"Se você tem uma missão Deus escreve na vocação"— Luiz Gasparetto

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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(2) Submissão e Paixão: A Jornada da Sabedoria

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(2) Submissão e Paixão: A Jornada da Sabedoria

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um dos valores mais elevados da humanidade, pois implica em um conhecimento profundo e aplicado da realidade. A Bíblia afirma que "o temor do Senhor é o princípio da sabedoria" (Salmos 111:10) e que "a sabedoria é mais preciosa do que rubis" (Provérbios 8:11). No entanto, como podemos alcançar a sabedoria? Quais são os requisitos e os obstáculos para essa busca? Neste ensaio, pretendo analisar a relação entre a submissão e a sabedoria, considerando os aspectos positivos e negativos dessa atitude.

A submissão pode ser entendida como a disposição para ouvir e amar, bem como a paixão pelo conhecimento. Essa abordagem exige humildade, dedicação e abertura para aprender com os outros. A história está repleta de exemplos em que a falta de ouvir resultou em consequências negativas, seja no caso de Israel desobedecendo aos profetas ou no cenário contemporâneo. Como disse o filósofo Sócrates, "só sei que nada sei", indicando a necessidade de reconhecer a própria ignorância e buscar a verdade.

No entanto, a submissão também pode ter um lado negativo, quando se torna cega ou sentimental. A sabedoria não se alcança pela aceitação passiva ou acrítica das opiniões alheias, mas pelo questionamento e pela análise rigorosa. Como disse Albert Einstein, "aprender sem pensar é trabalho perdido". O verdadeiro conhecimento requer raciocínio lógico e evidências empíricas. E colocar as "afeições" em algo externamente imposto limita nossa liberdade intelectual. Como afirmou Bertrand Russell, "o que mais me causa espanto é que as pessoas aceitem opiniões por tradição, convenção ou autoridade".

Além disso, a sabedoria não se resume ao conhecimento intelectual, mas também envolve o aspecto moral e espiritual. A sabedoria sem compaixão é vazia e inútil. Nas palavras de Lao Tsé, "ser compassivo com os outros traz paz interior". Devemos cultivar benevolência, não condenação. A Bíblia também ensina que "o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio" (Gálatas 5:22-23). Essas virtudes são essenciais para uma vida sábia e feliz.

Portanto, concluo que a submissão à sabedoria não é simplesmente uma questão de aceitar instruções verbais, mas de adotar uma mentalidade dedicada à busca de entendimento. Essa busca deve ser equilibrada, considerando os aspectos cognitivos, afetivos e éticos da sabedoria. A submissão deve ser acompanhada de crítica, liberdade e compaixão. Essa abordagem nos torna verdadeiramente sábios e nos aproxima de Deus, que é a fonte de toda sabedoria.

domingo, 15 de outubro de 2023

O VERÃO DOS PROFESSORES ("Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (15), em Arras, no norte de França, em memória de Dominique Bernard, um professor francês morto a facadas na sexta-feira por um ex-aluno da instituição, em um ataque islâmico")

 


O VERÃO DOS PROFESSORES ("Centenas de pessoas se reuniram neste domingo (15), em Arras, no norte de França, em memória de Dominique Bernard, um professor francês morto a facadas na sexta-feira por um ex-aluno da instituição, em um ataque islâmico")

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Há algo de perturbador na atmosfera, como uma melodia dissonante ecoando pelas salas de aula. Os corredores das escolas, outrora repletos de risos e esperanças, agora ressoam com um lamento silencioso. Hoje, dia do professor (15/10), vou contar uma história de batalhas silenciosas, de lágrimas escondidas e de vidas que se desgastam em uma missão nobre e árdua: a dos professores.

