"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

sábado, 29 de janeiro de 2022

Coleção 64 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 64 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “A culpa, disfarçada de virtude, acusa o inocente para ocultar-se; mas a verdade, mesmo soterrada por aparências, retorna sempre ao ponto de origem e restabelece o real.”

2 - “Os sábios temem a vida e a luz por saberem que nelas se dissipam o mistério e o sentido; os tolos, ao temerem a morte e as trevas, perdem a chance de viver e compreender; cada um foge justamente do que poderia libertá-lo.”

3 “Quem teme o próprio espaço que deveria proteger transforma o discurso de segurança em contradição viva, pois ninguém ensina coragem quando faz do medo seu exemplo.”

4 “Clamar por paz aos que já romperam com a moral é apelar ao vazio; o mal não se comove com súplicas, e a justiça sem força continua a ser apenas um grito impotente diante da violência.”

5 “A tentação, longe de ser mero desvio demoníaco, é a prova divina disfarçada; pois o mesmo Deus que julga o homem é quem o testa, fazendo do pecado e da culpa instrumentos de revelação moral.”

6 “O pai só é amparado na velhice se, antes, tiver ensinado o filho a não precisar dele; pois a verdadeira herança não é a dívida, mas a liberdade que torna o cuidado um ato de amor, não de obrigação.”

7 “Em quem há muita beleza, a ignorância se desnuda; e quando o poder é feio, sua corrupção desfigura até os que o seguem; a ponto de ninguém mais saber em qual espelho restou o próprio rosto.”

8 “A escola decai quando é conduzida por quem perdeu o brilho de ensinar; um sistema exausto, sustentado por rostos cansados, tenta inspirar futuro sem ter mais fé no próprio amanhã.”

9 “Se a beleza inspira mais que o saber, o ensino se torna espetáculo; mas quando o feio reconhece sua própria decadência e ainda assim preserva a lucidez, sua feiura é menos vulgar que a dos que perderam também a alma.”

10 “Se os alunos dominassem o ofício de aprender, até professores medíocres seriam suficientes; mas cercado por pais desentendidos e coordenadores que o impedem de ensinar, o educador se vê impotente, vítima de uma responsabilidade que nunca lhe pertenceu por completo.”

11 “Quando o interesse repentino de uma mulher bela parece desmedido, a sedução se revela arma: beleza e atenção podem ocultar manipulação, lembrando que nem todo presente é verdadeiro e nem toda isca é inocente.”

12 “Cursos fáceis funcionam como terremotos que desenterram os poupadores de esforço: diplomas se acumulam, mas a competência real permanece sepultada, deixando o recém-formado perdido diante de um mundo que não recompensa credenciais vazias.”

13 “A EJA a distância promete aprendizado, mas entrega alvoroço: certificação sem qualidade, lei do menor esforço e desigualdade mascarada, enquanto o ensino regular encara rigor que ela ignora; dois pesos e duas medidas que perpetuam a injustiça educacional.”

14 “Médias estatísticas escondem excelência e fracasso, transformando o rendimento real em número mediano; assim, o sistema lucra com o fracasso, alimenta burocracia inútil e mantém o estudante refém de uma matemática que mascara a verdade.”

15 “Sem reprovação, sementes ruins geram colheita malfazeja: alunos incompetentes retornam como professores, perpetuando um ciclo infalível de mediocridade que transforma a escola em fábrica de si mesma.”

16 “Quando a escola é chamada a substituir famílias incapazes, enfrenta uma missão impossível: educar os pais não é formar crianças, e a raiz do problema (a desestrutura familiar) permanece intacta, enquanto o sistema culpa quem não tem poder sobre ela.”

17 “Se cada versão da Bíblia é tratada como palavra de Deus, a univocidade divina se desfaz: crentes fanáticos, ao aceitar múltiplas interpretações, tornam-se politeístas sem perceber, cultuando diversas vozes onde juram professar uma só.”

18 “Confesso desprezar a mediocridade travestida de igualdade: toda generalização é burra, e o ideal; se é que existe, é respeitar as diferenças sem iludir-se com uniformidade forçada.”

