"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

" A hipocrisia é a arma dos mercenários." — Alessandro de Oliveira Feitosa

Pesquisar neste blog ou na Web

domingo, 17 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(29) O conhecimento e o temor do Senhor: uma análise crítica

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(29) O conhecimento e o temor do Senhor: uma análise crítica

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O conhecimento e o temor do Senhor são dois conceitos que aparecem frequentemente na Bíblia e na tradição cristã. Muitas vezes, eles são apresentados como virtudes que devem ser buscadas pelos fiéis, pois trazem benefícios espirituais e materiais. No entanto, é importante analisar esses conceitos de maneira crítica, considerando outros enfoques e perspectivas.

A compreensão do conhecimento não deve ser limitada apenas à visão religiosa. O conhecimento abrange uma ampla gama de áreas, incluindo ciência, artes e humanidades. Ignorar o conhecimento secular pode limitar o desenvolvimento humano e a compreensão do mundo ao nosso redor. A ciência e a educação são essenciais para avançar na sociedade e melhorar as condições de vida. Como disse Francis Bacon, um dos fundadores do método científico, "o conhecimento é em si mesmo um poder". Portanto, o conhecimento deve ser valorizado como um instrumento de transformação social e não como uma ameaça à fé.

Além disso, a noção de temor do Senhor pode ser interpretada de maneira mais ampla. O temor pode ser visto como respeito e admiração por forças maiores do universo, não necessariamente ligado a uma entidade divina específica. Essa reverência pode ser aplicada à natureza, à humanidade e a princípios éticos que promovam a harmonia e a cooperação. Como disse Albert Einstein, um dos maiores cientistas da história, "o mais belo sentimento que podemos experimentar é o mistério. É a fonte de toda arte e ciência verdadeiras". Consequentemente, o temor deve ser entendido como uma atitude de humildade e curiosidade diante do desconhecido e não como um sentimento de medo ou submissão.

Ao considerar as referências bíblicas, é importante lembrar que a Bíblia é uma obra interpretativa e sujeita a diferentes perspectivas. Enquanto algumas passagens podem sugerir consequências negativas para a rejeição da sabedoria divina, também é possível adotar uma abordagem mais inclusiva, que valorize o respeito mútuo e o entendimento. Como disse Paulo Freire, um dos maiores educadores brasileiros, "a educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática". Logo, a educação deve ser um espaço de diálogo e reflexão crítica sobre as diversas formas de conhecimento e crença.

Por conseguinte, é vital reconhecer a importância do conhecimento secular, bem como a diversidade de crenças e interpretações religiosas. Uma abordagem crítica e analítica permite explorar diversas perspectivas e promover um diálogo construtivo em busca de uma sociedade mais justa e inclusiva.

domingo, 10 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(28) Amigos ou Inimigos? Uma Análise Crítica da Visão Egoísta da Amizade

 




CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(28) Amigos ou Inimigos? Uma Análise Crítica da Visão Egoísta da Amizade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A amizade é um valor fundamental para a vida humana, mas nem sempre é compreendida em sua plenitude. Alguns podem ver os amigos como uma fonte de problemas ou de gastos desnecessários, motivados pelo orgulho ou pelo impulso. No entanto, essa visão é simplista e ignora os benefícios da amizade sincera, que se baseia na confiança, na reciprocidade e no sacrifício mútuo. Neste ensaio, pretendo defender que a amizade é uma virtude que deve ser cultivada com sabedoria, sem medo de prejuízos materiais ou morais.

A ideia de que os amigos representam um perigo financeiro por conta de orgulho ou impulso é fruto de uma concepção egoísta e individualista da vida. Quem pensa assim não entende o verdadeiro significado da amizade, que é uma relação de afeto, de apoio e de crescimento mútuo. Como disse o filósofo Aristóteles, "a amizade é uma virtude ou implica a virtude, e é além disso extremamente necessária para a vida" (ÉTICA A NICÔMACO, Livro VIII). Sem amigos, o homem se torna solitário, triste e incompleto.

