"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

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MINHAS PÉROLAS

domingo, 8 de junho de 2025

O Lado Sombrio do Mestre: A Inocência em Risco ("O perigo não vem do que se ignora, mas do que se sabe e se recusa a ver." — Mário Quintana)

 



O Lado Sombrio do Mestre: A Inocência em Risco ("O perigo não vem do que se ignora, mas do que se sabe e se recusa a ver." — Mário Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Em meio ao turbilhão de manchetes diárias, algumas nos atingem como golpes, rasgando o véu da normalidade e revelando abismos inesperados. Lembro-me vividamente de um desses choques, um soco no estômago que ainda ecoa em minha memória. Não se tratava dos dramas urbanos habituais ou dos escândalos políticos que já nos entorpecem; era algo mais íntimo, mais perverso, que tocava no que há de mais sagrado: a confiança depositada em um educador.

A notícia se espalhou como um veneno silencioso: um professor, figura que deveria guiar e proteger, foi flagrado com um universo sombrio de pornografia infantil. Cem arquivos, como os jornais relataram, cem fragmentos de inocência violada guardados na casa de quem dava aulas particulares a crianças do ensino fundamental. A imagem me assaltou: como a figura do mestre, um farol de saber, poderia abrigar tamanha escuridão?

A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Cibernéticos (DERCC) agiu prontamente, desvendando essa trama macabra. Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Goiânia e Aparecida de Goiânia, e a cada nova informação, o horror se adensava. Na mesma operação, outro indivíduo foi pego em flagrante, baixando e compartilhando vídeos e fotos íntimas de menores. A frieza da tecnologia, que transforma vidas em meros arquivos digitais, era um espelho da desumanidade.

A polícia, por motivos óbvios, não divulgou os nomes nem as identidades. O professor responderá ao processo em liberdade, enquanto o segundo investigado permanece preso. Uma disparidade de destinos que, para muitos, pode soar como uma injustiça, um desequilíbrio na balança da lei. Contudo, para além dos ritos jurídicos, a dor e a perplexidade persistem.

Essa história, para mim, foi muito mais que uma notícia policial. Cravou-se na alma como um alerta sombrio sobre as fissuras invisíveis da sociedade, sobre os monstros que se ocultam por trás das aparências mais respeitáveis. Quantos "professores" estão por aí, camuflados, tecendo teias de aranha em ambientes que deveriam ser santuários de aprendizado e segurança?

A confiança, uma vez quebrada, deixa cicatrizes profundas. E cada vez que uma notícia assim vem à tona, sinto um pedaço da inocência coletiva se esvair. Que este episódio, por mais doloroso que seja, sirva como um grito de alerta para que estejamos sempre vigilantes, para que protejamos nossas crianças não apenas nas ruas, mas nos lugares onde, por vezes, nos sentimos mais seguros. Pois, às vezes, o abismo está mais perto do que imaginamos, escondido nas sombras de um quarto, atrás da tela de um computador, ou no coração de quem menos esperamos. E a nossa maior lição é jamais baixar a guarda diante do que se esconde à espreita.


https://digital.dm.com.br/#!/view?e=20250607&p=2 (Acessado em 08/06/2025)




Minha crônica é uma reflexão poderosa sobre a quebra de confiança e a necessidade de vigilância em face de crimes que afetam a inocência. Como professor de sociologia, elaborei cinco questões discursivas simples para aprofundar as ideias de meu texto.


1 - A crônica descreve a quebra da confiança depositada em um educador como um "soco no estômago". Do ponto de vista da Sociologia das Relações Sociais, qual é a importância da confiança nas instituições sociais, especialmente na educação, e quais são as consequências de sua violação para a comunidade?


2 - O texto aborda a "frieza da tecnologia" que transforma "vidas em meros arquivos digitais". Como a Sociologia da Tecnologia analisa o uso da internet e das redes para a prática de crimes, e quais são os desafios para a vigilância e proteção em ambientes digitais?


3 - A crônica menciona que o professor responderá ao processo em liberdade, enquanto outro investigado permanece preso, levantando a questão da "disparidade de destinos". Com base na Sociologia do Direito e da Justiça, como podemos analisar as diferentes respostas do sistema legal a crimes semelhantes e as percepções públicas sobre essas decisões?