19 “Em grupos, a traição é estatística: sempre surge um Judas que vende o plano alheio; e os oportunistas que chegam com promessas vazias inevitavelmente partem de mãos vazias, revelando que até o fracasso humano serve para preservar a ordem divina.”

20 “Quando a punição não é formalizada, o aluno indisciplinado explora a brecha, migrando de sala em sala sob falso afeto, perpetuando a desordem e transformando a escola num espaço onde a impunidade se desloca sem controle.”

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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

O DOUTRINAMENTO DA VACINAÇÃO. ("A política é a doutrina do possível". — Otto von Bismarck)

 


            

O DOUTRINAMENTO DA VACINAÇÃO ("A política é a doutrina do possível". — Otto von Bismarck)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Ainda me lembro com nitidez do som abafado dos primeiros noticiários sobre aquele vírus longínquo, algo que parecia confinado ao noticiário internacional, tão distante da nossa realidade quanto um eclipse em outro hemisfério. Mas, como uma onda silenciosa, o Coronavírus atravessou oceanos e certezas, invadindo nossas rotinas, redesenhando o cotidiano que julgávamos imutável. Suas variantes continuam a surgir, como se nos lembrassem — dia após dia — que o antigo normal talvez não passe de uma miragem no retrovisor.

Ontem, da janela da sala, vi duas pessoas se encontrando na calçada. Um mascarado se aproximou, e o outro deu um passo atrás, quase por instinto. Um balé estranho, que há pouco tempo seria incompreensível, hoje é gesto automático. Confesso que fiz o mesmo no mercado pela manhã — aquele recuo quase coreografado, quando alguém cruza o nosso novo e silencioso perímetro de segurança. Já me convenceram de que deve ser assim. Mas, às vezes, me pergunto: será que essa distância também se instalou entre as almas? Talvez precisemos de proteção não apenas contra vírus, mas contra a presença do outro — contra sua humanidade tão próxima, tão ameaçadora.

Enquanto isso, ouve-se um clamor pelas escolas públicas: querem reabrir, reviver o chamado "velho normal", como se fosse possível ressuscitar um tempo idealizado — tempo esse que, para muitos, era sustento, era rotina, era chão firme. Pressionam pelo retorno das aulas presenciais, com a justificativa de que são mais eficazes do que as remotas. Talvez isso seja verdade em alguns casos — sobretudo no delicado processo da alfabetização. Mas não consigo evitar uma pergunta incômoda: não estaríamos delegando demais à escola aquilo que deveria começar em casa?

Educar é, antes de tudo, ato de presença, e não apenas física. Quando terceirizamos completamente a formação inicial de nossas crianças, não transferimos apenas letras e números, mas abrimos as portas para que suas personalidades sejam moldadas por outros — por olhares que carregam ideologias, convicções, intenções. Ninguém ensina de forma absolutamente neutra. Assim como um repórter não consegue narrar os fatos sem deixar escapar algum traço pessoal, o educador também imprime sua marca, ainda que involuntariamente.

E é nesse espaço sutil — quase invisível — que ideologias ganham corpo, ocupando as lacunas deixadas por uma sociedade que, muitas vezes, se ausenta da formação de seus próprios filhos. A escola reflete o mundo, sim, mas também o influencia. E, então, nos perguntamos: até que ponto o Estado é verdadeiramente laico, se seus agentes carregam convicções que transbordam nas salas de aula?

Hoje à tarde, caminhando pelo bairro, ouvi um grupo debatendo a possibilidade de demissão por justa causa para funcionários que se recusarem a tomar a vacina. E lembrei dos nossos paradoxos nacionais — não somos obrigados a votar, mas precisamos do comprovante de votação para obter um passaporte. Um curioso jogo de liberdades condicionadas, de obrigações disfarçadas.

E se um aluno ou professor contrair o vírus dentro da escola? A quem caberia a responsabilidade? Poderia o Estado ser responsabilizado por isso? A verdade é que máscaras, por mais indispensáveis que sejam, não são invulneráveis. E as vacinas, ainda que representem nossa maior esperança, não são garantias absolutas.