A visão do texto também ignora que a verdadeira amizade se baseia em confiança e reciprocidade. Os amigos não são pessoas que nos exploram ou nos manipulam, mas sim que nos acompanham e nos ajudam nas dificuldades. Como afirma Mario Sergio Cortella, “amigo de verdade é aquele que caminha conosco, lado a lado, ombro a ombro. Não à frente, puxando nem atrás, empurrando” (FELICIDADE AUTHÊNTICA, 2010, p. 67). Os amigos são parceiros de jornada, que compartilham sonhos e desafios.

Além disso, os riscos citados podem ser evitados com planejamento e maturidade. Não se trata de gastar mais do que se pode ou de se exibir para os amigos, mas sim de saber equilibrar as necessidades e os desejos. O filósofo romano Cícero dizia: "A amizade não pode ser exercida com arrogância nem com orgulho" (LÉLIO - DIÁLOGO SOBRE A AMIZADE, 44 a.C.). Cabe ao homem prudente ponderar suas ações e respeitar seus limites.

Não se deve temer a amizade sincera por medo de prejuízos materiais. Pelo contrário, deve-se valorizar a amizade como um bem maior do que qualquer riqueza. Como disse Jesus Cristo, “ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida pelos seus amigos” (JOÃO 15:13). O verdadeiro amigo está disposto ao sacrifício mútuo, pois sabe que o amor é mais forte do que a morte.

Portanto, reduzir a amizade a cálculos egoístas é desvirtuar seu significado. Devemos cultivar nossos relacionamentos com sabedoria, mas sem desconfiança ou individualismo. Pois como disse o poeta John Donne, “nenhum homem é uma ilha” (MEDITAÇÃO XVII). Somos seres sociais que precisam uns dos outros para viver plenamente.

sábado, 9 de setembro de 2023

LIVRE-ARBÍTRIO OU DESTINO: UMA CRÔNICA SOBRE A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA. ("O mesmo sol que derrete a manteiga endurece o barro")

 


Crônicas

LIVRE-ARBÍTRIO OU DESTINO: UMA CRÔNICA SOBRE A BUSCA PELO SENTIDO DA VIDA. ("O mesmo sol que derrete a manteiga endurece o barro")

Por Claudeci Ferreira de andrade

Eu sempre me perguntei sobre o livre-arbítrio. Será que nós realmente temos o poder de escolher o nosso destino, ou será que tudo já está escrito nas estrelas? Será que somos os deuses da nossa própria vida, ou será que somos apenas marionetes nas mãos de um ser superior?

Eu lembro que, quando eu era criança, eu adorava ler histórias de aventura e fantasia, onde os heróis enfrentavam perigos e desafios para cumprir uma profecia ou um destino. Eu ficava fascinado com a ideia de que alguém pudesse saber o futuro, e que houvesse um plano maior por trás de tudo. Eu sonhava em ser um desses heróis, e em ter uma missão especial na vida.

Mas, conforme eu fui crescendo, eu fui percebendo que a vida não era tão simples assim. Eu vi que as pessoas tinham que lidar com problemas e dificuldades, que nem sempre tinham as mesmas oportunidades e chances, e que nem sempre conseguiam alcançar seus objetivos e sonhos. Eu vi que as escolhas que fazíamos tinham consequências, às vezes boas, às vezes ruins, e que nem sempre podíamos controlar tudo o que acontecia conosco.

Eu comecei a questionar se o livre-arbítrio era mesmo uma realidade, ou se era apenas uma ilusão. Será que nós realmente podíamos mudar o nosso futuro com as nossas decisões e ações, ou será que ele já estava determinado desde o início? Será que havia algum sentido ou propósito na vida, ou será que ela era apenas uma sucessão de eventos aleatórios e sem significado?

Eu busquei respostas em diferentes fontes: na filosofia, na religião, na ciência, na arte. Eu encontrei diferentes pontos de vista, diferentes argumentos, diferentes evidências. Mas, nenhuma delas me convenceu completamente. Nenhuma delas me deu a certeza absoluta que eu procurava.

Eu me dei conta de que talvez não houvesse uma resposta definitiva para essa questão. Talvez o livre-arbítrio e o destino fossem duas faces da mesma moeda, duas formas de ver a mesma realidade. Talvez cada um de nós tivesse um papel a desempenhar na vida, mas também tivesse a liberdade de escolher como desempenhá-lo. Talvez cada um de nós tivesse um futuro predestinado, mas também tivesse a possibilidade de modificá-lo.

