, moldado pelo autismo. Por fim, a terceira conduzia com ternura o filho com síndrome de Down, cuja inocência se entrelaçava à delicadeza da deficiência intelectual.


Três histórias singulares, reunidas no mesmo espaço de escuta e cuidado. O médico, absorto em seus pensamentos, refletia sobre a natureza única de cada caso e a atenção específica que cada criança exigia. Por um breve momento, imaginou-se atendendo as três famílias ao mesmo tempo, como se fosse possível condensar, em uma única consulta, tamanha complexidade. A ideia, tão absurda quanto impraticável, logo se desfez no ar.


Foi então que um pensamento, como um lampejo, atravessou sua mente: por que, afinal, a sociedade insistia em acreditar que, na escola, esse tipo de cenário poderia funcionar? Por que se esperava que um professor, sozinho diante de uma sala superlotada, fosse capaz de atender simultaneamente alunos com autismo, TDAH, síndrome de Down e tantas outras necessidades específicas?


A pergunta se impunha, carregada de crítica e desconforto. "Por que acreditamos que uma professora, com 25 ou 30 alunos na sala — entre eles dois com autismo, dois com TDAH, um com síndrome de Down e outro com transtorno opositor — conseguirá dar conta de tudo sozinha?" Na cabeça de quem passaria a ideia de que isso pode dar certo?


A analogia entre o consultório e a escola tornava-se cada vez mais nítida. Ambos são espaços de encontros humanos intensos, onde a individualidade clama por atenção. No entanto, enquanto na medicina a singularidade de cada paciente é reconhecida e respeitada, na educação, muitas vezes, a diversidade é vista como um desafio a ser nivelado por soluções genéricas.


O médico compreendia que a inclusão, para ser verdadeira, precisava ir além do discurso e da presença física em sala. Era preciso preparo, apoio, recursos. Exigia uma escuta atenta e um olhar capaz de perceber a riqueza que reside nas diferenças.


A inquietação persistia: até quando se continuaria a apostar em respostas simplistas para dilemas tão complexos? A inclusão real, concluiu o médico, não é feita de improvisos nem de boas intenções isoladas. É feita de reconhecimentos profundos, de respeito pela jornada de cada um. E, para que isso se cumpra, a escola precisa urgentemente abandonar a ilusão da igualdade uniforme e abraçar, com coragem, a diversidade que a habita.



Meu texto estabelece uma analogia poderosa e pertinente entre a prática médica e a educação inclusiva, expondo as complexidades e os desafios de atender à diversidade. As reflexões do médico ecoam as dificuldades enfrentadas por muitos educadores. Com base nas ideias centrais do meu texto, preparei 5 questões discursivas simples para explorarmos essas questões sob a perspectiva sociológica:


1-O texto utiliza a imagem do médico diante de três famílias com necessidades distintas para questionar a lógica de uma inclusão escolar homogênea. Como a Sociologia da Educação analisa as políticas de inclusão, considerando o risco de universalismos abstratos que não atendem às especificidades das necessidades educacionais especiais?


2-A analogia entre o consultório médico e a sala de aula destaca a importância da atenção individualizada. De que maneira a Sociologia pode analisar as estruturas escolares e as condições de trabalho dos professores (como salas superlotadas) como fatores que dificultam a implementação de práticas pedagógicas individualizadas e inclusivas?


3-O médico questiona a expectativa de que um único professor consiga "dar conta de tudo sozinho" em uma sala de aula com necessidade especiais diversas. Como a Sociologia das Profissões aborda a questão da divisão do trabalho e da necessidade de apoio multidisciplinar (psicólogos, terapeutas ocupacionais, etc.) para efetivar a inclusão escolar de forma adequada?


4-O texto critica a ideia de "igualdade uniforme" em contraposição ao abraçar a "diversidade". Como a Sociologia estuda os conceitos de igualdade e equidade no contexto educacional, e qual a importância de reconhecer as diferenças para promover uma inclusão justa e eficaz?


5-A reflexão final do médico aponta para a necessidade de "reconhecimentos profundos" e "respeito pela jornada de cada um" na inclusão. De que maneira a Sociologia pode contribuir para a compreensão das experiências subjetivas de alunos com necessidades educacionais especiais e de seus familiares, e como essa compreensão pode informar práticas pedagógicas mais sensíveis e inclusivas?

quarta-feira, 21 de maio de 2025

O diploma atrás da tela: O Resgate do Presencial na Formação Essencial. ("Ouvir falar não é o mesmo que ver." — Provérbio Chinês)

 


O diploma atrás da tela: O Resgate do Presencial na Formação Essencial. ("Ouvir falar não é o mesmo que ver." — Provérbio Chinês)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquela manhã, acordei com a incômoda sensação de que algo estava fora do lugar — não em casa, mas no país. Abri as janelas, deixei a luz entrar e fui direto à chaleira. Café passado, sentei-me diante da tela do computador, como fazem tantos brasileiros. Antes mesmo de abrir os e-mails, fui fisgado por uma manchete que saltava da página como um grito: “Novas regras para o ensino a distância entram em vigor”.


