"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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domingo, 29 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(6) A sabedoria como fruto da harmonia entre fé e razão

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(6) A sabedoria como fruto da harmonia entre fé e razão

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é uma virtude que todos os seres humanos almejam, mas que poucos conseguem alcançar. Ela envolve não apenas o conhecimento, mas também a capacidade de aplicá-lo de forma adequada e benéfica. Mas de onde vem a sabedoria? Quais são as suas fontes e os seus critérios? Neste ensaio, pretendo defender a ideia de que a sabedoria é fruto da harmonia entre fé e razão, entre a revelação divina e a investigação humana, entre a introspecção e a compaixão.

A fé é uma das fontes da sabedoria, pois nos conecta com o transcendente, com o mistério que nos envolve e nos supera. A fé nos revela o sentido da vida, o propósito da existência, o valor da pessoa. A fé nos inspira a buscar a verdade, a bondade e a beleza. A Bíblia afirma que "no temor do Senhor está o princípio da sabedoria" (Salmos 111:10), pois reconhecer a soberania de Deus é o primeiro passo para se abrir à sua vontade e ao seu amor.

No entanto, a fé não exclui a razão, mas a complementa. A razão é outra fonte da sabedoria, pois nos permite compreender o mundo, analisar os fatos, argumentar logicamente, criticar as ideias. A razão nos torna mais livres, mais responsáveis, mais criativos. A Bíblia também ensina que precisamos "examinar tudo cuidadosamente" (1 Tessalonicenses 5:21), pois Deus nos deu a inteligência para usá-la de forma racional e ética.

A harmonia entre fé e razão é essencial para a sabedoria, pois evita os extremos do fanatismo religioso e do ceticismo científico. Como disse o filósofo Pascal, "o coração tem razões que a própria razão desconhece". Ou seja, há aspectos da realidade que escapam à lógica humana, mas que podem ser acessados pela intuição espiritual. Por outro lado, há aspectos da realidade que podem ser explicados pela ciência, mas que não esgotam o seu significado.

Além da fé e da razão, há outras dimensões que contribuem para a sabedoria: a introspecção e a compaixão. A introspecção é a capacidade de olhar para dentro de si mesmo, de conhecer os seus sentimentos, pensamentos e motivações. A introspecção nos ajuda a crescer como pessoas, a superar os nossos defeitos, a desenvolver as nossas potencialidades. Nas palavras do escritor Marcel Proust, "o verdadeiro caminho é aquele que nos leva para dentro de nós mesmos". A introspecção também revela sabedoria.

A compaixão é a capacidade de olhar para o outro, de sentir o seu sofrimento, de agir em seu benefício. A compaixão nos faz mais humanos, mais solidários, mais generosos. A compaixão também gera sabedoria. Como disse Gandhi, "não há caminho para a paz, a paz é o caminho". Ou seja, a paz não é apenas um objetivo, mas uma atitude diante da vida.

Em conclusão, podemos afirmar que a sabedoria é um tesouro que se constrói com diversos instrumentos: fé e razão, introspecção e compaixão. Não há uma única fonte exclusiva ou infalível de sabedoria, mas uma combinação equilibrada e harmoniosa que nos torna verdadeiramente sábios. Devemos buscar a sabedoria com mente e coração abertos, sem dogmatismos ou preconceitos. Só assim poderemos viver de forma plena e feliz.

sábado, 28 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(5) Sábio é Aquele que Questiona, Ama e Abraça a Humildade

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(5) Sábio é Aquele que Questiona, Ama e Abraça a Humildade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um dos valores mais elevados da vida humana, mas como podemos alcançá-la? Será que existe um método infalível para obter o temor a Deus e o conhecimento divino? Neste ensaio, argumentarei que a busca pela sabedoria é uma jornada pessoal, não um processo mecânico, e que envolve questionar nossas certezas, praticar a compaixão e cultivar a humildade.