4 - O autor fala sobre as "fissuras invisíveis da sociedade" e os "monstros que se ocultam por trás das aparências mais respeitáveis". Discuta, sob a ótica da Sociologia do Desvio e do Controle Social, como a sociedade lida com a descoberta de crimes praticados por indivíduos que detêm posições de confiança e respeitabilidade.


5 - A reflexão final da crônica é um "grito de alerta para que estejamos sempre vigilantes". Pensando na Sociologia da Segurança Pública, quais são os papéis da sociedade civil, das instituições de ensino e do Estado na criação de ambientes seguros para crianças, e como essa vigilância pode ser exercida sem comprometer a liberdade e a privacidade?

sábado, 7 de junho de 2025

O Fardo Invisível: Quando a Escola Vira Substituta ("A escola não é um substituto da vida, mas um meio para se aprender a vivê-la." — John Dewey)

 



O Fardo Invisível: Quando a Escola Vira Substituta ("A escola não é um substituto da vida, mas um meio para se aprender a vivê-la." — John Dewey)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os primeiros rumores de uma "guarda compartilhada" entre escola e família chegaram-me envoltos em um disfarce de zelo. À primeira vista, parecia um caminho promissor para estreitar laços. Mas, conhecendo o pulsar diário da sala de aula, logo percebi o ardil: a proposta, na verdade, deturpa as funções primordiais da instituição escolar. Senti que estavam, sutilmente, empurrando aos professores um fardo que não lhes pertence, uma sobrecarga camuflada de cuidado que desrespeita os limites sagrados de nossa profissão.

Lembro-me das palavras de Michel Foucault (1975), que concebia a escola como um espaço de disciplinamento e organização de saberes, jamais como uma extensão do lar. Quando testemunho a expectativa de que o professor assuma a responsabilidade pela higiene, saúde e até o transporte dos alunos, vejo a responsabilidade pública sendo transferida para o indivíduo, mascarando as falhas estruturais de um Estado ausente. A pensadora Djamila Ribeiro (2017) captou essa essência com precisão cirúrgica: "não se trata de humanizar a escola, mas de instrumentalizar o professor como agente paliativo de políticas ausentes". É uma forma cruel de nos responsabilizar sem o devido suporte.

A justificativa de que "isso já era rotina" é ainda mais alarmante. Naturalizar o acúmulo de funções, transformando o professor em um faz-tudo, ignora o peso avassalador sobre nossa saúde mental. Sinto isso na pele, e o relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2021) não deixa dúvidas, associando a precarização docente ao aumento alarmante de síndromes de esgotamento. É exaustivo, e o silêncio diante dessa realidade é um cúmplice.

Minha alma ecoa a urgência de Hannah Arendt (1954), que defendia a clareza em "separar a esfera da educação da esfera da assistência". A escola é, e sempre será, um espaço de mediação do conhecimento, um farol a iluminar caminhos intelectuais. Nunca deveria ser um substituto para a família, tampouco uma agência de assistência social.

Essa "guarda compartilhada" revela-se, portanto, uma manobra. Ela transfere para nós, educadores, o ônus de um descompasso que não criamos: a exaustiva jornada de trabalho dos pais e os horários escolares inflexíveis. Isso não é uma solução; é uma grave negligência institucional. Impor o cuidado integral como um dever docente não é mais que romantizar a exploração, distorcendo o papel essencial e nobre da educação.

No fundo, essa proposta é um projeto ideologicamente perverso, que desloca a responsabilidade social e viola os limites éticos e profissionais pelos quais tanto lutamos. Não somos tutores, babás ou enfermeiros. Somos, em nossa essência e paixão, educadores. E é nessa vocação, e somente nela, que a escola pode encontrar seu verdadeiro propósito e sua força transformadora.




Minha crônica faz uma crítica profunda e necessária sobre a sobrecarga de responsabilidades dos professores e a descaracterização do papel da escola. Ela destaca a importância de manter a função educacional clara e separada de outras esferas sociais. Como professor de sociologia, preparei 5 questões simples para aprofundar as ideias do seu texto:


1 - A crônica questiona a ideia de "guarda compartilhada" na escola, argumentando que isso "deturpa as funções primordiais da instituição escolar". Como a Sociologia da Educação define o papel principal da escola na sociedade contemporânea e por que é importante manter essa função bem delimitada?