As contradições desse tempo me fazem lembrar as palavras de Luiz Roberto Bodstein:

"O pior em sociedade é o doutrinamento, já que confundido com 'chamada à verdade'. Mas no ensino real se entrega a chave para que o aprendiz busque a resposta por si mesmo, pois se o desejar ele o fará. Já no doutrinamento se busca transferir a crença do 'correto presumido', ilegítimo pela pretensão de que se detém a verdade, da suposta prevalência de uma crença sobre outra, e de uma imposição onde só a nossa versão é válida."

Que linha tênue é essa entre ensinar e doutrinar! Enquanto o verdadeiro ensino liberta, o doutrinamento aprisiona — e o pior cárcere é aquele em que se entra acreditando ser liberdade.

Vejo igrejas de portas fechadas, protocolos que se contradizem, e uma sociedade tensionada entre o medo e a necessidade de continuar. O chamado “novo normal” se assemelha a um labirinto onde tateamos às cegas, esperando por soluções que, às vezes, ganham contornos quase messiânicos.

Talvez essa seja a lição mais dura que herdamos deste tempo: precisamos aprender a questionar, a discernir, a buscar — por nós mesmos — o equilíbrio possível entre proteção e liberdade. A pandemia um dia vai passar, mas suas marcas continuarão visíveis em nossos gestos, em nossos olhares, na forma como nos aproximamos — ou nos afastamos — uns dos outros.

Enquanto isso, sigo aqui, observando da janela o mundo mascarado. E cada recuo diante do outro se transforma em lembrete sutil: algo mudou. E talvez nós — lá no fundo — também tenhamos mudado para sempre.



Esta crônica é um mergulho nas complexidades sociais e existenciais que a pandemia acentuou, abordando temas que vão da micro-interação à estrutura do Estado. Com um olhar sociológico, podemos extrair questões importantes para análise.

Com base nas ideias principais do texto e com um foco na perspectiva sociológica, preparei 5 questões discursivas simples:



1. As Mudanças nas Interações Sociais Pós-Pandemia: A crônica observa como gestos como manter distância e o uso de máscaras se tornaram um "balé estranho" e "gesto automático". Sociologicamente, como a pandemia do Coronavírus e as medidas de saúde pública alteraram as normas de interação social e a nossa percepção sobre o espaço pessoal e a proximidade física nas relações do dia a dia?

2. A Escola como Agente de Socialização e Transmissora de Valores: O texto levanta a questão de que o professor transfere mais do que apenas conhecimento formal ("letras e números"), imprimindo também "ideologias, convicções, intenções". Sociologicamente, como a escola atua como um agente de socialização, transmitindo valores e visões de mundo (muitas vezes de forma não intencional), além do currículo oficial?

3. Ensino vs. Doutrinamento no Contexto Social: A crônica cita Luiz Roberto Bodstein sobre a diferença entre "ensino real" (dar a chave para buscar respostas) e "doutrinamento" (transferir crenças). Sociologicamente, por que é importante essa distinção para a formação de cidadãos críticos, para a autonomia de pensamento e para a dinâmica das instituições educacionais em uma sociedade democrática e plural?

4. Controle Social e Poder do Estado: O texto aborda exemplos como a possível demissão de funcionários por justa causa por recusa de vacina e a exigência de comprovante de votação para o passaporte, chamando-os de "paradoxos nacionais" e "liberdades condicionadas". Sociologicamente, como podemos analisar essas situações como mecanismos de controle social exercidos pelo Estado, que utilizam regras e exigências para influenciar comportamentos e condicionar o acesso a determinados bens ou serviços?

5. Incerteza Social e Busca por Sentido no "Novo Normal": A crônica descreve a vivência do "novo normal" como um "labirinto onde tateamos às cegas" em busca de respostas e sentido. Sociologicamente, como períodos de grande incerteza, crise e desorientação social (como uma pandemia) afetam a confiança dos indivíduos e dos grupos sociais nas instituições, nas informações e na capacidade de encontrar um sentido ou direção clara para o futuro em meio ao caos e às contradições?