Em primeiro lugar, a sabedoria requer uma atitude de exame crítico de nossas crenças e preconceitos. Como disse o filósofo Sócrates, “uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”. Questionar nossas certezas nos torna mais sábios do que apenas aceitá-las. A Bíblia também nos ensina a “examinar tudo e reter o que é bom” (1 Tessalonicenses 5:21). Assim, a sabedoria não é fruto de uma mera repetição ou memorização de informações, mas de uma reflexão profunda e honesta sobre elas.

Em segundo lugar, a sabedoria implica uma prática de compaixão pelos outros e por nós mesmos. A compaixão é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir sua dor e de desejar aliviá-la. Segundo o Dalai Lama, “se você quer outros felizes, pratique compaixão. Se você quer ser feliz, pratique compaixão”. A compaixão nos torna mais sábios porque nos ajuda a entender melhor as emoções e as motivações humanas, e também a superar o egoísmo e o orgulho. A Bíblia também nos exorta a “amar o próximo como a nós mesmos” (Mateus 22:39), pois esse é o segundo maior mandamento da lei divina.

Em terceiro lugar, a sabedoria envolve uma postura de humildade diante da verdade. A humildade é a virtude de reconhecer nossos limites e nossos erros, e de estar aberto à correção e ao aprendizado. Como disse o filósofo Confúcio, “o verdadeiro sábio é aquele que sabe que não sabe”. A humildade nos torna mais sábios porque nos permite crescer e evoluir, sem nos apegarmos às nossas opiniões ou aos nossos interesses. A Bíblia também nos adverte que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes” (Tiago 4:6), pois Ele conhece os segredos do coração humano.

Portanto, concluo que a sabedoria não é algo que se possa obter por um método infalível ou por uma fórmula mágica. A sabedoria é uma jornada pessoal, que depende da nossa disposição em questionar nossas certezas, em praticar a compaixão e em cultivar a humildade. Essa jornada fluida nos torna verdadeiramente sábios.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(4) Cultivando a Sabedoria com Leveza: Um Olhar Integral

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(4) Cultivando a Sabedoria com Leveza: Um Olhar Integral

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um dos valores mais almejados pela humanidade, mas nem sempre é clara a forma de alcançá-la. Muitas vezes, associa-se a sabedoria a um processo árduo e doloroso, que exige renúncia e sacrifício. No entanto, essa visão é limitante e pode impedir o desenvolvimento de uma sabedoria integral e harmoniosa. Neste ensaio, pretende-se mostrar que a sabedoria também pode ser cultivada com leveza e alegria, por meio de três aspectos: o equilíbrio, a experiência e a aceitação.

O primeiro aspecto é o equilíbrio. A sabedoria não requer uma negação total dos prazeres da vida, mas sim uma moderação e uma consciência plena deles. Como disse Epicuro, "nada é suficiente para quem o suficiente é pouco". O filósofo defendia que a felicidade consistia em evitar os desejos excessivos e viver de acordo com a natureza. Nesse sentido, o equilíbrio é uma virtude que nos torna sábios, pois nos permite desfrutar dos bens da vida sem nos tornarmos escravos deles.

O segundo aspecto é a experiência. A sabedoria não se adquire apenas com o estudo e o raciocínio, mas também com a vivência e a emoção. Como afirmou Mahatma Gandhi, "a vida não se mede pelo número de vezes que se respira, e sim pelos momentos que tiram o fôlego". O líder pacifista demonstrou que a sabedoria pode ser fruto de uma ação transformadora, que busca a justiça e a paz. Nesse sentido, a experiência é uma fonte de sabedoria, pois nos ensina lições valiosas, que transcendem as palavras.