Sorvi o café como quem engole um amargor que não está apenas na bebida. E, de repente, voltei à época em que estudar era um ato corporal: sentar em carteira, ouvir a inquietação dos colegas, encarar o olhar atento do professor que — mesmo severo — ensinava mais com sua presença do que com palavras.


Na audiência pública transmitida pela TV Câmara, o ministro da Educação, Camilo Santana, surgiu sereno, porém firme. Falava com a convicção de quem não busca agradar, mas proteger o essencial. Afirmou, com todas as letras, que enfermeiros, médicos, psicólogos e advogados não podem ser formados apenas diante da frieza de uma tela. E, naquele instante, senti como se ele estivesse falando comigo.


Lembrei de um sobrinho que cursava enfermagem sem jamais ter pisado num hospital. Pensei num conhecido que estudava direito como quem assiste a uma novela — pulando capítulos. E me perguntei: como exigir ética de quem nunca sentiu o peso de um tribunal real? Como ensinar empatia a quem nunca viu de perto a dor do outro?


Segundo o ministro, os cursos presenciais voltarão a ser obrigatórios nas áreas de medicina, odontologia, enfermagem, direito e psicologia. Para os demais, o ensino híbrido será a norma. E haverá dois anos de transição — tempo para arrumar a casa antes que a visita chegue.


Não se trata de rejeitar a tecnologia — ele mesmo destacou que o governo discute inteligência artificial e inovação. O problema está nos polos fantasmas, nos laboratórios que só existem em PDF, nos professores substituídos por tutores que mal conhecem os alunos.

Concordei em silêncio, como quem reconhece uma verdade antiga: não se ensina cuidado à distância. E cuidado, no fim das contas, é o que toda profissão exige — do corpo, da lei, da mente. Cuidar da palavra, da escuta, do outro.


Ao fechar o notebook, senti que o país, ao menos nesse ponto, dava um passo sensato. A pressa nos empurrou para o digital; a prudência nos chama de volta ao humano.

Talvez a tela ainda tenha seu lugar. Mas o diploma — esse deve carregar mais do que um nome. Precisa trazer a marca do esforço real, do convívio, da prática e do suor.


Porque, no fundo, ninguém quer ser operado por um médico que só conhece órgãos por imagem. Nem julgado por um advogado que só leu resumos. Nem escutado por um psicólogo que nunca escutou ninguém de verdade.


A educação não é só conteúdo — é convivência. E é nela que se aprende a ser gente.


https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2025-05/camilo-novas-regras-para-ead-protegem-populacao-e-garantem-qualidade (Acessado em 21/05/2025)



O texto levanta importantes reflexões sobre a natureza da formação profissional e o papel da interação humana no aprendizado! Como um bom professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1-O autor contrasta a experiência de estudar presencialmente como um "ato corporal" com a frieza da tela no ensino a distância (EAD) para certas profissões. Como a Sociologia analisa o papel do corpo e da presença física nos processos de socialização e aprendizado, especialmente em profissões que envolvem cuidado e interação direta com outras pessoas?


2-O texto menciona a preocupação com "polos fantasmas" e a substituição de professores por tutores no EAD. Sob a perspectiva sociológica, como a estrutura e a organização das instituições de ensino (tanto presenciais quanto a distância) podem influenciar a qualidade da educação e as relações sociais estabelecidas entre os membros da comunidade acadêmica?


3-O autor argumenta que "não se ensina cuidado à distância", relacionando o cuidado à necessidade de "convivência" e aprendizado de "ser gente". De que maneira a Sociologia das Emoções e a Sociologia da Moral analisam o desenvolvimento da empatia e da ética profissional, e qual o papel da interação social direta nesse processo formativo?


4-O texto descreve a decisão do governo como um passo da "pressa" para o "digital" à "prudência" do "humano". Como a Sociologia analisa a relação entre tecnologia e sociedade, e de que forma as mudanças tecnológicas impactam os processos educativos e as formas de interação social, gerando debates sobre seus limites e potencialidades?


5-Ao final, o autor enfatiza que "a educação não é só conteúdo — é convivência". Como a Sociologia da Educação aborda a importância da socialização e da construção de laços sociais no ambiente educacional, e de que maneira essa dimensão da educação contribui para a formação integral dos indivíduos, para além da mera transmissão de conhecimento?

terça-feira, 20 de maio de 2025

O Dia em Que Virei Réu: No Pré-conselho de Classe ("É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." — Albert Einstein)

 


O Dia em Que Virei Réu: No Pré-conselho de Classe ("É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito." — Albert Einstein)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Nunca pensei que um dia me sentaria diante de uma roda de estudantes com a estranha sensação de estar num tribunal. O clima era cordial, mas havia algo na disposição das cadeiras, na atenção concentrada dos olhos adolescentes e no caderno aberto da coordenadora que me inquietava. Eu, que sempre entrei em sala com o peito aberto e a alma em alerta, agora me via exposto num tipo de pré-conselho de classe que mais parecia um julgamento.