2 - O texto cita Djamila Ribeiro ao dizer que o professor está sendo "instrumentalizado como agente paliativo de políticas ausentes". De que forma a Sociologia do Trabalho pode analisar a sobrecarga de funções dos professores e como isso afeta a qualidade do ensino e a saúde mental desses profissionais?


3 - A crônica se refere à fala de Hannah Arendt sobre "separar a esfera da educação da esfera da assistência". Explique, com base na Sociologia, por que a escola não deve ser vista como substituta da família ou de outros serviços sociais, e quais seriam as consequências dessa confusão de papéis.


4 - O texto afirma que a "guarda compartilhada" transfere para os educadores o "ônus de um descompasso" entre a jornada dos pais e os horários escolares. Como a Sociologia da Família e a Sociologia Urbana podem analisar as pressões sociais e econômicas que levam as famílias a buscar na escola um apoio que vai além da educação formal?


5 - A crônica conclui que o professor é, em sua essência, um "educador", e não um "tutor, babá ou enfermeiro". Pensando na Sociologia das Profissões, discuta por que é crucial valorizar e proteger a identidade profissional do educador, garantindo que ele possa focar em sua vocação de mediar o conhecimento e transformar vidas.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

O Programa Pé-de-Meia: O Preço da Permanência ("A verdade é a melhor parte da mentira." — Mário Quintana)

 



O Programa Pé-de-Meia: O Preço da Permanência ("A verdade é a melhor parte da mentira." — Mário Quintana)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Quando os primeiros dias de 2024 trouxeram a notícia do "Programa Pé-de-Meia", confesso que uma ponta de esperança se acendeu em mim. A proposta de combater a evasão escolar e diminuir as desigualdades educacionais por meio de incentivos financeiros parecia, à primeira vista, um sopro de ar fresco. Mas, vivendo o cotidiano da educação, aprendi que nem toda promessa se sustenta em chão firme — e a fragilidade dessa iniciativa, embora bem-intencionada, logo se revelou. É como tentar manter de pé uma casa em ruínas com pilares feitos de papel-moeda.

A essência do programa — remunerar matrícula, frequência e conclusão — rapidamente me fez refletir: será que o dinheiro, sozinho, tem o poder de acender a chama do saber nas juventudes? O educador "Miguel Arroyo (2023)" ressoa em meus pensamentos com precisão: "não é a escola que falta aos alunos, é o sentido de estar nela". Em muitos corredores, vejo estudantes de olhos vazios, cumprindo presença, mas sem a curiosidade que deveria mover a aprendizagem. Estão fisicamente ali, mas emocionalmente distantes, movidos pela recompensa e não pelo desejo genuíno de aprender. Corre-se o risco de a escola tornar-se um balcão de trocas, afastando-se de sua verdadeira vocação como espaço de formação humana e crítica.

Essa lógica financeira, embora sedutora, pode aprofundar ainda mais as fissuras sociais. A socióloga "Silvia Viana (2022)" nos adverte sobre a "meritocracia da sobrevivência", um disfarce que encobre desigualdades estruturais sob a aparência de esforço recompensado. Quantos jovens, mesmo enfrentando adversidades imensas, ficam fora do programa por não se enquadrarem nos critérios do Cadastro Único? Muitos precisam trabalhar para ajudar em casa, outros lidam com realidades que vão além da simples ausência de dinheiro. Ao focar nas recompensas individuais, o Estado desvia-se de responsabilidades fundamentais: oferecer escolas com infraestrutura adequada, valorizar seus professores e construir currículos que dialoguem com a realidade dos alunos.

O fato é que o Pé-de-Meia não enfrenta o cerne da questão: a "qualidade da educação" e a "equidade estrutural". Lembro da esperança que me trouxe a promulgação da Lei nº 13.935/2019, com a promessa de psicólogos e assistentes sociais nas escolas. Pensei: “Agora, teremos um respiro!” Mas a realidade, como sempre, mostrou-se mais dura. Sem condições materiais, vínculos estáveis e valorização real desses profissionais, suas ações se tornaram paliativos. O especialista em políticas educacionais "Daniel Cara (2023)" sintetiza bem: "Nenhuma política pública se sustenta sem investimento real e sem escuta dos que vivem o chão da escola". E, vivendo esse chão, não há como discordar.