O terceiro aspecto é a aceitação. A sabedoria não implica uma resistência à realidade, mas sim uma compreensão e uma adaptação a ela. Como disse John Lennon, "tudo ficará bem no final. Se não está bem, não é o fim". O músico expressou que a sabedoria pode ser fruto de uma atitude positiva, que busca o melhor em cada situação. Nesse sentido, a aceitação é uma manifestação de sabedoria, pois nos permite lidar com as adversidades sem perder a esperança.

Portanto, conclui-se que a sabedoria não é um fim inatingível, mas sim um caminho possível e prazeroso. A sabedoria pode ser cultivada com leveza e alegria, quando buscamos o equilíbrio entre razão e sensibilidade, entre teoria e prática, entre ideal e real. Essa busca fluida e integral nos torna verdadeiramente sábios.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(3) Erros que Ensinam: A Correção como Caminho para a Sabedoria

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(3) Erros que Ensinam: A Correção como Caminho para a Sabedoria

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A busca pela sabedoria é um tema recorrente na história da humanidade, e também na tradição bíblica. A Bíblia nos apresenta diversos exemplos de personagens que buscaram a sabedoria através da oração, como Salomão, que pediu a Deus um coração sábio para governar o seu povo, ou Daniel, que orou para que Deus lhe revelasse o significado dos sonhos do rei Nabucodonosor. No entanto, a Bíblia também nos ensina que a oração não é o único meio de se alcançar a sabedoria, e que ela deve ser acompanhada de outras atitudes, como o estudo, a reflexão, a experiência e a humildade.

O livro de Provérbios, por exemplo, nos exorta a buscar a sabedoria como se busca um tesouro escondido, e nos incentiva a adquirir conhecimento através da observação da natureza, do conselho dos sábios e da correção dos erros. O livro de Eclesiastes, por sua vez, nos alerta para os limites da sabedoria humana, e nos convida a reconhecer que há mistérios que só Deus conhece. O livro de Tiago, por fim, nos mostra que a verdadeira sabedoria se manifesta através de uma conduta pacífica, gentil e imparcial.

Essas lições bíblicas estão em consonância com o pensamento de muitos filósofos que refletiram sobre a natureza e o valor da sabedoria. Platão, por exemplo, afirmou que "a verdadeira jornada de crescimento começa quando aplicamos o conhecimento com sabedoria", e que "uma vida não examinada não merece ser vivida". Aristóteles, por sua vez, definiu a sabedoria como "a ciência das coisas mais elevadas", e destacou a importância da prudência como uma virtude que orienta as nossas escolhas. Kant, por fim, propôs que "a sabedoria é o conhecimento do bem supremo", e que "a felicidade é o estado de um ser racional no mundo, ao qual em todo o seu existir tudo acontece segundo sua expectativa e vontade".

Em suma, a busca pela sabedoria é uma jornada complexa e desafiadora, que envolve tanto a oração quanto o aprendizado ativo. A oração pode nos ajudar a entrar em contato com Deus e com nós mesmos, mas não pode substituir o esforço pessoal e o engajamento com a realidade. A sabedoria é uma qualidade que se desenvolve ao longo do tempo, através da combinação de conhecimento teórico e prático, de raciocínio crítico e sensível, e de experiência pessoal e coletiva. A sabedoria é também uma qualidade que se expressa através de uma conduta ética e virtuosa, que busca o bem comum e a felicidade pessoal.

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(2) Submissão e Paixão: A Jornada da Sabedoria

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(2) Submissão e Paixão: A Jornada da Sabedoria

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um dos valores mais elevados da humanidade, pois implica em um conhecimento profundo e aplicado da realidade. A Bíblia afirma que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Salmos 111:10) e que "a sabedoria é mais preciosa do que rubis" (Provérbios 8:11). No entanto, como podemos alcançar a sabedoria? Quais são os requisitos e os obstáculos para essa busca? Neste ensaio, pretendo analisar a relação entre a submissão e a sabedoria, considerando os aspectos positivos e negativos dessa atitude.