Eu aprendi a aceitar essa ambiguidade, essa incerteza. Eu aprendi a viver com essa dúvida, essa curiosidade. Eu aprendi a valorizar cada momento da vida, cada experiência, cada escolha. Eu aprendi a ver cada situação como uma oportunidade, uma lição, uma prova.

Eu não sei se o livre-arbítrio existe ou não. Eu não sei se o destino existe ou não. Eu não sei se Deus existe ou não. Mas eu sei que eu existo. E eu sei que eu tenho uma voz. E eu sei que eu posso usá-la para expressar os meus pensamentos, os meus sentimentos, os meus sonhos.

E é isso que eu faço agora. Eu escrevo esta crônica para compartilhar com vocês a minha reflexão sobre o livre-arbítrio e o destino. Eu espero que ela possa inspirar vocês a também refletirem sobre esses temas. E eu espero que ela possa mostrar para vocês que a vida é um mistério maravilhoso, cheio de surpresas e possibilidades.

E vocês? O que vocês pensam sobre o livre-arbítrio e o destino? O que vocês escolhem fazer com as suas vidas? O que vocês esperam do futuro?

Eu adoraria saber as suas opiniões.

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

 


CRÔNICA DE UMA SALA DE AULA ("O conhecimento limitado gera orgulho, mas o amplo conhecimento humildade. Assim como as espigas vazias se elevam arrogantemente ao céu, enquanto as cheias se curvam humildemente para a terra, de onde vêm." — Leonardo da Vinci

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Foi naquela manhã de sol radiante que me vi imerso, mais uma vez, na complexa dinâmica de uma sala de aula. O cenário era uma pequena escola, onde o aprendizado e os desafios se entrelaçavam, criando uma trama intrigante e, por vezes, desoladora.

Naquele instante, percebi que minhas observações sobre a vida escolar eram mais do que meros apontamentos, mas profecias. Elas eram uma janela para o microcosmo de uma sociedade em formação, onde os alunos, como atores principais, desempenhavam seus papéis com inúmeras nuances.

Eu e os demais professores fraquejado com a indisciplina da tal sala de aula esperávamos que a coordenadora pedagógica fosse o fio condutor com soluções viáveis. Estávamos diante de uma trama desafiadora que muitas escolas enfrentam diariamente. Como lidar com alunos indisciplinados? Essa pergunta ecoava em minha mente enquanto eu observava meus alunos indisciplinados se movimentando e resistindo a aula, e eu inutilmente tentando manter a ordem na sala de aula: um palhaço ali na frente.

Dois dias depois, obedecendo o horário de aulas, retornei àquela sala, A primeira cena que testemunhei foi a mudança de lugar de três alunos, os mais indisciplinados. O gesto, aparentemente simples, escondia uma complexidade de emoções e conflitos. As cadeiras da frente da sala pareciam um atestado de sucesso; agora, um território conquistado pelo desrespeito.

Era como se a escola, ao mudar o aluno de lugar, estivesse emitindo um sinal claro: "Nós não sabemos como lidar com você, então vamos isolá-lo." Mas, ao mesmo tempo, essa ação também afetava os alunos disciplinados, que viam sua tranquilidade perturbada pelo intruso.

A sala de aula tornou-se um microcosmo de uma sociedade em constante transformação, onde as relações interpessoais, o poder e a autoridade se entrelaçavam. Os bons alunos, muitas vezes, eram estorvados pelas decisões que visavam conter a indisciplina. A busca pelo equilíbrio parecia um desafio hercúleo.

Posteriormente, em uma reunião de pais, uma mãe corajosa ergueu a voz em defesa de seu filho. Era uma professora também, ciente das questões didáticas e pedagógicas que, por vezes, eram negligenciadas pelos pedagogos que decidiam as mudanças. Seu filho era um bom menino que fora obrigado a ceder seu lugar da frente ir para um, no "fundão".