Proteger de verdade a escola exige muito mais do que palavras bonitas em datas simbólicas ou depósitos condicionais. É preciso "coragem institucional" para romper com a lógica meritocrática que adoece, desmantelar as relações autoritárias que sufocam e silenciar os pactos de omissão que perpetuam a injustiça. Só assim a escola deixará de ser palco de uma segurança encenada para se tornar um refúgio autêntico. Que sejamos capazes, como sociedade, de ouvir o que o chão da escola nos diz — e, mais do que isso, de transformá-lo no solo fértil de acolhimento e florescimento que ela sempre deveria ter sido. Muito além de protocolos vazios, muito além do preço que se tenta fixar à permanência.




Minha crônica oferece uma análise crítica e aprofundada sobre o Programa Pé-de-Meia, apontando suas limitações e a necessidade de uma abordagem mais complexa para os desafios da educação brasileira. Como professor de sociologia, preparei 5 questões discursivas para explorar essas ideias.


1 - A crônica questiona se o incentivo financeiro do Programa Pé-de-Meia, por si só, é suficiente para reter os alunos, sugerindo que "não é a escola que falta aos alunos, é o sentido de estar nela". Como a Sociologia da Educação compreende o conceito de "sentido" na aprendizagem e de que forma a ausência desse sentido pode ser um fator de evasão escolar, mesmo diante de incentivos financeiros?


2 - O texto aborda a "meritocracia da sobrevivência" e como o foco excessivo em recompensas individuais pode "disfarçar desigualdades estruturais". Com base na Sociologia das Desigualdades, analise como programas que priorizam o mérito individual podem falhar em resolver problemas sistêmicos e quais seriam as implicações para a equidade educacional.


3 - A crônica critica a burocratização do cuidado na escola, mencionando que a Lei nº 13.935/2019 (psicólogos e assistentes sociais) se torna "paliativa" sem condições de trabalho e valorização. Sob a ótica da Sociologia do Trabalho e das Políticas Públicas, discuta a importância do investimento em recursos humanos e infraestrutura para a efetividade de políticas educacionais de apoio e acolhimento.


4 - O autor apela por "coragem institucional para romper com a lógica meritocrática", "desmantelar relações autoritárias" e "silenciar os pactos de omissão". Como a Sociologia das Organizações e a Sociologia do Conflito interpretam a resistência das instituições a essas mudanças profundas e qual o papel da liderança e da participação coletiva nesse processo?


5 - A reflexão final do texto propõe que a escola se torne um "refúgio autêntico" e "solo fértil de acolhimento e florescimento", indo "muito além de protocolos vazios". Do ponto de vista da Sociologia Crítica da Educação, como a escola pode transcender a função meramente reprodutora de desigualdades e se consolidar como um espaço de transformação social e emancipação para os estudantes?

quarta-feira, 4 de junho de 2025

Nos Bastidores da Segurança Escolar ("Não podemos resolver problemas pensando da mesma forma que os criamos." — Albert Einstein)

 


Nos Bastidores da Segurança Escolar ("Não podemos resolver problemas pensando da mesma forma que os criamos." — Albert Einstein)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Nos anos em que caminhei pelo chão da escola, aprendi que nem tudo o que reluz é ouro, e nem toda promessa se cumpre. Ultimamente, tenho assistido a um espetáculo peculiar: uma encenação bem-intencionada, mas que ignora o enredo da vida real. Trata-se da tentativa do Ministério da Educação de enfrentar o bullying com seminários e protocolos — um esforço que, de longe, parece avanço, mas de perto se revela frágil, como quem tenta consertar uma lona rasgada com fita adesiva.

A proposta de transformar a proteção escolar em uma coleção de guias rápidos e normativas me faz refletir. Como afirma a socióloga Vera Candau (2008), “não basta despejar conteúdo nas mentes jovens; a escola precisa ser um espaço onde a convivência se exercite em democracia e crítica.” No entanto, o que vejo é a burocratização do cuidado: prioriza-se o gerenciamento das consequências, enquanto se evita encarar as causas profundas da violência. É como se a solução estivesse nos manuais, não no cerne do problema.