Na França, mais um professor sucumbiu à brutalidade. Dominique Bernard, um educador dedicado, caiu vítima de um ex-aluno radicalizado, um triste reflexo da violência que assombra o sistema educacional francês. Essa triste realidade se assemelha a tantas outras na história recente, como o assassinato de Samuel Paty em 2020. O silêncio de um minuto e as homenagens demonstram nosso pesar, mas será que basta?
O cenário das escolas francesas não é único. Ecos semelhantes ressoam ao redor do mundo. Professores enfrentam uma batalha diária, onde as trincheiras são as salas de aula abarrotadas, as munições são os materiais escassos, e a vitória é medida em conhecimento compartilhado. Mas, essa luta é árdua demais. A ansiedade, fruto de estruturas precárias e salários defasados, consome esses heróis do cotidiano.
Com base no relato mentiroso de sua filha, o pai da menina apresentou uma denúncia contra o professor e lançou uma virulenta campanha nas redes sociais contra Samuel Paty, que depois foi decapitado por um terrorista de 18 anos. Os alunos descobriram que inventar motivo para denunciar professor dar certo, assim eliminam os indesejados com acusações de comer o lanche deles. De olhar para as alunas, contar piadas de cunho sexual, Não sabe dar aula, Não sabe nada... Eles podem ser racistas, homofóbicos, machistas, etarista, mandam todo mundo tomar no c... e riem muito da cara do professor. Se um professor morre vem outro no lugar imediatamente, e há muitos para serem trocados, como se muda de roupa. Salas de aula superlotadas e falta de recursos básicos drenam a energia e a paixão dos professores. Como não sentir ansiedade em um ambiente tão desafiador? Os salários, frequentemente injustos para a importância de sua missão, corroem a motivação e a sensação de dever cumprido.
O Brasil não é exceção. A saúde mental dos professores padece, com destaque para a síndrome de burnout, estresse e depressão. Essas feridas invisíveis afastam educadores do que amam, ameaçando minar nosso sistema educacional. Transtornos vocais, osteomusculares e a violência nas escolas são inimigos adicionais nessa guerra silenciosa.
Não basta homenagear com palmas e lágrimas os professores nos momentos de tragédia. Devemos lutar por salas de aula menos abarrotadas, por salários condizentes, por estruturas adequadas e por apoio na saúde mental. O grito silencioso dos professores não pode ser mais ignorado. Como disse Albert Camus: "No meio do inverno, aprendi que havia em mim um verão invencível." É hora de dar aos professores o verão que merecem. Ninguém merece apanhar, facadas e tiros.

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/03/08/professor-decapitado-na-franca-aluna-que-o-acusou-de-islamofobia-admite-que-mentiu.ghtml (acessado em 16/10/2023).

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(1) "Além da Memorização: Verdadeira Compreensão"

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico II(1) Além da Memorização: Verdadeira Compreensão

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um conceito complexo e multifacetado, que envolve não apenas o conhecimento, mas também a capacidade de aplicá-lo de forma crítica, criativa e compassiva. Neste ensaio, pretendo discutir algumas dimensões da sabedoria, a partir de uma perspectiva teológica e filosófica.

Em primeiro lugar, a sabedoria não se resume a ouvir os outros e memorizar conhecimentos. Uma visão tão limitada ignora o desenvolvimento da criatividade, do pensamento crítico e da capacidade reflexiva. Como disse Kahlil Gibran, "a sabedoria cessa de ser sabedoria quando não desperta em nós a vontade de descobrir por nós mesmos" . O verdadeiro sábio é aquele que questiona, não apenas aceita. Essa atitude de busca pela verdade é valorizada na tradição bíblica, como no livro de Provérbios: "Se clamares por inteligência, e por entendimento alçares a tua voz [...] então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus" .

Em segundo lugar, sabedoria também é empatia, compaixão e discernimento, como defendeu Mahatma Gandhi: “a não-violência e a verdade são inseparáveis e presumo que o que se aplica a uma se aplica à outra” . Violência, seja física ou retórica, não combina com sabedoria. Pelo contrário, a sabedoria requer respeito pelo próximo e pelo diferente, reconhecendo o valor de cada ser humano. Essa visão também encontra eco na mensagem cristã, como no evangelho de Mateus: "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" .

Por fim, reduzir sabedoria a regras e condições é limitá-la. Como disse o Dalai Lama, “a sabedoria tem pouco a ver com a erudição, e muito com a introspeção iluminada pelo autodomínio” . É um processo interno de amadurecimento e autoconhecimento. A sabedoria não é algo que se possa adquirir de forma mecânica ou superficial, mas sim um dom que se cultiva com dedicação e humildade. Como afirmou Santo Agostinho: "Não saia fora de ti mesmo para encontrar a sabedoria; ela está dentro de ti" .