A submissão pode ser entendida como a disposição para ouvir e amar, bem como a paixão pelo conhecimento. Essa abordagem exige humildade, dedicação e abertura para aprender com os outros. A história está repleta de exemplos em que a falta de ouvir resultou em consequências negativas, seja no caso de Israel desobedecendo aos profetas ou no cenário contemporâneo. Como disse o filósofo Sócrates, "só sei que nada sei", indicando a necessidade de reconhecer a própria ignorância e buscar a verdade.

No entanto, a submissão também pode ter um lado negativo, quando se torna cega ou sentimental. A sabedoria não se alcança pela aceitação passiva ou acrítica das opiniões alheias, mas pelo questionamento e pela análise rigorosa. Como disse Albert Einstein, "aprender sem pensar é trabalho perdido". O verdadeiro conhecimento requer raciocínio lógico e evidências empíricas. E colocar as "afeições" em algo externamente imposto limita nossa liberdade intelectual. Como afirmou Bertrand Russell, "o que mais me causa espanto é que as pessoas aceitem opiniões por tradição, convenção ou autoridade".

Além disso, a sabedoria não se resume ao conhecimento intelectual, mas também envolve o aspecto moral e espiritual. A sabedoria sem compaixão é vazia e inútil. Nas palavras de Lao Tsé, "ser compassivo com os outros traz paz interior". Devemos cultivar benevolência, não condenação. A Bíblia também ensina que "o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gálatas 5:22-23). Essas virtudes são essenciais para uma vida sábia e feliz.

Portanto, concluo que a submissão à sabedoria não é simplesmente uma questão de aceitar instruções verbais, mas de adotar uma mentalidade dedicada à busca de entendimento. Essa busca deve ser equilibrada, considerando os aspectos cognitivos, afetivos e éticos da sabedoria. A submissão deve ser acompanhada de crítica, liberdade e compaixão. Essa abordagem nos torna verdadeiramente sábios e nos aproxima de Deus, que é a fonte de toda sabedoria.

domingo, 15 de outubro de 2023

O VERÃO DOS PROFESSORES ("Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (15), em Arras, no norte de França, em memória de Dominique Bernard, um professor francês morto a facadas na sexta-feira por um ex-aluno da instituição, em um ataque islâmico")

 


O VERÃO DOS PROFESSORES ("Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (15), em Arras, no norte de França, em memória de Dominique Bernard, um professor francês morto a facadas na sexta-feira por um ex-aluno da instituição, em um ataque islâmico")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há algo de perturbador na atmosfera, como uma melodia dissonante ecoando pelas salas de aula. Os corredores das escolas, outrora repletos de risos e esperanças, agora ressoam com um lamento silencioso. Hoje, dia do professor (15/10), vou contar uma história de batalhas silenciosas, de lágrimas escondidas e de vidas que se desgastam em uma missão nobre e árdua: a dos professores.