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domingo, 9 de janeiro de 2022

Coleção 63 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

 


Coleção 63 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 Um ciclo disfuncional se repete: alunos fogem, professores cedem, coordenadores patrulham, e todos se culpam; enquanto o verdadeiro problema, a perda de sentido e autoridade na educação, permanece intacto.

2 Há escolas que vestem uniformes de virtude, mas apenas as que educam para a consciência e o saber despem a aparência e formam o essencial.

3 A escola fracassa quando perde o poder de inspirar, pois na era da informação o aluno busca sozinho o que o mestre deixou de ensinar.

4 A verdadeira divindade reside no mistério: um Deus incognoscível, sem emoções, cuja essência soberana contém tudo, e nada deixa existir fora de si.

5 A rebeldia dos impotentes é o disfarce do ressentimento: incapaz de agir, escandaliza para existir.

6 Quando o respeito cede lugar à intimidade, o vínculo pedagógico se corrompe: o elogio vira suspeita, e o mérito, motivo de ciúme.

7 Quem provoca o poder de que depende revela ignorância do próprio interesse: deseja proteção enquanto semeia o conflito que a nega.

8 Até o inimigo serve ao sábio: seus rumores alertam, suas falhas instruem, e sua hostilidade se converte em estratégia reversa.

9 A opressão se reflete: quem sofre a humilhação aprende a infligi-la, perpetuando o ciclo da dor.

10 A violência prolongada devora a consciência: quem luta sem fim torna-se predador de corpos e almas, reflexo sombrio da própria brutalidade.

11 Regras escolares vazias formam fraqueza, não aprendizado; enquanto coordenadores preservam cargos, os alunos pagam o preço da indiferença.

12 O tempo devora vitórias e inimigos, e nenhuma recompensa celestial resta ao que inevitavelmente perece.

13 A inatividade compulsória corrói a alma: mesmo diante de conquistas almejadas, a ausência de luta e o tempo inevitável tornam toda segurança ilusória.

14 Não lamento a falta de inimigos, mas a impotência da idade diante da juventude, onde o tempo torna a luta injusta e desleal.

15 Mesmo em paz, a alma anseia pelo combate; a felicidade exige adversários, mas a idade torna-os ausentes, deixando apenas a melancolia do desejo não saciado.

16 Aqueles que buscam intimidação em gestos fúteis, cumprimentar com aperto de mão com muita força, ignoram que o divino zela pelos seus, e a soberba se volta contra si mesma.

17 O tempo elimina adversários antes de envelhecerem, e a paz tardia deixa, em mim, apenas sonhos vazios onde o combate já não é possível.

18 Rogar pela queda dos inimigos torna-se inútil, quando o tempo cumpre seu papel, revelando que a minha própria senilidade é a punição mais irônica e desnecessária.

19 Dar nota máxima a um texto ilegível é a ironia suprema: supondo que talvez contenha sabedoria alienígena, e a culpa do incomunicável recai sobre o avaliador.

20 Enquanto uns perseguem ilusões, outros educam para a realidade; cada qual revela, em ação, a essência que carrega.

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Coleção 62 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)


 

Coleção 62 ("Uma coletânea de pensamentos é uma farmácia moral onde se encontram remédios para todos os males." — Voltaire)

Por Claudeci Andrade

1 “Quem tenta espantar os urubus sem largar a carniça não luta contra a traição, mas contra si mesmo; pois o verdadeiro inferno não é ser traído, e sim permanecer preso ao que já apodreceu por medo de se libertar.”

2 “Quando o valor do professor depende do sucesso material de seus ex-alunos, a educação deixa de ser vocação e torna-se espelho de um sistema que mede o humano pelo lucro, fazendo da docência uma gangorra onde a autoestima oscila conforme o mercado.”

3 “Quando pais sem preparo tornam-se juízes dos professores e a escola se curva ao medo das denúncias, a educação se prostitui à conveniência, trocando a autoridade pelo aplauso e sacrificando o saber no altar da clientela.”

