CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(27) Medo, angústia e sabedoria: uma reflexão teológico-filosófica.
O medo e a angústia são sentimentos universais, que acompanham o ser humano desde os primórdios da sua existência. Eles revelam a nossa fragilidade, a nossa finitude, a nossa dependência de fatores que escapam ao nosso controle. Muitas vezes, esses sentimentos são associados a uma punição divina, a um castigo por nossos pecados ou erros. Mas será que essa é uma visão correta? Será que Deus é um tirano que nos amedronta e nos aflige? Ou será que Ele é um Pai amoroso que nos convida à sabedoria?
A sabedoria é a capacidade de discernir o bem do mal, o certo do errado, o verdadeiro do falso. Ela não se confunde com o conhecimento, que é a mera acumulação de informações. A sabedoria implica em uma atitude crítica, reflexiva, ética e espiritual diante da realidade. Ela nos ajuda a enfrentar o medo e a angústia com coragem e esperança.
Mas como adquirir a sabedoria? Como desenvolver essa virtude tão necessária e tão rara? A resposta não é simples, mas podemos encontrar algumas pistas nas Escrituras Sagradas e nos grandes pensadores da humanidade. Por exemplo, Sócrates afirmava que “A verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância.” e Platão dizia que “A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.” Essas citações sugerem que a sabedoria requer humildade, reflexão e abertura para aprender com os outros. Como disse Rumi, o poeta persa, “A sabedoria não é o produto da escolaridade, mas a tentativa de vida por longos anos.”
Uma dessas pistas é reconhecer que o medo e a angústia não devem ser vistos como punições divinas, mas como parte da condição humana. Como disse Mahatma Gandhi, “não devemos temer o castigo pelos pecados, mas o pecado em si”. O pecado é a transgressão da lei de Deus, que é a lei do amor. O pecado nos afasta de Deus, de nós mesmos e dos outros. O pecado nos impede de ser felizes.
Outra pista é praticar a compaixão, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir o que ele sente, de sofrer com ele e de ajudá-lo. A compaixão é o oposto do egoísmo, da indiferença e da violência. A compaixão é o reflexo do amor de Deus por nós. Jesus Cristo nos ensinou: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44). Essa é uma lição difícil, mas essencial para a sabedoria.
Uma terceira pista é buscar o autoconhecimento, que é a capacidade de se conhecer profundamente, de reconhecer as próprias qualidades e defeitos, virtudes e vícios, potencialidades e limitações. O autoconhecimento nos leva à humildade, à sinceridade e à autenticidade. Ele nos liberta das ilusões, dos preconceitos e das falsas crenças. Ele nos permite crescer como pessoas. O filósofo Sócrates escreveu: “Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”. Devemos questionar dogmas e buscar respostas por nós mesmos.
Uma quarta pista é cultivar a empatia, que é a capacidade de se alegrar com a alegria do outro, de se entristecer com a tristeza do outro, de se solidarizar com o sofrimento do outro. A empatia é o oposto da inveja, da ironia e da crueldade. A empatia é o reflexo da bondade de Deus por nós. Ana Frank nos disse: “No final, o que realmente importa não é o que fizemos, mas como tratamos as pessoas”.
Portanto, rejeitemos a ideia de um Deus vingativo. Abracemos a compaixão. Examinemos nossos corações. E encontremos sabedoria dentro de nós mesmos.