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MINHAS PÉROLAS

quarta-feira, 2 de julho de 2025

A Vertigem do Inesperado ("O preço da grandeza é a responsabilidade." — Winston Churchill)

 


A Vertigem do Inesperado ("O preço da grandeza é a responsabilidade." — Winston Churchill)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Naquele primeiro de julho, o dia amanheceu com a rotina de sempre. O cheiro do café invadia a cozinha, os noticiários matinais zumbiam na TV, e eu, como de costume, preparava-me para mais uma jornada de e-mails, pautas e o incessante rolar da tela do computador. Mal sabia que, entre as manchetes apressadas e os fatos corriqueiros, um fragmento de notícia me agarraria pela alma — um daqueles enredos que nos fazem duvidar da própria realidade.

Tratava-se de um caso vindo de Michigan, nos Estados Unidos, envolvendo uma professora: Jocelyn Sanroman. À primeira vista, parecia apenas mais um item na extensa esteira de acontecimentos do mundo. Mas o título, seco e direto, carregava um peso que reverberou em mim: “Professora é acusada de manter relação sexual com aluno.” A cada palavra, a vertigem de um abismo se abria.

O que se seguiu foi uma sucessão de revelações que expunham não apenas a falha de um indivíduo, mas a rachadura em uma estrutura que se pretendia sólida. Jocelyn lecionava na Oakside Prep Academy, uma escola particular que, vejam só, vangloriava-se de seu programa Moral Focus, voltado à promoção de valores éticos e virtudes. Respeito, compaixão, integridade — palavras que, naquele contexto, soavam como ecos distantes de um ideal perdido.

Lembro-me do instante em que, com um clique do mouse, vi as informações se desdobrando no silêncio do meu escritório. O suposto abuso teria ocorrido em 2023. A denúncia partiu de uma colega de trabalho, a quem a própria Jocelyn teria confidenciado o envolvimento com o adolescente de apenas 16 anos. Teria sido uma confissão, um grito de socorro ou um desabafo incauto? A promotora do Condado de Oakland, Karen McDonald, foi enfática: “Ela é acusada de usar sua posição de autoridade para explorar um menor. Isso representa uma quebra de confiança gravíssima.”

A notícia me fez refletir sobre a teia complexa das relações humanas, sobretudo aquelas construídas sobre os alicerces da confiança e da responsabilidade. Como alguém, pilar da educação, incumbida de orientar e proteger, pode se desviar de forma tão drástica? E o que dizer da instituição que, enquanto propaga valores elevados, abriga tamanha contradição? Não era apenas um caso isolado, mas um sintoma de algo mais profundo — um lembrete cruel da fragilidade da moral diante das sombras da natureza humana.

Na manhã daquela segunda-feira, a imagem de Jocelyn Sanroman já circulava. Um rosto agora marcado pela acusação. Ela ainda não havia sido detida, mas a investigação prosseguia, tecendo os fios de um enredo que, ao avançar, poderia revelar novas verdades — ou intensificar as incertezas.

Ainda que o impacto inicial da notícia tenha sido avassalador, é inevitável tentar compreender o que leva alguém a atravessar uma fronteira tão definitiva entre o permitido e o condenável. Talvez Jocelyn, em algum momento, tenha confundido carência com intimidade, autoridade com afeto, ou simplesmente perdido o senso de consequência num cotidiano que, aos poucos, dissolveu os limites éticos. Não se trata de justificar, mas de reconhecer que por trás do ato há um emaranhado humano que desafia julgamentos fáceis. Ao recordar aquele primeiro de julho e, em seguida, remontar os fatos de 2023, percebo que essa alternância de tempos reflete justamente o abalo da razão diante do inesperado — quando passado e presente se embaralham, tentando, em vão, oferecer explicações ao que não deveria ter acontecido.

Este caso, que me alcançou por uma tela, ficou gravado na memória não apenas como uma notícia impactante, mas como um conto moral dos nossos tempos. Ele nos obriga a olhar para as fissuras sob a superfície polida das instituições e a questionar a profundidade dos valores que proclamamos. Que esta história, ainda em desdobramento, sirva como um alerta: a vigilância deve ser contínua, e a integridade, um farol inabalável — para que a confiança não se desfaça em pó e as fundações da educação permaneçam firmes e seguras para aqueles que mais precisam de proteção.


https://www.correiobraziliense.com.br/mundo/2025/07/7188801-professora-e-acusada-de-manter-relacao-sexual-com-aluno.html (Acessado em 02/07/2025)



Este texto nos faz refletir sobre temas importantes da nossa sociedade. A partir da crônica "A Vertigem do Inesperado", vamos discutir alguns conceitos sociológicos. Leiam com atenção e respondam às questões a seguir:


1 - A crônica descreve a Oakside Prep Academy como uma escola que promovia "valores éticos e virtudes". Discuta como o caso da professora Jocelyn Sanroman pode ser visto como uma contradição entre os valores declarados por uma instituição e as práticas que ocorrem em seu interior.


2 - O texto menciona a posição de autoridade da professora e a "quebra de confiança gravíssima". Explique como as relações de poder e autoridade podem ser exercidas de forma abusiva em ambientes sociais, como o escolar, e quais as possíveis consequências para os indivíduos envolvidos.


3 - A denúncia do caso partiu de uma colega de trabalho da professora. Pensando nos conceitos de controle social e ética profissional, discuta a importância da atitude dessa colega para a manutenção da integridade e segurança no ambiente escolar.


4 - O narrador reflete sobre a "fragilidade da moral diante das sombras da natureza humana". Com base na sua compreensão sociológica, como podemos analisar a ideia de que o comportamento individual (como o da professora) pode ser influenciado por um "emaranhado humano que desafia julgamentos fáceis" ou pela dissolução de limites éticos no cotidiano?


5 - A crônica finaliza com uma mensagem sobre a necessidade de "vigilância contínua" e "integridade" para que "as fundações da educação permaneçam firmes e seguras". Relacione essa reflexão com a importância das instituições sociais (como a escola) na formação de indivíduos e na reprodução de valores em uma sociedade.

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