Portanto, embora ouvir e aprender sejam passos valiosos, a busca pela sabedoria deve ir além, integrando questionamento, compaixão e introspecção. Essa jornada mais profunda nos torna, de fato, sábios.

quinta-feira, 12 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(33) O Lado Resumo da Prosperidade: Desvendando Mitos sobre Sabedoria e Tranquilidade

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(33) O Lado Resumo da Prosperidade: Desvendando Mitos sobre Sabedoria e Tranquilidade

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A sabedoria é um dos valores mais elevados da tradição judaico-cristã, sendo considerada um dom de Deus e uma fonte de bênçãos para os que a buscam. No livro de Provérbios, por exemplo, encontramos diversos conselhos sobre como adquirir e aplicar a sabedoria na vida cotidiana, visando alcançar a tranquilidade e a prosperidade. Segundo o autor, "Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento" (Provérbios 3:13). A sabedoria é apresentada como um caminho seguro e recompensador para aqueles que desejam viver bem.

No entanto, será que essa visão de que a busca pela sabedoria garante automaticamente paz e segurança é suficiente para compreender a realidade humana? Será que não há outros fatores que influenciam o destino das pessoas e das sociedades, além das suas escolhas morais? Será que não há limites e desafios para a aplicação da sabedoria na vida prática? Essas são algumas questões que merecem uma análise crítica sob uma perspectiva mais ampla e profunda.

É inegável que fazer escolhas sábias e seguir princípios morais pode trazer benefícios tanto individuais quanto sociais. A sabedoria é uma virtude que nos ajuda a discernir o bem do mal, a agir com justiça e equilíbrio, a evitar o erro e o sofrimento. Como disse o filósofo grego Aristóteles, "A sabedoria é a mais perfeita das ciências" (Metafísica I, 2). A sabedoria nos permite conhecer as causas e os princípios das coisas, bem como as finalidades e os valores da vida.

No entanto, é preciso cautela ao associar a obtenção da tranquilidade apenas à aderência a esses princípios. A vida é repleta de desafios imprevisíveis que não podem ser resumidos a uma simples equação entre ações e consequências. A experiência humana é complexa e influenciada por diversos fatores, incluindo contextos sociais, econômicos e culturais. Como disse o filósofo francês Blaise Pascal, "O coração tem razões que a própria razão desconhece" (Pensamentos, 277). Nem sempre podemos controlar ou prever os acontecimentos que nos afetam ou aos outros.

O enfoque excessivo na tranquilidade obtida através da sabedoria pode obscurecer a compreensão das dificuldades enfrentadas por aqueles que seguem essa rota. As adversidades não são necessariamente resultado de falta de sabedoria, e o sucesso não é garantido apenas por uma vida correta. Citar exemplos de pessoas que tiveram diferentes destinos não é suficiente para estabelecer uma regra geral. Há casos em que os justos sofrem e os ímpios prosperam, contrariando as expectativas. Como disse o autor do livro de Eclesiastes, "Vi tudo o que se faz debaixo do sol; tudo é ilusão, é correr atrás do vento" (Eclesiastes 1:14). A vida nem sempre segue uma lógica racional ou moral.

Ao relacionar prosperidade exclusivamente com sabedoria, corre-se o risco de ignorar a realidade de muitos que enfrentam obstáculos apesar de suas escolhas sensatas. A vida é mais sutil e multidimensional do que uma simples ligação de causa e efeito entre virtudes e resultados positivos. Portanto, é necessário um olhar mais abrangente e empático para compreender as múltiplas trajetórias de indivíduos e sociedades.

Em vez de adotar uma visão simplista de que a sabedoria sempre resulta em tranquilidade, é mais prudente reconhecer a complexidade da existência humana. Valorizar princípios morais é essencial, mas não se deve perder de vista a realidade de que a vida é repleta de desafios e circunstâncias imprevisíveis. Alcançar a verdadeira compreensão requer uma análise crítica e sensível das nuances da vida, indo além de fórmulas simplistas. Como disse o filósofo alemão Immanuel Kant, "Ousar saber é o lema da iluminação" (Resposta à pergunta: O que é esclarecimento?). A sabedoria não é um fim em si mesma, mas um meio para iluminar a nossa mente e o nosso coração.

sábado, 7 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(32) A loteria é uma armadilha para os pobres?

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(32) A loteria é uma armadilha para os pobres?

