O Enigma Alemão e o Valor da Educação ("Uma sociedade que não valoriza seus professores não pode esperar que eles valorizem seu futuro." — John F. Kennedy)
Era uma manhã comum, dessas em que o café parece mais forte que as esperanças de quem ensina. Abri o jornal e lá estava ela: a notícia que me fisgou como um anzol filosófico cravado na carne da minha curiosidade docente. A Alemanha, país modelo em tantos sentidos, paga cerca de 50 mil euros por ano aos seus professores da rede pública — algo em torno de 25 mil reais por mês. Um salário que, aos olhos brasileiros, beira o inacreditável. E, no entanto, as salas seguem vazias.
Sim, vazias. Não por falta de recursos, mas por ausência de vocações. A Alemanha, apesar do salário atrativo, não consegue preencher suas vagas docentes. Recorre, então, a uma alternativa curiosa: convocar profissionais de outras áreas, bem-sucedidos em suas carreiras, para dar aulas. Uma ideia ousada que me fez pensar: para quê o ensino médio tradicional? Para quê o ENEM, se a escola deveria, acima de tudo, preparar os jovens para a vida e o mercado de trabalho?
A questão se agrava no ensino superior. Os cursos de licenciatura, responsáveis por formar professores, não conseguem atrair novos estudantes. A procura é menor do que a necessidade. E isso — mesmo com bons salários — revela algo mais profundo do que uma simples crise numérica: revela a desvalorização simbólica da docência, que nem todo dinheiro do mundo consegue esconder.
Ao longo deste último ano, colecionei outros exemplos, mas esse me parece emblemático. Ele desmascara uma ilusão perigosa: a de que investir financeiramente é suficiente para salvar a educação. Não é. É preciso também investir em justiça pedagógica, em dignidade profissional, em critérios honestos. Aprovar um aluno sem mérito não é inclusão, é negligência. Às vezes, a reprovação ensina mais que uma aprovação inflada para enfeitar relatórios e estatísticas.
Na Finlândia, vi professores entrarem em sala com a mesma solenidade de quem pisa num templo: lá, o educador é escolhido entre os melhores, e ser aprovado para lecionar é uma honra rara. Já no Brasil, presenciei colegas exaustos, carregando pilhas de provas como quem arrasta o próprio desânimo, enquanto alunos desmotivados olham para o futuro com a mesma apatia com que encaram a lousa. Gestores, muitas vezes mais preocupados com indicadores do que com integridade pedagógica, pressionam por aprovações em massa, transformando o ensino em um teatro de aparências. Esses cenários concretos escancaram o abismo entre a vocação e a burocracia, entre o prestígio e o descaso. E é nesse contraste que se revela a urgência de resgatar o sentido perdido da profissão docente.
Como professor, vejo que não se trata apenas de salário, mas de sentido. O sentido de ensinar, de formar, de resistir — mesmo quando tudo aponta para o desânimo. A educação precisa, antes de tudo, ser verdadeira. E, talvez, o maior vazio não esteja nas salas alemãs, mas na coragem coletiva de reconhecer que formar um cidadão exige mais que cifras: exige método, ética e propósito. E falo do propósito vocacional, não de mercenarismo.
https://jornalgrandebahia.com.br/2009/11/falta-de-professores-e-preocupante-na-alemanha/ (Acessado em 15/07/2025)
Como professor de sociologia, desenvolvi estas 5 questões discursivas para explorar as ideias centrais do texto:
QUESTÃO 1 - Trabalho e Sociedade
O texto menciona que a Alemanha paga cerca de 50 mil euros anuais aos professores, mas ainda assim enfrenta escassez de profissionais na educação. Explique por que um salário alto nem sempre é suficiente para atrair pessoas para uma profissão e cite outros fatores que influenciam a escolha profissional na sociedade contemporânea.
QUESTÃO 2 - Valorização Social e Prestígio
O autor fala sobre a "desvalorização simbólica da docência". Analise como o prestígio social de uma profissão pode influenciar mais na escolha de carreira do que apenas os aspectos financeiros. Dê exemplos de profissões que possuem alto prestígio social em nossa sociedade.
QUESTÃO 3 - Educação e Função Social
Quando o texto questiona "para quê o ensino médio tradicional?", está problematizando a função da escola na sociedade. Discuta qual deve ser o papel principal da educação: preparar para o mercado de trabalho ou formar cidadãos críticos? Justifique sua resposta.
QUESTÃO 4 - Políticas Educacionais e Consequências
O autor critica a aprovação de alunos "sem mérito" como forma de "enfeitar relatórios e estatísticas". Analise como certas políticas educacionais podem ter consequências sociais negativas quando priorizam números em vez da qualidade do ensino.
QUESTÃO 5 - Vocação versus Mercado
O texto termina diferenciando "propósito vocacional" de "mercenarismo" na educação. Explique essa distinção e discuta por que é importante que algumas profissões, como a docência, mantenham um caráter vocacional na sociedade moderna.
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