A insistência em medidas técnicas e checklists obscurece uma verdade desconfortável, aquilo que Jesse Souza (2019) chama de “violência simbólica estrutural”. Ela se manifesta de forma invisível, mas concreta: na desigualdade que oprime, no racismo entranhado nas estruturas institucionais, nas hierarquias de poder que silenciam e desumanizam. Enfrentar o bullying exige mais que seguir protocolos; é preciso encarar de frente as omissões da escola e a exclusão afetiva que atinge professores e alunos com a mesma força.

Lembro-me do alívio que senti quando a Lei nº 13.935/2019 anunciou a chegada de psicólogos e assistentes sociais às escolas. Pensei: “Agora sim, um respiro!”. Mas a realidade, como sempre, mostrou-se teimosa. Sem condições materiais, vínculos duradouros e valorização efetiva desses profissionais, suas ações se tornam meros paliativos. Daniel Cara (2023), referência em políticas educacionais, foi direto ao ponto: “Nenhuma política pública se sustenta sem investimento real e sem escuta dos que vivem o chão da escola.” E não há como discordar.

No fim das contas, proteger verdadeiramente a escola exige mais do que eventos pontuais ou discursos em datas comemorativas. É preciso coragem institucional para rever a lógica meritocrática que adoece, desmontar relações autoritárias que sufocam e romper com silêncios que perpetuam a injustiça. Só assim a escola deixará de ser um palco de segurança encenada para se tornar, de fato, um refúgio real.

Que sejamos, como sociedade, capazes de ouvir o chão da escola — e tenhamos a ousadia de transformá-la no que ela sempre deveria ter sido: um lugar de acolhimento e florescimento, não de protocolos vazios.



https://www.gov.br/mec/pt-br/assuntos/noticias/2025/junho/mec-promove-seminario-de-enfrentamento-ao-bullying (Acessado em 04/06/2025)




Minha crônica oferece uma análise crítica profunda sobre a ineficácia das políticas educacionais que buscam combater o bullying de forma superficial, negligenciando as causas estruturais da violência e a complexidade do ambiente escolar. Com base nessas ideias, elaborei 5 questões discursivas para aprofundar a discussão sociológica.


1 - A crônica descreve a tentativa do MEC de combater o bullying com "seminários e protocolos" como uma "encenação bem-intencionada, mas que ignora o enredo da vida real". De uma perspectiva sociológica, como a burocratização das políticas públicas pode levar à ineficácia e ao distanciamento entre as intenções governamentais e a realidade vivenciada no "chão da escola"?


2 - O texto aborda a "violência simbólica estrutural" de Jesse Souza (2019), manifestada em desigualdade, racismo e hierarquias de poder. Discuta como a Sociologia da Educação compreende essas formas de violência invisíveis, e de que maneira elas podem contribuir para a ocorrência do bullying e outras manifestações de violência nas escolas.


3 - A crônica destaca a importância da Lei nº 13.935/2019, mas ressalta que, sem "condições materiais, vínculos duradouros e valorização efetiva", a atuação de psicólogos e assistentes sociais se torna "paliativa". Como a Sociologia do Trabalho e das Profissões analisa a precarização do trabalho desses profissionais e como essa condição afeta a qualidade e o impacto de suas intervenções no ambiente escolar?


4 - O autor enfatiza a necessidade de "coragem institucional para rever a lógica meritocrática, desmontar relações autoritárias e romper com silêncios que perpetuam a injustiça". Como a Sociologia das Organizações e a Sociologia do Conflito podem explicar a resistência das instituições a essas mudanças profundas e qual o papel do diálogo e da escuta na superação desses obstáculos?