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A loteria é uma forma de jogo que consiste em apostar em números aleatórios, com a esperança de ganhar um prêmio em dinheiro. Muitas pessoas, especialmente as de baixa renda, recorrem à loteria como uma forma de escapar da pobreza e realizar seus sonhos. Mas, será que a loteria é realmente uma oportunidade para os pobres ou uma armadilha que os explora e ilude?

Alguns argumentam que a loteria é uma armadilha para os pobres, pois eles gastam uma parte significativa de sua renda em apostas, sem ter retorno garantido. Além disso, a loteria seria uma forma de manipular os pobres, usando os ganhadores como propaganda para atrair mais apostadores. Assim, a loteria seria um mecanismo injusto e perverso, que perpetua a desigualdade social e a exploração dos mais vulneráveis.

No entanto, essa visão é simplista e preconceituosa, pois ignora a complexidade da realidade social e a diversidade das motivações humanas. A loteria não pode ser reduzida a uma questão de racionalidade econômica, pois envolve também aspectos psicológicos, culturais e morais. A loteria é uma forma de expressar a esperança, a fé e a liberdade de escolha dos indivíduos.

Como disse Nelson Mandela, "a pobreza não é natural. É homem que a cria, e homem que a destrói". A pobreza é fruto de injustiças sociais e falta de oportunidades, não de más escolhas individuais. E apostar na loteria, por menor que sejam as chances, representa para alguns a esperança de uma vida melhor.

Na verdade, "a busca da felicidade é um direito inalienável de todo ser humano", como disse Thomas Jefferson. Quem somos nós para julgar as escolhas alheias baseadas em anseios tão profundamente humanos? A melhor postura é ter compaixão.

Além disso, é simplista presumir que todos compram loteria por "tolice". Muitos o fazem conscientemente, por puro entretenimento e diversão, sem grandes ilusões quanto às probabilidades. Para esses, vale o dito popular "o sonho não custa nada". ( Este é o eu caso).

Portanto, ao invés de reprovar aqueles que buscam alegria em uma aposta ocasional, deveríamos nos compadecer da dura realidade dos menos favorecidos e lutar por justiça social. Pois, como disse Martin Luther King Jr (1929-1968, "a injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar". É tempo de empatia e solidariedade, não de julgamentos.

A Bíblia também nos ensina a ter misericórdia pelos pobres e a compartilhar nossos bens com eles. Em Provérbios 19:17, lemos: "Quem se compadece do pobre ao Senhor empresta, e este lhe paga o seu benefício". E em Lucas 12:33-34, Jesus nos diz: "Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós bolsas que não se envelheçam; tesouro nos céus que jamais acabe, aonde não chega ladrão e a traça não rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração".

Assim, podemos concluir que a loteria não é nem uma oportunidade nem uma armadilha para os pobres, mas sim uma expressão da condição humana. Cabe a nós respeitar as escolhas dos outros e buscar formas mais justas e solidárias de combater a pobreza e promover o bem comum.

quarta-feira, 4 de outubro de 2023

TUDO SE AVALIA: REFLEXÕES NA VÉSPERA DO CONSELHO DE CLASSE ("Pela forma como trabalha se avalia o artista". — Jean de La Fontaine)

 


TUDO SE AVALIA: REFLEXÕES NA VÉSPERA DO CONSELHO DE CLASSE ("Pela forma como trabalha se avalia o artista". — Jean de La Fontaine)

Por Claudeci Ferreira de Andrade

Na véspera do conselho de classe, uma atmosfera carregada de expectativas e tensão paira sobre a escola. É o momento em que os professores, como eu, se preparam para justificar as notas atribuídas aos alunos, de acordo com seus méritos. Entretanto, existe um personagem nessa história, um indivíduo que se tornou persona non grata entre nós: o mestre, pois aprenderá da maneira mais marcante possível que não pode reprovar aluno algum.

Com muito critério prepararam um formulário que a escola proporciona aos alunos para julgar os professores metodicamente; uma ferramenta que devia tratar apenas do aspecto profissional, porém abrange também o pessoal. Ela serve, segundo minha perspectiva, para colocar o professor em seu devido lugar. Neste contexto, somos nós, os educadores, os vilões em destaque.

A avaliação é, para muitos alunos, apenas um meio de desabafar suas frustrações, expressar o quão chato é um professor ou o quanto detestam determinada matéria. E, veja só, por vezes, isso se torna um espetáculo cômico, quando um professor se vê como o monarca da sala de aula e, de repente, recebe um tapa de realidade por meio dessas avaliações.