4 “Quando o professor percebe que relatar indisciplinas apenas cria dossiês contra si mesmo, o silêncio se torna defesa e a burocracia, paradoxalmente, transforma quem denuncia em suspeito, revelando a perversidade de um sistema que protege a instituição e não o educador.”

5 “Quando a escola transforma ‘apoio’ em chantagem e obriga o professor a assinar sua própria culpa para proteger a instituição, a traição institucional se disfarça de orientação, revelando um sistema que pune quem mantém a ordem e premia quem a viola.”

6 “Quem nasce para servir, oferecendo aos outros o que deveria conquistar, transforma generosidade em armadilha e vê a própria dedicação ser usada para sua derrota, revelando a crueldade de um mundo que confunde altruísmo com fraqueza.”

7 “Se a graça divina absolve antes mesmo da transgressão e Deus é imensurável para ser ofendido, então o pecado deixa de existir, revelando que toda moralidade teológica pode ser lida como construção humana para controlar e doutrinar.”

8 “Quando a escola se curva a famílias que promovem valores antissociais e transforma a pedagogia em diplomacia covarde, a obrigação de matrícula é usada como pretexto para apaziguar clientes, sacrificando profissionalismo e ética em nome da conveniência institucional.”

9 “Quando escolas proíbem celulares enquanto professores e alunos permanecem analfabetos digitais, a tecnologia deixa de ser ferramenta pedagógica e torna-se espelho de hipocrisia institucional e abandono formativo.”

10 “Quando a necessidade de ostentação em redes sociais faz o pobre sacrificar o essencial, a lógica do consumismo transforma lazer em dívida, e validação digital em moeda que não paga a vida real.”

11 “Quem mata seu inimigo transforma a vítima em carrasco interior, e descobre que a violência não destrói a inimizade, apenas a internaliza, provando que só a paz gera paz.”

12 “O cuidado com o bem público nasce do sentimento de pertencimento, mas a privatização escolar nos ensina que quando tudo tem dono, a sociedade perde voz, e a verdadeira civilidade depende de engajamento consciente, não de rituais vazios.”

13 “Quem tenta governar com cuidado para não pisar nos pequenos logo se vê pisoteado pelos maiores, revelando a dificuldade de exercer poder sem se tornar vulnerável à opressão.”

14 “Se na terra já não tenho dignidade e no céu ninguém entra por mérito, então prefiro o inferno: ao menos lá estarei por merecimento próprio, com a consciência limpa de ter conquistado a justiça que me coube; pois viver de Graça é viver do mérito alheio.”

15 “A crença no livre-arbítrio eleva o homem à condição de deus, ironicamente celebrando a vitória de Lúcifer, e anula a autoridade de qualquer profeta sobre o futuro.”

16 “Viajar fragmenta o eu: deixamos pedaços pelo caminho, e ao voltar só conseguimos recompor parcialmente aquilo que se perdeu irreversivelmente.”

17 “O sucesso profissional não depende do curso que fazemos, mas do talento inato que a natureza nos concede e da dedicação àquilo em que naturalmente nos destacamos.”Claudeci Ferreira de Andrade

18 “Escolho distanciar-me, reconhecendo que a participação nem sempre é minha responsabilidade, e que preservar-me é um ato de consciência.”

19 “O ser humano não é seu corpo, mas a essência que irradia do cérebro; mesmo isolado fisicamente, o cérebro mantém a identidade e o destino, enquanto o corpo é apenas um amontoado de bactérias conectadas.”

20 “Todo prazer diminui a potência momentaneamente; nenhum impulso abrupto é pecado, mas apenas preparação para o próximo êxtase.”

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domingo, 2 de janeiro de 2022

O DESRESPEITO TEM PREÇO ALTO ("Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela". — Graciliano Ramos)

 


O DESRESPEITO TEM PREÇO ALTO ("Se a igualdade entre os homens - que busco e desejo - for o desrespeito ao ser humano, fugirei dela". — Graciliano Ramos)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Acordei com a chuva batendo forte na janela, como se o céu quisesse lavar não apenas as ruas, mas também os restos mal varridos do ano anterior. Era o primeiro dia de 2025 e, sinceramente, o futuro não me parecia novo — apenas mais molhado. Do lado de fora, a enxurrada arrastava folhas, garrafas, sacolas e memórias velhas. Tudo o que não presta sempre resiste mais do que deveria.