Fiquei perplexo ao saber que alguns dos professores, por vezes, pareciam seguir uma lógica que não era clara para mim. A maioria deles, ao que parecia, estava focada na gestão da disciplina a curto prazo, sem considerar as implicações a longo prazo.

Mudar um aluno de lugar ou de turma parecia uma solução imediata, mas as consequências para a coesão da classe e o desenvolvimento pessoal do próprio aluno eram frequentemente negligenciadas. Era como se o tempo presente ofuscasse o futuro.

Aquela mãe e seu filho saíram da sala dos professores com uma vitória aparente. Lágrimas de crocodilo haviam concordado, não como mãe, mas como professora com a decisão da maioria ali sugestionada pela direção disciplinar. Eu não podia deixar de imaginar as implicações morais daquela escolha.

Refletindo sobre tudo o que testemunhei, uma verdade se tornou clara para mim: nunca se resolve problemas relacionais e de indisciplina apenas mudando o desordeiro de lugar, sem antes tentar mudar o caráter. Aquela lição foi aprendida da maneira mais difícil por todos nós.

As salas de aula continuam sendo laboratórios de vida, onde as relações humanas são testadas e moldadas. Nesse microcosmo, é essencial que a educação não se restrinja apenas à disciplina acadêmica, mas também ao desenvolvimento moral e social.

Não podemos nivelar todos por baixo, sacrificando o potencial dos bons alunos em nome da acomodação. Cada aluno merece uma oportunidade de crescer e prosperar, e a educação deve ser um farol que guia a todos, não importando o quão tortuoso seja o caminho. Porém praticando e ensinado a justiça.

terça-feira, 5 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(27) Medo, angústia e sabedoria: uma reflexão teológico-filosófica.

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(27) Medo, angústia e sabedoria: uma reflexão teológico-filosófica.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

O medo e a angústia são sentimentos universais, que acompanham o ser humano desde os primórdios da sua existência. Eles revelam a nossa fragilidade, a nossa finitude, a nossa dependência de fatores que escapam ao nosso controle. Muitas vezes, esses sentimentos são associados a uma punição divina, a um castigo por nossos pecados ou erros. Mas será que essa é uma visão correta? Será que Deus é um tirano que nos amedronta e nos aflige? Ou será que Ele é um Pai amoroso que nos convida à sabedoria?

A sabedoria é a capacidade de discernir o bem do mal, o certo do errado, o verdadeiro do falso. Ela não se confunde com o conhecimento, que é a mera acumulação de informações. A sabedoria implica em uma atitude crítica, reflexiva, ética e espiritual diante da realidade. Ela nos ajuda a enfrentar o medo e a angústia com coragem e esperança.

Mas como adquirir a sabedoria? Como desenvolver essa virtude tão necessária e tão rara? A resposta não é simples, mas podemos encontrar algumas pistas nas Escrituras Sagradas e nos grandes pensadores da humanidade. Por exemplo, Sócrates afirmava que “A verdadeira sabedoria está em reconhecer a própria ignorância.” e Platão dizia que “A coisa mais indispensável a um homem é reconhecer o uso que deve fazer do seu próprio conhecimento.” Essas citações sugerem que a sabedoria requer humildade, reflexão e abertura para aprender com os outros. Como disse Rumi, o poeta persa, “A sabedoria não é o produto da escolaridade, mas a tentativa de vida por longos anos.”

Uma dessas pistas é reconhecer que o medo e a angústia não devem ser vistos como punições divinas, mas como parte da condição humana. Como disse Mahatma Gandhi, “não devemos temer o castigo pelos pecados, mas o pecado em si”. O pecado é a transgressão da lei de Deus, que é a lei do amor. O pecado nos afasta de Deus, de nós mesmos e dos outros. O pecado nos impede de ser felizes.

Outra pista é praticar a compaixão, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de sentir o que ele sente, de sofrer com ele e de ajudá-lo. A compaixão é o oposto do egoísmo, da indiferença e da violência. A compaixão é o reflexo do amor de Deus por nós. Jesus Cristo nos ensinou: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mateus 5:44). Essa é uma lição difícil, mas essencial para a sabedoria.

