"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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MINHAS PÉROLAS

Denunciar é voz fácil na boca do fraco.Na Bíblia,é mexericar.É o inapto derrubando os de cima ou um pedido cruel de ajuda.
Claudeci Ferreira de Andrade

domingo, 20 de abril de 2025

O Que Eu Amo, O Que Me Cansa ("Há feridas que a gente não sabe que tem senão quando a mão de alguém as toca." — Clarice Lispector)

 

O Que Eu Amo, O Que Me Cansa ("Há feridas que a gente não sabe que tem senão quando a mão de alguém as toca." — Clarice Lispector)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Outro dia, enquanto esperava o café coar, deparei-me com um comentário que não me saiu da cabeça: “Se você não está feliz com sua profissão, saia. Tem quem queira.” A frase, aparentemente simples, atravessou-me como um grito mal disfarçado. De início, respirei fundo; tentei rir, como quem não se afeta. Mas, veja bem, sou professor. E, quando se é professor, há coisas que simplesmente não dá para deixar passar.

Não sei precisamente quando deixei de ser visto como vocação e passei a ser encarado como estorvo. Talvez tenha sido quando começaram a me chamar de “tiozão” e, convenientemente, esqueceram que ali, diante de uma lousa, havia um profissional formado, estudado, que insiste em ensinar mesmo diante do caos.

Gosto, sim, e gosto muito de ser professor. Gosto de olhar uma turma no início do ano, cheia de dúvidas, receios e desconfianças, e presenciar, meses depois, o brilho no olhar de quem finalmente entendeu uma ideia, escreveu um texto decente ou respondeu a uma pergunta com coragem. Isso me enche de alegria, é o que me move. Contudo, gosto também de dizer a verdade — e, sim, a verdade cansa.

Cansa o sistema, que nos aperta com metas inatingíveis e relatórios sem fim. Cansa a sala lotada, o salário minguado e a sensação de que somos vistos mais como babás do que como educadores. Cansa a estrutura falida, o improviso diário e a constante falta de apoio. E cansa, sobretudo, o despreparo — não o nosso, mas o daqueles que esperam que sejamos psicólogos, assistentes sociais, ou até mesmo mágicos.

Cansa, também, o desrespeito. O de adolescentes que chegam sem limites, o de pais que delegam tudo e depois cobram tudo, e o de gente que nunca pisou numa sala de aula como docente e, ainda assim, acha que sabe como deveríamos trabalhar. Tudo isso, sim, cansa. E cansa muito.

Mas sair? Não. Porque, se todos que estão cansados forem embora, quem fica? Quem acolherá, orientará e ensinará os seus filhos, os seus netos? Quem segurará a barra quando o sistema insiste em nos empurrar ladeira abaixo?

Eu fico. Por teimosia, talvez, mas, com certeza, por amor. Contudo, não me peçam para sorrir quando doem as costas, o bolso e a alma. Quero apenas que compreendam: gostar da profissão não significa fechar os olhos para o que está errado. Pelo contrário; quem ama de verdade, denuncia, luta, exige mudança.

Portanto, antes de sugerir que alguém saia, pergunte-se: por que essa pessoa está infeliz? Talvez, se ouvíssemos mais e julgássemos menos, ainda daria tempo de consertar essa casa que chamamos de escola. Ainda daria tempo de valorizar quem insiste em ensinar, mesmo quando tudo ao redor parece tender a desaprender.


Com base nas ideias principais do meu texto, preparei 5 questões discursivas e simples, pensadas para explorar esses temas sob um olhar sociológico:


1. A Percepção Social da Profissão: O autor menciona a transição de professor visto como "vocação" para "estorvo". Quais fatores sociais mais amplos você acredita que podem ter contribuído para essa possível mudança na percepção da profissão docente na sociedade contemporânea?

2. Os Desafios do Sistema Educacional como Estrutura Social: O texto lista elementos do "sistema" que causam cansaço (metas, relatórios, salário, estrutura, etc.). Escolha dois desses elementos e discuta como eles representam desafios estruturais que afetam a prática pedagógica e o bem-estar do professor.

3. As Múltiplas Expectativas sobre o Papel do Professor: A queixa sobre a expectativa de que professores sejam "psicólogos, assistentes sociais, ou até mesmo mágicos" reflete uma sobrecarga de papéis. O que essa multiplicidade de expectativas revela sobre o papel da escola e as demandas sociais em relação a essa instituição hoje em dia?

4. Relações Sociais na Escola e na Família: O desrespeito vindo de alunos e pais é apontado como uma fonte de cansaço. Como as dificuldades nessas relações, descritas no texto, podem ser analisadas no contexto das transformações sociais que afetam a família e a dinâmica escolar?

5. Resistência Individual diante das Adversidades Coletivas: Apesar do cansaço, o autor afirma: "Eu fico" e fala em "denunciar, lutar, exige mudança". De que maneira essa atitude individual de permanecer e buscar a transformação se relaciona com a ideia de agência social ou resistência dentro de um sistema com problemas estruturais?

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