Chamam de “escuta qualificada”, “protagonismo juvenil”, “democratização do espaço escolar”. Termos bonitos, cheios de intenções nobres, repetidos nos documentos oficiais e nos cursos de formação. Mas a prática, essa senhora realista e implacável, não costuma combinar com os discursos.

Na teoria, o encontro serviria para que os alunos opinassem sobre o andamento das aulas, dialogassem com a gestão e participassem ativamente do processo educacional. Um espaço para crescerem como cidadãos conscientes. Na prática, o que presenciei foi diferente: comentários soltos, impressões pessoais transformadas em verdades absolutas, avaliações feitas com mais emoção do que reflexão. E nós, professores, ali no centro, desarmados, sem direito a réplica.

Um deles disse que minha aula era “parada demais”. Outro sugeriu que eu “não entendia os alunos”. Alguém falou da minha “postura rígida”. Tudo isso diante da direção, da coordenação, de colegas. Faltava apenas a edição dramática e um apresentador carismático para virar um reality show educacional.

Voltei para casa com a cabeça cheia. Não pelas críticas em si — sei que nem sempre sou brilhante, nem sempre agrado, e estou longe da perfeição. Mas pela forma. Pela ausência de critérios. Pelo silêncio constrangido de quem deveria mediar com equilíbrio, mas permitiu que a linha entre escuta e exposição se rompesse.

Ensinar já é carregar um fardo pesado: salas superlotadas, estruturas sucateadas, salários que mal sustentam o mês, cobranças que atravessam o corpo. Acrescente-se agora o desgaste emocional de ser avaliado em público, sem filtros, por quem ainda está aprendendo a avaliar a si mesmo. O resultado? Adoecimento. Silêncio. Desânimo.

Entendo que é preciso ouvir os alunos. Sempre defendi o diálogo, o feedback, a construção coletiva. Mas ouvir com ética, com objetivos claros, com respeito mútuo. Quando a escuta se transforma em exposição, a escola trai justamente aqueles que mais precisam de cuidado: os professores.

Não somos réus. Somos profissionais. Humanamente falhos, sim. Mas comprometidos, presentes, resistentes. Merecemos ser ouvidos também, sem sermos crucificados por não corresponder às expectativas de um sistema que, muitas vezes, nos abandona à própria sorte.

Naquele dia, saí da escola mais cansado que o habitual. Não pelos gritos, pelas indisciplinas, pelas provas para corrigir. Mas pela sensação de estar sendo julgado por um júri que ainda está aprendendo a ser justo.

Se a escola quer ensinar cidadania, que comece pela prática do respeito. E se quer formar pessoas, que acolha com a mesma seriedade quem ensina. Afinal, um país que esquece seus mestres compromete o futuro de todos os seus alunos.



Minha crônica é um relato potente sobre os desafios da docência e as contradições de certas práticas pedagógicas. Como professor de Sociologia, vejo nela um material riquíssimo para discutir diversas dinâmicas sociais presentes na educação.

Com base nas ideias principais do meu texto, formulei 5 questões discursivas e simples que convidam à reflexão sociológica:


1. O texto descreve o "pré-conselho de classe" como um "julgamento" onde o professor se vê "desarmado, sem direito a réplica". Como a Sociologia do Trabalho e das Organizações pode analisar essa prática, considerando as "relações de poder" e a "autonomia profissional" dos educadores dentro do ambiente escolar?


2. A crônica aponta que a "escuta qualificada" e o "protagonismo juvenil" se transformaram em "exposição" e "adoecimento" para os professores. Discuta como a Sociologia da Educação pode investigar a "distância entre o discurso pedagógico oficial" (ideal) e a "realidade vivida" pelos profissionais em sala de aula.


3. O autor menciona que os professores enfrentam "salas superlotadas, estruturas sucateadas, salários que mal sustentam o mês". Como a Sociologia pode correlacionar essas "condições precárias de trabalho" com o "desgaste emocional" e a "saúde mental" dos educadores, evidenciando o impacto na qualidade do ensino?


4. O texto questiona a falta de "critérios", "mediação" e "respeito mútuo" nos processos de avaliação dos professores pelos alunos. Do ponto de vista sociológico, qual a importância da "ética" e das "normas claras" nas interações dentro da escola para a construção de um ambiente democrático e justo para todos os envolvidos?


5. Ao afirmar "Não somos réus. Somos profissionais", o autor reivindica a "dignidade docente". Como a Sociologia da Profissões e da Educação pode analisar a "desvalorização do magistério" na sociedade contemporânea e as consequências sociais dessa percepção para o futuro da educação no país?