Uma terceira pista é buscar o autoconhecimento, que é a capacidade de se conhecer profundamente, de reconhecer as próprias qualidades e defeitos, virtudes e vícios, potencialidades e limitações. O autoconhecimento nos leva à humildade, à sinceridade e à autenticidade. Ele nos liberta das ilusões, dos preconceitos e das falsas crenças. Ele nos permite crescer como pessoas. O filósofo Sócrates escreveu: “Uma vida sem exame não vale a pena ser vivida”. Devemos questionar dogmas e buscar respostas por nós mesmos.

Uma quarta pista é cultivar a empatia, que é a capacidade de se alegrar com a alegria do outro, de se entristecer com a tristeza do outro, de se solidarizar com o sofrimento do outro. A empatia é o oposto da inveja, da ironia e da crueldade. A empatia é o reflexo da bondade de Deus por nós. Ana Frank nos disse: “No final, o que realmente importa não é o que fizemos, mas como tratamos as pessoas”.

Portanto, rejeitemos a ideia de um Deus vingativo. Abracemos a compaixão. Examinemos nossos corações. E encontremos sabedoria dentro de nós mesmos.

domingo, 3 de setembro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(26) A compaixão como expressão da sabedoria cristã

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(26) A compaixão como expressão da sabedoria cristã

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria cristã é a capacidade de discernir o que é bom, justo e agradável a Deus, tendo como base a revelação divina contida nas Escrituras Sagradas. No entanto, a sabedoria cristã não se limita a um conhecimento teórico ou dogmático, mas se manifesta também na prática do amor ao próximo. Neste ensaio, defendemos a tese de que a compaixão é uma expressão da sabedoria cristã, pois demonstra uma atitude de respeito, empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem. Essa atitude se opõe ao escárnio, que é uma forma de desprezo, ironia e zombaria para com aqueles que nos desagradam. Acreditamos que a compaixão é mais coerente com o ensino e o exemplo de Jesus Cristo, que demonstrou misericórdia e amor pelos pecadores, sem deixar de exortá-los à conversão e à santidade.

Para fundamentar a nossa tese, recorremos a alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos. No campo bíblico, citamos o mandamento de Jesus: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 22:39). Esse mandamento resume toda a lei e os profetas, e implica em reconhecer o valor e a dignidade de cada pessoa, independentemente de suas falhas ou diferenças. Esse mandamento também implica em se colocar no lugar do outro, buscando compreender suas necessidades, sentimentos e motivações. Esse mandamento ainda implica em agir em favor do outro, procurando aliviar seu sofrimento, promover seu bem-estar e restaurar seu relacionamento com Deus.

No campo filosófico, citamos o pensamento de Mahatma Gandhi, que defendeu que "a não-violência e a verdade são inseparáveis". Segundo Gandhi, a não-violência é mais do que uma ausência de violência física ou verbal; é uma atitude de respeito e benevolência para com todos os seres vivos. A não-violência também exige uma busca pela verdade, que é mais do que uma conformidade com os fatos; é uma adesão aos princípios universais de justiça e amor. Portanto, para Gandhi, devemos agir com não-violência e verdade em todas as situações, mesmo diante dos nossos inimigos ou adversários.

Outro pensador filosófico que citamos é Nelson Mandela, que escreveu: "ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender". Com essa frase, Mandela mostrou que o ódio é um sentimento aprendido, fruto da ignorância e do preconceito. Mandela também mostrou que é possível desaprender o ódio, por meio da educação e do diálogo. Mandela foi um exemplo de perdão e reconciliação, ao liderar a transição pacífica da África do Sul do regime do apartheid para a democracia.

Em conclusão, propomos que a compaixão é uma expressão da sabedoria cristã, pois demonstra uma atitude de respeito, empatia e solidariedade para com aqueles que sofrem. Essa atitude se baseia no mandamento de Jesus de amar o próximo como a si mesmo, e se apoia em alguns embasamentos teóricos, tanto bíblicos quanto filosóficos, que nos ajudam a entender melhor a realidade e a agir com bondade. Essa atitude nos convida a ser mais misericordiosos e menos escarnecedores, mais humildes e menos arrogantes, mais pacíficos e menos violentos. Essa atitude nos desafia a ser mais cristãos.