Em toda a véspera do conselho de classe, quando olho para essas avaliações, encontro nelas uma mistura de ansiedade e desafio. Cada uma delas é uma narrativa singular, escrita com tintas da juventude e da experiência escolar. São vozes que clamam por atenção, que exigem ser ouvidas, e muitas vezes, revelam não apenas as impressões dos alunos, mas também nossos próprios erros e desafios como professores.

Ao longo dos anos, tenho aprendido que essa avaliação é mais do que apenas um mecanismo de feedback. Ela é um espelho que reflete nossas práticas e nos faz questionar nosso papel como educadores. A que ponto chegamos, o discente, instruindo o docente. “Se a montanha não vai a Maomé, vai Maomé à montanha". Não é apenas um modo dos alunos desabafarem, mas também uma oportunidade para nós, professores, refletirmos sobre nossa abordagem pedagógica e nosso relacionamento com nossos pupilos.

No conselho de classe, quando nos reunimos para analisar essas avaliações, é um momento de autoavaliação e crescimento. É o momento em que percebemos que, apesar de sermos os profissionais, ainda temos muito a aprender com nossos alunos. Afinal, o conhecimento não flui apenas em uma direção, mas é uma via de mão dupla, onde todos nós, professores e alunos, são eternos aprendizes.

Assim, a avaliação que um dia pareceu ser uma ameaça para o nosso status como professores, na verdade, se revela como um instrumento de crescimento e evolução. É uma lição de humildade e um lembrete de que, no final das contas, todos estão aqui para aprender e crescer juntos.

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(31) Entre o Bem, o Mau e a Verdade.

 


CRENTE SEM FANATISMO: DE CARNE E OSSO — Ensaio Teológico I(31) Entre o Bem, o Mau e a Verdade.

Por Claudeci Ferreira de Andrade

A ideia de que as mazelas da humanidade decorrem da rejeição aos ensinamentos bíblicos é, no mínimo, simplista e pouco fundamentada. Como afirmou o filósofo Bertrand Russell, "muitas pessoas aceitariam a moral cristã se não incluísse a doutrina cristã". Ou seja, os preceitos éticos do cristianismo não dependem necessariamente da crença em sua origem divina e infalível.

De fato, a busca por compreensão, justiça e compaixão faz parte da própria condição humana, independente de religião. Como disse o escritor Stefan Zweig, "é próprio do ser humano procurar a luz". Os avanços na ciência, direitos humanos e valores democráticos ocorreram mais apesar do que por causa dos dogmas religiosos.

Além disso, atribuir os problemas sociais à rejeição da fé é desconsiderar fatores políticos, econômicos e culturais que constituem a complexa teia da vida em sociedade. Nas palavras do sociólogo Émile Durkheim, "a moral não pode derivar nem da natureza humana nem da vontade divina, mas da própria sociedade".

Portanto, embora os ensinamentos religiosos possam trazer contribuições relevantes, a ética e o progresso dependem sobretudo do diálogo aberto, do senso de justiça e da disposição humana para o bem. Combater injustiças e construir uma sociedade melhor são tarefas que requerem olhar crítico, empatia e razão.

No entanto, isso não significa que devemos ignorar ou desprezar a dimensão espiritual da existência humana. Pelo contrário, devemos reconhecer que há uma fonte de sabedoria e amor que transcende as nossas limitações humanas. Como disse o apóstolo Paulo, "examinai tudo. Retende o bem". Ou seja, devemos ser capazes de discernir entre o que é verdadeiro e o que é falso, entre o que é bom e o que é mau, entre o que é de Deus e o que é do mundo.

Nesse sentido, a Bíblia pode ser um guia valioso para a nossa conduta moral, desde que seja interpretada com inteligência e sensibilidade. Como disse o teólogo Agostinho de Hipona, "a Bíblia foi escrita para que creiamos nela; mas não se pode crer nela se não se compreende seu sentido". Ou seja, devemos buscar entender o contexto histórico, cultural e literário dos textos bíblicos, bem como aplicar os seus princípios à nossa realidade atual.

Assim, podemos conciliar a fé e a razão, a religião e a ciência, a moral e a ética. Podemos viver como cidadãos responsáveis e como filhos amados de Deus. Podemos ser sal da terra e luz do mundo.