5 - A crônica conclui que a escola só se tornará um "refúgio real" quando deixar de ser um "palco de segurança encenada". Analise, sob a ótica da Sociologia da Cidadania e dos Direitos Humanos, o que significa construir uma escola que seja, de fato, um espaço de acolhimento e florescimento, e quais são os desafios para transformar essa visão em realidade no contexto educacional brasileiro.

terça-feira, 3 de junho de 2025

A Lâmina do Desespero ("A violência, qualquer que seja a forma como ela se manifesta, é sempre uma derrota." — Jean-Paul Sartre)

 



A Lâmina do Desespero ("A violência, qualquer que seja a forma como ela se manifesta, é sempre uma derrota." — Jean-Paul Sartre)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Os noticiários, por vezes, são como janelas abertas para o abismo. Na manhã de 3 de junho de 2025, ao folhear as manchetes, uma notícia me paralisou. Não se tratava da violência urbana costumeira, tampouco dos escândalos políticos de sempre. Era algo mais íntimo, mais perturbador: um professor havia esfaqueado o diretor de uma escola no interior do Amazonas. A imagem que me veio à mente parecia tirada de um pesadelo — um pesadelo que ganhava forma nos corredores que deveriam ser templos do saber.

O agressor era Ribamar Alves Ramos, 36 anos, professor de biologia do ensino médio. Segundo a polícia, apresentava "sinais de consumo de drogas" e alegou ter sido vítima de "perseguição" por parte do gestor. A cena, registrada com frieza pelas câmeras de segurança, revelava uma violência crua e inesperada. As aulas já haviam terminado, os corredores estavam silenciosos, e Ribamar, movido por um impulso sombrio, dirigiu-se à cozinha. Mas, não em busca de um lanche, e sim de uma faca. Com ela em mãos, seguiu até a sala da secretaria, onde o diretor se encontrava sozinho.

Consigo quase imaginar o silêncio tenso antes da tragédia. O ranger da porta, o ataque repentino. A faca, transformada de utensílio cotidiano em arma, desferindo golpes seguidos contra o diretor. O desespero da vítima, a luta pela sobrevivência. E então, a intervenção salvadora: pessoas que estavam próximas interromperam o ataque e impediram que a tragédia se consumasse. É estranho como a vida, às vezes, coloca anônimos como guardiões diante do caos.

Ribamar foi preso em flagrante. Sua justificativa — a suposta "perseguição" — soava como o eco de um sofrimento interior que talvez só ele compreendesse. A tentativa de homicídio, seja fruto de desespero, loucura ou ressentimento acumulado, deixou atrás de si um rastro de perguntas sem resposta. A prefeitura e a Secretaria de Educação divulgaram notas formais, informando que o diretor recebeu atendimento médico no Hospital Geral de Manacapuru: suturas, avaliação clínica e, felizmente, alta. Ele está em recuperação. Mas, há dores que não se curam com pontos.

Este episódio vai além de uma notícia criminal. É um golpe direto na ilusão de que a escola é um espaço inviolável de harmonia. Mostra as fissuras de um sistema que negligencia a saúde mental de seus profissionais, ignora conflitos velados e subestima o peso de tensões constantes. A alegada perseguição, real ou não, aponta para um ambiente de trabalho que precisa ser mais humano e menos opressivo.

Enquanto Ribamar aguarda audiência de custódia e o diretor tenta se reerguer, o caso de Manacapuru se impõe como alerta. A escola não está isolada dos dramas sociais. As relações humanas ali dentro são complexas e exigem cuidado. É urgente zelar pelo bem-estar de quem educa e de quem administra, com a mesma seriedade com que se ensina matemática ou história. Que esse ato extremo não apenas traga consequências legais, mas nos obrigue a enxergar os sinais de angústia que muitas vezes ignoramos. Porque, por trás das paredes de uma sala de aula, também habitam silêncios perigosos. E, às vezes, tudo o que alguém precisava era ter sido escutado antes que fosse tarde demais.


https://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2025/06/03/professor-suspeito-de-esfaquear-diretor-em-escola-no-am-disse-a-policia-que-era-perseguido.ghtml (Acessado em 03/06/2025)




Minha crônica é impactante e levanta questões sociais cruciais sobre violência, saúde mental e o ambiente escolar. Como professor de sociologia, prepararei 5 questões discursivas e simples, aprofundando as ideias que abordei.


1 - A crônica descreve a escola, que deveria ser um "templo do saber", como palco de um ato de violência extremo. Como a Sociologia da Educação analisa a escola como um espaço social e quais fatores contemporâneos podem transformá-la de um ambiente seguro para um local de tensões e conflitos?