Na França, mais um professor sucumbiu à brutalidade. Dominique Bernard, um educador dedicado, caiu vítima de um ex-aluno radicalizado, um triste reflexo da violência que assombra o sistema educacional francês. Essa triste realidade se assemelha a tantas outras na história recente, como o assassinato de Samuel Paty em 2020. O silêncio de um minuto e as homenagens demonstram nosso pesar, mas será que basta?
O cenário das escolas francesas não é único. Ecos semelhantes ressoam ao redor do mundo. Professores enfrentam uma batalha diária, onde as trincheiras são as salas de aula abarrotadas, as munições são os materiais escassos, e a vitória é medida em conhecimento compartilhado. Mas, essa luta é árdua demais. A ansiedade, fruto de estruturas precárias e salários defasados, consome esses heróis do cotidiano.
Com base no relato mentiroso de sua filha, o pai da menina apresentou uma denúncia contra o professor e lançou uma virulenta campanha nas redes sociais contra Samuel Paty, que depois foi decapitado por um terrorista de 18 anos. Os alunos descobriram que inventar motivo para denunciar professor dar certo, assim eliminam os indesejados com acusações de comer o lanche deles. De olhar para as alunas, contar piadas de cunho sexual, Não sabe dar aula, Não sabe nada... Eles podem ser racistas, homofóbicos, machistas, etarista, mandam todo mundo tomar no c... e riem muito da cara do professor. Se um professor morre vem outro no lugar imediatamente, e há muitos para serem trocados, como se muda de roupa. Salas de aula superlotadas e falta de recursos básicos drenam a energia e a paixão dos professores. Como não sentir ansiedade em um ambiente tão desafiador? Os salários, frequentemente injustos para a importância de sua missão, corroem a motivação e a sensação de dever cumprido.
O Brasil não é exceção. A saúde mental dos professores padece, com destaque para a síndrome de burnout, estresse e depressão. Essas feridas invisíveis afastam educadores do que amam, ameaçando minar nosso sistema educacional. Transtornos vocais, osteomusculares e a violência nas escolas são inimigos adicionais nessa guerra silenciosa.
Não basta homenagear com palmas e lágrimas os professores nos momentos de tragédia. Devemos lutar por salas de aula menos abarrotadas, por salários condizentes, por estruturas adequadas e por apoio na saúde mental. O grito silencioso dos professores não pode ser mais ignorado. Como disse Albert Camus: "No meio do inverno, aprendi que havia em mim um verão invencível." É hora de dar aos professores o verão que merecem. Ninguém merece apanhar, facadas e tiros.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/08/professor-decapitado-na-franca-aluna-que-o-acusou-de-islamofobia-admite-que-mentiu.ghtml (acessado em 16/10/2023).

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(1) "Além da Memorização: Verdadeira Compreensão"

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(1) Além da Memorização: Verdadeira Compreensão

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um conceito complexo e multifacetado, que envolve não apenas o conhecimento, mas também a capacidade de aplicá-lo de forma crítica, criativa e compassiva. Neste ensaio, pretendo discutir algumas dimensões da sabedoria, a partir de uma perspectiva teológica e filosófica.

Em primeiro lugar, a sabedoria não se resume a ouvir os outros e memorizar conhecimentos. Uma visão tão limitada ignora o desenvolvimento da criatividade, do pensamento crítico e da capacidade reflexiva. Como disse Kahlil Gibran, "a sabedoria cessa de ser sabedoria quando não desperta em nós a vontade de descobrir por nós mesmos" . O verdadeiro sábio é aquele que questiona, não apenas aceita. Essa atitude de busca pela verdade é valorizada na tradição bíblica, como no livro de Provérbios: "Se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a tua voz [...] então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus" .

Em segundo lugar, sabedoria também é empatia, compaixão e discernimento, como defendeu Mahatma Gandhi: “a não-violência e a verdade são inseparáveis e presumo que o que se aplica a uma se aplica à outra” . Violência, seja física ou retórica, não combina com sabedoria. Pelo contrário, a sabedoria requer respeito pelo próximo e pelo diferente, reconhecendo o valor de cada ser humano. Essa visão também encontra eco na mensagem cristã, como no evangelho de Mateus: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" .

Por fim, reduzir sabedoria a regras e condições é limitá-la. Como disse o Dalai Lama, “a sabedoria tem pouco a ver com a erudição, e muito com a introspeção iluminada pelo autodomínio” . É um processo interno de amadurecimento e autoconhecimento. A sabedoria não é algo que se possa adquirir de forma mecânica ou superficial, mas sim um dom que se cultiva com dedicação e humildade. Como afirmou Santo Agostinho: "Não saia fora de ti mesmo para encontrar a sabedoria; ela está dentro de ti" .

Portanto, embora ouvir e aprender sejam passos valiosos, a busca pela sabedoria deve ir além, integrando questionamento, compaixão e introspecção. Essa jornada mais profunda nos torna, de fato, sábios.