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MINHAS PÉROLAS

domingo, 14 de setembro de 2025

A falsa promessa da inclusão ("A inclusão só é verdadeira quando o lugar do outro, com a sua diferença, não é apenas tolerado, mas desejado." — Marcelo Gleiser)



 

A falsa promessa da inclusão ("A inclusão só é verdadeira quando o lugar do outro, com a sua diferença, não é apenas tolerado, mas desejado." — Marcelo Gleiser)

Por Claudeci Ferreia de Andrade

           Sempre que me manifesto contra a chamada educação inclusiva, percebo os olhares de reprovação se voltarem para mim. A frase soa estranha e até cruel, como se eu fosse contra o acolhimento e a solidariedade, mas não é isso. O que me incomoda não é a ideia de inclusão, e sim o modo como essa política foi imposta sem ouvir quem vivia a realidade do dia a dia.




           Lembro-me de um vídeo em que um pai de Porto Alegre relata a experiência de sua filha em uma escola especial. Ele atravessava a cidade todos os dias para levá-la a esse refúgio, no bairro Intercap. Lá, a filha, que tem a síndrome de Williams, era respeitada e compreendida, pois a escola era um local próprio para crianças com diversas condições. O pai encontrava ali um ambiente de acolhimento e troca de experiências. Nesse espaço, a diferença não era um peso; era o ponto de partida para o desenvolvimento.



           O depoimento desse pai mostrou que a escola especial era exatamente o que as famílias desesperadas precisavam: professores qualificados, uma comunidade de pais que se entendiam, e crianças que, por fim, encontravam um lugar de pertencimento.



           A mudança começou com a “educação inclusiva”, uma política do governo do PT que parecia irresistível. O objetivo era extinguir as escolas especiais e colocar todas as crianças juntas, como se a simples convivência pudesse dissolver o preconceito. A justificativa era que, convivendo lado a lado, os alunos aprenderiam a enxergar a diferença como algo positivo.



           No entanto, a prática se mostrou bem diferente. Eu e meus colegas, sem a formação adequada, recebemos alunos com necessidades especiais sem nenhum preparo. A insegurança dos pais faz com que muitos proíbam seus filhos de se aproximarem desses colegas, como se fossem contagiosos. E as próprias crianças, na sua inocência cruel, reagem com piadas, bullying e exclusão.



           A filha daquele pai, que antes era acolhida, passou a se sentir invisível. Já enfrentava a dificuldade de uma condição genética e, agora, também lidava com a rejeição de quem deveria ser seu colega. A escola, que deveria proteger, acabou por reforçar a exclusão.



           A promessa de acompanhamento pedagógico exclusivo, tão repetida nos discursos oficiais, na maioria das vezes, não existe. O que se vê são professores exaustos, tentando equilibrar uma sala inteira sem conseguir atender plenamente a todos, nem os que avançam mais rápido, nem os que precisam de mais apoio.



           O resultado é que todos aprendem menos. O ritmo das aulas se arrasta, o conteúdo é diluído e forma-se uma geração que termina o ensino médio sem saber interpretar um texto ou resolver um cálculo básico. No papel, a inclusão virou uma exclusão disfarçada.



           O depoimento do pai mostrou a dor silenciosa de perceber que a promessa de igualdade, no fundo, se tornou um atalho para o abandono. Ele queria apenas ter o direito de escolher entre uma escola especial ou uma escola regular. Mas ninguém o ouviu.



           Eu, que vejo essa realidade de perto nas minhas turmas, digo sem receio: a educação inclusiva, como foi implementada, não melhorou nada. Na verdade, piorou. Quando se finge incluir, faz-se algo ainda mais cruel do que excluir: “deixa-se alguém acreditar que pertence, apenas para descobrir que, no fundo, nunca lhe deram lugar de verdade.”

https://www.facebook.com/share/v/1619HA3DMV/ (Acessado em 14/09/2025)


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O texto que vocês leram é um depoimento forte e complexo sobre a educação inclusiva no Brasil. Ele nos convida a ir além do senso comum e a analisar criticamente as políticas públicas e suas consequências na vida real. Como futuros sociólogos, é fundamental que vocês consigam identificar os conflitos, os papéis sociais e as estruturas presentes nesse debate. A partir da leitura, pensem sobre as seguintes questões:


1 - O autor do texto se sente julgado por sua posição. De acordo com a Sociologia, como podemos analisar a "reprovação" que ele percebe nos olhares das pessoas? Qual o papel da moral social nesse tipo de situação?

2 - O texto aborda a diferença entre o que é "inventado no papel" e o que é imposto "na prática". Discuta como essa desconexão entre a teoria da política pública e a realidade pode gerar conflitos sociais, utilizando o exemplo da educação inclusiva.

3 - O depoimento do pai mostra a busca por um "espaço de pertencimento" para sua filha. Explique, com base na sociologia, o que significa a "diferença não ser peso" e a importância de um ambiente que promova o pertencimento para a identidade e o desenvolvimento social de um indivíduo.

4 - A política de "educação inclusiva" é apresentada como uma forma de dissolver o preconceito. Analise criticamente essa premissa, considerando o que o texto relata sobre a falta de preparo dos professores e a reação de pais e alunos. Como a Sociologia do Conflito pode nos ajudar a entender essa situação?

5 - O autor afirma que a inclusão, "no papel", se tornou uma "exclusão disfarçada" na prática. Discorra sobre como a implementação de uma política, mesmo com boas intenções, pode inadvertidamente reforçar processos de exclusão social.

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