2 - O professor agressor alegou "perseguição" e apresentava "sinais de consumo de drogas", elementos que podem indicar um sofrimento psíquico. Como a Sociologia da Saúde e a Sociologia do Trabalho compreendem a relação entre o ambiente de trabalho (no caso, a escola), a saúde mental dos profissionais e a manifestação de comportamentos extremos?


3 - O texto sugere que o episódio revela "fissuras de um sistema que negligencia a saúde mental de seus profissionais". Sob a perspectiva da Sociologia das Organizações, como as instituições educacionais podem falhar em identificar e abordar conflitos e tensões internas que, quando ignorados, podem escalar para situações de violência?


4 - A crônica questiona a ilusão de que a escola é um espaço de harmonia, mostrando que "silêncios perigosos" podem habitar suas paredes. Como a Sociologia do Conflito e a Sociologia das Relações Interpessoais analisam a dinâmica de poder e os conflitos latentes dentro das instituições, e qual o papel da comunicação e da mediação na prevenção de atos violentos?


5 - O autor apela para que o caso sirva de "alerta" para a necessidade de "zelar pelo bem-estar de quem educa e de quem administra". De que forma a Sociologia pode contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e práticas institucionais que promovam um ambiente de trabalho mais humano e seguro para os profissionais da educação?

segunda-feira, 2 de junho de 2025

O Ódio Custa Caro ("O preconceito é um parasita da alma que cega a razão e devora o coração." — Augusto Cury)

 


O Ódio Custa Caro ("O preconceito é um parasita da alma que cega a razão e devora o coração." — Augusto Cury)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquele junho de 2025, a tela do meu computador estampava uma notícia que, embora não me surpreendesse, ainda assim me causou um nó no estômago. Um professor da rede municipal infantil de São Paulo fora condenado pela Justiça por perseguir um colega de trabalho em razão de sua orientação sexual.

Havia algo de podre no ar daquela escola municipal. Não era o cheiro de giz ou merenda escolar que costuma impregnar os corredores educacionais, mas um odor mais sutil e perturbador: o da intolerância fermentando em silêncio. Como observador privilegiado dessa tragédia cotidiana, pude testemunhar como o veneno da discriminação se infiltrou pelos cantos mais improváveis de um ambiente que deveria ser sagrado.

O protagonista dessa história sombria decidiu transformar sua perseguição em cruzada pessoal. Escudado pelo aparente anonimato da internet, criou um grupo de WhatsApp com os pais dos alunos, onde destilava insinuações venenosas contra o coordenador pedagógico. Ali, protegido pela tela do celular e pela cumplicidade silenciosa de quem não tinha coragem de confrontá-lo, passou a tecer sua narrativa maliciosa, plantando a desconfiança ao insinuar que a vítima pretendia impor uma suposta "ideologia de gênero".

A crueldade atingiu outro patamar quando compartilhou uma foto roubada do Instagram do coordenador, em que ele usava uma peruca rosa, provavelmente em algum momento de descontração. Nas mãos daquele professor, a fotografia se transformou em munição para um massacre moral — era como ver alguém incendiar uma biblioteca usando páginas de poesia.

As palavras lançadas ali germinaram como ervas daninhas, incitando o ódio. Inventou fantasmas onde não existiam, criou demônios onde havia apenas um profissional dedicado tentando fazer seu trabalho. Acusou o coordenador de querer subverter o currículo escolar, de introduzir ideias que assustavam alguns pais. Nada disso era real, mas a realidade é frequentemente menos poderosa que uma mentira bem contada para ouvidos dispostos a acreditar no pior.

O efeito foi imediato: surgiram denúncias falsas contra a vítima na Diretoria de Ensino — exatamente como o agressor desejava. Pais enganados, manipulados por narrativas fantasiosas, exigiam providências contra crimes que existiam apenas na imaginação de um homem que havia feito do preconceito sua religião pessoal.

Enquanto isso, vi o coordenador definhar aos poucos. Suas mãos tremiam durante as reuniões, seu sorriso — antes tão natural — tornou-se forçado e raro. Os outros professores começaram a evitá-lo nos corredores, não por concordarem com as perseguições, mas por medo de se tornarem próximos alvos. O silêncio cúmplice é, muitas vezes, tão destruidor quanto o grito de guerra.