Senti um aperto no peito. Não era apenas o clima. Era o tempo. Como se os ponteiros do relógio me empurrassem para dentro de um ano que eu não pedi, um calendário que me foi imposto como sentença. Havia algo de sombrio naquele dia — algo que, em silêncio, me dizia que o mundo não seria gentil desta vez. Nem com seus filhos, nem com seus fantasmas.

Vi, no meio da água turva, três patinhos pretos deslizando pela calçada alagada. Três. “Dois patinhos na lagoa”, diz o ditado popular para se referir ao número 22. Mas agora eram três. Sinal de que o tempo havia avançado, ainda que o país parecesse girar em círculos. Eles estavam ali, serenos, indiferentes à tempestade. Diferente de mim, que buscava abrigo até dentro de mim mesmo.

Talvez fossem urubus disfarçados, pensei. Ou talvez eu estivesse vendo tudo de forma simbólica demais. Mas, depois de sobreviver a pragas, pandemias, políticos e promessas não cumpridas, a gente se acostuma a decifrar o mundo por metáforas. A natureza — essa velha senhora de humores imprevisíveis — já não aceita mais nossas desculpas. Desmatamos, queimamos, fingimos não ver. E agora ela responde — não com fúria, mas com justiça.

Lá fora, o novo governo prometia mudança. Mudança. Palavra que já me soa como slogan de campanha. O povo queria reforma, mas esqueceu de se reformar primeiro. Atiraram pedras na corrupção, mas mantiveram a janela da própria casa aberta. E, no fundo, é sempre assim: enquanto uns rezam por redenção, outros negociam com o caos.

A humanidade brinca de herói armado, como se a violência fosse encenação. Mas quem aponta uma arma sem intenção de atirar esquece que há sempre alguém do outro lado disposto a revidar. Já nos roubaram o ouro, o voto e a esperança. E a história nos sussurra: ferido, o povo volta. Volta para cobrar.

No fim da tarde, a chuva cessou, mas o céu permaneceu cinza. Os patinhos haviam sumido — como tudo que é passageiro. Restava apenas o silêncio: espesso, denso, necessário.

Enquanto eu fechava a janela, entendi que o medo de recomeçar é só o eco daquilo que ficou mal resolvido. E recomeçar exige mais do que força: exige coragem para olhar o mundo como ele é — e, ainda assim, escolher continuar.

Talvez o verdadeiro milagre seja seguir em frente, mesmo quando tudo diz para parar. Porque viver, neste planeta ferido, é um ato de resistência. E crer na mudança, mesmo que ela venha devagar, é um ato de fé.


Com base na crônica apresentada, elaborei cinco questões discursivas que exploram seus temas principais sob uma perspectiva sociológica:


O narrador afirma que "o povo queria reforma, mas esqueceu de se reformar primeiro". Discuta como essa ideia se relaciona com o conceito de transformação social, considerando a relação entre mudanças institucionais e mudanças de consciência individual.


A crônica utiliza a metáfora da chuva e da enxurrada que "arrasta o que não presta". Explique como fenômenos naturais podem ser interpretados sociologicamente como expressões simbólicas de processos de purificação ou renovação social.


O texto menciona que "Já nos roubaram o ouro, o voto e a esperança". Analise como essa afirmação reflete a percepção de traumas históricos coletivos e sua influência na formação da identidade social brasileira.


"A humanidade brinca de herói armado, como se a violência fosse encenação." A partir dessa frase, reflita sobre como a banalização da violência e sua representação na sociedade contemporânea afetam as relações sociais.


Na conclusão, o narrador afirma que "viver, neste planeta ferido, é um ato de resistência." Discuta como o conceito sociológico de resistência pode ser aplicado às formas de enfrentamento das crises ambientais e sociais mencionadas no texto.

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