Diante da perseguição contínua, o coordenador decidiu não mais se calar e buscou justiça. A decisão em primeira instância, no entanto, foi um baque: absolvição. O juiz interpretou aquilo como mero "embate ideológico", como se o direito à dignidade humana fosse questão de opinião.

Mas ele não estava sozinho. O Ministério Público recorreu, e o caso seguiu para o Tribunal de Justiça de São Paulo, onde a verdade começou a emergir com mais força. O boletim de ocorrência e os depoimentos colhidos consolidaram a materialidade do crime.

Reinterrogado, o réu tentou negar a homofobia, alegando apenas se opor a uma "agenda". Contudo, o depoimento da vítima soava como um grito silencioso: relatou o medo constante, o afastamento por problemas psiquiátricos causados pela perseguição, e como outros professores da escola temeram por sua integridade física. Uma mãe de aluno confirmou sua versão ao recordar o momento em que ouviu o professor dizer, numa reunião, que era "abertamente preconceituoso quanto à homossexualidade".

Os desembargadores não tiveram dúvidas. As ofensas à dignidade e ao decoro do coordenador, utilizando-se de elementos referentes à sua orientação sexual, eram evidentes. A sentença anterior foi reformada, e a condenação veio finalmente: dois anos e quatro meses de reclusão em regime inicial aberto, além do pagamento de multa.

As palavras do relator, desembargador Nelson Fonseca Júnior, ecoaram como um chamado à razão: não se tratava de mera "polarização ideológica" ou "opinião", mas sim da "aplicação direta da lei penal, que tipifica criminalmente a manifestação de preconceito e discriminação".

Hoje, enquanto escrevo estas linhas, penso no preço que todos pagamos por essa história. O coordenador pagou com sua saúde mental. O professor pagará com sua liberdade restrita e reputação destruída. As crianças daquela escola pagaram com a perda de um ambiente verdadeiramente educativo, onde o respeito deveria ser a primeira lição.

A condenação não soou apenas como justiça feita — foi também um aviso. O ódio custa caro: custa a liberdade, custa a dignidade do outro e pode custar a impunidade. Mas o preço mais alto foi pago por todos nós como sociedade, porque cada vez que permitimos que a intolerância floresça em nossos espaços sagrados, perdemos um pouco de nossa humanidade coletiva.

A lição que fica é amarga, mas necessária: o amor e o respeito não são opcionais — são lei. Que essa decisão sirva de alerta àqueles que, sob o véu de discursos ideológicos ou supostas convicções morais, disseminam preconceito e violência. A intolerância sempre cobra seu preço, e os juros são mais caros do que qualquer um de nós pode pagar.


https://www.conjur.com.br/2025-jun-02/tj-sp-condena-professor-por-perseguir-coordenador-homossexual/ (Acessado em 02/06/2025)




Minha crônica aborda de forma contundente a questão da homofobia no ambiente escolar, expondo como o preconceito pode se manifestar e as consequências devastadoras para a vítima e para a comunidade. Aqui estão 5 questões discursivas simples, baseadas nas ideias principais do texto:


1 - A crônica descreve um ambiente escolar onde a "intolerância fermentava em silêncio". Como a Sociologia analisa a formação e a disseminação do preconceito em instituições como a escola, e quais mecanismos sociais podem contribuir para a normalização ou o enfrentamento da homofobia?


2 - O professor utilizou um grupo de WhatsApp com pais de alunos para disseminar sua narrativa homofóbica. Como a Sociologia da Comunicação e a Sociologia Digital analisam o papel das redes sociais na propagação do discurso de ódio e na mobilização de atitudes discriminatórias?


3 - A decisão em primeira instância considerou o caso um mero "embate ideológico". Como a Sociologia do Direito analisa a judicialização de questões relacionadas à discriminação e aos direitos humanos, e quais os desafios na interpretação e aplicação da lei em casos de homofobia?


4 - A crônica destaca o sofrimento do coordenador e o silêncio de outros professores por medo. Como a Sociologia das Emoções e a Sociologia da Moral analisam o impacto emocional da discriminação nas vítimas e o papel da omissão e da coragem moral diante de atos de preconceito?


5 - A condenação final é vista como um aviso sobre o preço da intolerância. Como a Sociologia analisa o papel da justiça e das sanções legais no combate à homofobia e na promoção de uma cultura de respeito à diversidade sexual?